ANNA
POPPLEWELL:
(em
off)
Para entendermos melhor como chegamos até aqui... HELEN:
(um
pouco
entristecida)
Sabe, eu não queria pensar nisso, não queria mesmo. Mas
de vez em quando sempre vem aquela ideia de que foi tudo
culpa minha.
De que se não fosse por minha causa, meus pais ainda
estariam
vivos. ROSA:
(repreendendo-a)
Jamais repita uma coisa dessas! (puxa
a cadeira e senta de frente para ela) Você
não teve culpa do que aconteceu! Foi um acidente. ________________________ HELEN:
Mas foi por causa do parto repentino que meu pai teve que
correr tanto
com o carro. (suspira)
E
pensa que ela chegou viva no hospital, só pra morrer ao me
dar
à luz. ________________________ HELEN:
(olhando
seriamente
para a avó)
Por anos eu fiquei calada, fingindo que engolia essa
história.
Mas estava na cara que existia algo aí que não queria que
eu soubesse. Como pode não existir uma foto da minha mãe? ________________________ ROSA:
Você não tem direito algum. Abriu mão disso
há muitos anos. Ela não precisa de você na vida
dela. ________________________ HELEN:
Você é minha mãe? MARCIA:
Sim, meu amor. Eu sou sua mãe. ________________________ HELEN:
Não quero ouvir nada de ninguém. O que está mais
do que claro aqui é que você me abandonou e você
(olha para Rosa) mentiu todos esses anos, me fazendo
acreditar ser a
causa da morte dessa mulher. ________________________ HELEN:
O que você quer? MARCIA:
(com pesar) Sua avó, Helen. Ela está internada... E
é grave, muito grave. ________________________ HELEN:
Eu quero saber de tudo. O porquê de você ter me abandonado.
O porquê dela mentir a vida inteira pra mim. Quero saber por
que
apareceu depois de tantos anos... (mexe os ombros) Enfim, o
que puder
me contar sobre o passado de vocês, o meu passado, eu quero
ouvir. MARCIA:
Por mais que isso venha me condenar ainda mais, você precisa
saber toda a verdade. Então não vou economizar nenhum
detalhe, sem mais segredos...
Música:
Aerosmith
- Dude Looks Like
A Lady LEGENDA:
Montenegro, Junho de 1990 Uma
garota
dança próxima de outras duas que estão
encostadas em um carro. Ambas seguram copos plásticos com
bebidas. GAROTA
[Keisha Buchanan]:
(falando ao ouvido da que está ao lado) Cadê o amorzinho? GAROTA
2
[Brittany Snow]:
(rindo)
Pensando que estou em casa, estudando. GAROTA
1:
Marcia,
definitivamente, você não presta (ri). MARCIA:
(sorrindo) Suellen, minha garota, só se é jovem uma vez. Interior
de
uma casa. Um rapaz [Elijah Wood]
está sentado à mesa, escrevendo em um caderno, estudando.
Uma mão é colocada sobre seu ombro e quando ele olha, a
câmera sobe juntamente, mostrando se tratar de Rosa, que
está de cabelos escuros e aparência um pouco mais nova,
sorrindo para ele. ROSA:
Pausa
para um café? RAPAZ:
(sorrindo) Obrigado, mãe... Eu já estou terminando. Rosa
senta
ao lado dele e fica encarando-o. O rapaz para o que está
fazendo e a olha. RAPAZ:
O
quê? ROSA:
Sua
acompanhante, onde ela está? RAPAZ:
Minha
namorada, você quer dizer. ROSA:
(dando
os ombros) Que seja... Ela não deveria estar aqui estudando
contigo? RAPAZ:
Mãe, nossos cursos são diferentes. Essa sua
implicância com a Marcia está ficando meio chato, sabia? ROSA:
Não é implicância, Daniel. Só não
consigo me simpatizar com essa moça... Há algo nela que
não me convence. DANIEL:
(rindo
e balançando a cabeça) É ciúmes de
mãe, apenas. ROSA:
Você sabe que não é ciúmes. Não
é primeira moça que você se relacionou antes. DANIEL:
Mas
nunca foi tão sério como agora. ROSA:
Sério aonde? Quase todo final de semana vocês estão
separados, estudando. Agora, nesse exato momento, o que ela
está
fazendo? DANIEL:
O mesmo
que eu, óbvio. Corta
instantaneamente
para o campo. Marcia está virando uma garrafa
de bebida na boca. Os que estão em volta, vibram. VÁRIAS
PESSOAS:
Vai,
vai, vai, vai, vai... Volta
para
Daniel e Rosa na mesa. ROSA:
Mas
cada um poderia estudar sua matéria, mesmo juntos. DANIEL:
(sorrindo) Você sabe que não ia dar certo. Teríamos
que parar a cada cinco minutos. ROSA:
Não se eu estiver por perto para fiscalizar. DANIEL:
E
é exatamente por isso que ela mal vem aqui. Que garota gosta
de
visitar o namorado, com a sogra marcando território o tempo
todo? ROSA:
(levantando) Vou fazer alguma coisa pra você comer. DANIEL:
Mãe, não precisa ficar preocupada. A Marcia é
inteligente, linda... Corta
novamente
para o campo. Marcia sorri para um rapaz que está
perto dela. Eles se aproximam e começam a se beijar. Volta
para
Daniel na mesa. DANIEL:
Fiel. (sorrindo) Ela é tudo o que
eu sempre quis. ROSA:
Acho que você está um pouco apressado demais para quem mal tem dois meses de relacionamento. DANIEL:
Pelo
visto você não vai recuar mesmo... Huh?
ROSA:
(sorrindo) Assim que provar que estou errada.
DANIEL:
(sorrindo) Provarei. Rosa
sorri
levemente e sai. Daniel fica pensativo por alguns segundos
e
depois volta a estudar. Campo.
Marcia
está encostada no mesmo carro do começo,
conversando com Suellen. MARCIA:
Nossa,
estou tonta, muito, muito tonta. SUELLEN:
(rindo)
Você está bêbada, meu amor... Quer que eu te leve
para casa? O
rapaz que estava beijando-a a olha. Ela percebe e acena
para ele. MARCIA:
(andando) Eu tenho coisa muito melhor pra
fazer. SUELLEN:
E o
Dani? MARCIA:
(parando e virando) Você não vai me fazer sentir culpa,
ouviu? Suellen
ri.
Marcia se vira e vai até o rapaz. A imagem sobe e mostra
os
dois se abraçando. Segundos depois a tela escurece.
MARCIA:
Que
enjoo e dor de cabeça. SUELLEN:
Eu te
disse... Mas agora tenta disfarçar que o amor da sua vida
está chegando. Marcia
revira
os olhos. A câmera se movimenta, mostrando Daniel
aparecendo. Ele beija o rosto dela, feliz. MARCIA:
Cuidado, Daniel! DANIEL:
Cuidado
com um beijo no rosto? MARCIA:
Estou
morrendo de dor de cabeça, abusei demais no estudo ontem.
Não aguento mais ver livros, palavras, letras. DANIEL:
É, eu também... Você precisa se alimentar,
já disse que não é só enfiar a
cabeço no livro. Marcia
ergue
as sobrancelhas. Eles se olham por alguns segundos.
Suellen
levanta. SUELLEN:
Bom,
vejo vocês mais tarde. Até mais estudiosa. Suellen lança um sorriso provocativo e sai. Marcia olha seriamente para ela. Depois volta o
olhar para
Daniel. DANIEL:
Então, quer almoçar lá em casa mais tarde? MARCIA:
(levantando e começando a subir) Acho que não. DANIEL:
(seguindo-a) Por quê? MARCIA:
Você sabe porquê. Sua mãe não me suporta e o
sentimento é recíproco. DANIEL:
(rindo)
O quê? (para de rir) Não, minha
mãe te adora. Marcia
para
e fica de frente para ele. MARCIA:
Você mente mal, sabia? Ela
se
vira novamente e entra na universidade. Daniel continuam
acompanhando-a. DANIEL:
Okay, mas ouça... Minha mãe
só está com um pouquinho de ciúmes, afinal, somos
só nós dois desde que meu pai morreu. Vocês
só precisam se conhecer melhor. Tenho certeza que vão se
dar bem. MARCIA:
(pensativa por alguns segundos) Está bem. Mas se ela
começar com aqueles interrogatórios de novo, eu juro que
será a última vez que pisarei na sua casa. Entendeu? DANIEL:
(sorrindo) Pode deixar. Vai dar tudo certo, eu prometo. Ele
abraça
Marcia e ambos caminham abraçados pelo corredor. A
câmera fica parada, mostrando-os pelas costas por alguns
instantes. Cozinha
da
casa de Daniel. Na mesa estão Rosa, Marcia e Daniel. As
duas
estão sérias e um silêncio constrangedor toma a
cena. DANIEL:
(quebrando o silêncio) A comida está uma delícia,
mãe. ROSA:
Obrigada. Mas parece que sua namorada não é da mesma
opinião. MARCIA:
Desculpa, dona Rosa. É que eu não como carne vermelha. ROSA:
Bom, se
tivessem me avisado antes, teria feito algo da lista que
você
gosta. Quer que eu frite um ovo? MARCIA:
(sem
graça) Não é necessário... Não estou
com muita fome também. ROSA:
Por
quê? MARCIA:
Por que
o quê? ROSA:
O que
você fez ontem que te deixou sem fome hoje? (mexe
os ombros) Seria algum tipo de ressaca? DANIEL:
(intervindo) Okay... Vamos para
a
sobremesa? Corta
para
a sala. Marcia está sentada no sofá, de
braços cruzados, séria e olhando para a televisão.
A câmera se move até a cozinha, onde Rosa lava a
louça e Daniel ajuda a secar. DANIEL:
Seria
muito tentar ser um pouquinho mais simpática? ROSA:
Eu
não sei disfarçar, Daniel, você sabe muito bem
disso. DANIEL:
Pois
está na hora de aprender... Aliás, está na hora de
aprender a gostar dela, porque ela não vai a lugar algum. ROSA:
Você acredita mesmo que ela passou a noite estudando? Olha
bem
para a cara dela. DANIEL:
(bufando) Eu não vou nem tentar argumentar mais. Ele
balança
a cabeça negativamente e se vira, caminhando
até a sala. Close no ambiente vazio. Daniel abre os
braços. DANIEL:
Perfeito! Espantou minha convidada. Legal, mãe, muito legal.
Daniel
sai
de cena. Close em Rosa que entorta a boca e balança a
cabeça em reprovação. Segundos depois a tela
escurece. Abre
no
pátio da universidade. Marcia está sentada em um
banco, quanto Daniel está sentado ao lado dela, olhando
fixamente para a frente. LEGENDA:
Agosto
de 1990 DANIEL:
Você não pode estar falando sério. Por quê? MARCIA:
Dani,
você é uma belezinha, mas eu não estou preparada
para isso. Nossa relação parece estar ficando
séria e no momento só quero pensar no meu futuro. DANIEL:
E eu
não posso fazer parte desse futuro? MARCIA:
Não, preciso me focar apenas em mim, no meu curso, no meu
estágio. Não posso ter distrações agora. DANIEL:
(se
inclinando e coloca as mãos na cabeça) Isso não
está acontecendo... MARCIA:
Ouça, você vai encontrar alguém que te
mereça... Não é o fim do mundo, okay? DANIEL:
Podemos
pelo menos continuar sendo amigos? MARCIA:
Acho
melhor a gente dar um bom tempo da gente, entende? Pra poder
seguir em
frente. Daniel
fica
com uma expressão completamente abatida. Marcia passa a
mão no rosto dele. MARCIA:
Agora
eu tenho que ir. Boa sorte em tudo na vida. Ela
sai,
deixando-o sozinho. Daniel abaixa o olhar, triste. Corredor
da
universidade. Suellen se aproxima de Marcia que vai na
direção de uma porta. SUELLEN:
Como
foi? MARCIA:
De
partir o coração... (abre um sorriso) Mas ele é
muito bobinho pra mim. SUELLEN:
(sorrindo) Sua diabinha. Elas
riem
e entram em uma sala. A câmera permanece do lado de forma
por alguns instantes. Parte
interna
de uma casa. Suellen está apreensiva, encostada em uma
porta. SUELLEN:
E
aí? O que deu? Corta
para
dentro de um banheiro. Temos a imagem de um espelho.
Marcia
levanta a cabeça, olhando seriamente para ele. LEGENDA:
Setembro de 1990
SUELLE:
(em
off) Marcia, está me deixando louca aqui fora! MARCIA:
(nervosa) Espera Suellen! Ela
olha
para baixo por alguns segundos, depois olha para o espelho
novamente e fecha os olhos. MARCIA:
Merda! Lado
de
fora. A porta abre e Marcia sai. Suellen a olha com
apreensão. SUELLEN:
Não me mate de curiosidade. Qual foi o resultado? Os
olhos
de Marcia se enchem de lágrimas. Suellen percebe o
resultado e a abraça forte. Corta
para
o que parece ser um bosque deserto. Daniel está sem
reação, sentado em cima do capô de um carro. Marcia
impacientemente anda de um lado para o outro. DANIEL:
(com
os
olhos arregalados) Grávida? MARCIA:
(abrindo os braços) É possível uma coisa dessas? DANIEL:
E
é meu? MARCIA:
(parando e olhando seriamente) Vou fingir que não escutei
essa
pergunta. Sei muito bem com quem eu dormi nos últimos meses.
DANIEL:
(concordando com a cabeça) Okay,
vamos pensar em alguma coisa. MARCIA:
Eu
já pensei e por isso te chamei aqui. DANIEL:
(curioso) Estou ouvindo... MARCIA:
Tem uma
clínica na cidade vizinha... DANIEL:
(interrompendo e descendo do carro) Não, não, não!
Você só pode estar ficando louca, se pensa que eu vou
deixar que faça um aborto. MARCIA:
Daniel,
nem eu e nem você temos
condições, tanto financeira, quanto psicológica
pra criar um filho agora. Pensa na sua querida mamãe, do
quão louca ela vai ficar quando souber? Daniel
fica
pensativo por alguns segundos, depois fecha os olhos e
bufa. DANIEL:
Ainda
assim estamos falando de uma vida. MARCIA:
Eu
já tomei minha decisão, quer você queira ou
não. DANIEL:
Por que
me chamou aqui então? MARCIA:
A
operação custa caro. Eu preciso que ajude a pagar. DANIEL:
(após alguns segundos) Eu tenho algumas economias que estava
guardando para quitar o carro, mas... MARCIA:
(interrompendo) Ótimo! Junta tudo que puder. A Suellen vai
me
emprestar alguma coisa também, e logo, logo, estaremos
livres
dessa coisa. DANIEL:
(repreendendo-a) Não fale assim, Marcia! Querendo ou não
você carrega um filho aí dentro. MARCIA:
Que
seja. Mas nem é uma criança ainda, sossega a
cabeça. Daniel
encosta
no carro e fica olhando para cima, como se estivesse
imaginando
algo. Marcia o olha e entorta a boca. MARCIA:
O que
foi agora? DANIEL:
É que fiquei pensando agora, se seria menino ou menina... MARCIA:
Não começa, Daniel. A última coisa que preciso
é de apelo sentimental... Ele ou ela, não
vai nascer e ponto. Entendeu? Close
no
rosto de Daniel que concorda de leve com a cabeça. Marcia
revira os olhos e vai até o carro, abrindo a porta do
carona.
Daniel se desloca até a porta também. Após alguns
segundos, a tela escurece. Abre
mostrando
o dia amanhecendo e anoitecendo algumas vezes. A imagem
transparece para dentro de um consultório clínico. Marcia
está sentada na sala de espera. Nas cadeiras ao lado,
algumas
mulheres também se encontram no local, dando a entender
que
também vieram fazer a mesma coisa. Close nas mãos de
Marcia que cutuca a unha, nervosa. A câmera desce
mostrando seus
pés que batem de forma insistente. Corta
para
Daniel que está parado de frente para uma porta. A porta
abre e Suellen aparece, franzindo a testa ao vê-lo. Música: Roxette - Its Must Have Been Love DANIEL:
(apreensivo) Eu sei que ela não queria que ninguém fosse
junto, mas Suellen, eu preciso do endereço da clínica,
agora! SUELLEN:
Por
quê? Ela vai me matar se você aparecer por lá. DANIEL:
(sorrindo) Não, não vai. Suellen
fica
pensativa por alguns segundos. Daniel insiste. DANIEL:
Por
favor? SUELEN:
(suspirando) Está bem... Espero que esteja fazendo a coisa
certa. DANIEL:
(sorrindo) E estou. Corta
para
o carro de Daniel trafegando por uma estrada deserta.
Close no
velocímetro que sobe de 80,
para 100.
A imagem transparece para Marcia na clínica, ainda
aguardando
com nervosismo sua hora. Nota-se que a presença feminina
no
local diminuiu. Lado
de
fora da clínica. O carro de Daniel freia bruscamente. Ele
olha na direção da porta da clínica e abre a porta
do carro, correndo em seguida. Lado
interno
da clínica. Marcia, agora sozinha, folheia uma revista.
Daniel entra correndo na sala. Marcia franze a testa e
fecha a revista,
levantando e indo até ele. Cont. Roxette -
Its Must
Have Been Love MARCIA:
O que
faz aqui, Daniel? DANIEL:
Vim
apelar para o sentimentalismo. Eu não posso deixar você
fazer isso. MARCIA:
(incrédula) Por favor... (coloca as mãos na
cabeça) Nós já conversamos sobre isso. DANIEL:
Sim,
que somos imaturos para ter um filho, não temos
condições financeiras, etecetera, etecetera, etecetera.
Mas quem está preparado para isso? MARCIA:
Pessoas
que estão casadas e seguras financeiramente? DANIEL:
Exceções... (segura nas mãos dela) Eu nunca
deveria ter aceitado que viesse aqui. Marcia, é uma vida que
está aí dentro, nossa vida. MARCIA:
(confusa) Daniel, não... Por favor? DANIEL:
Não estou dizendo que tudo vai ser as mil maravilhas, pois
não será. Mas vamos lutar e batalhar para darmos uma vida
digna a essa criança. (abaixa o
olhar) Eu não quero daqui alguns anos, olhar para trás e
me arrepender de não ter tentado. Eu sei que isso vai matar
a
mim e a você também. Close
no
rosto de Marcia que fica bastante pensativa. Daniel se
ajoelha na
frente dela. Marcia abre bem os olhos. MARCIA:
Eu
não vou me casar com você. DANIEL:
(rindo)
Não estou te pedindo em casamento. Mas estou implorando de
joelhos... Não faça isso! MARCIA:
(bufando) Oh merda! DANIEL:
(levantando e sorrindo) Isso é um sim? Podemos sair daqui? MARCIA:
E a
parte financeira? Continuamos sem condição de criar uma
criança. DANIEL:
Eu
já pensei nisso. Vou arrumar um bom emprego, um
estágio... Podemos continuar com a faculdade. Eu já posso
tentar dar algumas aulas particulares e você pode sair da
casa da
Suellen, que é uma despesa a mais, e vir morar comigo. MARCIA:
O
quê? Nunca que eu iria morar no mesmo teto que a Rosa... Enlouqueceu? DANIEL:
É temporário, Marcia, até a gente poder se
estabelecer melhor. Não é a hora de colocar o orgulho
acima da necessidade. MARCIA:
Ela vai
te matar quando souber disso... E depois vai me matar
também. DANIEL:
(sorrindo) Sim, ela vai implicar no começo, chiar, chorar,
jogar
alguns pratos em mim. Mas vai acabar aceitando a ideia, e tenho certeza que se
derreterá no momento que colocar os olhos nessa fofura
que vai nascer. MARCIA:
Ainda
está em formação. Você nem sabe se vai ser
perfeito. DANIEL:
Já é perfeito pra mim. Nesse
instante
a porta de uma sala abre a ouve-se uma voz feminina VOZ
FEMININA:
Marcia? Marcia
olha
na direção da voz. Daniel a olha com
apreensão. MARCIA:
Eu mato
a Suellen! (olhando para ele)
Vamos dar o
fora daqui! Daniel
abre
um largo sorriso e ambos se deslocam até a saída. Cozinha
da
casa de Daniel. Rosa está em pé em frente à
mesa, visivelmente nervosa. ROSA:
(nervosa) Você quer me matar de desgosto? Como foi deixar
isso
acontecer? DANIEL:
Simplesmente aconteceu. ROSA:
(colocando a mão na cabeça) Um filho, meu filho, vai ter
um filho. Aquela vagabunda que te arrastou para isso. DANIEL:
Nós dois temos culpa, mãe. Não jogue tudo nos
ombros da Marcia. Se não fosse por mim, ela teria tirado a
criança hoje. ROSA:
(indignada) E é essa que você acha que vai ser uma boa
mãe para o seu filho? Uma mulher que nem queria tê-lo, pra começo de conversa? DANIEL:
Ela
estava assustada, okay? Eu
mesmo ia
contribuir com a ideia. ROSA:
Viu
só o que essa moça fez com você? Como pode sequer
ter pensado na possibilidade de aceitar que um
vida
fosse tirada? DANIEL:
Eu sei,
foi cruel e eu jamais teria conseguido viver com esse peso
nas costas.
Mas graças a Deus a criança ainda existe e vamos fazer de
tudo para ela nasça e seja feliz. ROSA:
E como
pretendem fazer isso? Até onde eu sei, nenhum dos dois têm
emprego fixo. DANIEL:
Eu vou
arrumar um emprego fixo, darei aulas, o que for. Mas tem uma
coisinha
que eu disse a ela que talvez te faça explodir um pouquinho
mais. ROSA:
Vai,
despeja... O que pode ser pior do que você ter um filho com
aquela lá? Nesse
instante
a campainha toca. Daniel olha na direção da
porta e depois na direção de Rosa. ROSA:
Não,
você
não fez isso? DANIEL:
(fazendo careta) Era o único jeito. Corta
para
Daniel abrindo a porta. Marcia entra segurando duas bolsas
grandes. Rosa está parada perto da escada, séria e com os
braços cruzados. MARCIA:
(sorrindo) Obrigada, dona Rosa, por ter concordado que eu
viesse pra
cá. ROSA:
Acredite, eu não concordei. Agora se me deem licença, vou
ali tomar um veneno e já volto. Rosa
sobe
a escada e sai de cena. Marcia vai até Daniel. MARCIA:
(sussurrando) Você disse que ela tinha concordado. DANIEL:
Pois
é, posso ter ocultado essa parte. A verdade é que só
tive coragem de contar agora. Mas fica tranquila, ela não
concorda, mas aceita. MARCIA:
(sorrindo de leve) Me sinto bem melhor agora. DANIEL:
(colocando as duas mãos nos braços dela) Confie em mim,
vai dar tudo certo. (pegando as
bolsas dela)
Vem que eu vou te mostrar o nosso quarto. MARCIA:
Nosso
quarto? Vamos viver como casal? DANIEL:
Vamos
ter um filho e criá-lo juntos, não vamos? Marcia
não
responde. Daniel a olha por alguns segundos. DANIEL:
Vamos
esquecer aquele lance de terminar, okay?
Vamos nos dar uma chance de ser uma família... O que me diz? MARCIA:
(após alguns segundos) Okay,
mas
vou precisar de um tempinho para processar tudo isso. DANIEL:
(sorrindo) Você tem nove meses. MARCIA:
(sorrindo) Ai que engraçadinho. Daniel
se desloca até a escada, e Marcia o acompanha. A câmera
permanece na sala, enquanto os vemos subindo os degraus. O som de suas
vozes ecoa pelo corredor, mas não conseguimos ouvir claramente o
que estão dizendo. A cena se concentra nos detalhes do ambiente,
mostrando fotografias de família nas paredes e alguns objetos
pessoais em uma estante. Após alguns segundos, a tela escurece. Abre
mostrando
um carro parado em frente à casa. É noite. A
porta do veículo abre e Marcia sai. No banco de trás,
é possível ver duas garotas e no volante está
Suellen. SUELLEN:
Em
casa, sã e salva! MARCIA:
(fazendo sinal com o dedo) Shhs,
vai
acordar a velha! SUELLEN:
(rindo
e falando baixo) Okay, okay...
Até mais amiga. MARCIA:
(sorrindo e fazendo sinal de beijo) Amo vocês. O
veículo dá partida e sai. Marcia acompanha com o olhar
por alguns segundos, depois se volta para a casa e desfaz
a
expressão feliz. LEGENDA:
Novembro de 1990 Interior
da
casa. O ambiente está escuro. Ouvimos o barulho da chave e
a
porta abrindo em seguida. Quando está prestes a fechar, a
luz
acende e mostra Rosa olhando seriamente para Marcia. MARCIA:
(sorrindo timidamente) Oi Rosa, o que faz acordada? ROSA:
Pois
é, a velha tem problemas de sono. Close
no
rosto de Marcia que abaixa o olhar, envergonhada. Ela
caminha
até a escada. ROSA:
Sabe
que horas são? MARCIA:
Por
favor, mantenha-me informada... ROSA:
Duas e
meia da manhã e não é a primeira vez que
você faz isso. MARCIA:
(falando para si) E lá vamos nós com o sermão... ROSA:
Não é questão de dar sermão, menina.
É questão de responsabilidade. Enquanto o coitado do
Daniel se desdobra em dois empregos, você parece que não
está nem aí. É justo uma coisa dessas? MARCIA:
Eu
disse
a ele que não ia mudar minha vida porque estou morando aqui.
ROSA:
(rindo
nervosamente) Mas você está grávida! Sua vida
já mudou! E isso não é bom para a criança. MARCIA:
Eu
estou fazendo o que posso, okay?
Tomando
todas essas malditas precauções por causa dessa porcari...
(para de falar) Por causa desse
bebê. Mas eu tenho direito de me divertir um pouco. ROSA:
(indignada) Você não se importa com ele, não
é? Não se importa com nada. MARCIA:
Agora
é tarde para desfazer o estrago. Seu querido filho impediu,
então agradeça a ele por eu estar aqui, te deixando sem
sono. ROSA:
(após alguns segundos) Você se arrepende de não ter
tirado? MARCIA:
(após alguns segundos) Mais que tudo no mundo. Os
olhos
de Rosa se enchem de lágrimas. Marcia morde os
lábios, depois sobe a escada, saindo de cena. Close
novamente no
rosto de Rosa, ela parece extremamente abatida. Vista
aérea
do céu estrelado. Após alguns segundos
começa a amanhecer lentamente. A câmera desce, mostrando a
frente da casa. Corta para dentro. Daniel entra,
visivelmente cansado.
Ele fecha a porta e caminha até a sala. Rosa aparece da
cozinha,
ela se aproxima e dá um forte abraço no filho. Daniel
sorri levemente. DANIEL:
Isso
tudo é saudades? ROSA:
Isso
é pouco para o filho maravilhoso que Deus me deu. DANIEL:
Então devo supor que não está mais desapontada
comigo? ROSA:
Ah,
continuo desapontada sim. Mas você é um grande homem. Por
mais que me dê desgosto saber que engravidou aquela mulher,
estou
feliz com sua integridade... E feliz em saber que ama essa
criança que ainda nem nasceu. Feliz por ter tomado a
decisão certa. DANIEL:
(sorrindo emocionado) Obrigado mãe, isso significa muito pra
mim. ROSA:
(emocionada) Vem, eu preparei um café da manhã
reforçado pra você. Ela
engancha
no braço dele e o conduz até a cozinha. Um som
instrumental toma conta da cena. Daniel se senta e
saboreia uma torta.
Ele respira satisfeito. Ambos mexem os lábios, dialogando,
mas
sem que possamos ouvir. Após alguns segundos, a tela
escurece. Abre
dentro
de um quarto. Márcia está de frente para o
espelho, experimentando um vestido. Daniel está deitado na
cama,
aparentando bastante cansaço. MARCIA:
Estou
ficando uma baleia. LEGENDA:
Dezembro de 1990 DANIEL:
Você está de cinco meses. É normal parecer um pouco
mais cheinha. MARCIA:
(olhando para ele) Então estou mesmo ficando uma baleia? DANIEL:
Não foi isso que eu quis dizer. MARCIA:
(revirando os olhos) Já disse... (volta a olhar para o
espelho)
O que vamos fazer hoje à noite? DANIEL:
Que tal
ficarmos em casa? MARCIA:
Em
pleno sábado? Puxa vida, Daniel. DANIEL:
Marcia,
é o único dia que eu tenho de folga e preciso descansar. MARCIA:
(desanimada) Fazer o que, né? Não preciso nem
experimentar mais isso aqui, já que estava crente que
íamos pelo menos jantar fora. DANIEL:
Por que
você não sossega um pouco também? Afinal... MARCIA:
(cortando, falando alto) Pare de falar que eu estou grávida
como
se fosse algum tipo de doença. Não preciso ficar sentada
o tempo todo.... Daqui a pouco me torno companheira de
tricô da sua
mãe. DANIEL:
(sorrindo) Não seria má ideia. Pelo menos teriam algo em
comum. MARCIA:
(seria)
Estou falando sério, Daniel. Se você não quer sair,
tudo bem, é um direito seu. Mas eu vou jantar fora. DANIEL:
Por que
você precisa fazer uma tempestade pra qualquer coisa?
MARCIA:
Se
você parecesse menos velho e ranzinza, talvez, mas bem
talvez, eu
me acalmasse um pouco também. (balança
a cabeça negativamente) Deus do céu, eu nunca me casaria
com você. Ela
sai
do quarto. Corta para Daniel na cama, parado, sem
reação. Ele abaixa o olhar, triste. Sala.
O
cômodo está cheio de enfeites natalinos. Rosa coloca um
peru em cima da mesa e sorri. A câmera se movimenta,
mostrando
Daniel e Marcia no sofá, sérios. As imagens dos dois
começam a sumir, e dos enfeites natalinos também,
simbolizando uma passagem de tempo. Varanda da casa. É noite. Marcia está sentada num banco, pensativa. Daniel chega de leve e senta-se ao lado dela. Música:
Guns N' Roses –Don’t
Cry DANIEL:
No que
está pensando? MARCIA:
Na
vida... Em como ela mudou tanto de uns meses para cá. DANIEL:
Nem me
fale... MARCIA:
E
também estou criando coragem para te dizer uma coisa. DANIEL:
(preocupado) Dizer o quê? MARCIA:
(após alguns segundos) Dani, estou voltando para a casa da
Suellen. DANIEL:
Por
quê? MARCIA:
Dani,
você é um amor, cuida de mim como ninguém cuidaria.
Mas não está dando certo viver aqui. Eu tenho me
estressado mais do que me alegrado. DANIEL:
Eu sei,
sei que está sendo difícil pra você, pra gente...
Mas como eu disse, é só temporário. Um dia a gente
conseguir nosso cantinho, é só ter um pouco mais de
paciência. MARCIA:
(fechando os olhos) Acontece que esse tempo também serviu
para
que mostrasse não damos certo como um casal. DANIEL:
Mas eu
pensei... Eu pensei que... MARCIA:
(interrompendo) Nós vamos sim criá-lo juntos. Ele ou ela,
ficará tempos na minha casa e tempos na sua. O que não
vamos fazer é viver como marido e mulher. Eu gosto de
você, Daniel, mas infelizmente eu não te amo. Não o
suficiente para querer passar o resto da vida ao seu lado. Daniel
abaixa
a cabeça, extremamente abatido. Marcia o olha com
bastante pesar. MARCIA:
Sinto
muito, mesmo. Ela
levanta
e se desloca para sair. Daniel segura sua mão. DANIEL:
(com
dor) Por favor... Fica... Não deixa, por favor? MARCIA:
(fechando e abrindo os olhos, devagar) Não posso. Ela
tira
a mão e sai. O som toma conta da cena. Daniel novamente
abaixa a cabeça, e faz leves movimentos, como se estivesse
chorando. Ele levanta o olhar, cheios de lágrimas e seus
lábios tremem. Lentamente a câmera começa a se
afastar e abrir, focando o local num ambiente aéreo por
alguns
instantes, até a tela escurecer. Abre
mostrando
a porta da casa na parte de dentro. Ela abre e Daniel
entra,
radiante. DANIEL:
(feliz) Mãe! Mãe! LEGENDA:
Fevereiro de 1991
Rosa
aparece,
preocupada. ROSA:
O que foi, menino? Daniel
se
aproxima e a abraça, rodando-a. ROSA:
Hei, hei, hei... O que está acontecendo? DANIEL:
(feliz) Recebi uma carta do estágio que me candidatei! Eles
me
querem na empresa! ROSA:
(feliz) Oh, meu lindo! (abraça-o)
Parabéns! DANIEL:
(radiante) Era tudo o que eu mais queria. ROSA:
E é em que lugar? Aqui mesmo? DANIEL:
(fazendo careta) Na capital. ROSA:
(desanimando) Mas tão longe? DANIEL:
Sim, mãe, longe. Mas olha a oportunidade... Vou poder
aprender
muito por lá, e se me firmar e resolverem me contratar, vou
ganhar um ótimo salário. Pense no bem que poderei fazer
ao seu neto? ROSA:
Exceto que estará mais longe do que perto dele, não
é? DANIEL:
E você acha que vou ficar mais de um mês longe? E vou falar
para a Marcia deixá-lo contigo finais de semana alternados.
Isso
se a senhora quiser, claro. ROSA:
(sorrindo) Claro que eu vou querer, se Deus abençoar, ele ou
ela, terá muito mais de você, do que daquela lá. DANIEL:
Por isso você, dona Rosa, precisa estar bem presente para
influenciar seu netinho. ROSA:
(sorrindo) E eu vou, eu prometo. Vamos comemorar então? DANIEL:
(sorrindo) Vou tomar um banho e já desço. Ele
sai
de cena, cantarolando. A imagem fecha no rosto expressivo
de Rosa.
Ela sorri emocionada. Lado
de
fora da casa. É noite e chove bastante. A câmera se
aproxima da janela, cortando para dentro. LEGENDA:
Março de 1991
Daniel
desce
a escada com uma bolsa. Rosa está parada embaixo,
visivelmente emocionada. DANIEL:
(descendo) Combinamos que você não ia chorar. ROSA:
(disfarçando) Quem disse que estou chorando? Ele
chega
na parte de baixo. Rosa ajeita a camisa dele. ROSA:
Não acredito que meu bebê está saindo de casa. DANIEL:
Mãe! ROSA:
Está bem, está bem, sem choro. Daniel
sorri
para ela e a abraça fortemente, ficando assim por alguns
instantes. DANIEL:
(emocionado) Eu te amo muito, muito, muito. E obrigado por
tudo, viu? ROSA:
(emocionada) Quem combinou de não chorar? DANIEL:
(sorrindo e passando a mão nos olhos) E de quem eu sou
filho? Nesse
instante
o telefone toca. Rosa franze a testa e vai até ele,
atendendo-o. ROSA:
Sim? (pausa por alguns segundos)
Lamento,
mas ele acabou de sair. DANIEL:
(curioso) Quem é? ROSA:
Não, não é a voz dele do outro lado,
impressão sua. Daniel
revira
os olhos e se aproxima, tirando o telefone de Rosa. Ela
entorta
a boca. DANIEL:
Marcia? MARCIA:
(em off) Dani, não estou me sentindo muito bem. DANIEL:
(preocupado) O que você tem? MARCIA:
A Su foi viajar e a casa está
tão vazia. Estou sentindo uma sensação tão
estranha, uma ansiedade... Não sei explicar. DANIEL:
Espera na entrada da casa que eu estou indo aí te buscar. Daniel
desliga
o telefone. Close em Rosa que parece não acreditar. ROSA:
(séria) Você não pode estar falando sério. DANIEL:
(caminhando até a porta) Eu preciso ir, mãe. Ela
não está passando muito bem. ROSA:
(acompanhando-o) Telefona para um médico, um farmacêutico,
o que for. Você não pode ir até lá... Seu
ônibus parte em meia hora! DANIEL:
Confie em mim, isso é a última coisa que eu estou
preocupado agora. Ele
abre
a porta. Rosa segura na mãe dele. ROSA:
Por favor, não vá! Eu estou te implorando. Daniel
fica
hesitante por alguns segundos e depois suspira.
DANIEL:
Desculpa mãe. Em
câmera
lenta vemos seu rosto se aproximando ao dela, seguido de
um beijo carinhoso e demorando em sua bochecha. Rosa fecha
os olhos ao
recebê-lo. DANIEL:
(sorrindo) Eu vou voltar. Ele
se
vira e sai. A câmera se aproxima do rosto de Rosa. Ela
coloca
a mão no lugar em que ele beijou e novamente fecha os
olhos. Frente
da
casa de Suellen. Ainda chove muito. O carro de Daniel
estaciona em
frente. Ele sai do veículo e corre até a varanda, onde
Marcia se encontra, esperando-o. DANIEL:
(preocupado) Você está melhor? Pior? E o bebê? MARCIA:
Estou melhor, mas ainda com uma sensação sufocante. DANIEL:
(pegando na mão dela) Vamos... Até que o neném
nasça, você vai ficar lá em casa. E não
é um pedido. Marcia
sorri
e de leve e cede, caminhando apressadamente junto com ele
até o carro. Corta
para
o veículo já em movimento. Daniel passa a mão
no vidro, que está embaçado. DANIEL:
Que temporal foi cair justo hoje. MARCIA:
Acha uma boa ideia mesmo eu ficar lá? Nós já
tentamos e... DANIEL:
(interrompendo) Ouça, eu sei que você não me ama e
aceito isso. Mas eu te amo e amo essa criança. Não
precisamos viver como marido e mulher, mas podemos viver sob
o mesmo
teto sem nenhum tipo de compromisso, pelo menos no primeiro
ano da
criança, para que ela possa sentir o calor dos pais. MARCIA:
Mas e o seu estágio? Você não ia se mudar essa
semana? DANIEL:
Na verdade eu ia hoje. Mas acabo de decidir que não irei
mais. MARCIA:
Por favor, Daniel. Não sacrifique seu futuro assim? DANIEL:
Que prazer eu teria num futuro longe de vocês? Marcia
respira
fundo, olha para a janela e fecha os olhos. MARCIA:
Tem algo que eu preciso lhe contar... DANIEL:
(preocupado) Okay? MARCIA:
Há poucas semanas, entrei em contato com uma assistente
social. (o olha) Eu vou dar a
criança para
doação, Daniel. DANIEL:
(incrédulo) O quê? Perdeu de vez a cabeça? Acha que
vou permitir que nosso filho viva com outra família? MARCIA:
Tem um ótimo casal que quer muito ter um filho, mas não
podem. Eles são ricos, se amam... Tenho certeza que dariam
uma
vida muito melhor a ele. DANIEL:
(exaltado) Não! O melhor para ele é que viva com seus
verdadeiros pais! MARCIA:
Mas é melhor para nós também, Daniel. A quem
estamos querendo enganar? Eu nunca seria uma boa mãe, não
saberia dar o amor e o carinho que ele precisa. Eu nem quero
ele e quando
penso no meu futuro com ele, eu tenho raiva e o culpo por
estar desse
jeito. DANIEL:
(balançando negativamente a cabeça) Pense o que quiser,
sua louca insensível... Eu não vou permitir que
faça isso. MARCIA:
Eu já tomei minha decisão. DANIEL:
Mas sem o meu consentimento, não vai dar em nada. Se não
quer viver perto dela, tudo bem, suma neste mundo. Mas minha
menina vai
ter um pai presente. MARCIA:
Você nem sabe o sexo ainda. DANIEL:
Mas algo forte me diz que é uma garota. (sorri
emocionado) Uma linda garota. Daniel
olha
para Marcia e sorri novamente. Uma forte luz toma a frente
do
carro. Marcia arregala os olhos. MARCIA:
(gritando) Cuidado! Ouve-se
uma
alta buzina. Daniel olha para a frente e joga a
direção para o lado, desviando e freando forte. DANIEL:
(respirando ofegante) Você está bem? (aliviado)
Deus, essa foi por pouco. Marcia
olha
para ele e novamente arregala os olhos. Lateralmente vemos
outra
luz forte se aproximando. A imagem corta para o lado de
fora, em uma
vista aérea da cena. O carro é atingido violentamente por
um caminhão, sendo arrastado lateralmente por alguns
metros.
Após alguns segundos, a câmera desce lentamente e se
aproxima do veículo. Música: Bonnie Tyler - Total Eclipse of the Heart A
porta abre e Marcia sai com dificuldade, caindo no chão da
avenida. Ela está ensanguentada da cabeça às
pernas. MARCIA:
(sentindo dor e com dificuldade para falar) Socorro...
Socorro... Ela
olha
para dentro do carro e começa a chorar. A câmera se
aproxima lentamente de Daniel que está desacordado,
completamente ensanguentado. Corta novamente para Marcia.
Ela deita no
chão e começa a tossir. MARCIA:
(chorando copiosamente) Socorro! ... Por favor, alguém me
ajude!
... Por favor... Ela
coloca
a mão na barriga e chora ainda mais, com dor. A
câmera sobe lentamente, mostrando a cena novamente numa
visão aérea. É possível ver um carro
parando próximo ao local. Corredor
de
um hospital. Em câmera lenta, vemos Rosa andando
apavorada.
Ela olha para os lados, sem direção. Um médico
aparece e ela o agarra, falando desesperadamente. Cont. Bonnie Tyler - Total Eclipse of the
Heart O
doutor começa a falar com ela, e enquanto ele fala, a
expressão de Rosa começa a se entristecer e logo, ela
desaba a chorar. Ela se abaixa devagar e se senta no chão,
chorando com ainda mais dor e desespero. O doutor se
abaixa e faz sinal
para que uma enfermeira se aproxime. Após alguns segundos
a tela
escurece e fica assim por alguns segundos. Um
quarto
de hospital. Marcia está inclinada na cama, olhando para
a frente. É possível ver vários hematomas em seu
corpo. Rosa entra devagar e fica encarando-a. Marcia
percebe a
presença dela, mas não a olha. MARCIA:
Já se passaram quatro dias e ainda não consegui olhar no
rosto dela. ROSA:
Pelo
menos
ela tem um nome? MARCIA:
Eu e o Daniel tínhamos discutido a respeito. Se fosse
menina,
ele queria que se chamasse Helen. Silêncio
por
alguns segundos. Marcia fecha os olhos e lágrimas escorrem
por seu rosto. ROSA:
O que você pretende fazer agora? MARCIA:
Vou dá-la para adoção. (balança
a cabeça em negação) Essa criança é
motivo de toda essa desgraça. ROSA:
Não, Marcia... Você, apenas você, é o motivo
disso tudo. Marcia
a
encara com os olhos lacrimejando. Seus lábios tremem e ela
se
segura para não chorar. ROSA:
Mas eu não vim aqui para te visitar... Vim para te fazer uma
proposta. MARCIA:
Eu não vou ficar com ela... ROSA:
E eu nem seria louca de propor algo assim... Mas eu quero
ficar. MARCIA:
(surpresa) E por que você faria isso? ROSA:
(emocionada) Porque apesar de ela ter seu sangue, o meu
filho já
amava mais que tudo no mundo. Ela é hoje a única coisa
que me restou dele. MARCIA:
(mexendo os ombros) Okay, se
quer ficar
com ela, pode ficar. ROSA:
Mas tem um detalhe... Ela será completamente órfã
de mãe também. Para todos os efeitos, você morreu
junto no acidente. Minha neta nunca saberá que a mãe
desnaturada e desequilibrada, tentou se livrar dela mesmo
antes de
tomar forma no ventre. Então você terá que me
prometer que nunca irá atrás dela. Close
no
rosto de Marcia que fica pensativa. Rosa se aproxima um
pouco mais. ROSA:
Mudaremos de estado, viveremos o mais longe possível daqui.
Com
aposentadoria do meu marido, mais a minha, não poderei dar
uma
vida de luxo a ela, mas necessidade, eu prometo que nunca
passará. MARCIA:
(após alguns segundos) Está bem. ROSA:
Promete esquecer de vez que ela existe? MARCIA:
Rosa, eu prometo que ela nunca será parte da minha vida,
pode
confiar. ROSA:
Melhor para ela... Em breve voltarei com os papeis para que
possamos
oficializar entrega da guarda. Rosa
a
olha com desprezo, depois sai. A câmera se aproxima do
rosto de
Marcia que leva as mãos ao rosto, enxugando as lágrimas.
Segundos depois, a tela escurece. Abre
dentro
do mesmo quatro. Rosa aparece trazendo a criança no colo.
Ela para em frente a cama de Marcia, que está sentada, se recusando a olhar para as duas. ROSA:
Nós estamos indo. Marcia
balança
a cabeça, concordando, ainda sem olhá-la.
Rosa tira uma foto do bolso e joga na cama. ROSA:
Só pra ver o que perdeu. Ela
ainda
a encara por breves segundos, depois se vira e sai do
quarto.
Marcia abaixa o olhar e pega a foto, olhando. A câmera dá
um close na imagem do neném. Marcia fecha os olhos e
amassa a
foto. A imagem começa a transparecer. Casa
de
Suellen. Marcia está no quarto, sentada na cama, enquanto
Suellen está ao seu lado, consolando-a. Música: Matt White - Wait For Love SUELLEN:
E agora, o que pretende fazer? MARCIA:
Continuar minha vida como se nada tivesse acontecido. Vou
esquecer os
últimos meses. Esquecer que existiu um Daniel na minha
vida...
Esquecer que eu tive uma... (pausa e respira fundo) Bom,
terminar o meu
curso e seguir em frente. Suellen
a
encara com uma expressão de pesar. Marcia levanta o olhar,
extremamente fria. A imagem de seu rosto congela. Parte
interna
de um apartamento. Rosa entra carregando o bebê no colo. Cont. Matt White - Wait For Love LEGENDA:
Região Sul do País. Abril de 1991
Rosa
sorri
ao olhar para a criança. Ela a beija de forma carinhosa e
demorada. Universidade.
Marcia
está na sala de aula, escrevendo no caderno. Cont. Matt White - Wait For Love LEGENDA:
Montenegro. Junho de 1991 Após
alguns
segundos, ela olha para a janela e seus pensamentos
parecem
distantes. Parte
interna
de uma sala. Rosa entra segurando na mão de Helen
criança, que caminha com certa dificuldade. Cont. Matt White - Wait For Love LEGENDA:
Região Sul do País. Maio de 1992
Rosa
se
abaixa e abraça a criança, que sorri alegremente com a
avó. Elas parecem felizes juntas. Um
campo
aberto. É noite. Marcia bebe e conversa com algumas
garotas. Entre elas está Suellen. Cont. Matt White - Wait For Love LEGENDA:
Montenegro. Fevereiro de 1993
Marcia
se
vira para o lado e desfaz o semblante alegre. Suellen a
olha como se
percebesse do que se tratava. Marcia tenta disfarçar,
sorrindo
outra vez. Sala
de
uma casa. Rosa está sentada no chão, dobrando algumas
roupas. De repente ela é surpreendida pelo abraço de uma
garotinha. Cont. Matt White - Wait For Love LEGENDA:
Dezembro de 1994 Rosa
a
pega no colo e começa a fazer cócegas nela, que ri
descontroladamente. Close na expressão feliz de Rosa. Parte
interna
de um escritório. Marcia está sentada de frente
para um senhor que está de terno. Ele olha atentamente uma
pasta. Segundos depois balança a cabeça positivamente e
levanta, estendendo a mão para ela. Cont. Matt White - Wait For Love SENHOR:
(sorrindo) Seja bem-vinda à editora Magner.
MARCIA:
(sorrindo) Muito obrigada, senhor. LEGENDA:
Paraíso. Lado Sudeste do País. Maio de 1997 Um
carro
estaciona na frente de uma casa. A janela do veículo abre
e Rosa olha para fora. Em seguida Helen, com
aproximadamente 9
anos de idade, faz o mesmo. Cont. Matt White - Wait For Love ROSA:
(sorrindo) Pronto, meu amor. Acho que a agora a gente pode
se fixarpor aqui. Close
no
rosto da criança que sorri. LEGENDA:
Bom Destino. Sudeste do País. Julho de 2000 A
câmera se movimenta mostrando a atual casa em que elas
moram
hoje. Muda para uma vista aérea, onde vemos Helen correndo
até a porta. Um
apartamento.
Marcia está no quarto, empurrando com dificuldade
uma cômoda, tentando movê-la de lugar. Close em uma caixa
que cai de cima do móvel. Marcia bufa e se abaixa para
pegar a
mesma. A câmera a acompanha agachada por alguns segundos,
depois
ela levanta, pegando consigo uma foto amassada. Ela olha
para a mesma.
Close na mesma foto de Helen recém nascida que ela havia
amassado no hospital. Cont. Matt White - Wait For Love LEGENDA:
Paraíso. Abril de 2002
Ela
observa
atentamente a foto e após alguns segundos desaba a
chorar, sentando na cama. A tela escurece instantes
depois. Abre
dentro
de um restaurante. Marcia está sentada à mesa, de
frente para um homem. Close em sua mão arrastando a foto
sobre a
mesa e o homem pegando e olhando-a. MARCIA:
É a única foto que eu tenho. Seguindo os dados que eu
já dei da avó, acha que é possível
encontrá-las? HOMEM:
Não vai ser uma tarefa fácil, tenho que lhe dizer. Elas
podem estar em qualquer canto do país, quem sabe até
fora. MARCIA:
Faça tudo que estiver ao seu alcance. Dinheiro não
será problema. (breve pausa) Eu
quero
conhecer minha filha. Quero ela de volta para mim.
O
homem balança a cabeça, concordando. A câmera se
aproxima do rosto de Marcia, fechando em sua expressão
determinada. A imagem congela e um clarão toma conta da
tela,
desfazendo no corredor de um hospital. A
câmera passeia devagar pelo local, até entrar no quarto
onde podemos ver Rosa deitada na cama, ainda inconsciente.
Helen
está numa cadeira sentada à sua frente. LEGENDA:
Atualmente... Após
alguns
segundos observando a avó, ela levanta e sai do quarto.
Marcia que está em pé no corredor, desencosta da parede
ao ver a filha. MARCIA:
Agora
que sabe tudo o que aconteceu, o que pretende fazer? HELEN:
Eu vou
voltar pra casa. Ela não tem condições de viver sozinha. MARCIA:
(temerosa)
E
quanto a nós? HELEN:
Ouça, mesmo com ela, as coisas vão demorar para voltarem
ao normal, mesmo sabendo de todo esse sacrifício que fez por
mim. Mesmo assim, com intenção de me proteger, ou
não, não a isenta da culpa por ter mentido pra mim. MARCIA:
É compreensível. HELEN:
E
quanto a nós duas, pelo fato de ter me contato tudo, mesmo
as
partes mais difíceis, acredito que tenha mudado, se
arrependido... Acredito mesmo. Mas ainda não estou preparada
para ter algum tipo de relacionamento com você agora. Pode
ser
que um dia isso mude, mas neste momento, não posso. Os
olhos
de Marcia se enchem de lágrimas. Ela esboça um leve
sorriso em seguida. MARCIA:
Eu
já esperava por isso. O que é vida, se a gente não
colher o que planta, não é? Mas eu espero muito, que um
dia ainda possa me perdoar por tudo. Espero um dia poder
ouvir a
palavra mãe sair de seus lábios, nem que seja por um
segundo. Essa esperança nunca irá morrer. Helen
acena
de leve com a cabeça, sorrindo levemente também. A
imagem transparece para dentro do quarto em que Rosa está.
Ela
já está acordada, sentada na cama. Marcia está
perto da porta, olhando-a. MARCIA: Que
susto que você nos deu, em velha? Mas eu já devia saber
que vazo ruim não quebra mesmo (sorri). ROSA:
É como diz outro ditado “Há males que vêm
para o bem”... (sorri) Ela me disse que você contou toda a
história. MARCIA:
Sem
economizar. Pelo menos o papel da vilã agora está
entregue a quem realmente merece. Rosa
sorri
novamente e segundos depois fica pensativa, desfazendo o
sorriso. ROSA:
Ainda
sinto aquele último beijo que ele me deu antes de sair
naquela
noite. (coloca a mão no rosto)
É como se tivesse recebido agora. MARCIA:
Rosa...
(se aproxima) Não há um dia na minha vida, que eu
não me arrependa das coisas que fiz. Não há dia
que eu não me sinta culpada por ele não estar aqui entre
nós. É algo que vou carregar pelo resto de minha
existência. O Daniel foi a melhor pessoa que eu conheci. ROSA:
(emocionada) Eu sei... Vejo em seus olhos a dor que sente.
Mas se
há algo que possa consolar, pelo menos uma coisa
extraordinária você fez, que é essa menina
maravilhosa que está lá fora. MARCIA:
(sorrindo) Grande parte ela herdou do pai. ROSA:
Concordo, mas a teimosia é sua. MARCIA:
(sorrindo) Meu Deus, e eu pensando que você veria outra
qualidade. Elas
riem
por um segundo. Marcia coloca a mão em cima da mão
de Rosa. MARCIA:
Ela não está preparada para me ter por perto e não
vou pressioná-la mais. Estou voltando para Paraíso,
só passei aqui para me despedir. (sorri)
Se cuida, sua velha rabugenta. ROSA:
Você também, sua criatura desagradável.
Juízo nessa cabecinha. Marcia
sorri
para ela, segundos depois se vira e caminha até a porta.
Rosa a observa. ROSA:
Marcia. MARCIA:
(virando-se) Sim? ROSA:
Depois
de todos esses anos e dos acontecimentos recentes, não há
mais espaço para mágoas... Quero que saiba eu te perdoo. MARCIA:
(sorrindo emocionada) Obrigada, Rosa... Não imagina o quanto
isso significa para mim. ROSA:
Minha
porta estará aberta. Se ela quiser te receber, não pense
duas vezes antes de aparecer. MARCIA:
Ela tem
meu telefone... Se ela me chamar, eu venho correndo. (breve pausa) Adeus, Rosa. ROSA:
Vá com Deus, criança. Marcia
sai
do quarto. A câmera se aproxima lentamente do rosto de
Rosa.
Ela coloca novamente a mão no local em que Daniel beijou e
fecha
os olhos em seguida. Vista
aérea
de Bom Destino. É noite. Temos alguns
rápidos cortes do movimento da cidade, da praça, da
lanchonete, de pessoas caminhando, conversando, sentadas
no banco,
até a imagem transparecer para o lado de fora da casa de
Helen.
Helen e Rosa saem de um táxi estacionado na porta. Helen
segura
nos braços da avó, ajudando-a a caminhar.
Música:
Creed – Don’t
Stop Dancing A
imagem se afasta, mostrando Marcia dentro de um carro,
metros dali. Ela
observa as duas entrando na casa. Depois que a porta é
fechada,
Marcia fecha os olhos e liga o automóvel, saindo com o
mesmo. Parte
interna
da casa. Helen está parada no meio da sala. Ela fecha os
olhos e respira fundo, sorrindo ao mesmo tempo. A câmera
se
movimenta, mostrando Rosa sentada na poltrona, sorrindo
para ela. Helen
a olha e vai até a avó, ajoelhando-se na frente dela e
dando-lhe um abraço demorado. Rosa fecha os olhos,
sorrindo,
emocionada. Parte
interna
do carro em que Marcia está. Ela dirige com os olhos
cheios de lágrimas. Ela olha para o lado e abre o
porta luvas, tirando de dentro a foto de Helen
recém nascida. Ela beija carinhosamente a foto e segundos
depois, chora alto. A câmera começa a se afastar, saindo
do veículo e mostrando-o se movimentando por uma estrada.
Segundo depois, a tela escurece lentamente.
CRÉDITOS
FINAIS CRIADO
E
ESCRITO POR: Thiago
Monteiro PARTICIPAÇÃO
ESPECIAL Heather
Tom
como Marcia Brittany
Snow como Jovem Marcia Elijah
Wood
como Daniel Keisha
Buchanan como Suellen MÚSICA
TEMA Switchfoot
- Meant To
Live TRILHA
SONORA Aerosmith
-
Dude Looks Like
A Lady Roxette
-
Its Must Have Been
Love Guns
N'
Roses –Don’t Cry Bonnie
Tyler -
Total Eclipse of The Heart Matt
White
- Wait For Love Creed – Don’t Stop Dancing
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