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Parte externa do colégio Esplendor. É dia. Felipe fecha a porta do carro e coloca a mochila no ombro. Quando ele se desloca, dá de frente com Gabriel, olhando-o seriamente.

 

Música: Sense Field - You Own Me

 

GABRIEL: Preciso falar com você...

 

FELIPE: Bom dia pra você também... (se deslocando para a entrada) Se for sobre sua irmã, nem comece a falar.

 

GABRIEL: (acompanhando) Que pena, porque é justamente sobre ela que precisamos conversar.

 

FELIPE: (dando um tapinha no ombro de Gabriel e sorrindo) Não agora.

 

Gabriel para. Felipe continua caminhando até o portão.

 

GABRIEL: (falando alto) A Nicole foi embora.

 

Felipe para imediatamente e se vira para Gabriel, se aproximando dele.

 

FELIPE: O que você disse?

 

GABRIEL: Ontem quando eu cheguei do colégio, ela não estava em casa e seu guarda-roupas estava vazio.

 

Nesse instante Priscila aparece, sorridente.

 

PRISCILA: (sorrindo) Olá rapazes.

 

FELIPE: (para Gabriel) Mas por que ela foi embora? Por minha causa?

 

PRISCILA: (curiosa) Quem foi embora?

 

GABRIEL: (para Priscila) A Nick... (para Felipe) Pra dizer a verdade ela não foi embora propriamente dito, ela fugiu. A mãe dela jamais concordaria que ela voltasse para a nossa cidade. Entende agora a gravidade da coisa?

 

FELIPE: Sim, entendo. Mas agora responde, foi por minha causa ou não?

 

GABRIEL: É, digamos que deu uma boa contribuída... (se virando) Vamos, não podemos perder tempo.

 

FELIPE: Wow, esperar um minuto... Como assim, vamos?

 

GABRIEL: Vamos trazê-la de volta... O que mais você espera?

 

FELIPE: Espero entrar e assistir a aula... Isso não é problema meu, Gabriel.

 

GABRIEL: Como não é problema seu? Até você terminar com ela, ela estava bem.

 

PRISCILA: Sua consciência vai ficar pesada, Lipe.

 

FELIPE: (sorrindo de forma debochada) Obrigado... (para Gabriel) Por que você já não foi atrás dela?

 

GABRIEL: Porque se eu for sozinho e de ônibus, é certeza que perderei viagem... Mas você vindo junto e conversando com ela, é muito mais fácil convencê-la.

 

FELIPE: Entendo... Mas não acho que vou ficar com a consciência pesada e talvez nem queira que ela volte.

 

GABRIEL: (nervoso) Felipe, não prove para a Nicole que você é apenas mais um idiota que passou pela vida dela! Sei que você não é desse jeito, apesar de nem te conhecer direito... Então pra dentro do carro, agora!

 

Felipe o olha com bastante surpresa. Ele respira fundo e caminha até o carro. Gabriel vai junto. Priscila sorri e se movimenta logo atrás. Felipe a olha.

 

FELIPE: Aonde a senhorita pensa que vai?

 

PRISCILA: Com vocês, claro.

 

FELIPE: A ideia é convencer a Nicole a voltar, não fazer com que ela decida ficar de vez.

 

PRISCILA: (revirando os olhos) Ai, tanto eu, quanto a Nicole, já nem nutrimos todo aquele ódio do começo... Relaxem. Ela nem vai notar minha presença. Não vou perder a oportunidade de matar aula e sair um pouco de Bom Destino.

 

GABRIEL: Okay, pode vir. Mas não vamos esquecer que não é um passeio e não vamos parar em lugar algum na estrada... Ouviu?

 

PRISCILA: Tá bom vovô, o importante é sair da cidade e resgatar a Nick.

 

Ela sorri para ele. Gabriel balança negativamente a cabeça e sorri também. Numa visão aérea os vemos entrar no automóvel. Felipe e Gabriel na parte da frente e Priscila entra pela porta de trás. Após alguns segundos o carro começa a dar ré. A tela escurece. 

 

 

 

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Colégio Esplendor. Um professor caminha na sala por uma fileira de mesas, entregando uma folha a cada aluno. Ele para em uma em especial e entrega a folha. Quando sai, vemos Bruno com a folha na mão, desanimado. Close na folha, em cima vemos um número dois e um círculo vermelho.

 

BRUNO: Estou ferrado.

 

A câmera de desloca para a mesa de trás, onde podemos ver Helen segurando uma folha também. Close em uma mão colocando outra folha em cima da mesa. Nela podemos ver o número oito e um círculo azul. Helen olha com indignação.

 

HELEN: Como você pode ser tão bagunceiro, irresponsável, não estudar, e ainda assim tirar boas notas?

 

GUSTAVO: (cortando para ele) Sabe como é, talento natural, alguns chamam de gênio, mas não gosto de ficar me gabando... Quanto você tirou?

 

Helen suspira e mostra a folha. Gustavo faz careta, horrorizado.

 

GUSTAVO: Cinco? Uau, você é uma inspiração... Insipiração a não seguir (sorri). 

 

HELEN: (olhando para a folha) Está na hora de voltar a pegar a sério nos estudos.

 

BRUNO: (virando-se para ela) Talvez possamos estudar juntos... Não estou conseguindo acompanhar o ritmo desse colégio. Preciso muito de uma força.

 

HELEN: Você ouviu quanto eu tirei?

 

BRUNO: Isso é porque você andou relaxando e estava sob influência de maus elementos.

 

Ele olha para Gustavo que se faz de desentendido. Depois volta-se para Helen.

 

BRUNO: Mas fiquei sabendo que até o final do ano passado, você era uma das melhores alunas do colégio.
 
HELEN: (após alguns segundos refletindo) Tudo bem, posso tentar te ajudar. Mas não garanto milagres, okay?
 
BRUNO: (sorrindo) Eu sei que você é capaz.
 
GUSTAVO: (rindo e imitando Bruno) Eu sei que você é capaz... Apenas convide-a para sair, ela não vai ligar se você é burro feito uma batedeira sem fio.
 
BRUNO: Eu não faço ideia do que você está falando.
 
GUSTAVO: Viu só? Burro.
 
HELEN: (repreendendo-o) Gustavo, pode parar! (para Bruno) Não liga para ele. Só está cumprindo sua cota diária de inconveniência.  

 

Bruno sorri sem graça para Helen. Ele olha para Gustavo e fecha a cara. Gustavo retribui com um sorriso largo.  

 

 

Corta para alguns takes de determinados pontos da cidade, até parar em frente ao colégio Esplendor, simbolizando uma passagem de tempo. A imagem transparece para Gustavo caminhando sorridente pelo refeitório. Ele se aproxima da mesa onde Cláudio, Helen, Bruno e Amanda estão.

 

Música: Butterfly Boucher - I Can't Make Me

 

GUSTAVO: Ficaram sabendo do show da banda Tune?

 

CLÁUDIO: Que vai inaugurar a nova casa de show da nossa "querida" cidade vizinha? Parece que não rola outro assunto por hoje.

 

GUSTAVO: E nós vamos, óbvio.

 

BRUNO: Nós aqui... (faz sinal com dedo para os que estão na mesa) Vamos. Já você, não sei.

 

GUSTAVO: (sentando ao lado de Bruno e dando um leve riso) Huh, até parece que alguém consegue me deixar de fora de alguma coisa por aqui... Continuem tentando. (olha para as garotas) Meninas, vocês são fãs dessa banda?

 

HELEN: (suspirando) Adoro!

 

AMANDA: (suspirando) O Patrick é tudo, mas tudo de bom e mais um pouco.

 

HELEN: O rosto, o jeito que ele se move no palco e quando tira a camisa...

 

AMANDA: (se abanando) Nem me fale...

 

CLÁUDIO: Talento pra cantar não conta nada né?

 

HELEN: Tá brincando? A voz dele é maravilhosa! 

 

BRUNO: Ele só grita.

 

AMANDA: E daí? Ele pode gritar perto de mim à vontade.

 

GUSTAVO: E como nós vamos para lá? Ônibus, taxi, caminhando e cantando?

 

CLÁUDIO: Você está mesmo se escalando para ir com a gente? Metade do colégio vai, procura outra turma.

 

GUSTAVO: Cláudio, não vamos discutir minha importância nesse grupo outra vez... E se me levarem junto, eu garanto meninas que vocês entram no camarim do Patrick.

 

AMANDA: (interessada) Você pode fazer isso mesmo? Como?

 

GUSTAVO: Tenho meus contatos... Tenho contato em tudo quanto é lugar, podem me pedir qualquer coisa, que eu consigo.

 

HELEN: Bom, desse jeito não tem como impedir que você venha com a gente. 

 

BRUNO: (para Helen) Está falando sério? Eu sei que você inexplicavelmente gosta desse panaca, mas aí levá-lo junto a um evento em que nós marcamos...

 

GUSTAVO: Relaxa Brunão, eu prometo não atrapalhar seu flerte com a Helen.

 

BRUNO: (sério) Cala essa boca, Gustavo.

 

CLÁUDIO: Okay, o panaca vai com a gente... Mas chega de indiretas e provocações, entendeu?

 

Gustavo faz zíper com dedo na boca e concorda com a cabeça. Bruno revira os olhos e balança a cabeça, em reprovação.


AMANDA: O idiota levantou uma questão relevante... Como vamos pra lá? O ônibus, pelo que eu saiba, só tem de seis em seis horas, horrível.

GUSTAVO: Que bom seria se a gente tivesse um amigo que dirigisse, né?

Nesse instante, todos olham na direção da mesa em que Roger e Lívia estão. Amanda fecha a cara.

AMANDA: Mas nem morta eu entro naquele carro!

 

Corta instantaneamente para o rosto de Roger.

 

ROGER: Mas nem morta ela entra no meu carro.

 

A imagem abre, mostrando Livia ao lado dele na mesa e Cláudio sentado de frente para eles.

 

LIVIA: Por que não? Tem medo de encarar sua ex com a atual?

 

ROGER: Claro que não... Mas eu pensei que você se sentiria incomodada com a situação.

 

LIVIA: (dando os ombros) Nem um pouco. E já que estamos namorando, não podemos ficar isolados do grupo que você já fazia parte.

 

ROGER: (para Cláudio) Tá, vamos dizer que eu aceitei... Você não esqueceu alguns detalhes, meu amigo? Primeiro, eu não tenho carta... Uma coisa é dirigir sem habilitação aqui em nossa cidade, outra é pegar estrada, com policiais mais casca grossa. E contou quantas pessoas para um único carro?

 

Cláudio franze as sobrancelhas, pensativo. Gustavo aparece, se intrometendo.

 

GUSTAVO: Respondendo a primeira pergunta, o local fica pelas redondezas, dentro da cidade é mesma coisa daqui, ninguém tá aí com nada. Em matéria de estrada, conheço vários atalhos que fogem da polícia. A segunda parte, nada que uma apertadinha não resolva.

 

ROGER: (para Cláudio) Por que ele vai junto mesmo?

 

CLÁUDIO: Prometeu para as meninas uma visita ao camarim do tal do Patrick.

 

LIVIA: (interessada) Hei, eu também quero conhecê-lo! O Patrick é maravilhosamente lindo! (suspira).

 

ROGER: (para Livia) Você não deveria me incentivar a não fazer coisa errada?

 

LIVIA: Eu disse que sou perfeita? (sorri).

 

GUSTAVO: Então está combinado... (aponta para Roger) Você é o melhor, Rô, Rô!

 

Ele sai. Roger balança negativamente a cabeça. Livia beija o rosto dele. Cláudio sorri.

 

 

Sala do treinador. Paulo está sentado numa cadeira inclinada na sua mesa. Ele olha atentamente para uma televisão que está no alto de um armário. Apenas ouvimos o som que sai do aparelho.

 

LOCUTOR: Ele passa por dois, dribla o terceiro e fica de frente para o goleiro, chuta em gol e... (grita) É gol! É gol! Mais um dele, Paulo! Guardem esse nome!

 

Ele sorri de forma saudosista. Ouve-se duas batidas na porta. Ele desliga o aparelho.

 

PAULO: Entra...

 

A porta abre e Isabel aparece, sorrindo. Paulo sorri levemente.

 

PAULO: Professora Isabel... A que devo a honra de sua ilustre presença?

 

ISABEL: (sorrindo) Calminha com o sarcásmo, que eu vim em paz. 

 

Ela puxa uma cadeira e se senta de frente para ele.

 

ISABEL: Percebi que ficou um clima estranho entre a gente depois dos ocorridos na concentração... Não é legal colegas de trabalho não se falarem, sabe?

 

PAULO: Não tem clima estranho algum... A gente não se fala porque eu passo a maior parte do tempo na minha sala.

 

ISABEL: Eu sei que faz isso para me evitar...

 

PAULO: Não, eu faço isso porque gosto de ficar sozinho mesmo.

 

ISABEL: (sorrindo) Não tente negar, eu sei que está magoado.

 

PAULO: (boca aberta) Você fez faculdade de psicologia? Ouvi dizer que esse pessoal não regula muito bem das ideias. 

 

ISABEL: Não fiz, mas se precisar de alguém para desabafar, é só me procurar. Sou ótima para ouvir e dar conselhos.

 

PAULO: E se meter no trabalho alheio também.

 

ISABEL: (falando calmamente) Seus jogadores, são meus alunos também, é meu dever zelar por eles e impedir que os trate como máquinas sem sentimentos.

 

PAULO: Eu sei que eles têm sentimentos... Mas passar a mão na cabeça quando fazem algo errado, não é zelo, é consentir com o que não está certo.

 

ISABEL: (falando calmamente) Mas querer expulsá-los do time só porque desobedeceram uma regrinha, é algo extremista.

 

PAULO: Primeiro, não foi uma regrinha, foi uma regra importante, segundo, eu não ia expulsá-los, ia apenas dar um susto neles, e terceiro, quer fazer o favor de parar de falar desse jeito? Estou ficando meio incomodado aqui.

 

ISABEL: (falando normalmente) Como queira, homem de lata... (levanta) Bom, espero que passe a parar de me evitar daqui pra frente e comece a enturmar mais com os professores... Senão terei que vir aqui outra vez.

 

Ela sorri para ele, se desloca até a porta e sai. Paulo abre os braços.

 

PAULO: (falando alto) Eu não estou te evitando.

 

Ele balança negativamente a cabeça. Ele pega o controle e liga a televisão outra vez. Ouve-se a voz do locutor e Paulo volta a sorrir.

 

 

Frente de uma lanchonete de beira de estrada. Corta pra dentro. Gabriel e Felipe estão sentados a uma mesa. Há três pratos vazios com guardanapos e refrigerantes em cima. Priscila aparece, sentando.

 

PRISCILA: Não podiam ter escolhido um lugarzinho melhor? Já viram o estado do banheiro?

 

FELIPE: Perdão, princesa... Na próxima a gente para em um hotel de luxo.

 

PRISCILA: Obrigada.

 

GABRIEL: (para Felipe) O que irá dizer a ela quando encontrá-la?

 

FELIPE: Eu? Pensei que o trabalho seria seu.

 

GABRIEL: Não, não... Nem vou chegar perto dela. Você que irá convencê-la a voltar conosco.

 

FELIPE: Beleza, eu faço... Mas que fique bem claro que estou fazendo isso somente para que não me culpem pela fuga dessa lunática.

 

PRISCILA: Sua cara te condena, Felipe. Você está incomodado e sentido com tudo isso, pode confessar.

 

FELIPE: (para Priscila) Eu já não sentiria culpa nenhuma em te deixar aqui.

 

Priscila faz careta para ele. Gabriel balança a cabeça, em reprovação.

 

GABRIEL: A Nicole tem grande talento em esconder sentimentos afetivos... O que não quer dizer que ela não gostava de você.

 

FELIPE: Mas por que ela é tão travada assim? Levou um chute na bunda e ainda não se recuperou? 

 

GABRIEL: (hesitante) O que eu vou dizer agora, não pode sair daqui, entenderam?

 

Felipe concorda com a cabeça. Segundos depois ambos olham para Priscila.

 

PRISCILA: Claro, pode deixar....Vocês acham que eu sou algum tipo de fofoqueira? (levanta o dedo) Não respondam.

 

GABRIEL: (respirando fundo) Teve um desgraçado uma vez que divulgou umas fotos íntimas dela que ele tinha em sua posse. Ele se aproveitou da confiança dela, enganou-a e depois traiu essa confiança, espalhando suas fotos pessoais para todo o colégio. Muitas vezes me deparei com a Nick chorando por conta disso, e confiem em mim, era de cortar o coração. Então, imagina a decepção que é quando, de repente, todos estão cochichando e rindo dela, especialmente o cara que ela julgava ser especial?

 

A câmera dá um close no rosto de Felipe, que se mostra bastante pensativo e sentido.

 

FELIPE: Eu sinto muito... Acho que a pressionei demais.

 

GABRIEL: Não é sua culpa, cara, e nem dela. A Nick deve ter ativado algum mecânismo de defesa quando o relacionamento de vocês começou a ficar sério... Desde o acontecido, não a vi se envolvendo com ninguém até que você apareceu.

 

Felipe concorda com a cabeça, visivelmente tocado. Priscila olha para Gabriel com admiração e segura a mão dele em cima da mesma.
 

 PRISCILA: Você é um bom irmão, Gabe.

 

Casa de Roger. Vera e Arthur estão na sala, sentados no sofá, de frente para a televisão. Arthur olha seriamente para uma folha. Ouve-se a porta abrindo e fechando. Segundos depois Roger aparece na sala, sorridente.

 

ROGER: Oi meus amores lindos, amados, salve e salve.

 

ARTHUR: Se aproxime mais, jovem. (mostra a folha) Sabe o que é isso?

 

ROGER: (se aproximando) Não faço a mínima ideia. 

 

ARTHUR: (mostrando a folha) Então vou te esclarecer... (abre a folha na frente dele) Isso é uma multa, a segunda que chega em casa em menos de um mês. Só que o curioso é que a multa não veio do carro que eu dirijo, mas do que eu lhe dei.

 

ROGER: (engolindo a seco) Tem certeza? (pega a folha) Deve haver algum engano.

 

ARTHUR: (tirando a folha da mão dele) Não há engano algum... (olhando a folha) Excesso de velocidade, ultrapassagem de farol vermelho, estacionando em lugar proibido.

 

ROGER: A parte do farol vermelho é sacanagem, ninguém para na madrugada, não é mesmo?

 

VERA: Madrugada que você deveria estar em casa, não dirigindo por aí.

 

ARTHUR: Quando você tiver sua habilitação, pode levar quantas multas quiser... Mas enquanto os pontos vão para a carteira de sua mãe, o problema se torna sério.

 

VERA: (surpresa) Meus pontos?

 

ARTHUR: O carro está no seu nome.

 

VERA: (indignada) Seu cachorro! Você sabia que eu era contra esse negócio de dar um carro na mão dele, e ainda por cima eu que fico com a habilitação em risco? Como pôde me trair desse jeito?

 

ARTHUR: (sorrindo) Meu amor, eu dirijo muito mais que você. Sua carteira existe para enfeite apenas. O seu carro está criando teias na garagem.

 

VERA: (olhando seriamente para Roger) Você está ferrado, menino!

 

ROGER: (levantando as mãos) Eu sei, errei, foi mal. Coisa de amador. Mas a partir de agora prometo entrar na linha e nenhuma multa vai chegar em casa por minha causa, okay?

 

Ele sorri, abraça Arthur e o beija no rosto. Depois vai até Vera e faz o mesmo.

 

ROGER: (sorrindo) E não se esqueçam que eu amo muito vocês.

 

Ele se vira e começa a andar. Arthur levanta o dedo.

 

ARTHUR: Não tão rápido, espertinho.

 

Roger para e fecha os olhos. Ele se vira para o pai.

 

ROGER: Bom, eu tive que tentar, certo?

 

ARTHUR: É, de certa forma admirável. Mas não vai escapar do castigo... Até o final do mês que vem, está proibido de pegar o carro.

 

ROGER: (arregalando os olhos) O quê? Não, por favor? Eu preciso do carro esta noite.

 

ARTHUR: (sorrindo) Receio que terá que ir de ônibus ou andando.

 

ROGER: Por favor, pelo menos essa noite? A partir de amanhã você inclui mais um dia.

 

ARTHUR: (balançando negativamente a cabeça) Nem pensar.

 

ROGER: (com as mãos juntas) Eu imploro!

 

ARTHUR: Nenhum ato de sentimentalismo me fará mudar de ideia.

 

ROGER: (para Vera) Mamãe?

 

VERA: Nada de mamãe... Minha vontade é de te dar umas belas palmadas.

 

ROGER: Droga! Vida injusta! Muito injusta!

 

ARTHUR: Seu carro, cadê?

 

ROGER: (desanimado) Estacionado lá fora, por quê?

 

Corta para o lado de fora da casa. Arthur risca o chão com um spray, exatamente onde o carro está estacionado, na traseira, próximo aos pneus. Ele se desloca até a parte da frente, fazendo o mesmo.

 

ARTHUR: Sua mãe e eu vamos sair hoje à noite, ela está quase me deixando louco porque não aguenta mais ficar em casa, então eu preciso levar aquela criança grande pra passear um pouco. Vamos acabar indo na casa da jararaca da sua avó e vamos chegar tarde, muito tarde. 

 

ROGER: (cruzando os braços) Tá, e daí? Por que riscou o chão?

 

ARTHUR: Isso é caso você queira trapacear e tirar o carro só porque não vamos estar em casa. Se quando eu voltar ele estiver meio centímetro fora da posição, pode ter certeza que só voltará a usá-lo quando tiver uns vinte anos. E como sabemos que é péssimo motorista, saberei que tentou tirar o carro.

 

ROGER: Huh, e você sabe também que basta eu e mais alguém empurrarmos o carro até a linha, certo?

 

ARHTUR: Não me teste, garoto! Eu sei quando está mentindo, e sei quando fez algo errado. Suas atitudes irão entregá-lo e eu, sentarei em uma poltrona acariciando um animal de estimação que não temos, fumando um charuto que não fumo, apenas me deliciando com a sua sentença. 

 

Arthur lança um olhar ameaçador ao filho. Segundos depois ele sai, indo na direção da porta da casa. Roger olha para o carro e depois na direção do pai.

 

ROGER: (falando alto) Eu não sou péssimo motorista! (chuta o pneu e começa a pular de dor) Ai, ai.

 

Parte interna da casa. Arthur se aproxima de Vera e senta ao lado dela no sofá.

 

ARTHUR: Viu só? Eu também sei ser um pai durão.

 

VERA: (sorrindo) Estou tão orgulhosa de você, machão!

 

ARTHUR: (orgulhoso) Vai se acostumando que serei mais mandão daqui pra frente.

 

VERA: Repete.

 

ARTHUR: Serei mais mandão daqui pra frente.

 

VERA: Repete!

 

ARTHUR: (firme) Chega mulher! E vá fazer alguma coisa para eu comer!

 

Eles se encaram seriamente e depois começam a rir. Vera o abraça e o beija. A tela escurece segundos depois.

 

 

Abre mostrando a vista panorâmica de uma cidade. A imagem transparece para dentro do carro de Felipe.

 

Música: Bodeans - Closer To Free

 

FELIPE: E agora?

 

GABRIEL: Vamos passar nas casas de algumas amigas que têm. Entra na próxima direita.

 

Corta para a frente de uma porta. Ela abre e uma garota aparece. Close em Gabriel, Felipe do lado de fora. Priscila aparece mais a fundo,  encostada no carro.

 

GAROTA: Gabriel?

 

GABRIEL: (sorrindo) Oi Mary, a Nicole está aí?

 

MARY: Ela está na cidade?

 

Corta para outra porta abrindo e outra garota aparecendo. Gabriel, Felipe e Priscila estão na mesma posição de antes.

 

GABRIEL: Oi Bruna... A Nicole está aí?

 

BRUNA: Nicole quem?

 

GABRIEL: Nicole, sua amiga, minha irmã?

 

BRUNA: (lembrando) Oh, claro... Como ela está? Faz tempo que não aparece no colégio.

 

GABRIEL: Nós nos mudamos.

 

BRUNA: Oh, claro... Mudaram quando?

 

Gabriel olha para Felipe e balança negativamente a cabeça. Corta para outra porta e outra garota aparece. Dessa vez Priscila está perto dos rapazes.

 

GABRIEL: Oi July... A Nicole por acaso passou ou está aí?

 

JULY: Oi Gabriel... Ela passou a noite aqui em casa, mas teve que ir embora. Minha mãe não permitiu que ela ficasse depois do ocorrido com a sua família.

 

Gabriel entorta a boca, desanimado. Priscila franze as sobrancelhas, confusa.

 

GABRIEL: Mas teria alguma ideia de onde ela possa ter ido?

 

JULY: Ela disse que ia passar na casa da Flavia, talvez você a encontre por lá.

 

GABRIEL: Obrigado.

 

A garota acena com a cabeça e fecha a porta. Gabriel, Felipe e Priscila se movimentam até a o carro.

 

PRISCILA: Impressionante o quanto sua irmã é querida por aqui. 

 

 

Frente da casa de Adriana. É noite. Corta para dentro. Lucio está sentando no meio do sofá. Do seu lado esquerdo está Adriana, do lado direito está Lucas com a cabeça deitada no colo de Lucio, aparentemente dormindo. 

 

ADRIANA: (sorrindo) Lembra a primeira vez que vimos esse filme?

 

LUCIO: "Vimos" é uma palavra forte. 

 

ADRIANA: (sorrindo) Isso porque você ficou o tempo todo no cinema só querendo me beijar.

 

LUCIO: (sorrindo) A intenção era essa. 

 

ADRIANA: Sabia que também foi a noite que o Lucas foi concebido?

 

LUCIO: (surpreso) É mesmo? 

 

ADRIANA: (após alguns segundos) Eu fui apenas uma aventura pra você, ou chegou a sentir alguma coisa por mim?

 

LUCIO: Claro que sentia, Adriana. Meu casamento não estava bem e com você eu me sentia vivo.

 

ADRIANA: Então por que não foi adiante?

 

LUCIO: Porque tanto eu, quanto a Silvia não podíamos deixar o Cláudio passar por uma separação. Ele era muito novo ainda.

 

ADRIANA: Então foi por isso que você resolveu sumir de repente?

LUCIO: Em parte, sim... Quando percebi que estava me envolvendo emocionalmente, precisei me afastar. Prometi a mim mesmo que não criaria laços afetivos com ninguém.

ADRIANA: Fiquei com tanta raiva de você por ter me abandonado, que quando soube que estava grávida do Lucas, decidi que ele nunca iria conhecer o pai.

Lucio abaixa a cabeça e acaricia os cabelos do garotinho. 

LUCIO: Minha fama me precedia... E talvez aquele não fosse o momento certo para ele saber sobre mim... Eu não era um bom pai nem para o Cláudio.

ADRIANA: Que bom então que ele tenha a chance de te conhecer sendo esse novo você... Apesar das circunstâncias.

LUCIO: Eu não sei como você consegue ter forças... Eu não sei como a Silvia conseguiu ter forças. Eu te admiro muito, Adriana, de coração.

Eles se encaram por alguns instantes. Adriana se aproxima de leve para beijá-lo, mas Lucio recua.

LUCIO: Eu amo a Silvia... Isso não vai mudar, sinto muito.

ADRIANA: (sorrindo) Eu sei... E está tudo bem, afinal, a gente não ia durar até o Natal.

LUCIO: Muitas brigas?

ADRIANA: Porque também estarei num caixão, mas isso são detalhes.

LUCIO: (dando um leve riso) Nós somos péssimas pessoas, não somos?

ADRIANA: (sorrindo) Só temos um humor mais mórbido.

Adriana continua sorrindo e passa a mão no cabelo de Lucas, olhando-o com admiração.

ADRIANA: O que eu quero mesmo é passar meus últimos momentos assim, sorrindo e aproveitando cada minuto com o meu amorzinho.

Lucio também passa a mão no cabelo do filho, depois olha para Adriana, que mantém o sorriso, mas esboça uma leve emoção no olhar. 

 

 

Lado de fora da casa de Roger. Cláudio, Bruno e Roger estão parados próximos ao carro que está com os riscos no chão.

 

CLÁUDIO: Eu disse que você dirigia muito mal.

 

ROGER: No momento eu não estou precisando de mais críticas, amigo.

 

BRUNO: E agora?

 

CLÁUDIO: Agora já era... Não dá nem pra ir de ônibus mais.

 

ROGER: (dando os ombros) Eu nem queria ir mesmo... Só ia porque a Liv insistiu.

 

CLÁUDIO: Eu vou ligar para o pessoal.

 

Corta para o lado de dentro da casa. Roger caminha falando ao celular.

 

ROGER: Então, minha linda... Meu carro foi confiscado...

 

LIVIA: (off/telefone) Que chato amor...

 

ROGER: Mas eu ainda posso passar na sua casa... Podemos fazer algum programa a pé, ou assistir algum filme...

 

Ele entra na cozinha e vai direto na geladeira, abrindo-a. Ele pega uma jarra com água e se vira, fica pensativo e se volta para a geladeira de novo.

 

ROGER: Não tem bananas...

 

LIVIA: (off/telefone) O quê?

 

ROGER: Minha mãe é viciada em bananas...

 

LIVIA: (off/telefone) Você está bem, Roger?

 

ROGER: (animado) Se arruma que em vinte minutos estarei passando na sua casa para te pegar... Nós vamos a esse show.

 

Corta para a garagem. Roger, Cláudio e Bruno estão parados próximos a um carro.

 

ROGER: (sorrindo) Me proibiram de pegar o meu carro... Não o da minha mãe.

 

BRUNO: Cara, roubar o carro da mãe leva direto ao inferno.

 

ROGER: Não é roubo, é uma grande colaboração que estarei dando dentro de casa. Vocês não entendem o quanto é importante ter bananas aqui, especialmente no café da manhã.

 

CLÁUDIO: E se eles descobrirem?

 

ROGER: Se eles chegarem cedo, a desculpa será das bananas... Se descobrirem por acaso, também. Mas, se a querida sogra do meu pai fizer com eles durmam lá, a gente chega antes deles voltarem.

 

CLÁUDIO: Okay, tudo pelas bananas então.

 

ROGER: (sorrindo) Tudo pelas bananas.

 

 

Interior do carro de Felipe. O carro está em movimento. Felipe e Gabriel olham para os lados.

 

FELIPE: Passamos na casa de todas essas supostas amigas da Nicole e nada... Estou começando a ficar preocupado.

 

GABRIEL: (respirando fundo) Eu também... (olha para o lado e arregala os olhos) Acho que é ela sentada ali na praça.

 

Felipe olha na direção de Gabriel. Close em Nicole sentada na praça, de braços cruzados. Volta para o veículo que para metros dali.

 

GABRIEL: Se eu for, ela atira aquela bolsa em mim... Então, faz como combinamos.

 

FELIPE: Okay...

 

Ele tira o cinto de segurança e abre a porta, saindo. Gabriel se vira para Priscila no banco de trás.

 

GABRIEL: Quer dar uma volta pelas redondezas?

 

PRISCILA: Graças a Deus.

 

Eles abrem suas portas e saem. Corta para Nicole sentada, ainda de braços cruzados e visivelmente triste. Felipe se aproxima dela.

 

Música: Dishwalla - Collide

 

FELIPE: Perdida pela cidade?

 

NICOLE: (olhando-o) Eu já devia adivinhar que o Gabriel correria até você.

 

FELIPE: (sentando ao lado dela) Pois é, você tem um irmão zeloso e que se preocupa muito com você. 

 

NICOLE: Nem precisavam se darem ao trabalho de terem vindo... Já estou indo embora mesmo.

 

Ela abaixa o olhar, triste. Felipe percebe, ficando com uma expressão de pesar.

 

FELIPE: Você está bem?

 

NICOLE: Você passa a vida inteira pensando que tem amigos. Que pode contar com eles em qualquer momento. Aí quando você realmente precisa deles, todos viram as costas e arrumam desculpas para não te acolher...

 

FELIPE: Ninguém quis te abrigar então?

 

NICOLE: (segurando o choro) Não...

 

Felipe a encara bastante pesaroso. Nicole olha para a frente, uma lágrima escorre de seus olhos.

 

FELIPE: Vou te dizer uma coisa... Danem-se todas elas. Elas que perdem, não você.

 

NICOLE: (sorrindo de leve) Não tente me animar... Eu sei o que você pensa de mim também.

 

FELIPE: (após alguns segundos) A gente passa por coisas duras, que muitas vezes são necessárias para que possamos crescer... Mas não significa que, só porque aconteceu antes, vai acontecer agora.

 

NICOLE: O Gabriel te contou, não foi?

 

FELIPE: Sinto muito pelo que te aconteceu no passado...

 

NICOLE: Entende agora que eu não te usei? Que dentro de mim ainda há uma enorme insegurança em se tratando de relacionamentos?

 

FELIPE: Sim, entendo... E talvez nós dois tenhamos ido rápido demais nisso tudo. O que você acha de começarmos de novo? Dessa vez sem pressão, sem namoro, vamos apenas ir devagar, nos conhecermos melhor, e se for pra rolar alguma lá na frente, perfeito. Se não, pelo menos continuamos amigos.

 

NICOLE: (sorrindo) Um novo começo?

 

FELIPE: (sorrindo) Um novo começo.

 

NICOLE: Gostei... (estende a mão) Meu nome é Nicole, sou chata a maioria das vezes. Menti quando disse que adorava Bom Destino, quando na verdade cada vez que abria meus olhos naquele lugar, me dava vontade de pular de algum precipício.

 

FELIPE: (rindo) Eu sabia disso... (apertando a mão dela) Meu nome é Felipe, jogo no time do colégio e sou bastante cobiçado pelas mulheres. Mas a verdade é que escondo um lado bastante romântico que na maioria das vezes, é irritante.

 

Eles continuam conversando, mas o som aumenta e encobre o que eles dizem. Lentamente a câmera se afasta e a tela escurece instantes depois.

 

 

Abre dentro do carro de Vera. Roger dirige e no banco ao lado está Livia. Atrás, bem apertados, estão Cláudio, Helen e Amanda; essa última sentada no colo de Helen. Ao lado, está Gustavo, e espremido na janela está Bruno. 

 

AMANDA: (empurrando Gustavo com a perna) Tem como mexer essa perna um pouco para o lado?

 

GUSTAVO: Só se eu esticar e começar a trocar de marcha com o pé.

 

AMANDA: (bufando) Minha roupa está toda amassada.

 

GUSTAVO: Quem mandou perder o posto de primeira dama? Se fosse há alguns meses, você estaria ali na frente.

 

Amanda lança um olhar furioso para ele. Roger pelo espelho retrovisor faz o mesmo. Gustavo sorri e levanta a mão.

 

GUSTAVO: Desculpa, perdão, força do hábito... Bruno, quer sentar no meu colo?

 

Bruno dá uma cotovelada em Gustavo. Roger levanta as mãos.

 

ROGER: Onde fica esse lugar? Você disse que seria rápido, mas até agora não saí dessa estrada.

 

GUSTAVO: Calma impaciente. Você não queria burlar o comando policial? Então, esse é o único caminho.

 

Roger balança negativamente a cabeça e volta a atenção para a direção. Livia o olha com preocupação.

 

LIVIA: Você está bem?

 

ROGER: Foi uma ideia totalmente estúpida. Ele nem deve saber aonde estamos indo...

 

GUSTAVO: Relaxa! Mais alguns quilômetros e chegamos ao nosso destino.

 

AMANDA: Quer saber? Para o carro que eu quero descer.

 

ROGER: Eu não vou parar o carro.

 

AMANDA: Então eu vou pular.

 

ROGER: Alguém abre o vidro e dá uma ajudinha com a mão para que ela pule mais rápido?

 

Eles se encaram com seriedade pelo espelho. Helen toca o braço de Amanda.

 

HELEN: Calma, calminha...

 

AMANDA: (sussurrando) Eu disse que não queria entrar neste carro.

 

ROGER: Não precisa falar baixo porque eu ouvi... E fique sabendo que eu é que não queria que você entrasse no meu carro.

 

GUSTAVO: Tecnicamente é o carro da sua mãe...

 

ROGER E AMANDA: Cala a boca, Gustavo!

 

GUSTAVO: Okay, gente estressada.

 

CLÁUDIO: Que tal pararmos em um posto para pedir informações?

 

ROGER: Ótima ideia, assim que passarmos por um nesse fim de mundo.

 

 

Corta para Priscila e Gabriel caminhando por uma rua qualquer.

Música: Death Cab for Cutie - I Will Follow You into the Dark

 

PRISCILA: A cidade aqui é bonita.

 

GABRIEL: É sim, um pouco pequena, difícil encontrar certas coisas, mas é boa para se viver.

 

PRISCILA: O que aquela garota quis dizer com “depois do ocorrido com a sua família”?

 

GABRIEL: Que tal não falarmos sobre isso?

 

PRISCILA: E que tal você se abrir com sua nova amiga hiper curiosa?

 

GABRIEL: Tenho medo que as coisas fiquem estranhas entre nós.

 

PRISCILA: (fazendo expressão meiga) Own, está com medo que eu me afaste de você? Eu sabia que tinha te conquistado logo no primeiro soco... (sorri). Mas pode me contar, eu prometo que nada vai mudar entre a gente.

 

GABRIEL: Okay... (respira fundo) Meu pai tinha um bom cargo na polícia, uma vida estável, honesta, tranquila... Certa vez ele estava em uma ronda rotineira com seu parceiro, e abordaram um jovem que ao invés de parar, começou a correr. Quando conseguiram render o rapaz, ele se deitou no chão e colocou a mão dentro da jaqueta... Sem pensar duas vezes, meu pai atirou.

 

PRISCILA: E não tinha nada na jaqueta, certo?

 

GABRIEL: Tinha, uma garrafa de vinho que o impediria de se deitar completamente no chão, por isso ele ia tirar. Além de atirar pensando que fosse uma arma, o garoto era menor de idade. Imagina a exposição negativa que isso trouxe para a cidade e minha família.

 

PRISCILA: (sentida) Eu sinto muito, Gabi.

 

GABRIEL: Ele foi absolvido, mas nunca mais foi o mesmo. Aqui na cidade todos começaram a nos tratar diferente, cochichavam, pessoas pararam de nos cumprimentar... Então a saída foi deixar a polícia, receber o que tinha que receber e tentar recomeçar em outra cidade. Foi o que nos levou a abrir um restaurante em Bom Destino.

 

PRISCILA: Então é por isso também que a Nicole é tão revoltada. Até consigo sentir pena dela agora.

 

GABRIEL: Que você não vai deixar transparecer, certo?

 

PRISCILA: (sorrindo) Claro que não... (o olha com admiração) Acho lindo o jeito que você se preocupa com sua família, com ela... Você um anjinho, Gabriel.

 

GABRIEL: (sorrindo) Seria por causa do meu cabelo encaracolado?

 

PRISCILA: Meus cabelos são cacheados quando está natural... Mas isso não faz nascer nenhuma áurea em mim. (sorri) Queria que você fosse meu irmão.

 

GABRIEL: Não seja por isso, a Nicole não tem meu sangue e mesmo assim a considero como irmã... Podemos ser irmãos também.

 

PRISCILA: (sorrindo) Adorei a ideia.

 

GABRIEL: Só não pode aprontar muito. Já basta uma irmã para me dar dor de cabeça.

 

PRISCILA: Prometo ser menos rabugenta, mas vou querer bastante atenção, okay?

 

GABRIEL: (sorrindo) Posso providenciar isso.

 

Eles sorriem de forma admirada um para o outro, depois seguem andando. A imagem transparece para Nicole e Felipe encostados no carro. Priscila e Gabriel se aproximam deles.

 

NICOLE: (para Priscila) Eu sabia que toda aquela implicância, no fundo era amor.

 

PRISCILA: Não imagina como ficou o meu coração no momento em que eu soube que você havia partido.

 

Elas riem de leve. Felipe abre a porta do carro.

 

FELIPE: É melhor nós irmos...

 

NICOLE: É melhor mesmo... (olha em volta) Não quero nunca mais pisar aqui.

 

Felipe e Priscila entram. Gabriel e Nicole se encaram. Ele sorri para ela, que retribui com um sorriso e um aceno com a cabeça, como quem quer dizer obrigado. Em seguida, eles entram no carro. Numa visão aérea, vemos o veículo saindo e se movimentando por uma avenida. 

 

 

Um posto de gasolina. Roger está encostado no carro, de braços cruzados. Pouco metros à frente é possível ver uma lanchonete. Amanda se aproxima dele, sorrateiramente. Eles se encaram por alguns segundos.

Música: Train - Drops of Jupiter

 

AMANDA: Hei...

 

ROGER: Oi...

 

AMANDA: Desculpa por ter sido um pouco chata dentro do carro...

 

ROGER: Eu também não fui muito simpático, então está tudo bem.

 

AMANDA: Por mais que a gente tente, não conseguiremos evitar um ao outro... Então que tal uma trégua?

 

ROGER: (após alguns segundos) Okay, por mim sem problemas.

 

Amanda sorri levemente. Ela olha para trás, na direção da lanchonete. Close em Helen e Livia que conversam dentro do local. É possível vê-las através do vidro. Volta para Amanda que olha para Roger.

 

AMANDA: Você já me superou?

 

ROGER: Amanda, por favor...

 

AMANDA: O que sente por ela, é mesmo que sentia por mim?

 

ROGER: Eu não quero ficar fazendo comparativos. O que eu tive com você foi uma coisa, com ela é outra. O que importa é que ela me faz bem, muito bem.

 

AMANDA: Mas eu também te fazia bem antes do meu erro. Deve haver uma diferença aí...

 

ROGER: Você não vai gostar do que vai ouvir...

 

AMANDA: Conte-me.

 

ROGER: Quando estávamos juntos, por mais que eu soubesse que você gostava mesmo de mim, no fundo, no fundo, eu sabia que aquilo ia acontecer um dia. Mas com ela não... Com a Livia eu me sinto completamente seguro. É como se eu tivesse certeza que enquanto estivermos namorando, ela será só minha... Diferente da insegurança que eu sentia com você. E é isso a torna especial para mim.

 

Amanda abaixa o olhar, extremamente triste. Roger a observa com uma leve expressão de pena. Nesse instante ouve-se o grupo voltando, discutindo.

 

ROGER: O que está havendo?

 

CLÁUDIO: O Einstein aí indicou o atalho errado. Acredita que estamos na direção oposta, duas cidades fora da rota? É mais ou menos umas duas, três horas de atraso do nosso verdadeiro destino... Só isso.

 

GUSTAVO: Hei, eu apenas me confundi levemente. No mapa parecia mais simples.

 

BRUNO: No mapa? Você nunca havia pegado essa estrada então?

 

GUSTAVO: Eu quis ajudar e fiz o favor de juntar todos vocês, que há muito tempo não acontecia. Então me agradeçam, ao invés de criticar.

 

BRUNO: Ninguém aqui vai te agradecer por nada, porque não há nada para agradecer. Seu panaca.

 

GUSTAVO: Você tá todo nervosinho por que perdeu o show do Patrick ou seus planos de finalmente beijar a Helen foi para o espaço?

 

BRUNO: (nervoso) Okay, já chega! Cansei de suas indiretas e provocações.

 

Bruno se aproxima e empurra forte Gustavo. Gustavo avança e eles tentam se socar, mas Cláudio e Roger os seguram. Eles falam todos ao mesmo tempo, e ao mesmo tempo os dois tentam se soltar e chutar um ao outro. A câmera muda para um ângulo aéreo da cena. Segundos depois a tela escurece.

 

 

Abre mostrando o carro trafegando por uma estrada. Corta para dentro. A câmera mostra um por um e dessa vez, Gustavo está em uma ponta e Bruno em outra. Livia olha para Roger.

 

LIVIA: Lamento você ter perdido a viagem... Especialmente porque você não queria vir mesmo.

 

CLÁUDIO: É verdade... Insistimos tanto para que viesse. Até colocou o carro de sua mãe em risco.

 

HELEN: A culpa é toda nossa, Roger, desculpa.

 

ROGER: (sorrindo) Que isso gente... Vamos olhar pelo lado bom.

 

HELEN: E qual é o lado bom?

 

ROGER: Nós! O "Panaca" aí disse uma verdade... Há um bom tempo não saímos todos juntos. E pelo menos hoje tivemos esse momento. Então nada de ficar se culpando, certo?

 

GUSTAVO: Eu disse... E vocês precisam parar de me ofender quando forem se referir à minha pessoa.

 

Roger pega na mão de Livia e a beija carinhosamente. Neste exato momento ouve-se o barulho de um pneu estourando. Roger imediatamente perde a direção e freia bruscamente.

 

 

Lado de fora. Close no pneu furado. A imagem sobe mostrando Roger parado, de boca aberta, olhando para o pneu. Os demais estão espalhados por perto.

 

ROGER: (nervoso) A culpa é toda de vocês! Eu não queria estar aqui, não queria ir àquele show idiota, daquele cantor idiota. E ainda por cima roubei o carro da minha mãe, que, a propósito, vai me matar quando eu chegar em casa... (aponta para todos) A culpa é toda de vocês!

 

GUSTAVO: O que aconteceu com o “olhar pelo lado bom”?

 

Roger lança um olhar furioso para ele. Gustavo levanta as mãos e fecha a boca.

 

ROGER: (inconformado) Estou ferrado... Estou muito ferrado!

 

BRUNO: Não é só trocar o pneu?

 

ROGER: E você acha que eu estaria desesperado se não soubesse que não temos estepe e muito menos um pneu reserva?

 

BRUNO: Ah sim, então ferrou mesmo.

 

CLÁUDIO: Nada de pânico. O posto em que estávamos fica poucos quilômetros daqui. Podemos andar até lá e ver se tem algum mecânico disponível.

 

ROGER: Eu não vou deixar o carro da minha mãe sozinho.

 

HELEN: Você pode esperar... A gente vai até lá.

 

LIVIA: Eu espero com você...

 

ROGER: Não, vai com eles. É perigoso ficar aqui no meio do nada.

 

LIVIA: Então você vai com a gente. Antes o carro do que sua vida.

 

ROGER: (pensativo) Tem razão... Se bem que estarei morto ao amanhecer mesmo.

 

CLÁUDIO: Okay, vamos empurrar o carro no acostamento então.

 

Os garotos se posicionam atrás do carro, empurrando-o para o acostamento, perto do matagal.

 

 

Carro de Felipe. A câmera mostra Felipe dirigindo tranquilamente. Ele olha para o espelho retrovisor e sorri. Close em Gabriel e Priscila dormindo no banco de trás. Priscila está a com a cabeça repousada no ombro de Gabriel. Volta para Felipe que olha para Nicole que está no banco ao lado. Ela está olhando para janela, pensativa.

 

Música: Avril Lavigne – Tomorrow

 

FELIPE: Você está bem?

 

NICOLE: (olhando-o) Sim... (pensativa) Pela primeira vez em muito tempo, estou. (sorri).

 

Felipe sorri para ela, que retribui com outro sorriso. Ela volta a olhar para a janela.

 

 

Uma estrada qualquer. Cláudio, Roger e Livia caminham na frente, conversando. Um pouco mais atrás estão Gustavo e Amanda, que também conversam. Mais atrás, um pouco afastados, Bruno e Helen também trocam palavras. 

 

Cont. Avril Lavigne – Tomorrow

 

GUSTAVO: (falando alto) Hei, que tal a gente brincar de" eu nunca?

 

AMANDA: Eu não vou revelar meus segredos a você.

 

GUSTAVO: Tem medo de me desapontar?

 

AMANDA: Tenho medo de você não querer me largar.

 

Gustavo responde, mas o som aumenta, tomando conta da cena. A câmera mostra cada um do grupo mais uma vez, até que a imagem muda para uma visão aérea.

 

 

Uma sala. Paulo está sentado no sofá, olhando para uma foto. Seus olhos estão brilhando. A câmera dá um close na foto, onde podemos ver dois rapazes e uma garota, abraçados e aparentemente felizes. Um desses jovens se assemelha bastante com Paulo mais jovem. Paulo esboça um sorriso saudosista e seus olhos brilham ainda mais.

 

 

Frente da casa de Nicole. Gabriel e Nicole caminham pelo jardim na direção da porta.

 

Cont. Avril Lavigne – Tomorrow

 

GABRIEL: Acho melhor eu ir pelos fundos e deixar sua bolsa por lá, até ter certeza que eles estão dormindo.

 

NICOLE: Você disse que eu estava aonde?

 

GABRIEL: Dormindo na casa de uma amiga.

 

Ele sorri e começa a andar na direção do fundo da casa. Nicole fica parada, observando-o.

 

NICOLE: Gabi...

 

Gabriel para e se vira para ela. Nicole abre a boca para falar, mas para, tímida. Gabriel novamente sorri.

 

GABRIEL: (sorrindo) De nada.

 

Ela retribui o sorriso. Gabriel se vira novamente e volta a andar. Nicole começa a caminhar na direção da porta. Quando ela abre, entra e fecha a porta, a tela escurece e a música cessa. 

 

 

Tela preta. A imagem começa a abrir e fechar como se fosse os olhos de alguém. Lucio está parado, em pé de frente para uma janela. A câmera corta para Adriana deitada em uma cama de hospital.

 

ADRIANA: (confusa) Onde eu estou?

 

LUCIO: (se aproximando) No hospital. Quando voltei para a sua casa, te encontrei desmaiada no banheiro.

 

Os olhos de Adriana se enchem de lágrimas. Ela morde os lábios e olha para o lado.

 

ADRIANA: (com voz embargada) Meu tempo está acabando, Lucio.

 

Lucio fica sem saber o que dizer, olhando-a com pesar. Ele segura na mão dela. Adriana fecha os olhos, deixando as lágrimas caírem. Lentamente a tela escurece.

 

 

 

 

 


 

CRÉDITOS FINAIS

 

CRIADO E ESCRITO POR:

 

Thiago Monteiro

 

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL

 

Paula Marshall como Adriana

Michael Strusievici como Lucas

Amy Yasbeck como Isabel


MÚSICA TEMA

 

Switchfoot - Meant To Live

 

TRILHA SONORA

 

Sense Field - You Own Me

Butterfly Boucher - I Can't Make Me

Bodeans - Closer To Free

Dishwalla - Collide

Death Cab for Cutie - I Will Follow You into the Dark

Train - Drops of Jupiter

Avril Lavigne - Tomorrow

 

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