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Vista aérea de Bom Destino. É dia. Várias partes da cidade são mostradas em pequenos cortes, como a praça do centro, lanchonete, o jardim secreto, colégio Esplendor, cortando para o condomínio. A câmera vai passando por várias casas até parar na casa de Cláudio. Corta para dentro. Cláudio está na sala, sentado no chão, encostado no sofá e falando ao telefone sem fio. Sua voz é encoberta pela música.

 

Música: Citizen Cope - Son's Gonna Rise

 

LEGENDA: Três meses depois.

 

CLÁUDIO: (em off) Quando somos crianças, a gente sempre tem um herói favorito. Aquele que enfrenta tudo, que tem super força e grande coragem. Aquele que nunca desiste e supera qualquer desafio. Aquele a quem queremos imitar. (pausa por alguns segundos) Acho que a maior decepção de nossas vidas é descobrir que nunca seremos como ele.

 

O som diminui e passamos a ouvir o que Cláudio fala ao telefone.

 

CLÁUDIO: Que horas você vem? (pausa) O quê? Só vai conseguir sair daí nesse horário? E se não tiver mais ônibus? (entortando a boca) Okay então, me avisa assim que estiver saindo, fazer o que, né?

 

Ouve-se passos de alguém descendo a escada apressadamente. Cláudio observa com o canto dos olhos. Corta para Helen prestes a abrir a porta.

 

CLÁUDIO: (falando com a outra pessoa na linha) Espera só um minuto... (levantando) Helen!

 

Helen para e se vira. Cláudio se aproxima.

 

CLÁUDIO: (sorrindo) Você está bem? Vai pra onde?

 

HELEN: Sabe, você está levando muito ao pé da letra esse negócio de cuidar de mim. (sorri).

 

CLÁUDIO: Qual o problema em querer saber por onde minha hóspede favorita anda? (sorri).

 

HELEN: (falando rápido e baixo) Problema nenhum, se eu não estivesse me sentindo como uma participante do Big Brother. (respira fundo) Vou encontrar alguns amigos na cachoeira, tudo bem pra você?

 

Ela se vira e abre a porta. Cláudio a interrompe outra vez.

 

CLÁUDIO: E esses amigos, quem são?

 

HELEN: (bufando) Vem cá, você não quer colocar um rastreador em mim? Assim fica muito mais fácil e te poupa de tantas perguntas.

 

Cláudio a encara com uma expressão de desanimo. Helen revira os olhos e se mostra arrependida.

 

CLÁUDIO: É que eu me preocupo com você.

 

HELEN: (arrependida) Eu sei, me desculpa... (se aproxima) Eu prometo que a partir de agora deixo uma listinha pra você saber exatamente onde estarei, okay?

 

Ela dá um beijo no rosto dele e se vira, abrindo a porta e mais uma vez sendo interrompida.

 

CLÁUDIO: Meu primo está chegando... Queria muito que vocês se conhecessem.

 

HELEN: (sem virar): Eu vou ter tempo de sobra para conhecê-lo. Agora eu preciso ir... Não vai querer deixar sua namorada plantada na outra linha por mais tempo, vai?

 

Cláudio abaixa o olhar e abre bem os olhos, levando o telefone novamente ao ouvido. Ouve-se a porta fechando.

 

CLÁUDIO: Isso, era a Helen (respira fundo)... Está difícil, Larissa, muito difícil.

 

 

Rua do condomínio. Helen caminha apressadamente, com uma feição séria e sombria. Ela passa em frente à câmera e um clarão toma conta da tela, desfazendo na sala de sua casa. Ela está com os olhos lacrimejando, arregalados e aparentemente em transe. Rosa se aproxima, colocando as mãos no rosto da neta.

 

ROSA: Helen... Querida?

 

Ela sai do estado de choque e as lágrimas escorrem em seu rosto. Ela olha para Marcia.

 

HELEN: Você é minha mãe?

 

MARCIA: Sim, meu amor. Eu sou sua mãe.

 

Helen confusa e extremamente desconfiada começa a dar alguns passos para trás, se distanciando das duas.

 

HELEN: Minha mãe morreu junto com o meu pai. (olha para Rosa) Não foi, vovó?

 

Rosa fecha os olhos e coloca a mão no rosto. Helen fecha a cara.

 

HELEN: (nervosa) Responde!

 

MARCIA: Não é verdade. Eu sobrevivi ao acidente.

 

HELEN: E esteve em coma todo esse tempo?

 

Marcia abre a boca para falar, mas não consegue. Helen balança negativamente a cabeça e chora. Rosa começa a chorar também. Helen a olha, com decepção.

 

HELEN: Até a senhora me apunhalou?

 

Marcia se aproxima de Helen, tentando tocar o rosto da filha. Helen recua ferozmente.

 

HELEN: (furiosa) Não se aproxima de mim!

 

MARCIA: Amor, por favor, vamos sentar, conversar. Há muita coisa a se explicar.

 

HELEN: Não quero ouvir nada de vocês. É evidente que fui abandonada por você, e você (olha para Rosa) mentiu durante todos esses anos, fazendo-me acreditar que fui a causa da morte dessa mulher... Não quero nem olhar para vocês, não quero ter mais nada a ver com vocês... Nunca mais!

 

Ela se vira e sai apressadamente, batendo a porta com força. Marcia olha para Rosa, visivelmente assustada. Rosa coloca a mão na boca, sem reação. Após alguns segundos ela olha para Marcia.

 

ROSA: Está feliz agora?

 

Marcia coloca as mãos na cabeça e se senta no sofá. O clarão toma conta da tela outra vez, voltando para Helen descendo a rua do condomínio.

 

CLÁUDIO: (em off) Quando a gente ama, às vezes inventa de guardar segredos por amor. Mas se amar é se entregar, como pode existir segredos no amor?

 

Ela passa pela portaria. Após alguns segundos, a tela escurece.

 

 

 


Cozinha de uma casa. Um homem [Fred Willard] está sentado à mesa, escrevendo algo em um jornal. Atrás dele, uma mulher [Jane Kaczmarek] esquenta algo na frigideira. A câmera se movimenta para a entrada da cozinha, onde vemos Roger aparecendo.

 

ROGER: (sorrindo) Bom dia meus amores! 

 

HOMEM: (olhando para a mulher) Eu aposto dez que é.

 

MULHER: (indignada) Não vale, Arthur. Eu que ia apostar que era.

 

ARTHUR: Tudo bem, dona Vera. O que eu não faço por você? Vou até tirar o dinheiro do bolso, já que é uma aposta perdida mesmo.

 

ROGER: O que vocês estão aprontando, crianças?

 

ARTHUR: Fizemos uma aposta de que toda essa animação matutina é por causa da Amanda.

 

ROGER: (sorrindo) É, você perdeu mesmo.

 

Arthur bufa e coloca a nota de dez em cima da mesa. Vera sorri vitoriosa e paga o dinheiro.

 

ARTHUR:pra deixar claro que isso foi jogo sujo.

 

VERA: Bobinho, de qualquer maneira você ia perder.

 

ROGER: Mais uma vez estou sendo usado para seus jogos psicóticos?

 

Arthur e Vera sorriem e balançam a cabeça, concordando. Roger revira os olhos.

 

ARTHUR: Que horas a princesa chega?

 

ROGER: (olhando no relógio) Daqui a pouco. Nem acredito que ficamos um mês longe um do outro.

 

ARTHUR: Você deve estar subindo pelas paredes. Pelo menos agora vai poder pegar na carne fresca e não precisará ficar mais tanto tempo trancado no banheiro (ri).

 

VERA: (repreendendo-o) Arthur!

 

ARTHUR: O quê? Nosso filho já virou hominho... Ele mesmo nos contou. 

 

ROGER: Mas não é porque nós temos um diálogo aberto, que eu não posso me constranger com certos assunto ...(levantando) É melhor eu me arrumar.

 

Roger se movimenta para sair. Arthur chama sua atenção.

 

ARTHUR: Um momento rapaz! Não está esquecendo de nada não?

 

Roger começa a mexer nos bolsos e olhar para os lados.

 

ROGER: Acho que não. (olha para eles) Sério? Vocês não acham que eu já estou bem grandinho pra ficar distribuindo beijinhos toda vez que tiver que sair?

 

Arthur, sorridente, tira do bolso um chaveiro com uma chave de carro e mostra para Roger, que se franze a testa, confuso.

 

ROGER: Isso aí não pode ser... (se aproxima) Não, isso não é o que eu estou pensando. É?

 

Artur, ainda sorridente, sobe e desce as sobrancelhas. Roger abre um enorme sorriso e se aproxima ainda mais, pegando a chave.

 

ROGER: (radiante) Não acredito que finalmente vou deixar de ser carona! 

 

ARTHUR: Mas tem uma condição.

 

ROGER: Qualquer coisa.

 

Arthur mostra a bochecha e faz sinal com o indicador.

 

ARTHUR: Vai ter que distribuir beijinhos nos pais toda vez que for sair.

 

Roger abraça o pai e o beija duas vezes na bochecha. Ele vai até Vera e faz o mesmo.

 

VERA: Não precisa me agradecer porque eu sou contra isso. A arte é dele, só dele.

 

ROGER: Eu vou estrear agora mesmo.

 

ARTHUR: Só não quero esse carro por aí com os vidros embaçados.

 

ROGER: Fica tranquilo, para isso existem os...

 

VERA: (interrompendo) A Amanda não está para chegar?

 

ROGER: (jogando a chave para cima e pegando) Yep! Preciso ir. Obrigado papis, amo vocês!

 

Arthur sorri, emocionado. Vera o encara com seriedade.

 

VERA: Não estou muito certa se foi uma boa ideia dar um carro para ele assim. Nem idade ele tem para dirigir.

 

ARTHUR: Fica fria, meu amor. Em Bom Destino ninguém liga pra isso. Tá cheio de filhinhos de papai dirigindo sem carteira por aí.

 

VERA: Mas eu fico com o coração na mão. Você sabe que ele é bem ruinzinho na direção. (olha para cima) E teve a quem puxar.

 

ARTHUR: (sorrindo) Não precisa temer, tudo é uma questão de pratica. (para de sorrir) E eu dirijo muito bem, sim senhora!

 

VERA: (sarcástica) Ah, claro. Várias multas e algumas visitas ao seguro, indicam claramente que sou eu que dirijo mal.

 

Vera vai até ele. Close em sua barriga, ela está grávida. Em seguida ela senta no colo de Arthur.

 

ARTHUR: Vai ficar tudo bem. E ele precisa de um pouco de paparico para não sentir ciúmes desse pimpolhinho que está para chegar.

 

Ele começa a alisar a barriga dela. Vera pega na mão dele e beija carinhosamente.

 

VERA: Só nós mesmos, hein? Pra ter mais um filho depois de tantos anos.

 

ARTHUR: Fazer o que, se o pai ainda é um garotão cheio de lenha para queimar?

 

VERA: Ah, meu garotão, garanhão! Pedaço de mal caminho.

 

ARTHUR: Minha meninona! Dengosa!

 

Arthur faz sinal de mordida, em seguida eles se beijam carinhosamente. A câmera se afasta alguns metros, parando e fixando essa cena por alguns segundos.

 

 

Casa de Helen. Rosa abre a porta e Marcia aparece do outro lado. Rosa faz cara de desânimo e bufa.

 

ROSA: Peste... 

 

RUTH: (entrando) Oi pra você também, velha jararaca. 

 

Rosa fecha a porta e vai até a sala. Marcia senta no sofá. Rosa a observa.

 

ROSA: O que você quer aqui?

 

MARCIA: Faz três meses que estamos nessa e você ainda não se acostumou?

 

A campainha toca. Marcia levanta, radiante.

 

MARCIA: Ele chegou!

 

Rosa se desloca até a porta e abre. A câmera frisa seu rosto que sorri.

 

ROSA: Oi Cláudio.

 

Corta para Cláudio parado em frente à porta. A câmera se aproxima de seu rosto. Ele sorri levemente. Um clarão toma conta de tela.

 

 

Quarto de Cláudio. A câmera passeia mostrando a cama com o celular em cima. O visor está aceso, indicando uma ligação. A imagem se movimenta mais um pouco, e podemos ver Cláudio sentado no chão e encostado na porta. Ele chora amargamente. O celular continua tocando. Após alguns segundos, ele levanta, enxuga os olhos e vai até o aparelho.

 

Música: Snow Patrol - Chasing Cars

 

CLÁUDIO: Alô?

 

HELEN: (em off/voz embargada) Cláudio...

 

CLÁUDIO: (preocupado) Helen? Está chorando?

 

HELEN: (em off) Não dá pra falar por telefone. Você pode me encontrar?

 

CLÁUDIO: Claro... Em que lugar? (pausa) Uhum, sei. (pausa) indo pra aí agora. Tente se acalmar.

 

Ele coloca o telefone no gancho e sai apressadamente. 

Corta para o grande jardim com vista para toda a cidade. Cláudio surge, olhando ao redor. A câmera se move, mostrando Helen sentada em um banco, encolhida. Cláudio a avista e corre em sua direção, sentando-se ao seu lado. Ele a abraça e ela desaba em lágrimas. Cláudio a segura com mais força, mostrando preocupação em seu rosto. 

 

A imagem transparece para a visão aérea da cidade, depois se desloca para o lado, mostrando o jardim e se aproximando de ambos ainda sentados no mesmo banco. Helen olha para frente, aparentemente mais calma.

 

Cont. Snow Patrol - Chasing Cars

 

HELEN: Minha vida é uma mentira. A pessoa em quem eu mais confiava no mundo escondeu a verdade de mim durante todos esses anos, apesar de eu ter dado várias chances para que ela contasse a verdade.

 

CLÁUDIO: (com pesar) Eu nem sei o que te dizer.

 

HELEN: (olhando-o) Eu não posso voltar àquele lugar.

 

CLÁUDIO: Eu sei que não. Você pode ficar na minha casa, o tempo que precisar.

 

HELEN: Obrigada, Cláudio... Eu não sei o que faria sem você.

 

CLÁUDIO: Estamos juntos nessa, okay? Sua dor, é minha dor. Nós vamos achar um jeito de superar isso.

 

Helen permanece em silêncio por alguns instantes. Depois olha fixamente para Cláudio.

 

HELEN: (séria) De uma coisa tenho certeza e já posso afirmar... Nunca mais permitirei que alguém me engane ou me pisoteie. Nunca mais. (breve pausa) Chegou a hora de deixar a inocência para trás.

 

Ela deita a cabeça no peito de Cláudio, que a abraça. Ele fica pensativo, com uma expressão de preocupação. 

 

 

O clarão toma conta da tela outra vez, voltando para a casa de Rosa. Cláudio está na sala, sentado no sofá. Rosa e Marcia estão no outro sofá, de frente para ele.

 

MARCIA: Ela precisa me ouvir, Cláudio.

 

CLÁUDIO: Tudo que ela precisa agora é de tempo, espaço...

 

MARCIA: Mas já se passaram três meses... Três longos meses. Até quando ela vai evitar ouvir a minha versão da história? Quanto mais tempo precisa para isso?

 

ROSA: Se você não ocultar detalhes do que aconteceu, a sua versão vai piorar o estado da menina.

 

MARCIA: Quietinha, por favor? Você não tem que tricotar, ou tirar um cochilo da tarde?

 

ROSA: Que tal se lembrar que essa é minha casa e que você só está pisando aqui, porque eu deixei?

 

CLÁUDIO: Madames, vamos nos acalmar, por favor? Embora se odeiem, não esqueçam que o objetivo maior é o bem estar da Helen.

 

Rosa respira fundo, se acalma e concorda com cabeça. Marcia também concorda com a cabeça e encosta no sofá.

 

CLÁUDIO: Continuando... Sim, ela precisa de mais tempo. A Helen não é a mesma, ela mudou. Tem algo diferente e mais sombrio nela. Temo que se tentarem forçar alguma coisa agora, podem deixá-la ainda mais revoltada. Eu estou me arriscando em estar aqui, porque se ela souber disso também, acaba sua confiança na única pessoa que ela ainda acha pode confiar. 

 

ROSA: (desolada) É tudo minha culpa.

 

MARCIA: (concordando com a cabeça) Sim, é sua culpa. 

 

Cláudio lança um olhar solidário à Rosa. Ele levanta e senta-se ao lado dela, segurando em sua mão.

 

CLÁUDIO: Eu prometo que nós vamos tirar sua neta desse abismo, dona Rosa. Apenas tenha um pouco mais de paciência.  

 

Rosa o olha tristemente e esboça um leve sorriso em seguida.

 

 

Rodoviária. Roger está parado perto de uma plataforma, ansioso. Um ônibus vem chegando e ele abre bem os olhos, aparentando mais nervosismo. O veículo para e segundos depois a porta abre e algumas pessoas começam a sair. Close nos pés de alguém em sandálias descendo o degrau. Roger começa a abrir um largo sorriso. A câmera se aproxima de seu rosto e um clarão toma conta da tela, desfazendo dentro de um quarto.

 

Música: Stereophonics - Maybe

 

Roger está deitado na cama, sem camisa, com as mãos atrás da cabeça, sorrindo. A câmera se movimenta para o lado, onde podemos ver Amanda deitada, olhando para cima. Ela veste uma camiseta larga e o lençol a cobre da cintura para baixo.

 

ROGER: (bobo) Definitivamente, as melhores férias da minha vida!

 

Amanda fica em silêncio. Roger a observa.

 

ROGER: Você está bem?

 

AMANDA: Se eu te contar uma coisa, promete não ficar chateado?

 

ROGER: (preocupado) Tem algo a ver com o meu corpo?

 

AMANDA: (sorrindo) Claro que não, bobinho.

 

ROGER: (aliviado) Então pode me contar qualquer coisa... Nem se eu pisar descalço num prego enferrujado e pegar tétano, vou ficar chateado. Nada pode tirar esse sorriso do meu rosto.

 

AMANDA: Que bom, porque a gente vai ficar um tempinho longe um do outro.

 

Roger levanta imediatamente da cama e a olha com espanto.

 

ROGER: Okay, retiro o que disse anteriormente. Isso pode me deixar chateado. O que aconteceu?

 

AMANDA: Vou viajar com meus pais.

 

ROGER: (desanimando) Mesmo? Por quê? Você nem gosta deles.

 

AMANDA: (séria) Claro que eu gosto! Apesar deles me tratarem com indiferença, ainda quero ter um bom relacionamento com eles... E essa viagem pode ser uma oportunidade para isso.

 

ROGER: E quanto tempo vai durar esse passeio em família? 

 

AMANDA: Um mês.

 

ROGER: Puts, é uma eternidade.

 

AMANDA: Não seja exagerado... E comece a aprender a se controlar também, porque não vai ser todo dia a gente vai fazer isso aí.

 

ROGER: Não é por causa do sexo. É por você por completo. Ficar um mês longe da minha doidinha preferida, vai ser ruim, muito, muito ruim. 

 

AMANDA: Procure uma colônia de férias, alguma coisa que ocupe sua cabeça. É só um mês, meu amor, passa muito rápido.

 

Roger sorri com o canto da boca e acena com a cabeça concordando. Amanda se aproxima, abraçando-o e o beijando no rosto.

 

AMANDA: Desde que a Nathalia resolveu fugir, eles meio que estão tentando me dar mais atenção. Você entende que eu tenho que aproveitar isso, certo?

 

ROGER: (sorrindo) Entendo sim... Desculpa por parecer tão insensível e com “Mandydependência”. Vá, se divirta, tenha um bom relacionamento com seus pais, pense em mim, que eu estarei aqui, pensando em você também.

 

AMANDA: (sorrindo) Obrigada... E pensa numa coisa... Com a saudades que sentiremos um do outro, quando eu voltar a gente vai quebrar a cama. 

 

Ela sobe e desce as sobrancelhas, sorrindo de forma maliciosamente.

 

ROGER: (beijando-a) E se eu disser que já estou com saudade? É bom começar a me compensar desde já.

 

Amanda sorri e o beija com bastante intensidade. Eles deitam na cama, ainda aos beijos. A câmera se movimenta para o lado. O clarão toma conta da tela outra vez, voltando para o aeroporto.

 

Close no rosto sorridente de Roger. Corta para ônibus, onde vemos Amanda, sorrindo para ele também. Eles se aproximam devagar e ficam frente a frente um com o outro.

 

Cont. Stereophonics - Maybe

 

ROGER: Hei.

 

AMANDA: Hei.

 

Eles se encaram por alguns segundos. Roger abre os braços e eles se abraçam, um pouco timidamente.

 

ROGER: (sorrindo) Graças a Deus está de volta.

 

AMANDA: (sorrindo) Eu também acho.

 

ROGER: E seus pais?

 

AMANDA: Voltam depois de amanhã. (olha para os lados) Vamos pegar um táxi? 

 

ROGER: Chega de táxis, meu amor. Tenho uma grande surpresa para você.

 

Roger se abaixa e pega a bolsa dela. Eles começam a andar na direção da saída.

 

AMANDA: Está dirigindo?

 

ROGER: Como adivinhou?

 

AMANDA: Bom, você disse chega de táxis.

 

ROGER: He he, verdade, zero pra mim... Mas quando vir meu carro, será que poderia se fingir de surpresa?

 

AMANDA: (rindo) Vou treinar até chegar lá.

 

A câmera muda para uma vista aérea, mostrando o movimento da rodoviária. Após alguns segundos, a tela escurece.

 

 

Casa de Cláudio. A porta abre e Cláudio entra, olhando para o chão. De repente, ouve-se a voz de um rapaz.

 

RAPAZ [Kevin G. Schmidt]: (fora de cena) Que coisa feia, o primo vem passar uma temporada com ele e nem em casa o sujeito está para recebê-lo.

 

Cláudio olha na direção da voz e esboça um largo sorriso. A câmera se movimenta, mostrando se tratar de Bruno.

 

CLÁUDIO: (feliz, indo na direção do primo) Bruno!

 

Eles se abraçam fortemente.

 

CLÁUDIO: Desculpa, primo. Acabei fiquei mais tempo do que esperava no lugar que eu estava.  

 

BRUNO: (sorrindo) Tudo bem. Faz pouco tempo que cheguei. O tio foi me buscar na rodoviária.

 

CLÁUDIO: E onde eles estão? Já foram?

 

BRUNO: Acabaram de sair.

 

CLÁUDIO: (balançando negativamente a cabeça) Essa lua de mel deles não acaba mais.

 

Eles riem. A câmera dá um close no rosto de cada um e em seguida a cena muda para dentro do quarto de Cláudio. Bruno está sentado na cama. Cláudio abre o guarda-roupa.

 

CLÁUDIO: Ainda é meio inacreditável que está vindo morar aqui. O que aconteceu com a ideia de nunca sair de “SF”, de perto da mama e de toda atmosfera do lugar?

 

BRUNO: Ah, a cidade é maravilhosa para se morar. Mas é só isso mesmo, primo. Quando chegou a hora de pensar no meu futuro, por exemplo, se eu arrumar um emprego em um caixa de supermercado por lá, é isso que farei pelo resto da vida. Acho que está na hora de buscar algo mais significativo.

 

CLÁUDIO: (rindo) E o que te faz pensar que em Bom Destino seu futuro será melhor?

 

BRUNO: Bom, pelo menos vou estudar num ótimo colégio que pode me dar alguma perspectiva. Sem falar que tem o time também, e como você faz parte, e fui eu que te ensinei a jogar, talvez eu embarque nessa de ser jogador.

 

CLÁUDIO: Você me ensinou a jogar?

 

BRUNO: Cada chute que não vai pra fora.

 

Cláudio nega com a cabeça e ri. Bruno ri também.

 

CLÁUDIO: E a Carol, como está?

 

BRUNO: Está bem, linda, um pouco afastada do grupo.

 

CLÁUDIO: Por quê?

 

BRUNO: Teve um cara chato aí, que esteve lá o ano passado e a fez enxergar o quanto é linda e especial... Ela meio que parou de se sujar de terra conosco.

 

CLÁUDIO: (fazendo careta) Culpado... Mas e entre vocês, não rolou nada? Não mente, que eu sei que você tinha uma quedinha por ela.

 

BRUNO: Saímos algumas vezes, mas não deu certo. A gente funcionava melhor como amigos mesmo. Mas eu conheci outra garota.

 

CLÁUDIO: Mesmo? E como ela é?

 

Bruno abre a boca para falar, mas para e fica um pouco pensativo.

 

BRUNO: Erh, deixa pra lá. Não quero falar sobre ela. Faz parte do passado.

 

CLÁUDIO: Sem problemas. Hei, se prepara, pois tem uma festa para irmos hoje à noite.

 

BRUNO: (rindo) Mas já?

 

CLÁUDIO: Meu caro, logo descobrirá que qualquer coisa aqui é motivo para festejar.

 

Nesse instante, ouve-se do lado de fora uma porta batendo. Bruno franze a testa.

 

BRUNO: Ué, será que eles já voltaram?

 

CLÁUDIO: (se deslocando) É outra pessoa.

 

Corta para o lado de fora. Helen passa apressadamente pelo corredor. A porta do quarto de Cláudio abre e ele aparece.

 

CLÁUDIO: Helen...

 

HELEN: (andando apressadamente) Agora não... 

 

Ela abre a porta de um quarto e entra, fechando-a em seguida. Close no rosto de Cláudio, que fica sério.

 

 

Parte interna do carro de Roger. O veículo está estacionado em algum lugar que não podemos identificar. Amanda olha para frente, pensativa. Roger a olha, sorrindo.

 

Música: Nada Surf - Always Love [como se estivesse tocando no rádio]

 

ROGER: E então? O que achou?

 

AMANDA: Roger, você precisa praticar mais.

 

ROGER: Detalhes, logo eu pego o jeito e começo a andar como um verdadeiro piloto. Mas do carro em si, gostou?

 

AMANDA: Bem legal. (franze a testa e olha para os lados) Derrubaram o meu bairro e não fiquei sabendo?

 

ROGER: (sorrindo de forma maliciosa) Bobinha! Estava sentindo falta desses sarcasmos.

 

O som aumenta e toma conta em formato original agora. Amanda olha para Roger e sorri. Roger se desloca e beija a namorada de forma intensa. A câmera se afasta, passando pelo vidro de trás, saindo do veículo e subindo. O carro está parado num terreno vazio de terra.

 

 

Quarto em que Helen está. Cláudio abre a porta e entra. Helen o olha com censura.

 

HELEN: Eu poderia estar nua, sabia?

 

CLÁUDIO: Por isso a porta tem chave. 

 

HELEN: Vou me lembrar a partir de agora.

 

Cláudio fica em silêncio, encarando-a por alguns instantes.

 

HELEN: O que foi?

 

CLÁUDIO: Você quer conversar?

 

HELEN: Sobre?

 

CLÁUDIO: (dando os ombros) Eu não sei, talvez sobre você e como vem agindo ultimamente, essas coisas.

 

HELEN: Estou bem, obrigada.

 

CLÁUDIO: Estou falando sério, Helen.

 

HELEN: Eu também estou. Não tem nada pra falar sobre mim.

 

CLÁUDIO: Tem certeza? Porque eu acho que ultimamente você nem sabe mais quem você é.

 

HELEN: Aonde você quer chegar? Desembucha.

 

CLÁUDIO: Esse seu novo jeito de agir, metida a rebeldezinha sem causa... Essa não é você.

 

Breve pausa. Helen se vira e vai até a cômoda, abrindo-a.

 

HELEN: As pessoas mudam, Cláudio.

 

CLÁUDIO: Entendo perfeitamente que as pessoas mudam. Eu mudei, a Larissa mudou, o Léo mudou... Mas parece que você está forçando uma personalidade que não condiz com quem você é de verdade. A Helen que conheço, por mais machucada que estivesse, não se atreveria a ser estúpida com quem não merece. Não andaria por aí, como se não se importasse com nada e mais ninguém.

 

HELEN: Eu disse que não ia mais ser pisada por ninguém. Aquela garota boazinha e ingênua que você conheceu, não existe mais. Supere isso.

 

CLÁUDIO: Então é essa sua defesa? Se transformar numa pessoa revoltada com o mundo? Nem todos merecem tal tratamento, Helen.

 

HELEN: Então é disso que se trata? Do quanto está sentido pelo jeito que venho te tratando? (se aproxima) Me responde uma coisa com bastante sinceridade então... Aonde você vai todas as tardes de sexta?

 

Cláudio fica sem reação. Helen cruza os braços e sobe as sobrancelhas. Cláudio abre a boca para falar, mas desiste.

 

HELEN: Foi o que pensei... Algum dia pretendia me contar que resolveu tomar cafezinho com a minha avó?

 

CLÁUDIO: Helen, não é bem o que você está pensando. Entenda que...

 

HELEN: (interrompendo) Entender o quê? Que resolveu agir pelas minhas costas agora? Você viu meu sofrimento, Cláudio. Como pôde se sentar ao lado daquela mulher? Como pôde fingir que nada aconteceu?

 

CLÁUDIO:  É por saber exatamente o que aconteceu que eu estou lá, todos os dias, e não ela aqui, com o juizado de menores te obrigando a ir para casa.

HELEN: Que altruísmo da sua parte.

CLÁUDIO: Helen, você pode estar com raiva, com ódio, com o que for... Mas isso não muda o fato de que ela te criou e cuidou de você com muito amor. Eu não estou dizendo para perdoá-la, apenas que sente-se com ela e com a Marcia e ouça a versão completa da história.

HELEN: (rindo nervosamente) Sentar com a Marcia, com a Marcia... Você está se ouvindo? O cara que por anos guardou rancor do pai e fez um acordo para que ele fosse embora e nunca mais voltasse.

CLÁUDIO: É diferente.

HELEN: Claro que é diferente, ele não te entregou para a sua avó e ela não mentiu dizendo que ele morreu em um acidente de carro do qual você foi o culpado... É muito pior... Não há defesa, não há justificativa. E eu agradeceria muito se você parasse de se meter nisso e me deixasse em paz. 

 

Close no rosto de Cláudio que fica sem saber o que dizer. Em seguida volta a imagem para o rosto de Helen que fecha mais a cara.

 

HELEN: Mais algum sermão?

 

CLÁUDIO: Não importa. Nada que eu diga vai tirar esse ódio que se apossou em você. (se vira e abre a porta) Eu só queria minha melhor amiga de volta.

 

Cláudio sai do quarto. Helen balança a cabeça, em negação, em seguida olha para o lado, mordendo os lábios. A tela escurece.

 

 

Abre mostrando uma vista aérea da mansão de Felipe. É noite. Vários jovens dançam e bebem, alguns em trajes de banhos, outros com roupas normais, se espalham pelo local. A câmera se movimenta e mostra o carro de Roger estacionando em frente à casa. Corta para dentro. Roger e Amanda estão na frente, enquanto Cláudio, Helen e Bruno estão na parte de trás.

 

Música: Hawk Nelson - First Time

 

CLÁUDIO: (com os olhos bem abertos) Essa foi uma experiência e tanto. Dá próxima vez eu venho de ônibus.  

 

ROGER: Hei, sem piadinhas. Eu não dirijo tão mal assim. (olha para Amanda) Não é minha linda?

 

HELEN: (emburrada) Você quase matou a gente! (se movimentando) Céus!

 

Ela abre a porta e passa por cima de Cláudio, saindo do veículo.

 

ROGER: Eu gostava mais quando a sinceridade dela tinha um certo tom sarcástico e meigo.

 

Corta para o lado de fora. Eles saem do carro. Bruno olha admirado para o portão da casa que está aberto, revelando o movimento das pessoas lá dentro. Cláudio se posiciona ao lado dele. 

 

CLÁUDIO: Você está bem?

 

BRUNO: Isso tudo é novo pra mim. Será que vou conseguir?

 

CLÁUDIO: Bom, se eu consegui montar no Bebê Chorão, isso aqui será moleza pra você. (toca o ombro dele) Vamos lá.

 

O som aumenta e toma conta da cena. A câmera muda para dentro, mostrando-os entrando e se movimentando pelo jardim. Corta para Felipe conversando com alguns rapazes. Cláudio e os demais se aproximam, parando perto deles. Felipe está de costas para eles.

 

CLÁUDIO: (sorrindo) Essa não deveria ser uma festa de começo da faculdade?

 

FELIPE: (ainda de costas) É que eu amo tanto vocês, que resolvi esperar mais um pouquinho para me formar.

 

Ele se vira e sorri, abraçando Cláudio.

 

FELIPE: Como vai o meu Gladiador?

 

CLÁUDIO: Bem e você? Como foi de viagem?

 

FELIPE: Tirando o começo em que fiquei ouvindo o tempo todo sermões por ter sido reprovado, deu para aproveitar um pouco. (olha para os demais e sorri) Hei, garotada! Vem cá, abraço em grupo!

 

Roger e Amanda se aproximam os quatros se abraçam coletivamente, com exceção de Helen e Bruno que ficam parados em seus lugares. Após o abraço, Felipe olha para Bruno.

 

FELIPE: Você eu não conheço...

 

CLÁUDIO: Esse é o Bruno, meu primo. Ele vai estudar com a gente lá no colégio.

 

FELIPE: É bom de bola?

 

CLÁUDIO: (sorrindo) Melhor que eu, um pouco.

 

FELIPE: (sorrindo e indo cumprimentá-lo) Então seja muito bem-vindo. Logo vai perceber que o colégio Esplendor é fora do comum.

 

Bruno sorri e cumprimenta Felipe. Close na expressão séria de Helen.

 

FELIPE: E você Helen... Como está?

 

HELEN: (dando um sorrisinho irônico) Nunca estive melhor. (pausa) Vem cá, a gente vai fazer alguma coisa além de ficar se abraçando? O que é preciso fazer pra pegar uma bebida por aqui?

 

FELIPE: Lá na cozinha... É só...

 

HELEN: (cortando e saindo) Valeu.

 

Felipe a segue com o olhar, surpreso. Ele olha para Cláudio.

 

FELIPE: Bebida, ela quis dizer refrigerante, certo?

 

CLÁUDIO: (respirando fundo) Receio que não... Sequestraram a antiga Helen, meu caro. Essa aí eu não conheço.

 

 

Interior da casa. O local está cheio. Helen passa pelas pessoas e para perto da sala, observando seu movimento. A câmera enquadra seu rosto por alguns segundos.

 

 

Lado de fora. Cláudio caminha pelo gramado, um pouco afastado das pessoas. Ele fala ao celular.

 

CLÁUDIO: Você não vem então? Claro que não, eu sabia que ia perder o último ônibus. Era pra você estar aqui ontem, Larissa. (pausa) É, eu sei que não deu. (pausa) Chateado eu já estou, não com você, mas pelo fato de não poder te ver. (balança positivamente a cabeça) Eu também te amo. Beijo.

 

PRISCILA: (em off) Que bonitinho ele todo preocupado com a namorada.

 

Corta para o rosto de Priscila. Cláudio se vira e sorri.

 

PRISCILA: Como é que é, vai me dar um abraço, ou só ficar parado que nem bobo?

 

Cláudio se aproxima e eles se abraçam, felizes.

 

CLÁUDIO: (sorrindo) Como você está, Pri? Saudades.

 

PRISCILA: Saudades também. Estou ótima, e você? E o namoro à distância?

 

CLÁUDIO: Estou bem. O namoro está indo bem, embora não esteja tão distante, pois temos nos encontrado com frequência. Agora que as aulas vão começar, é que vamos sentir a realidade.

 

PRISCILA: A prova de foto começa agora, mas vocês vão se sair bem. .

 

Eles se olham por alguns segundos. Cláudio toca os cabelos dela.

 

CLÁUDIO: E os cachinhos?

 

PRISCILA: (mostrando os cabelos lisos) Gostou? Resolvi mudar um pouco o visual.

 

CLÁUDIO: Gostei, ficou bem em você.

 

PRISCILA: (sorrindo) Obrigada.

 

CLÁUDIO: (após alguns segundos) Vem comigo, quero te apresentar meu primo... Ele vai estudar com a gente este ano.

 

Priscila balança a cabeça, concordando. Ela e Cláudio se deslocam e começam a andar.

 

 

Interior da casa. Helen está sentada no sofá, visivelmente entediada. Ela segura um copo plástico, espumado, aparentemente de cerveja. Um rapaz [Michael Angarano] senta ao lado dela.

 

RAPAZ: Grande coisa, huh? Blé, bando playboyzinhos, filhinhos de papai!

 

HELEN: (animada) Gustavo! Pensei que não viria mais.

 

GUSTAVO: Vim porque você não parou de insistir, nem convidado eu sou. 

 

HELEN: Querido, olhe para essas pessoas, metade delas não foram convidadas.

 

GUSTAVO: (sarcástico) Me sinto bem melhor agora, sabendo que não sou o único penetra da festa.

 

HELEN: Mas quem falou que não? Eu tenho entrada vip, portanto, você é meu convidado.

 

GUSTAVO: Melhor assim, porque não gosto desse tal de Felipe.

 

HELEN: E de quem você gosta? De mim pelo menos?

 

GUSTAVO: Tolero um pouco, mas bem pouco. (sorri)... Vou pegar uma bebida.

 

HELEN: Pega pra mim também.

 

Gustavo olha para o copo dela que ainda está cheio. Ele faz sinal com os olhos. Helen revira os olhos e começa a beber tudo de uma única vez.

 

HELEN: Satisfeito?

 

GUSTAVO: (sorrindo) Agora sim.

 

Gustavo levanta e sai. Close no rosto de Helen, ela sorri satisfeita.

 

 

Lado de fora da casa. Cláudio, Felipe, Priscila, Bruno, Roger e Amanda conversam animadamente perto da piscina.

 

PRISCILA: Então Bruno... Vocês pulam muito brejo lá em... em... (tentando lembrar o nome da cidade)... Como é mesmo o nome do lugar?

 

BRUNO: Santa Fé. E sim, pulamos brejo, comemos fruta do pé, andamos a cavalo, nadamos na cachoeira, tudo que você possa imaginar.

 

PRISCILA: (sarcástica) Nossa, como sua vida era empolgante. Tinha água potável lá? E o banho, era em baldes ou chuveiro?

 

BRUNO: É uma cidade, não uma aldeia.

 

Priscila sorri para ele, em tom provocativo. Cláudio percebe e tenta mudar o assunto.

 

CLÁUDIO: E você, Amanda, se divertiu na viagem?

 

AMANDA: (sem empolgação) Ah, foi legal. Areia, praia, água de coco... Essas coisas.

 

PRISCILA: E os gatinhos? Conheceu algum?

 

ROGER: Hei! Ela não conheceu nenhum (fazendo careta) gatinho, porque deixou o gatão aqui esperando por ela.

 

AMANDA: (para Roger) Vamos dar uma volta?

 

ROGER: Ótima ideia.

 

PRISCILA: Gente, é brincadeira. Não precisam sair por minha causa.

 

ROGER: Não leve a mal, Pri... Nós ficamos um mês separados, então ainda estamos matando a saudade um do outro. Mas saiba que estar perto de você é um enorme prazer. (ironicamente)

 

Roger e Amanda saem. Os rapazes olham para Priscila.

 

PRISCILA: Falei alguma coisa que não devia?

 

FELIPE: Claro que não, eles que são mal educados. Gente sem classe.

 

Cláudio e Bruno riem. Felipe abraça Priscila que balança a cabeça.

 

 

Lado de dentro da casa. Amanda e Roger entram e param na sala. Eles arregalam os olhos. A câmera se movimenta, mostrando Helen dançando, bebendo e rindo de forma descontrolada com Gustavo. Roger balança a cabeça a vai até Helen.

 

ROGER: Helenzinha, posso falar com você um instante?

 

HELEN: (alegre) Claro, Rogerzinho. (ri).

 

Ela acena para Gustavo que responde com um aceno. Roger e Helen se afastam alguns centímetros.

 

ROGER: Você está bem?

 

HELEN: (rindo) Nunca estive melhor.

 

ROGER: Está bebendo?

 

HELEN: (fazendo sinal de pouco com os dedos) Um tiquinho só. (ri).

 

ROGER: E o Cláudio sabe disso?

 

HELEN: E que importância tem ele saber ou não? O Cláudio não é meu pai, não devo satisfações a ele.

 

ROGER: Ele se preocupa com você.

 

HELEN: E daí? (pausa) Eu estou bem, perfeitamente bem. Olha lá a Amanda, tanto tempo ficaram sem se ver, vá matar as saudades. Eu estou bem.

 

Ela toca o braço dele, sorri e volta a se aproximar de Gustavo. Roger fica observando-a, com uma expressão de preocupação. A tela escurece.
 

 

Abre mostrando várias cenas da festa, como jovens dançando, nadando, conversando, bebendo, se beijando. Cláudio, Bruno, Felipe e Priscila conversando de forma animada, jovens fazendo guerra com bexigas d’águas, jogando um garoto com roupas normais dentro da piscina. A câmera gira até parar em Cláudio, Felipe, Bruno e Priscila sentados perto da piscina. Cláudio olha insistentemente para trás. Felipe percebe.

 

Música: Yellowcard - Lights And Sounds

 

FELIPE: O que tanto você olha para trás.

 

CLÁUDIO: A Helen, desde que entrou, não saiu mais. Preciso ver como ela está.

 

PRISCILA: Posso ir junto?

 

CLÁUDIO: Sim, claro.

 

Cláudio e Priscila saem, deixando Bruno e Felipe sozinhos.

 

FELIPE: Então, Bruno... Me fale da mulherada da sua cidade.

 

BRUNO: Não tem muito o que falar não... Só umas que, rapaz, vou te contar... São de tirar o fôlego.

 

FELIPE: (entusiasmado) Conte-me mais...

 

 

Parte interna da casa. Helen continua dançando animadamente com Gustavo. Em sua mão, também continua segurando um copo com bebida. Ela para de dançar e movimenta a braço para beber. Perto de chegar à boca, vemos a mão de Cláudio tirando o copo e olhando-a com censura.  

 

Cont. Yellowcard - Lights And Sounds

 

CLÁUDIO: Você não acha que já passou da conta não?

 

HELEN: (rindo) Quem sabe quando eu cair bêbada, seja a hora de parar?

 

CLÁUDIO: (sério) Estou falando sério!

 

HELEN: (séria) Quem disse que eu estou brincando?

 

CLÁUDIO: Olha pra você, Helen... Bêbada, agindo de forma irresponsável, pior que uma criança sem discernimento.

 

HELEN: (fazendo cara de pena) Ownnn, o que diria minha vovó, ou minha mamãe, ou o falecido do meu pai se me vissem assim, huh? (dando ombros) Eu não dou à mínima! 

 

Ela volta a dançar. Cláudio fecha ainda mais a cara e segura no braço dela.

 

CLÁUDIO: Vem, vamos pra casa.

 

HELEN: (puxando o braço) Não! Você não é meu dono!

 

CLÁUDIO: (nervoso) Mas sou seu responsável!

 

Helen começa a gargalhar e bater palmas. As pessoas por perto começam a se aglomerar para ver a cena.

 

HELEN: Grande trabalho tem feito, papi. (virando-se) Alguém pode me trazer outra bebida?

 

CLÁUDIO: Nada disso! Você vem comigo agora!

 

Gustavo toma a frente de Helen, encarando Cláudio.

 

GUSTAVO: Ô cidadão, que parte você não ouviu ela dizendo que não quer ir com você?

 

CLÁUDIO: (revirando os olhos) Sai da minha frente, Gustavo.

 

GUSTAVO: (se aproximando e intimidando) Ou o quê?

 

Cláudio balança negativamente a cabeça, olha para cima e depois empurra forte Gustavo, que cai sobre as pessoas. Ele se aproxima de Helen e a pega pelo braço, puxando-a e conduzindo-a para fora da casa.

 

CLÁUDIO: A noite acabou, vamos!

 

HELEN: (tentando se soltar): Cláudio, me solta!

 

Ele continua conduzindo-a para fora. Um rapaz está segurando um copo, ao passar por ele, Helen tira o copo da mão dele e joga a bebida em Cláudio, que para imediatamente, soltando-a. Close no rosto de Helen que arregala os olhos, parecendo não acreditar no que acabara de fazer. Cláudio encara Helen com fúria.

 

HELEN: (arrependida) Cláudio, eu...

 

Cláudio morde os lábios de nervos, dá um passo à frente e pega Helen pela cintura, colocando-a em seu ombro.

 

HELEN: (nervosa) O que você está fazendo? Cláudio, me coloca no chão, agora!

 

CLÁUDIO: (parando perto de Priscila) Vem comigo.

 

Ele começa a subir a escada, carregando Helen que tenta se soltar, batendo nas costas dele. Priscila vem logo atrás. A câmera se movimenta, mostrando as pessoas em volta observando a cena. Alguns dão risadas. 

 

 

Corta para uma banheira. Cláudio coloca Helen dentro e abre o chuveiro, deixando-a se molhar, ainda vestida.

 

CLÁUDIO: (nervoso) Se é assim que prefere ser tratada, como uma bebum irresponsável, então que seja. 

 

HELEN: (triste) Cláudio...

 

CLÁUDIO: Não! (breve pausa) Sabe, no começo esse seu modo de agir era até compreensível, apesar de eu não gostar. Mas agora você está passando dos limites... E se pensa que eu vou ficar parado, vendo você destratar até quem se preocupa com você, está muito enganada. Minha paciência também tem limites!

 

Helen não responde, apenas abaixa o olhar. Cláudio vai até Priscila que está perto da porta do banheiro.

 

CLÁUDIO: Dê um banho bem gelado nela pra mim, por favor?

 

Priscila balança a cabeça, concordando e depois entra, indo na direção de Helen. Amanda entra também. Cláudio sai e fecha a porta. A cena muda para o lado de fora, onde Roger está no corredor. Cláudio encosta a cabeça na parede e fecha os olhos, respirando fundo em seguida.

 

CLÁUDIO: (ainda com os olhos fechados) Acha que fui muito duro com ela?

 

ROGER: Está brincando? Depois de levar um banho de cerveja na frente de todos, ela tem sorte de você ainda olhar pra ela.

 

CLÁUDIO: Eu não sei mais o que fazer, Roger... Não desgrudei dela esse tempo todo, até nas vezes que a Larissa veio pra cá. Fiz de tudo para dar suporte a ela, mas parece que não é o bastante.

 

ROGER: Relaxa, meu amigo. Ela vai acabar se acalmando.

 

CLÁUDIO: Tenho medo que esse seja um caminho sem volta.

 

ROGER: Não, não é, sabe por quê? Porque nós não vamos desistir até trazê-la de volta. Tenha mais um pouco de paciência, okay?

 

Cláudio acena de leve com a cabeça, visivelmente cansado. Ele desencosta da parede.

 

CLÁUDIO: Eu vou dar uma volta.

 

ROGER: Isso mesmo, vá esfriar a cabeça... Eu vou ficar aqui esperando a Mandy.

 

Cláudio dá um leve tapa no ombro do amigo e se movimenta pelo corredor. Roger fica observando-o com pesar.

 

 

Corta para Cláudio descendo a escada, visivelmente desanimado. Ele para no meio e começa a observar o movimento da sala.

 

Música: Matchbox 20Unwell

 

A câmera gira mostrando vários jovens. Alguns dançando, outros rindo, conversando, casais se beijando. Cláudio abaixa a cabeça e continua descendo a escada. Ele para no primeiro degrau e olha para o lado, na direção da porta. Aos poucos sua feição começa a mudar, se animando ao ver algo.

 

A câmera muda para algumas pessoas na frente. Quando elas saem, vemos Larissa próxima da porta, conversando com duas garotas. Corta para o rosto de Cláudio, que esboça um largo sorriso. Corta para Larissa ainda conversando com as garotas. Ela desvia o olhar para frente e sorri.

 

Cláudio apressadamente se desloca na direção dela. Larissa deixa as garotas e também vai ao encontro dele. A câmera fica parada, e vemos ambos se encontrando se abraçando fortemente. Após alguns segundos eles se olham e começam a se beijar apaixonadamente. A imagem começa a girar sobre eles, mostrando o beijo em vários ângulos. Fica assim por alguns segundos, até que a tela congela e começa a transparecer.  

 

 

Cláudio e Larissa caminham abraçados pelo jardim.

 

CLÁUDIO: (feliz) Ainda não acredito que esteja aqui. Definitivamente, salvou minha noite.

 

LARISSA: (sorrindo) Eu insisti para minha mãe e o Jonatas me trazerem. Um pouco em cima da hora, mas aqui estou.

 

CLÁUDIO: E por que a senhorita não me disse? Pelas minhas contas, na última vez que nos falamos, você já devia estar na estrada.

 

LARISSA: Eu quis fazer surpresa, e na verdade, ver se te pegaria em algum momento constrangedor. (pensativa) A propósito, o que o senhor estava fazendo lá em cima e por que está cheirando cerveja?

 

CLÁUDIO: Esse é o motivo de minha noite quase terminar pessimamente se você não viesse.

 

LARISSA: (suspirando) Helen.

 

CLÁUDIO: Eu não sei mais como agir com ela. Olha o resultado (mostra a camisa molhada).

 

LARISSA: (rindo) Não acredito que ela jogou bebida em você...

 

CLÁUDIO: (sorrindo) E você acha graça?

 

LARISSA: É que imaginar o anjinho virando diabinho desse jeito, soa surreal.

 

CLÁUDIO: Pra você ver que qualquer um está sujeito a se render ao lado negro da força.

 

LARISSA: Eu vou tentar conversar com ela. Afinal, sei melhor do que ninguém como é ser uma garota rebelde.

 

CLÁUDIO: (abraçando-a e ficando de frente com ela) Verdade... E você sabe que eu tenho uma queda por garotas rebeldes. (sorri).

 

LARISSA: Uhum, por isso preciso tratar de consertar a Helen o quanto antes.

 

Cláudio sorri e ambos se encaram por alguns instantes. Ele passa a mão no rosto dela, que beija a mão dele carinhosamente. Ele se inclina e beija os lábios dela, que segundos depois, se torna um beijo mais intenso. A câmera sobe, parando em determinado ponto e fixando nos dois por alguns segundos.

 

 

Parte interna da casa. Helen está em um quarto, deitada na cama. Um lençol cobre todo seu corpo, deixando apenas seu rosto destampado. Priscila está sentada na ponta da cama.

 

Música: Switchfoot – This is Your Life

 

PRISCILA: Se sente melhor?

 

HELEN: Uhum...

 

PRISCILA: O Felipe disse que você dormir esta noite aqui. Então descanse, okay?

 

Helen permanece em silêncio. Priscila toca a perna dela, levanta e caminha até a porta.

 

HELEN: Priscila.

 

Priscila para e se vira para Helen.

 

HELEN: O Cláudio está com muito ódio de mim?

 

PRISCILA: Não, ele te adora... Mas não é fácil ver alguém que a gente tanto ama, se autodestruindo. Só toma cuidado, pois ele também é humano e uma hora pode acabar percebendo que não vale mais a pena.

 

Helen fica pensativa e com uma expressão de abatimento. Priscila sai do quarto.

 

 

Vista aérea do centro da cidade. A noite parece tranquila e com pouco movimento na praça.

 

Cont. Switchfoot – This is Your Life

 

CLÁUDIO: (em off) “Quando a gente gosta, é claro que a gente cuida”... Já dizia o poeta. Por isso eu cuido da Helen, da Lari, do Bruno. (pausa) Já estou começando a achar que preciso de alguém para cuidar de mim.
 

 

 

Casa de Cláudio. Bruno está no quarto, sentado na cama, com uma expressão bastante pensativa. Ouve-se duas batidas na porta, segundos depois ela abre pela metade e Cláudio aparece.

 

Cont. Switchfoot – This is Your Life

 

CLÁUDIO: Está confortável aí? Cama, travesseiro, tudo certinho?

 

BRUNO: (sorrindo) Está tudo perfeito.

 

CLÁUDIO: Que bom... Agora você me dá licença, que eu vou namorar um pouco. Boa noite, primo.

 

BRUNO: Durma com os anjos (sorri).

 

Cláudio sorrindo, fecha a porta. Bruno volta a ficar reflexivo. Ele levanta e caminha pelo quarto. Após alguns segundos, tira o celular do bolso e disca.

 

CLÁUDIO: (em off) Segredos, afinal, por que eles existem? Se é algo bom, por que esconder?

 

BRUNO: Hei... (pausa) Eu sei que é tarde. (pausa) Me procuraram aí? (balança a cabeça) Certo. Mas faça de tudo para que não saibam onde estou morando, okay?

 

Bruno desliga o celular, ficando com uma expressão de preocupação.

 

 

Sala. Cláudio e Larissa estão no sofá, se beijando. Ele está deitando por cima dela. Após alguns segundos, eles param de se beijar e se olham.

 

Cont. Switchfoot – This is Your Life

 

CLÁUDIO: Então é isso. Segunda começam as aulas e a garota mais linda não vai estar no Esplendor.  

 

LARISSA: E dessa vez eu que estou morrendo de medo em ser a garota nova do colégio.

 

CLÁUDIO: Sei que logo conquistará seu espaço. Você é cativante (sorri).

 

LARISSA: Mas estou com frio na barriga. As pessoas da capital são diferentes, mais frias. (o beija) Queria tanto que estivesse lá comigo.

 

CLÁUDIO: E eu tanto que estivesse aqui comigo.

 

Eles voltam a trocar olhares. Após alguns segundos, Larissa o puxa e o beija de forma intensa. O som aumenta e toma conta da cena. A câmera começa se afastar, parando em determinado ponto.

 

CLÁUDIO: (em off) Chega de segredos, fugas, rebeldias. Todos nós precisamos de uma pausa. Mas a vida não espera que estejamos prontos para ela... E se todos estavam fugindo, bom, eu não pretendo fugir.

 

A tela escurece lentamente.








CRÉDITOS FINAIS

 

CRIADO E ESCRITO POR:

 

Thiago Monteiro

 

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL

 

Heather Tom como Marcia

Emma Roberts como Larissa

 

TRILHA SONORA

 

Citizen Cope - Son´s Gonna Rise

Snow Patrol - Chasing Cars

Stereophonics – Maybe

Nada Surf - Always Love

Hawk Nelson - First Time

Yellowcard - Lights And Sounds

Matchbox 20 – Unwell

Switchfoot – This is Your Life


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