Parte
externa
do colégio Esplendor. É dia. Felipe fecha a porta
do carro e coloca a mochila no ombro. Quando ele se
desloca, dá
de frente com Gabriel, olhando-o seriamente. Música: Sense Field - You Own Me GABRIEL:
Preciso
falar com você... FELIPE:
Bom dia
pra você também... (se deslocando para a entrada) Se for
sobre sua irmã, nem comece a falar. GABRIEL:
(acompanhando) Que pena, porque é justamente sobre ela que
precisamos conversar. FELIPE:
(dando um tapinha no ombro de
Gabriel e sorrindo)
Não agora. Gabriel
para.
Felipe continua caminhando até o portão. GABRIEL:
(falando alto) A Nicole foi embora. Felipe
para
imediatamente e se vira para Gabriel, se aproximando dele.
FELIPE:
O que
você disse? GABRIEL:
Ontem
quando eu cheguei do colégio, ela não estava em casa e
seu guarda-roupas estava vazio. Nesse
instante
Priscila aparece, sorridente. PRISCILA:
(sorrindo) Olá rapazes. FELIPE:
(para
Gabriel) Mas por que ela foi embora? Por minha causa? PRISCILA:
(curiosa) Quem foi embora? GABRIEL:
(para
Priscila) A Nick... (para Felipe) Pra
dizer
a verdade ela não foi embora propriamente dito, ela fugiu. A
mãe dela jamais concordaria que ela voltasse para a nossa
cidade. Entende agora a gravidade da coisa? FELIPE:
Sim,
entendo. Mas agora responde, foi por minha causa ou não? GABRIEL:
É, digamos que deu uma boa contribuída... (se virando)
Vamos, não podemos perder tempo. FELIPE:
Wow, esperar um minuto... Como
assim, vamos? GABRIEL:
Vamos
trazê-la de volta... O que mais você espera? FELIPE:
Espero
entrar e assistir a aula... Isso não é problema meu,
Gabriel. GABRIEL:
Como
não é problema seu? Até você terminar com
ela, ela estava bem. PRISCILA:
Sua
consciência vai ficar pesada, Lipe.
FELIPE:
(sorrindo de forma debochada) Obrigado... (para Gabriel) Por
que
você já não foi atrás dela? GABRIEL:
Porque
se eu for sozinho e de ônibus, é certeza que perderei
viagem... Mas você vindo junto e conversando com ela, é
muito mais fácil convencê-la. FELIPE:
Entendo... Mas não acho que vou ficar com a consciência
pesada e talvez nem queira que ela volte. GABRIEL:
(nervoso) Felipe, não prove para a Nicole que você
é apenas mais um idiota que passou pela vida dela! Sei que
você não é desse jeito, apesar de nem te conhecer
direito... Então pra dentro do carro, agora! Felipe
o
olha com bastante surpresa. Ele respira fundo e caminha
até o
carro. Gabriel vai junto. Priscila sorri e se movimenta
logo
atrás. Felipe a olha. FELIPE:
Aonde a
senhorita pensa que vai? PRISCILA:
Com
vocês, claro. FELIPE:
A ideia
é convencer a Nicole a voltar, não fazer com que ela
decida ficar de vez. PRISCILA:
(revirando os olhos) Ai, tanto eu, quanto a Nicole, já nem
nutrimos todo aquele ódio do começo... Relaxem. Ela nem
vai notar minha presença. Não vou perder a oportunidade
de matar aula e sair um pouco de Bom Destino. GABRIEL:
Okay, pode vir. Mas não vamos
esquecer
que não é um passeio e não vamos parar em lugar
algum na estrada... Ouviu? PRISCILA:
Tá bom vovô, o importante é sair da cidade e
resgatar a Nick. Ela
sorri
para ele. Gabriel balança negativamente a cabeça e
sorri também. Numa visão aérea os vemos entrar no
automóvel. Felipe e Gabriel na parte da frente e Priscila
entra
pela porta de trás. Após alguns segundos o carro
começa a dar ré. A tela escurece.
Colégio
Esplendor.
Um professor caminha na sala por uma fileira de mesas,
entregando uma folha a cada aluno. Ele para em uma em
especial e
entrega a folha. Quando sai, vemos Bruno com a folha na
mão,
desanimado. Close na folha, em cima vemos um número dois e
um
círculo vermelho. BRUNO:
Estou
ferrado. A
câmera de desloca para a mesa de trás, onde podemos ver
Helen segurando uma folha também. Close em uma mão
colocando outra folha em cima da mesa. Nela podemos ver o
número
oito e um círculo azul. Helen olha com indignação. HELEN:
Como
você pode ser tão bagunceiro, irresponsável,
não estudar, e ainda assim tirar boas notas? GUSTAVO:
(cortando para ele) Sabe como é, talento natural, alguns chamam
de gênio, mas não gosto de ficar me gabando... Quanto
você tirou? Helen
suspira
e mostra a folha. Gustavo faz careta, horrorizado. GUSTAVO:
Cinco? Uau, você é uma inspiração...
Insipiração a não seguir (sorri). HELEN:
(olhando para a folha) Está na hora de voltar a pegar
a sério nos estudos. BRUNO:
(virando-se para ela) Talvez possamos estudar juntos... Não
estou conseguindo acompanhar o ritmo desse colégio. Preciso
muito de uma força. HELEN:
Você ouviu quanto eu tirei? BRUNO:
Isso
é porque você andou relaxando e estava sob
influência de maus elementos. Ele
olha
para Gustavo que se faz de desentendido. Depois volta-se
para
Helen. BRUNO: Mas fiquei sabendo que até o final do ano passado, você era uma das melhores alunas do colégio. Bruno
sorri
sem graça para Helen. Ele olha para Gustavo e fecha a
cara. Gustavo retribui com um sorriso largo. Corta
para
alguns takes de determinados
pontos
da cidade, até parar em frente ao colégio Esplendor,
simbolizando uma passagem de tempo. A imagem transparece
para Gustavo
caminhando sorridente pelo refeitório. Ele se aproxima da
mesa
onde Cláudio, Helen, Bruno e Amanda estão. Música:
Butterfly Boucher
- I Can't Make
Me GUSTAVO:
Ficaram
sabendo do show da banda Tune? CLÁUDIO:
Que vai
inaugurar a nova casa de show da nossa "querida" cidade
vizinha? Parece
que não rola outro assunto por hoje. GUSTAVO:
E
nós vamos, óbvio. BRUNO:
Nós aqui... (faz sinal com dedo para os que estão na
mesa) Vamos. Já você, não sei. GUSTAVO:
(sentando ao lado de Bruno e dando um leve riso) Huh,
até parece que alguém consegue me deixar de fora de
alguma coisa por aqui... Continuem tentando. (olha
para as garotas) Meninas, vocês são fãs dessa
banda? HELEN:
(suspirando) Adoro! AMANDA:
(suspirando) O Patrick é tudo, mas tudo de bom e mais um
pouco. HELEN:
O
rosto, o jeito que ele se move no palco e quando tira a
camisa... AMANDA:
(se
abanando) Nem me fale... CLÁUDIO:
Talento pra cantar não conta
nada
né? HELEN: Tá brincando? A voz dele é maravilhosa! BRUNO:
Ele
só grita. AMANDA:
E
daí? Ele pode gritar perto de mim à vontade. GUSTAVO:
E como
nós vamos para lá? Ônibus, taxi, caminhando e
cantando? CLÁUDIO:
Você está mesmo se escalando para ir com a gente? Metade
do colégio vai, procura outra turma. GUSTAVO:
Cláudio, não vamos discutir minha importância nesse
grupo outra vez... E se me levarem junto, eu garanto meninas
que
vocês entram no camarim do Patrick. AMANDA:
(interessada) Você pode fazer isso mesmo? Como? GUSTAVO:
Tenho
meus contatos... Tenho contato em tudo quanto é lugar, podem
me
pedir qualquer coisa, que eu consigo. HELEN:
Bom, desse jeito não tem como impedir que você venha com a gente. BRUNO:
(para
Helen) Está falando sério? Eu sei que você
inexplicavelmente gosta desse panaca, mas aí levá-lo
junto a um evento em que nós marcamos... GUSTAVO:
Relaxa
Brunão, eu prometo não atrapalhar seu flerte com a Helen. BRUNO:
(sério) Cala essa boca, Gustavo. CLÁUDIO:
Okay, o panaca vai com a
gente... Mas chega de
indiretas e provocações, entendeu? Gustavo
faz
zíper com dedo na boca e concorda com a cabeça. Bruno
revira os olhos e balança a cabeça, em
reprovação.
AMANDA:
O
idiota levantou uma questão relevante... Como vamos pra
lá? O ônibus, pelo que eu saiba, só tem de seis em
seis horas, horrível. Corta
instantaneamente
para o rosto de Roger. ROGER:
Mas nem
morta ela entra no meu carro. A
imagem abre, mostrando Livia
ao lado dele
na mesa e Cláudio sentado de frente para eles. LIVIA:
Por que
não? Tem medo de encarar sua ex
com
a atual? ROGER:
Claro
que não... Mas eu pensei que você se sentiria incomodada
com a situação. LIVIA:
(dando
os ombros) Nem um pouco. E já que estamos namorando, não
podemos ficar isolados do grupo que você já fazia parte. ROGER:
(para
Cláudio)
Tá, vamos dizer que eu aceitei... Você
não esqueceu alguns detalhes, meu amigo? Primeiro, eu não
tenho carta... Uma coisa é dirigir sem habilitação
aqui em nossa cidade, outra é pegar estrada, com policiais
mais casca grossa. E contou quantas pessoas para um
único
carro? Cláudio
franze
as sobrancelhas, pensativo. Gustavo aparece, se
intrometendo. GUSTAVO:
Respondendo a primeira pergunta, o local fica pelas
redondezas, dentro
da cidade é mesma coisa daqui, ninguém tá
aí com nada. Em matéria de estrada, conheço
vários atalhos que fogem da polícia. A segunda parte,
nada que uma apertadinha não resolva. ROGER:
(para
Cláudio) Por que ele vai junto mesmo? CLÁUDIO:
Prometeu para as meninas uma visita ao camarim do tal do
Patrick. LIVIA:
(interessada) Hei, eu também quero conhecê-lo! O Patrick
é maravilhosamente lindo! (suspira).
ROGER:
(para Livia) Você não deveria
me
incentivar a não fazer coisa errada? LIVIA:
Eu
disse que sou perfeita? (sorri).
GUSTAVO:
Então está combinado... (aponta para Roger) Você
é o melhor, Rô, Rô! Ele
sai.
Roger balança negativamente a cabeça. Livia
beija o rosto dele. Cláudio sorri. Sala
do
treinador. Paulo está sentado numa cadeira inclinada na
sua
mesa. Ele olha atentamente para uma televisão que está no
alto de um armário. Apenas ouvimos o som que sai do
aparelho. LOCUTOR:
Ele
passa por dois, dribla o terceiro e fica de frente para o
goleiro,
chuta em gol e... (grita)
É gol! É gol! Mais um dele, Paulo! Guardem esse nome!
Ele
sorri
de forma saudosista. Ouve-se duas batidas na porta. Ele
desliga o
aparelho. PAULO:
Entra... A
porta abre e Isabel aparece, sorrindo. Paulo sorri
levemente. PAULO:
Professora Isabel... A que devo a honra de sua ilustre
presença? ISABEL:
(sorrindo) Calminha com o sarcásmo, que eu vim em paz. Ela
puxa
uma cadeira e se senta de frente para ele. ISABEL:
Percebi
que ficou um clima estranho entre a gente depois dos
ocorridos na concentração... Não é legal
colegas de trabalho não se falarem, sabe? PAULO: Não tem clima estranho algum... A gente não se fala
porque eu
passo a maior parte do tempo na minha sala. ISABEL:
Eu sei
que faz isso para me evitar... PAULO:
Não, eu faço isso porque gosto de ficar sozinho mesmo. ISABEL:
(sorrindo)
Não
tente negar, eu sei que está magoado. PAULO:
(boca
aberta) Você fez faculdade de psicologia? Ouvi dizer que
esse
pessoal não regula muito bem das ideias. ISABEL:
Não fiz, mas se precisar de alguém para desabafar,
é só me procurar. Sou ótima para ouvir e dar
conselhos. PAULO:
E se
meter no trabalho alheio também. ISABEL:
(falando calmamente) Seus jogadores, são meus alunos
também, é meu dever zelar por eles e impedir que os trate
como máquinas sem sentimentos. PAULO:
Eu sei
que eles têm sentimentos... Mas passar a mão na
cabeça quando fazem algo errado, não é zelo,
é consentir com o que não está certo. ISABEL:
(falando calmamente) Mas querer expulsá-los do time só
porque desobedeceram uma regrinha, é algo extremista. PAULO:
Primeiro, não foi uma regrinha, foi uma regra importante,
segundo, eu não ia expulsá-los, ia apenas dar um susto
neles, e terceiro, quer fazer o favor de parar de falar desse
jeito?
Estou ficando meio incomodado aqui. ISABEL:
(falando normalmente) Como queira, homem de lata...
(levanta) Bom,
espero que passe a parar de me evitar daqui pra frente e
comece a
enturmar mais com os professores... Senão terei que vir aqui
outra vez. Ela
sorri
para ele, se desloca até a porta e sai. Paulo abre os
braços. PAULO:
(falando alto) Eu não estou te evitando. Ele
balança
negativamente a cabeça. Ele pega o controle e
liga a televisão outra vez. Ouve-se a voz do locutor e
Paulo
volta a sorrir. Frente
de
uma lanchonete de beira de estrada. Corta pra dentro.
Gabriel e
Felipe estão sentados a uma mesa. Há três pratos
vazios com guardanapos e refrigerantes em cima. Priscila
aparece,
sentando. PRISCILA:
Não podiam ter escolhido um lugarzinho melhor? Já viram o
estado do banheiro? FELIPE:
Perdão, princesa... Na próxima a gente para em um hotel
de luxo. PRISCILA:
Obrigada. GABRIEL:
(para
Felipe) O que irá dizer a ela quando encontrá-la? FELIPE:
Eu?
Pensei
que o trabalho seria seu. GABRIEL: Não, não... Nem vou chegar perto dela. Você que
irá convencê-la a voltar conosco. FELIPE: Beleza, eu faço... Mas que fique
bem claro
que estou fazendo isso somente para que não me culpem pela
fuga
dessa lunática. PRISCILA:
Sua
cara te condena, Felipe. Você está incomodado e sentido
com tudo isso, pode confessar. FELIPE:
(para
Priscila) Eu já não sentiria culpa nenhuma em te deixar
aqui. Priscila
faz
careta para ele. Gabriel balança a cabeça, em
reprovação. GABRIEL:
A
Nicole tem grande talento em esconder sentimentos
afetivos... O que
não quer dizer que ela não gostava de você. FELIPE:
Mas por
que ela é tão travada assim? Levou um chute na bunda e ainda não se recuperou? GABRIEL:
(hesitante) O que eu vou dizer agora, não pode sair daqui,
entenderam? Felipe
concorda
com a cabeça. Segundos depois ambos olham para
Priscila. PRISCILA:
Claro, pode deixar....Vocês acham que eu sou algum tipo de fofoqueira? (levanta
o dedo) Não respondam. GABRIEL:
(respirando
fundo) Teve um desgraçado uma vez que divulgou umas fotos
íntimas dela que ele tinha em sua posse. Ele se aproveitou da
confiança dela, enganou-a e depois traiu essa confiança,
espalhando suas fotos pessoais para todo o colégio. Muitas vezes
me deparei com a Nick chorando por conta disso, e confiem em mim, era
de cortar o coração. Então, imagina a
decepção que é quando, de repente, todos
estão cochichando e rindo dela, especialmente o cara que ela
julgava ser especial? A câmera dá um close no rosto de Felipe, que se mostra bastante pensativo e sentido. FELIPE: Eu sinto muito... Acho que a pressionei demais. GABRIEL:
Não é sua culpa, cara, e nem dela. A Nick deve ter
ativado algum mecânismo de defesa quando o relacionamento de
vocês começou a ficar sério... Desde o acontecido,
não a vi se envolvendo com ninguém até que
você apareceu. Felipe
concorda com a cabeça, visivelmente tocado. Priscila olha para
Gabriel com admiração e segura a mão dele em cima
da mesma. Casa
de
Roger. Vera e Arthur estão na sala, sentados no sofá,
de frente para a televisão. Arthur olha seriamente para
uma
folha. Ouve-se a porta abrindo e fechando. Segundos depois
Roger
aparece na sala, sorridente. ROGER:
Oi meus
amores lindos, amados, salve e salve. ARTHUR:
Se
aproxime mais, jovem. (mostra a
folha) Sabe
o que é isso? ROGER:
(se
aproximando) Não faço a mínima ideia. ARTHUR:
(mostrando a folha) Então vou te esclarecer... (abre a folha
na
frente dele) Isso é uma multa, a segunda que chega em casa
em
menos de um mês. Só que o curioso é que a multa
não veio do carro que eu dirijo, mas do que eu lhe dei. ROGER:
(engolindo a seco) Tem certeza? (pega
a
folha) Deve haver algum engano. ARTHUR:
(tirando a folha da mão dele) Não há engano
algum... (olhando a folha) Excesso de velocidade,
ultrapassagem de
farol vermelho, estacionando em lugar proibido. ROGER:
A parte
do farol vermelho é sacanagem, ninguém para na madrugada,
não é mesmo? VERA:
Madrugada que você deveria estar em casa, não dirigindo
por aí. ARTHUR:
Quando
você tiver sua habilitação, pode levar quantas
multas quiser... Mas enquanto os pontos vão para a carteira
de
sua mãe, o problema se torna sério. VERA:
(surpresa) Meus pontos? ARTHUR:
O carro
está no seu nome. VERA:
(indignada) Seu cachorro! Você sabia que eu era contra esse
negócio de dar um carro na mão dele, e ainda por cima eu
que fico com a habilitação em risco? Como pôde me
trair desse jeito? ARTHUR:
(sorrindo) Meu amor, eu dirijo muito mais que você. Sua
carteira
existe para enfeite apenas. O seu carro está criando teias
na
garagem. VERA:
(olhando seriamente para Roger) Você está ferrado, menino! ROGER:
(levantando as mãos) Eu sei, errei, foi mal. Coisa de
amador.
Mas a partir de agora prometo entrar na linha e nenhuma
multa vai
chegar em casa por minha causa, okay?
Ele
sorri,
abraça Arthur e o beija no rosto. Depois vai até
Vera e faz o mesmo. ROGER:
(sorrindo) E não se esqueçam que eu amo muito
vocês. Ele
se
vira e começa a andar. Arthur levanta o dedo. ARTHUR:
Não tão rápido, espertinho. Roger
para
e fecha os olhos. Ele se vira para o pai. ROGER:
Bom,
eu
tive que tentar, certo? ARTHUR:
É, de certa forma admirável. Mas não vai escapar
do castigo... Até o final do mês que vem, está
proibido de pegar o carro. ROGER:
(arregalando os olhos) O quê? Não, por favor? Eu preciso
do carro esta noite. ARTHUR:
(sorrindo)
Receio
que terá que ir de ônibus ou andando. ROGER:
Por
favor, pelo menos essa noite? A partir de amanhã você
inclui mais um dia. ARTHUR:
(balançando negativamente a cabeça) Nem pensar. ROGER:
(com as
mãos juntas) Eu imploro! ARTHUR:
Nenhum
ato de sentimentalismo me fará mudar de ideia. ROGER:
(para
Vera) Mamãe? VERA:
Nada de
mamãe... Minha vontade é de te dar umas belas palmadas. ROGER:
Droga!
Vida injusta! Muito injusta! ARTHUR:
Seu
carro, cadê? ROGER:
(desanimado) Estacionado lá fora, por quê? Corta
para
o lado de fora da casa. Arthur risca o chão com um spray,
exatamente onde o carro está estacionado, na traseira,
próximo aos pneus. Ele se desloca até a parte da frente,
fazendo o mesmo. ARTHUR:
Sua mãe e eu vamos sair hoje à noite, ela está
quase me deixando louco porque não aguenta mais ficar em casa,
então eu preciso levar aquela criança grande pra passear
um pouco. Vamos acabar indo na casa da jararaca da sua avó e
vamos chegar tarde, muito tarde. ROGER:
(cruzando os braços) Tá, e daí? Por que riscou o
chão? ARTHUR:
Isso
é caso você queira trapacear e tirar o carro só
porque não vamos estar em casa. Se quando eu voltar ele
estiver
meio centímetro fora da posição, pode ter certeza
que só voltará a usá-lo quando tiver uns vinte
anos. E como sabemos que é péssimo motorista, saberei que
tentou tirar o carro. ROGER:
Huh, e você sabe também que
basta
eu e mais alguém empurrarmos o carro até a linha, certo? ARHTUR:
Não me teste, garoto! Eu sei quando está mentindo, e sei
quando fez algo errado. Suas atitudes irão entregá-lo e
eu, sentarei em uma poltrona acariciando um animal de
estimação que não temos, fumando um charuto que
não fumo, apenas me deliciando com a sua sentença. Arthur
lança
um olhar ameaçador ao filho. Segundos depois ele
sai, indo na direção da porta da casa. Roger olha para o
carro e depois na direção do pai. ROGER:
(falando alto) Eu não sou péssimo motorista! (chuta
o pneu e começa a pular de dor) Ai,
ai. Parte
interna
da casa. Arthur se aproxima de Vera e senta ao lado dela
no
sofá. ARTHUR:
Viu
só? Eu também sei ser um pai durão. VERA:
(sorrindo) Estou tão orgulhosa de você, machão! ARTHUR:
(orgulhoso) Vai se acostumando que serei mais mandão daqui
pra
frente. VERA:
Repete. ARTHUR:
Serei
mais mandão daqui pra frente. VERA:
Repete! ARTHUR:
(firme)
Chega mulher! E vá fazer alguma coisa para eu comer! Eles
se
encaram seriamente e depois começam a rir. Vera o
abraça e o beija. A tela escurece segundos depois. Abre
mostrando
a vista panorâmica de uma cidade. A imagem transparece
para dentro do carro de Felipe. Música:
Bodeans - Closer
To Free
FELIPE:
E
agora? GABRIEL:
Vamos passar nas casas de algumas amigas que têm. Entra na próxima
direita. Corta
para
a frente de uma porta. Ela abre e uma garota aparece.
Close em
Gabriel, Felipe do lado de fora. Priscila aparece mais a fundo,
encostada no carro. GAROTA:
Gabriel? GABRIEL:
(sorrindo)
Oi
Mary, a Nicole está aí? MARY:
Ela
está na cidade? Corta
para
outra porta abrindo e outra garota aparecendo. Gabriel,
Felipe e
Priscila estão na mesma posição de antes. GABRIEL:
Oi
Bruna... A Nicole está aí? BRUNA:
Nicole
quem? GABRIEL:
Nicole,
sua amiga, minha irmã? BRUNA:
(lembrando) Oh, claro... Como ela está? Faz tempo que não
aparece no colégio. GABRIEL:
Nós
nos
mudamos. BRUNA:
Oh,
claro... Mudaram quando? Gabriel
olha
para Felipe e balança negativamente a cabeça. Corta
para outra porta e outra garota aparece. Dessa vez
Priscila está
perto dos rapazes. GABRIEL:
Oi
July... A Nicole por acaso passou ou está aí? JULY:
Oi
Gabriel... Ela passou a noite aqui em casa, mas teve que ir
embora.
Minha mãe não permitiu que ela ficasse depois do ocorrido
com a sua família. Gabriel
entorta
a boca, desanimado. Priscila franze as sobrancelhas, confusa. GABRIEL:
Mas
teria alguma ideia de onde ela possa ter ido? JULY:
Ela
disse que ia passar na casa da Flavia, talvez você a
encontre por
lá. GABRIEL:
Obrigado. A
garota acena com a cabeça e fecha a porta. Gabriel, Felipe
e
Priscila se movimentam até a o carro. PRISCILA:
Impressionante o quanto sua irmã é
querida por aqui. Frente
da
casa de Adriana. É noite. Corta para dentro. Lucio
está sentando no meio do sofá. Do seu lado esquerdo
está Adriana, do lado direito está Lucas com a
cabeça deitada no colo de Lucio, aparentemente
dormindo. ADRIANA:
(sorrindo) Lembra a primeira vez que vimos esse filme? LUCIO: "Vimos" é uma palavra forte. ADRIANA:
(sorrindo) Isso porque você ficou o tempo todo no cinema
só querendo me beijar. LUCIO:
(sorrindo) A intenção era essa. ADRIANA:
Sabia
que também foi a noite que o Lucas foi concebido? LUCIO:
(surpreso) É mesmo? ADRIANA:
(após alguns segundos) Eu fui apenas uma aventura pra
você, ou chegou a sentir alguma coisa por mim? LUCIO:
Claro
que sentia, Adriana. Meu casamento não estava bem e com
você eu me sentia vivo. ADRIANA:
Então por que não foi adiante? LUCIO:
Porque
tanto eu, quanto a Silvia não podíamos deixar o
Cláudio passar por uma separação. Ele era muito
novo ainda. ADRIANA: Então foi por isso que você resolveu sumir de repente? Lado
de
fora da casa de Roger. Cláudio, Bruno e Roger estão
parados próximos ao carro que está com os riscos no
chão. CLÁUDIO:
Eu
disse que você dirigia muito mal. ROGER:
No
momento eu não estou precisando de mais críticas, amigo. BRUNO:
E
agora? CLÁUDIO:
Agora
já era... Não dá nem pra
ir de ônibus mais. ROGER:
(dando
os ombros) Eu nem queria ir mesmo... Só ia porque a Liv
insistiu. CLÁUDIO:
Eu vou
ligar para o pessoal. Corta
para
o lado de dentro da casa. Roger caminha falando ao
celular. ROGER:
Então, minha linda... Meu carro foi confiscado... LIVIA:
(off/telefone) Que chato amor... ROGER:
Mas eu
ainda posso passar na sua casa... Podemos fazer algum
programa a
pé, ou assistir algum filme... Ele
entra
na cozinha e vai direto na geladeira, abrindo-a. Ele pega
uma
jarra com água e se vira, fica pensativo e se volta para a
geladeira de novo. ROGER:
Não tem bananas... LIVIA:
(off/telefone) O quê? ROGER:
Minha
mãe é viciada em bananas... LIVIA:
(off/telefone) Você está bem, Roger? ROGER:
(animado) Se arruma que em vinte minutos estarei passando na
sua casa
para te pegar... Nós vamos a esse show. Corta
para
a garagem. Roger, Cláudio e Bruno estão parados
próximos a um carro. ROGER:
(sorrindo) Me proibiram de pegar o meu carro... Não o da
minha
mãe. BRUNO:
Cara,
roubar o carro da mãe leva direto ao inferno. ROGER:
Não é roubo, é uma grande
colaboração que estarei dando dentro de casa. Vocês
não entendem o quanto é importante ter bananas aqui,
especialmente no café da manhã. CLÁUDIO:
E se
eles descobrirem? ROGER:
Se eles
chegarem cedo, a desculpa será das bananas... Se descobrirem
por
acaso, também. Mas, se a querida sogra do meu pai fizer com
eles
durmam lá, a gente chega antes deles voltarem. CLÁUDIO:
Okay, tudo pelas bananas então.
ROGER:
(sorrindo) Tudo pelas bananas. Interior
do
carro de Felipe. O carro está em movimento. Felipe e
Gabriel
olham para os lados. FELIPE:
Passamos na casa de todas essas supostas amigas da Nicole e
nada...
Estou começando a ficar preocupado. GABRIEL:
(respirando fundo) Eu também... (olha para o lado e arregala
os
olhos) Acho que é ela sentada ali na praça. Felipe
olha
na direção de Gabriel. Close em Nicole sentada na
praça, de braços cruzados. Volta para o veículo
que para metros dali. GABRIEL:
Se eu
for, ela atira aquela bolsa em mim... Então, faz como
combinamos. FELIPE:
Okay... Ele
tira
o cinto de segurança e abre a porta, saindo. Gabriel se
vira para Priscila no banco de trás. GABRIEL:
Quer
dar uma volta pelas redondezas? PRISCILA:
Graças a Deus. Eles
abrem
suas portas e saem. Corta para Nicole sentada, ainda de
braços cruzados e visivelmente triste. Felipe se aproxima
dela. Música:
Dishwalla - Collide FELIPE:
Perdida
pela cidade? NICOLE:
(olhando-o) Eu já devia adivinhar que o Gabriel correria
até você. FELIPE:
(sentando ao lado dela) Pois é, você tem um irmão
zeloso e que se preocupa muito com você. NICOLE:
Nem
precisavam se darem ao trabalho de terem vindo... Já estou
indo
embora mesmo. Ela
abaixa
o olhar, triste. Felipe percebe, ficando com uma
expressão de pesar. FELIPE:
Você está bem? NICOLE:
Você passa a vida inteira pensando que tem amigos. Que pode
contar com eles em qualquer momento. Aí quando você
realmente precisa deles, todos viram as costas e arrumam
desculpas para
não te acolher... FELIPE:
Ninguém quis te abrigar então? NICOLE:
(segurando o choro) Não... Felipe
a
encara bastante pesaroso. Nicole olha para a frente, uma
lágrima escorre de seus olhos. FELIPE:
Vou te
dizer uma coisa... Danem-se todas elas. Elas que perdem, não
você. NICOLE:
(sorrindo de leve) Não tente me animar... Eu sei o que
você pensa de mim também. FELIPE:
(após alguns segundos) A gente passa por coisas duras, que
muitas vezes são necessárias para que possamos crescer...
Mas não significa que, só porque aconteceu antes,
vai acontecer agora. NICOLE:
O
Gabriel te contou, não foi? FELIPE:
Sinto
muito pelo que te aconteceu no passado... NICOLE:
Entende
agora que eu não te usei? Que dentro de mim ainda há uma
enorme insegurança em se tratando de relacionamentos? FELIPE:
Sim,
entendo... E talvez nós dois tenhamos ido rápido demais
nisso tudo. O que você acha de começarmos de novo? Dessa
vez sem pressão, sem namoro, vamos apenas ir devagar, nos
conhecermos melhor, e se for pra
rolar
alguma lá na frente, perfeito. Se não, pelo menos
continuamos amigos. NICOLE:
(sorrindo) Um novo começo? FELIPE:
(sorrindo) Um novo começo. NICOLE:
Gostei... (estende a mão) Meu nome é Nicole, sou chata a
maioria das vezes. Menti quando disse que adorava Bom
Destino, quando
na verdade cada vez que abria meus olhos naquele lugar, me
dava vontade
de pular de algum precipício. FELIPE:
(rindo)
Eu sabia disso... (apertando a mão dela) Meu nome é
Felipe, jogo no time do colégio e sou bastante cobiçado
pelas mulheres. Mas a verdade é que escondo um lado bastante
romântico que na maioria das vezes, é irritante. Eles
continuam
conversando, mas o som aumenta e encobre o que eles dizem.
Lentamente a câmera se afasta e a tela escurece instantes
depois. Abre
dentro do carro de Vera. Roger dirige e no banco ao lado está
Livia. Atrás, bem apertados, estão Cláudio, Helen
e Amanda; essa última sentada no colo de Helen. Ao lado,
está Gustavo, e espremido na janela está Bruno. AMANDA:
(empurrando Gustavo com a perna) Tem como mexer essa perna
um pouco
para o lado? GUSTAVO:
Só se eu esticar e começar a trocar de marcha com o
pé. AMANDA:
(bufando) Minha roupa está toda amassada. GUSTAVO:
Quem
mandou perder o posto de primeira dama? Se fosse há alguns
meses, você estaria ali na frente. Amanda
lança
um olhar furioso para ele. Roger pelo espelho retrovisor
faz o mesmo. Gustavo sorri e levanta a mão. GUSTAVO:
Desculpa, perdão, força do hábito... Bruno, quer
sentar no meu colo? Bruno
dá
uma cotovelada em Gustavo. Roger levanta as mãos. ROGER:
Onde
fica esse lugar? Você disse que seria rápido, mas
até agora não saí dessa estrada. GUSTAVO:
Calma
impaciente. Você não queria burlar o comando policial?
Então, esse é o único caminho. Roger
balança
negativamente a cabeça e volta a
atenção para a direção. Livia
o olha com preocupação. LIVIA:
Você está bem? ROGER:
Foi uma
ideia totalmente estúpida. Ele nem deve saber aonde estamos
indo... GUSTAVO:
Relaxa!
Mais alguns quilômetros e chegamos ao nosso destino. AMANDA:
Quer
saber? Para o carro que eu quero descer. ROGER:
Eu
não vou parar o carro. AMANDA:
Então eu vou pular. ROGER:
Alguém abre o vidro e dá uma ajudinha com a mão
para que ela pule mais rápido? Eles
se
encaram com seriedade pelo espelho. Helen toca o braço de
Amanda. HELEN:
Calma,
calminha... AMANDA:
(sussurrando) Eu disse que não queria entrar neste carro. ROGER:
Não precisa falar baixo porque eu ouvi... E fique sabendo
que eu
é que não queria que você entrasse no meu carro. GUSTAVO:
Tecnicamente é o carro da sua mãe... ROGER
E
AMANDA:
Cala a
boca, Gustavo! GUSTAVO:
Okay, gente estressada. CLÁUDIO:
Que tal
pararmos em um posto para pedir informações? ROGER:
Ótima ideia, assim que passarmos por um nesse fim de mundo.
Corta para Priscila e Gabriel caminhando por uma rua qualquer. Música: Death Cab for Cutie - I Will Follow You into the Dark PRISCILA:
A
cidade aqui é bonita. GABRIEL:
É sim, um pouco pequena, difícil encontrar certas coisas,
mas é boa para se viver. PRISCILA:
O que
aquela garota quis dizer com “depois do ocorrido com a sua
família”? GABRIEL:
Que tal
não falarmos sobre isso? PRISCILA:
E que
tal você se abrir com sua nova amiga hiper
curiosa? GABRIEL:
Tenho
medo que as coisas fiquem estranhas entre nós. PRISCILA:
(fazendo expressão meiga) Own,
está com medo que eu me afaste de você? Eu sabia que tinha
te conquistado logo no primeiro soco... (sorri). Mas pode me
contar, eu
prometo que nada vai mudar entre a gente. GABRIEL:
Okay... (respira fundo) Meu pai
tinha um bom
cargo na polícia, uma vida
estável,
honesta, tranquila... Certa vez ele estava em uma ronda
rotineira com
seu parceiro, e abordaram um jovem que ao invés de parar,
começou a correr. Quando conseguiram render o rapaz, ele se
deitou no chão e colocou a mão dentro da jaqueta... Sem
pensar duas vezes, meu pai atirou. PRISCILA:
E
não tinha nada na jaqueta, certo? GABRIEL:
Tinha,
uma garrafa de vinho que o impediria de se deitar
completamente no
chão, por isso ele ia tirar. Além de atirar pensando que
fosse uma arma, o garoto era menor de idade. Imagina a
exposição negativa que isso trouxe para a cidade e minha
família. PRISCILA:
(sentida) Eu sinto muito, Gabi. GABRIEL:
Ele foi absolvido, mas nunca mais foi o mesmo. Aqui na cidade todos
começaram a nos tratar diferente, cochichavam, pessoas pararam
de nos cumprimentar... Então a saída foi deixar a
polícia, receber o que tinha que receber e tentar
recomeçar em outra cidade. Foi o que nos levou a abrir um
restaurante em Bom Destino. PRISCILA:
Então é por isso também que a Nicole é
tão revoltada. Até consigo sentir pena dela agora. GABRIEL:
Que
você não vai deixar transparecer, certo? PRISCILA:
(sorrindo) Claro que não... (o olha com admiração)
Acho lindo o jeito que você se preocupa com sua família,
com ela... Você um anjinho, Gabriel. GABRIEL:
(sorrindo) Seria por causa do meu cabelo encaracolado? PRISCILA:
Meus
cabelos são cacheados quando está natural... Mas isso
não faz nascer nenhuma áurea em mim. (sorri)
Queria que você fosse meu irmão. GABRIEL:
Não seja por isso, a Nicole não tem meu sangue e mesmo
assim a considero como irmã... Podemos ser irmãos
também. PRISCILA:
(sorrindo) Adorei a ideia. GABRIEL:
Só não pode aprontar muito. Já basta uma
irmã para me dar dor de cabeça. PRISCILA:
Prometo
ser menos rabugenta, mas vou querer bastante atenção, okay? GABRIEL:
(sorrindo) Posso providenciar isso. Eles
sorriem
de forma admirada um para o outro, depois seguem andando.
A
imagem transparece para Nicole e Felipe encostados no
carro. Priscila e
Gabriel se aproximam deles. NICOLE:
(para
Priscila) Eu sabia que toda aquela implicância, no fundo era
amor. PRISCILA:
Não imagina como ficou o meu coração no momento em
que eu soube que você havia partido. Elas
riem
de leve. Felipe abre a porta do carro. FELIPE:
É melhor nós irmos... NICOLE:
É melhor mesmo... (olha em volta) Não quero nunca mais
pisar aqui. Felipe
e Priscila entram. Gabriel e Nicole se encaram. Ele sorri para ela, que
retribui com um sorriso e um aceno com a cabeça, como quem quer
dizer obrigado. Em seguida, eles entram no carro. Numa visão
aérea, vemos o veículo saindo e se movimentando por uma
avenida. Um posto de gasolina. Roger está encostado no carro, de braços cruzados. Pouco metros à frente é possível ver uma lanchonete. Amanda se aproxima dele, sorrateiramente. Eles se encaram por alguns segundos. Música: Train - Drops of Jupiter AMANDA:
Hei... ROGER:
Oi... AMANDA:
Desculpa por ter sido um pouco chata dentro do carro... ROGER:
Eu
também não fui muito simpático, então
está tudo bem. AMANDA:
Por
mais que a gente tente, não conseguiremos evitar um ao
outro...
Então que tal uma trégua? ROGER:
(após alguns segundos) Okay,
por
mim sem problemas. Amanda
sorri
levemente. Ela olha para trás, na direção da
lanchonete. Close em Helen e Livia
que
conversam dentro do local. É possível vê-las
através do vidro. Volta para Amanda que olha para Roger. AMANDA:
Você já me superou? ROGER:
Amanda,
por favor... AMANDA:
O que
sente por ela, é mesmo que sentia por mim? ROGER:
Eu
não quero ficar fazendo comparativos. O que eu tive com
você foi uma coisa, com ela é outra. O que importa
é que ela me faz bem, muito bem. AMANDA:
Mas eu
também te fazia bem antes do meu erro. Deve haver uma
diferença aí... ROGER:
Você não vai gostar do que vai ouvir... AMANDA:
Conte-me. ROGER:
Quando
estávamos juntos, por mais que eu soubesse que você
gostava mesmo de mim, no fundo, no fundo, eu sabia que
aquilo ia
acontecer um dia. Mas com ela não... Com a Livia
eu me sinto completamente seguro. É como se eu tivesse
certeza
que enquanto estivermos namorando, ela será só minha...
Diferente da insegurança que eu sentia com você. E
é isso a torna especial para mim. Amanda
abaixa
o olhar, extremamente triste. Roger a observa com uma leve
expressão de pena. Nesse instante ouve-se o grupo
voltando,
discutindo. ROGER:
O que
está havendo? CLÁUDIO:
O
Einstein aí indicou o atalho errado. Acredita que estamos na
direção oposta, duas cidades fora
da rota? É mais ou menos umas duas, três horas de atraso
do nosso verdadeiro destino... Só isso. GUSTAVO:
Hei, eu
apenas me confundi levemente. No mapa parecia mais simples.
BRUNO:
No
mapa? Você nunca havia pegado essa estrada então? GUSTAVO:
Eu quis
ajudar e fiz o favor de juntar todos vocês, que há muito
tempo não acontecia. Então me agradeçam, ao
invés de criticar. BRUNO:
Ninguém aqui vai te agradecer por nada, porque não
há nada para agradecer. Seu panaca. GUSTAVO:
Você tá todo nervosinho por que perdeu o show do Patrick
ou seus planos de finalmente beijar a Helen foi para o
espaço? BRUNO:
(nervoso) Okay, já chega!
Cansei de
suas indiretas e provocações. Bruno
se
aproxima e empurra forte Gustavo. Gustavo avança e eles
tentam se socar, mas Cláudio e Roger os seguram. Eles
falam
todos ao mesmo tempo, e ao mesmo tempo os dois tentam se
soltar e
chutar um ao outro. A câmera muda para um ângulo
aéreo da cena. Segundos depois a tela escurece. Abre
mostrando
o carro trafegando por uma estrada. Corta para dentro. A
câmera mostra um por um e dessa vez, Gustavo está em uma
ponta e Bruno em outra. Livia
olha para
Roger. LIVIA:
Lamento
você ter perdido a viagem... Especialmente porque você
não queria vir mesmo. CLÁUDIO:
É verdade... Insistimos tanto para que viesse. Até
colocou o carro de sua mãe em risco. HELEN:
A culpa
é toda nossa, Roger, desculpa. ROGER:
(sorrindo) Que isso gente... Vamos olhar pelo lado bom. HELEN:
E qual
é o lado bom? ROGER:
Nós! O "Panaca" aí disse uma verdade... Há um bom
tempo não saímos todos juntos. E pelo menos hoje tivemos
esse momento. Então nada de ficar se culpando, certo? GUSTAVO:
Eu
disse... E vocês precisam parar de me ofender quando forem
se
referir à minha pessoa. Roger
pega
na mão de Livia e a beija
carinhosamente. Neste exato momento ouve-se o barulho de
um pneu
estourando. Roger imediatamente perde a direção e freia
bruscamente. Lado
de
fora. Close no pneu furado. A imagem sobe mostrando Roger
parado, de
boca aberta, olhando para o pneu. Os demais estão
espalhados
por perto. ROGER:
(nervoso) A culpa é toda de vocês! Eu não queria
estar aqui, não queria ir àquele show idiota, daquele
cantor idiota. E ainda por cima roubei o carro da minha mãe,
que, a propósito, vai me matar quando eu chegar em casa...
(aponta para todos) A culpa é toda de vocês! GUSTAVO:
O que
aconteceu com o “olhar pelo lado bom”? Roger
lança
um olhar furioso para ele. Gustavo levanta as mãos
e fecha a boca. ROGER:
(inconformado) Estou ferrado... Estou muito ferrado! BRUNO:
Não é só trocar o pneu? ROGER:
E
você acha que eu estaria desesperado se não soubesse que
não temos estepe e muito menos um pneu reserva? BRUNO:
Ah sim,
então ferrou mesmo. CLÁUDIO:
Nada de
pânico. O posto em que estávamos fica poucos
quilômetros daqui. Podemos andar até lá e ver se
tem algum mecânico disponível. ROGER:
Eu
não vou deixar o carro da minha mãe
sozinho. HELEN:
Você pode esperar... A gente vai até lá. LIVIA:
Eu
espero com você... ROGER:
Não, vai com eles. É perigoso ficar aqui no meio do nada. LIVIA:
Então você vai com a gente. Antes o carro do que sua vida. ROGER:
(pensativo) Tem razão... Se bem que estarei morto ao
amanhecer
mesmo. CLÁUDIO:
Okay, vamos empurrar o carro no
acostamento
então. Os
garotos
se posicionam atrás do carro, empurrando-o para o
acostamento, perto do matagal. Carro
de
Felipe. A câmera mostra Felipe dirigindo tranquilamente.
Ele
olha para o espelho retrovisor e sorri. Close em Gabriel e
Priscila
dormindo no banco de trás. Priscila está a com a
cabeça repousada no ombro de Gabriel. Volta para Felipe
que olha
para Nicole que está no banco ao lado. Ela está olhando
para janela, pensativa. Música:
Avril Lavigne – Tomorrow FELIPE:
Você está bem? NICOLE:
(olhando-o) Sim... (pensativa) Pela primeira vez em muito
tempo, estou.
(sorri). Felipe
sorri
para ela, que retribui com outro sorriso. Ela volta a
olhar para
a janela. Uma
estrada qualquer. Cláudio, Roger e Livia caminham na frente,
conversando. Um pouco mais atrás estão Gustavo e Amanda,
que também conversam. Mais atrás, um pouco afastados,
Bruno e Helen também trocam palavras. Cont.
Avril Lavigne – Tomorrow GUSTAVO:
(falando alto) Hei, que tal a gente brincar de" eu nunca? AMANDA:
Eu
não vou revelar meus segredos a você. GUSTAVO:
Tem
medo de me desapontar? AMANDA:
Tenho
medo de você não querer me largar. Gustavo
responde,
mas o som aumenta, tomando conta da cena. A câmera
mostra cada um do grupo mais uma vez, até que a imagem muda
para
uma visão aérea. Uma
sala.
Paulo está sentado no sofá, olhando para uma foto.
Seus olhos estão brilhando. A câmera dá um close na
foto, onde podemos ver dois rapazes e uma garota,
abraçados e
aparentemente felizes. Um desses jovens se assemelha
bastante com Paulo
mais jovem. Paulo esboça um sorriso saudosista e seus
olhos
brilham ainda mais. Frente
da
casa de Nicole. Gabriel e Nicole caminham pelo jardim na
direção da porta. Cont.
Avril Lavigne – Tomorrow GABRIEL:
Acho
melhor eu ir pelos fundos e deixar sua bolsa por lá, até
ter certeza que eles estão dormindo. NICOLE:
Você disse que eu estava aonde? GABRIEL:
Dormindo na casa de uma amiga. Ele
sorri
e começa a andar na direção do fundo da
casa. Nicole fica parada, observando-o. NICOLE:
Gabi... Gabriel
para
e se vira para ela. Nicole abre a boca para falar, mas
para,
tímida. Gabriel novamente sorri. GABRIEL:
(sorrindo) De nada. Ela
retribui o sorriso. Gabriel se vira novamente e volta a andar. Nicole
começa a caminhar na direção da porta. Quando ela
abre, entra e fecha a porta, a tela escurece e a música
cessa. Tela
preta.
A imagem começa a abrir e fechar como se fosse os olhos
de alguém. Lucio está parado, em pé de frente para
uma janela. A câmera corta para Adriana deitada em uma
cama de
hospital. ADRIANA:
(confusa) Onde eu estou? LUCIO:
(se
aproximando) No hospital. Quando voltei para a sua casa, te
encontrei
desmaiada no banheiro. Os
olhos
de Adriana se enchem de lágrimas. Ela morde os
lábios e olha para o lado. ADRIANA:
(com
voz embargada) Meu tempo está acabando, Lucio. Lucio
fica
sem saber o que dizer, olhando-a com pesar. Ele segura na
mão dela. Adriana fecha os olhos, deixando as lágrimas
caírem. Lentamente a tela escurece.
CRÉDITOS
FINAIS CRIADO
E
ESCRITO POR: Thiago
Monteiro PARTICIPAÇÃO
ESPECIAL Paula
Marshall
como Adriana Michael
Strusievici como Lucas Amy
Yasbeck como Isabel
MÚSICA TEMA Switchfoot - Meant To Live TRILHA SONORA Sense Field - You Own Me Butterfly Boucher - I Can't Make Me Bodeans - Closer To
Free Dishwalla - Collide Death Cab for Cutie - I Will Follow You into the Dark Train - Drops of Jupiter Avril Lavigne -
Tomorrow |