Vista
panorâmica de Bom Destino. A câmera revela a cidade
iluminada pela noite. A imagem se desloca para uma movimentada avenida.
Seguimos um carro, identificado pelo modelo, como sendo o de
Felipe. ::.
“Within
You” - Ray Lamontagne CLÁUDIO:
(em off) Frações
de segundos... Esse é o tempo que se leva entre a
felicidade e a
dor. O
carro continua se movimentando. Ele dobra uma esquina. CLÁUDIO:
(em off) É o
tempo de você estar num importante jogo, pulando e
chorando de
alegria por ter ido à final... E no outro, estar chorando
de dor
ao presenciar o último suspiro de seu treinador. Corta
para
o chão de uma calçada. Os pneus do carro
estão parando. A câmera começa a subir lentamente. CLÁUDIO:
(em off) É o
tempo de você estar com seus amigos em busca de um momento
de
paz... E no outro, presenciar a dor de uma mãe. No
banco
do passageiro, vemos Cláudio vestido com as mesmas roupas
do baile. Ele está de cabeça baixa. Lentamente ele
levanta a cabeça e olha para a janela. Atrás estão
Helen e Priscila. CLÁUDIO:
(em off) É o
tempo de num instante você se considerar o homem mais
feliz do
mundo por estar com uma garota incrível... Ele
abre
a porta. A câmera sobe e gira por trás do
veículo, mostrando que estão na frente de um hospital.
Corta para o chão perto da entrada. A câmera começa
a se movimentar por ele até parar nos pés de
Cláudio e subir até seu rosto. Ele está abatido e
com medo. CLÁUDIO:
(em off) ... E no
outro, estar prestes a receber a notícia da morte de seu
melhor
amigo. A
câmera se aproxima dos olhos de Cláudio. Foca apenas
neles, ficando assim por alguns segundos. A música abaixa
e
começa a dar lugar a mesma que tocava no episódio
passado. A imagem começa a se afastar e mostrar o ambiente
do
baile. Cláudio está abraçado a Helen mas com a
cabeça levantada, olhando para a frente. ::.
“Colorblind”
- Counting Crows HELEN: O que foi, Cláudio?
CLÁUDIO: (pensativo) Nada... Nada não.
HELEN: (após alguns segundos) Eu quero também... (morde os lábios) Eu quero ficar com você. Cláudio
esboça
um largo sorriso. A câmera muda para as costas de
uma garota que está de vestido vermelho. Ela caminha e se
aproxima de Cláudio e Helen que estão prestes a se
beijar. LARISSA:
Me concede a honra desta
dança? Corta
para
o rosto sorridente de Larissa. Cláudio e Helen se olham e
depois olham para Larissa, confusos.
CLÁUDIO:
O que faz aqui, Larissa? LARISSA:
(forçando a
vista) É um baile, não é? Close
no
rosto de Helen que olha para cima. Ela se mostra
incomodada com a
presença da garota. Larissa a olha e sorri. LARISSA:
Como vai, Helen? HELEN:
(sorrindo
forçadamente) Tudo ótimo. LARISSA:
(após
alguns
segundos) Não vai perguntar como eu estou? HELEN:
Não preciso.
Tá na cara que você não está bem. Do
contrário não estaria atrás do Cláudio. Larissa
a
olha com indignação. Cláudio também a
olha. HELEN:
(para Cláudio)
Perdão... Mas eu odeio cinismo. Ela
sai.
Cláudio ameaça ir atrás. CLÁUDIO:
Helen, espera. LARISSA:
(segurando-o) Deixa ela
ir... Meu assunto é com você. CLÁUDIO:
(incomodado) O que
realmente está fazendo aqui, Larissa? LARISSA:
(se aproximando) Vim por
você. CLÁUDIO:
(se afastando)
Dispenso... Você não pode aparecer aqui de repente e
simplesmente fingir que nada aconteceu. LARISSA:
Eu
não estou
fingindo que nada aconteceu, muito pelo contrário. Só o
fato de eu estar aqui já prova mais uma vez que você
estava certo e eu errada. Estou pedindo desculpas. CLÁUDIO:
(rindo) Mesmo? (para de
rir) Por acaso esqueceu a parte que eu disse que não queria
mais
te ver na minha frente? LARISSA:
Que compreensivamente
você disse num momento de raiva. CLÁUDIO:
Raiva, mas
lúcido, convicto. Nada mudou, Larissa... Esquece que eu
existo. LARISSA:
Qual é, Cláudio... Sou eu, sua paixão de
infância. Não vai querer me fazer acreditar que realmente
me esqueceu, vai? CLÁUDIO:
(após alguns
segundos) Você não merece uma resposta. Ele
se
movimenta para sair, mas mais uma vez Larissa o impede. LARISSA:
É
impressão minha ou eu interrompi alguma coisa entre vocês
dois? CLÁUDIO:
(parando e olhando-a) A
menos que você seja ingênua e ache que duas pessoas que
estão com os lábios quase colados e olhos fechados,
não tenham a intenção de se beijar, sim, foi
impressão sua... Mas sabemos que ingênua você nunca
foi. Larissa
fecha
a cara, incomodada. Cláudio sorri em tom provocativo e
depois sai. Larissa o acompanha com o olhar, séria. Mesa
de
sucos. Helen está com um copo na mão, visivelmente incomodada. Cláudio se aproxima. ::.
“Angels
Or Devils” - Dishwalla CLÁUDIO:
(sorrindo) Não
combinamos que você não ia beber essa coisa? HELEN:
A professora Isabel
mandou trocar a jarra porque percebeu que estava batizado...
(mostra o
copo) É só suco, está vendo? CLÁUDIO:
Sobre a Larissa,
não há nada com o que se preocupar. HELEN:
Sei... Já vimos
esse filme antes. Mas pelo menos dessa vez você cumpriu sua
parte
e me trouxe no baile. CLÁUDIO:
Hei... O que foi que
você me disse minutos atrás? Não vamos deixar que
nada estrague esta noite... Nem Roger, problemas... Helen
entorta
a boca, incrédula. Cláudio fica de frente para
ela e segura em sua mão. CLÁUDIO:
E muito menos a Larissa...
Nada muda o que eu disse minutos atrás. Eu quero ficar com
você. HELEN:
(receosa) Você tem
certeza mesmo disso? CLÁUDIO:
Absoluta... E eu prometo
não te dar motivo para qualquer tipo de insegurança. Helen
sorri
de forma meiga. Cláudio a abraça pela cintura e
fica com o rosto bem próximo ao dela. CLÁUDIO: Agora, antes daquela surpresa desagradável, a gente estava para fazer uma coisa, não estávamos? HELEN:
Estávamos?
(pensativa) Refresque minha memória. O
som aumenta. Eles fecham os olhos e aproximam seus lábios.
Amanda aparece, afoita, interrompendo-os. AMANDA:
(puxando Helen) Vem ao
banheiro comigo... HELEN:
(tentando escapar e
olhando para Cláudio) Não, Amanda, eu... AMANDA:
(conduzindo-a)
Tá, tá... Depois vocês se beijam. Elas
saem.
Cláudio respira fundo, frustrado. David aparece. DAVID:
Hei, cara...
Ouça, sobre o que aconteceu... Eu não queria partir pra
cima dele daquele jeito. Mas foi ele que começou e tentou
carregar a Amanda como se fosse sua e... CLÁUDIO:
(interrompendo) Escuta
só... O Roger não está em seu estado normal e
não aprovo sua atitude. Mas ainda assim é meu melhor
amigo, então não gostaria de ouvir mais queixas sobre
ele, tá certo? DAVID:
Tudo bem... Eu só
não queria ter problemas com os amigos da Amanda. Cláudio
acena
com a cabeça. Felipe aparece e coloca a mão no
ombro de Cláudio. FELIPE:
Tive uma ideia
brilhante, quer ouvir? Banheiro.
Amanda
está de frente para o espelho, nervosa. Ela se abaixa e
joga um pouco de água no rosto. Atrás vemos o reflexo de
Helen que está de braços cruzados, séria. HELEN:
Você me arrastou
até aqui pra te ver molhar o rosto? AMANDA:
(virando-se para ela)
Você viu o que aquele palhaço fez? HELEN:
O salão inteiro
viu. AMANDA:
Com que direito ele acha
que pode me carregar como se fosse algum tipo de mercadoria?
HELEN:
Releva o estado atual do
Roger, Amanda. AMANDA:
Relevar? Depois de tudo
o que fiz por ele nessas últimas semanas, ele foi ingrato,
muito, muito ingrato. HELEN:
Mas também pudera
né? Eu apoio que esteja namorando, tentando ser feliz, mas
desfilar com o David pra cima e para baixo, especialmente
trazê-lo ao baile, que traz algumas lembranças sobre seu
último namoro, era meio que uma tragédia anunciada. Amanda
abre
a boca para falar mas para. Ela balança a cabeça,
confusa. AMANDA:
Eu sou a vilã
aqui? HELEN:
Claro que não,
mas você também tem que tentar entender o lado dele. Mesmo
que na inocência, sua reaproximação trouxe
esperanças a ele. Pensa bem... Não falou mais no David,
passou várias tardes na casa dele, o convencia a sair... AMANDA:
Mas desde quando uma
garota não pode ser amiga de um garoto sem que haja
interesse de
alguma das partes? HELEN:
E podem. O problema
é que esse amigo é seu ex-namorado que terminou com a
atual namorada por ainda guardar sentimentos pela ex. AMANDA:
(bufando) Que
negócio chato e confuso... O que eu devo fazer então?
Sair da cidade pra não ferir os sentimentos dele? HELEN:
(rindo) Não, sua
boba... Mas as coisas estão tudo muito recentes ainda.
Não fique com ódio do Roger por causa desse incidente de
hoje. AMANDA:
Acho meio
difícil... Minha intenção é nunca mais
olhar na cara dele. HELEN:
(suspirando) Bom,
vocês são grandinhos, então que se resolvam...
Posso ir agora? AMANDA:
Pra que a pressa? Helen
não
responde e entorta a boca. Amanda a olha com um olhar
malicioso. AMANDA:
Eu estava brincando
quando me referi ao beijo ali na hora que te puxei, mas
pensando bem
agora... Meu Deus, está acontecendo mesmo? HELEN:
(timidamente) Ele me
surpreendeu com um beijo na hora em que estávamos
dançando, e depois disse que queria ficar comigo. AMANDA:
(interessada) Conte
mais... HELEN:
Eu fiquei assustada,
afinal, nosso laço de amizade é muito forte e é um
grande risco tentar outra coisa... Mas não posso negar que
sinto
o mesmo em relação a ele. Só que quando fomos nos
beijar de novo, sua melhor amiga apareceu de surpresa e
quebrou o
clima. AMANDA:
(surpresa) A Larissa
está aqui? HELEN:
(bufando) Yes.
AMANDA:
Nossa! Mas e o
Cláudio, como ele reagiu? Ela sempre foi a grande paixão
da vida dele e reaparece assim, de repente, num baile onde
tudo pode
acontecer... HELEN:
(sarcástica)
Obrigada amiga, elevou o meu animo agora. AMANDA:
(solidaria) Relaxa, o
Cláudio é correto... Se ele escolheu você, vai
ficar com você. HELEN:
Esse é o
problema... Não quero que ele me escolha se for pra ficar
balançado por outra. A gente sabe como isso termina, não
é? AMANDA:
É... Então
vamos sair logo antes que ela tente cravar ainda mais as
garrinhas em
cima dele. Helen
concorda
com a cabeça e se desloca para sair. Amanda a
abraça. AMANDA:
A propósito,
minha melhor amiga é você, okay? Helen
sorri.
Amanda sorri também e encosta a cabeça na amiga.
Elas saem do banheiro. Salão.
Cláudio,
Felipe, Priscila e David estão parados
próximos da mesa de sucos. ::.
“Catch
My
Disease” - Ben Lee FELIPE:
(impaciente) Mas que
demora... (para Priscila) O que vocês tanto conversam quando
vão juntas ao banheiro? PRISCILA:
Mal de vocês na
maior parte do tempo. Cláudio
ri.
Amanda e Helen aparecem. FELIPE:
Finalmente! Podemos? AMANDA:
Podemos o quê? Eles
começam
a se movimentar na direção da
saída. Cláudio se aproxima de Helen e segura na
mão dela, que retribui com um sorriso tímido. CLÁUDIO:
O Felipe quer amanhecer
no litoral... O que me diz de olhar as estrelas, o nascer do
sol e
continuarmos com nosso assunto inacabado? HELEN:
(pensativa) Não
tenho muito o que fazer agora mesmo, acho pode ser legal. CLÁUDIO:
(incrédulo e
sorrindo) Acha que pode ser legal? Helen
começa
a rir. Corta para Larissa perto da porta, observando eles
saindo. Cláudio e Helen ao passarem por ela, a câmera fica
lenta por breves segundos, fixando no rosto de Cláudio e
volta ao normal em seguida. Larissa fecha a cara. Amanda
e
David passam pela porta. Larissa segura o braço de Amanda,
que
ao parar, a olha com seriedade. LARISSA:
(sorrindo) Oi Amanda. AMANDA:
(séria) Oi
Larissa. Breve
silêncio
constrangedor entre as duas. Amanda ergue as
sobrancelhas. LARISSA:
Senti saudades. AMANDA:
Mesmo? Porque eu pensei
que você nem lembrava mais da minha existência. LARISSA:
(constrangida) Me
desculpa... Eu não queria... AMANDA:
(interrompendo) Eu
não quero ouvir... Tchau. Amanda
pega
na mão de David e ambos saem. Larissa acompanha com o
olhar, triste. Lado
de
fora. Felipe anda apressadamente pelo estacionamento. Os
demais o
acompanham no mesmo ritmo. ::.
“Catch
My
Disease” - Ben Lee (cont.) CLÁUDIO:
Qual o motivo dessa
pressa toda, Felipe? FELIPE:
Quero sair logo daqui
antes que o Gustavo nos veja e queira vir. HELEN:
Tadinho... Por que ele
não pode vir também? PRISCILA:
(sorrindo) É que
neste exato momento ele está desfrutando da presença da
Nicole e deixando alguém morrendo de ciúmes. FELIPE:
Não é
verdade... É que ele é chato e ponto. Priscila
olha
para Helen e faz sinal de não com a cabeça e mexe os
lábios formando a palavra “é verdade”. Helen
ri. Eles se aproximam do carro de Felipe. Um celular
começa a
tocar. CLÁUDIO:
É o meu...
(atende) Hei, Pai... Olha só, avisa a mãe que eu
não vou dormir em casa hoje. Nós vamos para... Cláudio
para
de falar, e franze as sobrancelhas, preocupado. CLÁUDIO:
Por que sua voz
está estranha? Aos
poucos
a expressão de Cláudio vai dando lugar um estado
de choque. Um som instrumental começa a tocar. CLÁUDIO:
(em off) Já
teve a sensação de estar vivendo o mesmo dia todos os
dias? Como se, por algum tipo de mágica, o tempo tivesse
parado
e você não avançado mais? Em
câmera
lenta o vemos soltar o celular e acompanhamos a
trajetória do aparelho até se chocar com o chão.
Corta para o rosto pálido de Cláudio. Ele olha para
Amanda. CLÁUDIO:
(em off) Pois
naquele dia, o tempo parou para alguns de nós. A
câmera se aproxima do rosto de Amanda que se mostra
preocupada. A
tela fica branca e permanece assim por alguns instantes. Sala
cirúrgica.
Médicos e enfermeiros se movimentam. DOUTORA:
Queda dos batimentos
cardíacos... Close
em
um peito e em seguida o desfibrilador sendo colocado em
cima. O
peito sobe junto com o choque. DOUTORA:
(após alguns
segundos) Mais uma vez. Novamente
vemos
o peito subindo junto com o choque. A câmera se afasta um
pouco, mostrando o rosto de Roger ensanguentado e com um
tubo na boca.
Corta para seu peito levando choque mais uma vez. Um
flash
rápido toma conta da tela e vemos o carro se chocando com
o muro. Close
no
peito subindo com o choque. Flash
na
tela e Roger desacordado no banco da frente do carro. Close
no
peito subindo com o choque. Flash
na
tela e uma chama se acendendo na traseira do carro. Close
no
peito subindo com o choque. Flash
na
tela e vemos um homem saindo da Van que ia se chocar com o
carro. Em
suas mãos ele segura um extintor de incêndio. Sala
cirúrgica.
O aparelho toca insistentemente até
começar a ficar em um único toque contínuo. O som
dá lugar apenas a esse som e do desfibrilador ainda sendo
usado.
A câmera começa a se afastar até parar perto da
porta. Os médicos estão em cima de Roger, tentando
reanimá-lo. Lentamente a tela escurece. Abre
mostrando
uma visão panorâmica de Bom Destino. É
dia. A câmera se move por várias partes da cidade. ::.
“A
Message” - Coldplay CLÁUDIO:
(em off) Hoje eu
não trago muitas notícias, afinal, tudo que você
tinha que saber eu já contei em todos esses dias que
estive
aqui. Mas tudo bem, vamos fazer uma recapitulação,
já que informações nunca são demais, certo? LEGENDA:
1
mês depois CLÁUDIO:
(em off) Já
falei que a Helen está de endereço novo? Elas se mudaram
essa semana para uma casa bem maior...
Pelo menos
foi o que fiquei sabendo, ainda não tive chance de
conhecer...
(falando com pesar) Sabe, Helen e eu não estamos muito
bem. Frente
de
uma casa. Corta para dentro. Helen, Marcia e Rosa estão
arrumando alguns móveis na sala. ::.
“A
Message” - Coldplay (cont.) CLÁUDIO:
(em off) Marcia
resolveu se mudar de vez para Bom Destino, e propôs que
elas
morassem juntas... Com um pouco de relutância, Helen
aceitou. E
foi uma grande vitória, porque não é lá
muito fácil juntar a dona Rosa e Marcia no mesmo ambiente
de
forma definitiva. Rosa
faz
sinal de negativo e fala algo, mas o som encobre o que ela
diz. A
câmera mostra Marcia segurando um quadro com formatos
estranhos.
Ela mexe os lábios e faz sinal de sim com a cabeça. Rosa
balança a cabeça, em reprovação. A imagem
se afasta, mostrando Helen na entrada da sala segurando um
pequeno
aquário com peixes. Ela levanta-o na direção de
seu rosto e olha para dois peixinhos que estão na água,
sorrindo em seguida. CLÁUDIO:
(em off) Ela
está feliz. Portaria
do
condomínio. Uma garota está de costas, falando com o
porteiro. Ele está com o telefone no ouvido. Segundos
depois,
ele desliga e faz sinal de não com a cabeça. A garota se
vira, mostrando se tratar de Larissa. Ela bufa,
desanimada. CLÁUDIO:
(em off) Larissa
continua me procurando... Ela telefona, manda e-mails,
aparece em
casa... Algo meio psicótico. É bom para aqueles que
viviam dizendo que eu é que surtaria por causa dela...
(ri). A
verdade é que eu tenho conseguido me esquivar... O
problema
é até quando. Fiquei sabendo que ela voltou de mala e
cuia para a cidade e consequentemente se matriculou em
nosso
colégio outra vez... (respira fundo) Deus sabe o quanto eu
torci
para nós caíssemos na mesma sala anos atrás... Por
favor, Deus, esquece essa torcida. A
câmera passeia por um quarto todo bagunçado. O chão
está repleto de objetos e roupas jogadas. Passa pela cama
até chegar em Amanda que está deitada de bruços.
Close no despertador tocando. Amanda levanta o braço e dá
um tapa no aparelho que está no criado mudo. ::.
“A
Message” - Coldplay (cont.) CLÁUDIO:
Não sei se te
agrada falar nela... Mas continuamos sem notícias da
Amanda.
Quer dizer, notícias nós temos, sinal de vida é
que não. Desde aquele fatídico dia ela não sai
mais de casa... Amanda
levanta
e senta na cama. Ela está descabelada e seu rosto todo
amassado e abatido. CLÁUDIO:
(em off) A Helen
já tentou conversar com ela, mas parece que ela resolveu
se
trancar em seu quarto... Culpa, talvez? Pode ser. Close
no
celular vibrando na cama. Amanda olha para o lado e pega o
aparelho,
olhando no visor. Na tela vemos a foto de David. Segundos
depois,
Amanda aperta o botão de recusar, joga o aparelho na cama
e
deita outra vez. Sala
da
casa de Cláudio. Silvia está sentada no chão ao
lado de Lucas que está deitado de bruços desenhando em
uma folha. ::.
“A
Message” - Coldplay (cont.) CLÁUDIO:
(em off) Em casa as
coisas continuam em paz. Meu irmãozinho está praticamente
adaptado à nova família. Claro que ele ainda sente falta
da mãe e ainda chora por causa dela. Mas a frequência tem
diminuído. Nós, especialmente minha mãe, estamos
fazendo de tudo para que ele se sinta cada vez mais amado
e em casa. E
pra quem relutou no começo, acho até que ela gostaria que
ele começasse a chamá-lo de mamãe. Silvia
olha
com carinho para a criança. Ela sorri e passa a mão
no cabelo dele. Lucio se aproxima e beija o rosto de
Silvia, sentando
ao lado dela. CLÁUDIO:
(em off) Meu pai se
desprendeu de vez da empresa. Hoje ele passa muito mais
tempo em casa
do que passou toda a vida. Ele ainda dirige aquele lugar,
mas de longe.
Aprendeu a confiar mais em seus sócios. O resultado é uma
família feliz... Por enquanto, afinal, ainda moramos em
Bom
Destino, não é mesmo? (ri). Cenas
aéreas
da cidade e mais alguns cortes de lugares conhecidos. ::.
“A
Message” - Coldplay (cont.) CLÁUDIO:
(em off) Enquanto a
mim... Você sabe. Continuo me corroendo pelo que disse na
última vez que nos falamos. Se o tempo pudesse congelar no
momento em que vamos abrir a boca, apenas para que
pudéssemos
refletir melhor antes de dizer algo, com certeza nossos
arrependimentos
seriam menores... (com voz de lamento) Meu amigo, meu
grande amigo...
Você não faz ideia de como me arrependo de não ter
feito algo que pudesse te ajudar. Eu sei que deveria ter
ido
atrás de você naquela noite. A
cena muda para um quarto de hospital. Vemos Cláudio de
costas,
sentado de frente para uma cama. A câmera se aproxima,
mostrando
apenas seu rosto. CLÁUDIO:
E eu não consigo
me perdoar por isso. A
câmera se movimenta, mostrando Roger deitado na cama, com
os
olhos fechados e alguns aparelhos em seu corpo. CLÁUDIO:
(com pesar no falar) Eu
sei que já disse isso milhares de vezes... Mas eu sinto
tanto.
Eu sinto tanto, tanto, tanto. Ouve-se
alguns
passos atrás. Cláudio se vira e olha na
direção. Ele sorri e volta a olhar para Roger. CLÁUDIO:
Dela eu não
preciso nem falar... Assim como eu, ela está todos os dias aqui... E
se tem alguém que merece o seu amor mais do que qualquer
outra
garota, é ela. Então, meu amigo, quando você sair
dessa, vê se esse confuso coração aprende a
enxergar quem realmente te ama. LIVIA:
(em off) Assim eu fico
sem graça. Corta
para
Livia encostada a porta, sorrindo. Cláudio levanta e vai
até ela. CLÁUDIO:
(sorrindo) Mas é
a mais pura verdade. Eles
sorriem
um para o outro. Livia olha na direção de Roger. LIVIA:
Alguma
reação? Os médicos disseram alguma coisa? CLÁUDIO:
(desanimando)
Infelizmente não. Ainda sem previsão de quando ele vai acordar. LIVIA:
Mas ele vai acordar
logo... Eu tenho fé e sei que você também tem.
Graças a Deus pelo menos ele voltou a respirar sem ajuda de
aparelhos. Agora é só uma questão de tempo, eu sei
que é. CLÁUDIO:
(sorrindo) Eu sei... Eu
tenho fé também... (respira fundo) Preciso dar uma
passada em casa e mais tarde eu volto, okay? LIVIA:
(sorrindo) Claro... Vai
descansar um pouco. Eu trouxe um livro para ler para ele. CLÁUDIO:
(sorrindo) A gente se
vê mais tarde então. Livia
concorda
com a cabeça. Cláudio sai. Livia se aproxima e
senta na cama ao lado de Roger. LIVIA:
E então mocinho,
como você está hoje? Eu trouxe seu estilo preferido de
literatura... Ficção. Lembra quando me disse que adorava
pensar que existia uma realidade alternativa de nossas
vidas? (sorri)
Espero que esteja se divertindo aí... Mas por favor, não
se apegue muito, porque você tem muito para ser feliz aqui
também. Ela
o
olha com um sorriso carinhoso. Depois abre o livro e
começa a
ler, mas sua voz é encoberta pela música. A câmera começa
a se afastar e parar em determinado ponto. Fixa a imagem
dos dois por
alguns instantes. Um
jardim sereno em uma clínica psiquiátrica. Pessoas
vestindo roupas brancas caminham tranquilamente pelo local. A
câmera se move por trás de Vera e Arthur, que estão
sentados em um banco. Em um corte para a frente, Vera olha para o
horizonte, enquanto Arthur mantém o olhar na esposa. ARTHUR:
Como passou o dia de hoje? VERA:
(sem olhá-lo) Como todos os outros. Medicamentos, longas conversas com o psiquiatra. ARTHUR:
Eu conversei com o
doutor. Ele disse que você evoluiu bastante nas últimas
semanas. VERA:
Então eu posso
sair deste manicômio antes de seis meses? ARTHUR:
Vera, você
não está em um manicômio e você é
livre pra sair quando achar que está preparada. Você
está? Vera
continua
olhando para a frente, com uma expressão pensativa, sem
responder. ARTHUR:
Eu sinto muito sua
falta. VERA:
E o Roger? Sente
também? ARTHUR:
(nervoso) Ca-claro, ele
também. VERA:
Então por que ele
ainda não veio me visitar? E por que toda vez que você
é posto sob pressão, você gagueja, se anula...
(frisa) Trava? Arthur
abaixa
o olhar, triste. Vera vira o rosto para ele. VERA:
Pensou que eu estaria
louca o suficiente para não notar que você fica desse
jeito sempre que pergunto sobre o meu filho? O que
aconteceu, Arthur?
... E chega de me tratar como incapaz. ARTHUR:
(tentando
disfarçar) Querida, você não é incapaz,
muito menos louca. VERA:
(incomodada) Estou te
dando a chance de contar agora. Porque se eu sair daqui e
souber que
você está me escondendo alguma coisa em
relação ao Roger, eu juro, Arthur, que nunca mais olho no
seu rosto, ou sequer dirigirei alguma palavra a você. Um
breve
silêncio toma conta da cena. Arthur olha para a frente,
sentido. Vera balança a cabeça negativamente e se
movimenta para levantar. VERA:
Já vi que mais
uma vez estamos perdendo tempo. ARTHUR:
(com os olhos fechados)
Aconteceu uma coisa muito grave com o Roger. Vera
congela
e segundos depois se ajeita no banco, olhando seriamente
para
Arthur. VERA:
(preocupada) O que
aconteceu com a minha criança? ARTHUR:
(com voz tremula) Um
acidente de carro, na avenida. Ele perdeu o controle, bateu
em um
muro... VERA:
(com os olhos
lacrimejando) E como ele está? (transtornada) Por favor,
diga-me
que não terei que enterrar outro filho? Arthur
não
consegue dizer. Vera insiste. VERA:
(nervosa) Responde,
Arthur! ARTHUR:
(sentido) Ele
está em coma desde então. VERA:
(indignada) E foi o
mesmo carro que eu fui contra ele ter ganhado, não foi?
(deixando as lágrimas escorrerem) Sua lista só aumenta,
não é mesmo? ARTHUR:
Concordo... Mas nesse
caso, há algo ainda mais agravante, Vera. Ao que tudo
indica,
ele acertou o muro de propósito. A
câmera se aproxima do rosto de Vera, que fica em choque.
Os
lábios de Arthur começam a tremer. ARTHUR:
(chorando) Eu cheguei a colocar vários comprimidos em minha
mão e por pouco eu não ingeri. Também enfrentei a
vontade de desistir, Vera. É por isso que precisamos, de alguma
forma, superar essa tragédia que se abateu sobre nossa
família. Caso contrário, estaremos completamente
perdidos. VERA:
(sentida) O Roger...
Quando aconteceu? ARTHUR:
Há cerca de um
mês. VERA:
E só agora veio
me contar? Se eu não te pressionasse, até quando
você ia esconder esse fato importante de mim? ARTHUR:
Eu quis te contar logo
após o ocorrido, mas isso ia agravar ainda mais as coisas
para
você. VERA:
(nervosa) Meu filho,
minha vida! Pare de tentar controlá-la! Eu decido o que é
melhor pra mim! Ela
levanta
e sai. Arthur permanece sentado, com os olhos cheios de
lágrimas. Após alguns segundos, ele abaixa a
cabeça e a tela escurece. Abre
mostrando
a cidade numa vista aérea. O sol está
avermelhado, indicando o fim de tarde. A imagem
transparece para dentro
do hospital. Cláudio está sentado em uma poltrona na ala
de espera. Ele folheia uma revista. Atrás dele podemos ver
Helen
se aproximando e colocando as mãos em seu ombro. HELEN:
Olá estranho...
Liguei na sua casa e sua mãe me disse que estaria aqui...
(pensativa) Na verdade era algo tão óbvio que eu
já deveria ter vindo direto. CLÁUDIO:
(esboçando um
leve sorriso) Eu não consigo ficar longe por muito tempo. HELEN:
(se deslocando) Eu sei. Ela
senta
no braço do sofá e começa a acariciar os
fios do cabeço dele. HELEN:
Mas você precisa
respirar um pouco... Tentar se distrair. CLÁUDIO:
A última vez que
tentei me distrair você viu o que aconteceu. Helen
olha
para cima e suspira suavemente, expressando certa
feição de culpa. HELEN:
O parque chegou faz duas
semanas... Você não gostaria de dar uma passadinha por
lá mais tarde? CLÁUDIO:
Helen, eu não
estou com cabeça para me divertir. ARTHUR:
(aparecendo) Mas
deveria... Ele
se
aproxima e senta no sofá da frente, ficando perto dos
dois. ARTHUR:
Filho, você tem se
mostrado um grande amigo e irmão para o Roger praticamente
morando aqui. Mas sinceramente, não há nada que
você possa fazer. Está tudo nas mãos dos
médicos... Você é jovem e precisa de uma pausa,
senão vai acabar enlouquecendo... O Roger mesmo não
gostaria de te ver assim o tempo todo por causa dele. Então
vá se distrair um pouco e aceite o convite dessa menina
linda. Arthur
toca
a perna de Cláudio. Ele sorri e levanta, saindo em
seguida.
Cláudio fica pensativo. Helen o olha com um sorriso. HELEN:
(sorrindo) Então,
vai aceitar o convite dessa menina linda? CLÁUDIO:
(se rendendo) Okay... Eu
vou pra casa tomar um banho e nos encontramos no parque em
algumas
horas... Tudo bem pra você? HELEN:
(sorrindo) Ótimo. Ela
pega
na mão dele, ainda sorrindo. Cláudio acena com a
cabeça, com um sorriso sem graça. Close
em
Roger deitando na cama. A imagem começa a se afastar,
passando por um vidro, onde, do lado de fora, Livia o
observa. Arthur
aparece e se posiciona ao lado dela, também olhando para
Roger. LIVIA:
Gosto de imaginar que
daqui a pouco ele vai acordar e fazer um monte de suas
palhaçadas que tanto me irritavam e alegravam. ARTHUR:
Eu também gosto
de imaginar a mesma coisa. Quer dizer, um pouquinho
diferente, porque
é certo que ele continuaria brigando comigo por causa da
mãe... (suspira) Mas eu daria minha vida só para ouvir
seus gritos neste momento. Livia
olha
para Arthur e sorri. Arthur retribui com um sorriso. ARTHUR:
Ele tem sorte de ter te
encontrado. LIVIA:
Eu o amo e faria
qualquer coisa por ele. (abaixando o olhar) Mesmo que o
sentimento
não seja mútuo. ARTHUR:
Ele vai sentir quando
acordar... E vai ver tudo que você tem dedicado a ele. LIVIA:
Mas eu não queria
nada por gratidão. Estou fazendo tudo isso sem esperar nada
em
troca. ARTHUR:
(sorrindo) Eu sei... Mas
ele vai perceber quem se importa de verdade com ele. Vai
perceber o
quanto é amado... Isso muda tudo, pode confiar. Arthur passa
a mão carinhosamente na cabeça dela e sai. Livia
abaixa o olhar, ficando com uma expressão pensativa.
Depois olha
novamente para Roger. Vista
aérea
de um parque de diversões. É noite.
Vários brinquedos são mostrados até parar em uma
barraca de tiro ao alvo. Nicole está segurando uma
espingarda e
mirando atentamente em um pato de madeira. Gustavo está ao
lado
dela. Nicole atira. Close no pato sendo atingido. Ela
comemora. Gustavo
sorri. ::.
“Who
Knew” - Pink GUSTAVO:
Parabéns. Mais um
ponto pra você. NICOLE:
Você está
perdendo de verdade ou está só me enrolando pra acertar
tudo no final? GUSTAVO:
(rindo) Pra que eu faria
isso se não apostamos nada dessa vez? A não ser que
você queira apostar... Você quer? NICOLE:
Depois do beijo roubado,
dispenso qualquer aposta com você. Ela
sorri
e se desloca para Gustavo tomar a frente. Ele mira no
patinho. GUSTAVO:
Você não
acha que nós passamos as férias inteiras nessa
enrolação? Está na hora de um pouco de
ação. (close no tiro passando longe) Droga! NICOLE:
Que
enrolação? Nós somos colegas, não somos? GUSTAVO:
Colegas? Nem amigo
você me considera? Que falta de consideração. Ele
volta
a mirar no patinho. Nicole balança negativamente a
cabeça. NICOLE:
É preciso de um
pouco mais do que 1
mês de passeios
pra se considerar alguma coisa. GUSTAVO:
Merda! Errei de novo!
(olha para ela) Então posso ficar esperançoso pro
restante do ano? NICOLE:
Pra te considerar amigo?
Claro. GUSTAVO:
(sorrindo) E outra coisa? NICOLE:
(sorrindo) Nunca. GUSTAVO:
(respirando fundo e mirando) Nicole, Nicole... Aproveite o momento
enquanto eu não estou com todas as minhas faculdades mentais
para querer algo com alguém tão... complicada como
você. Porque quando eu recobrar a lucidez, não vai
adiantar fazer um escândalo. NICOLE:
Prometo sofrer em
silêncio. Gustavo
ri
e atira. Close no pato sendo acertado na parte de cima mas
não caindo. Gustavo balança negativamente cabeça,
lamentando. Nicole sorri. Entrada
do
parque. Cláudio está parado, impaciente. Ele olha para
o relógio. ::. “Who Knew” - Pink (cont.) CLÁUDIO: Que legal,
Helen... Insiste
para
que eu venha e se atrasa para chegar. Larissa
aparece
e fica de frente para ele. Cláudio revira os olhos. LARISSA:
Posso te fazer
companhia? CLÁUDIO:
(bufando) O que
você quer, Larissa? LARISSA:
Que tal mudar um pouco o
vocabulário quando me vê? Algo tipo... “Oi Larissa,
que grata surpresa”. CLÁUDIO:
(sorrindo
forçadamente) Você sabe que eu não sou de mentir. LARISSA:
Okay, não minta.
Mas também já deu esse negócio de fugir de mim,
não deu? Nós estamos no mesmo colégio,
Cláudio. CLÁUDIO:
Eu não estou
fugindo de você. Eu não quero é sua companhia...
É bem diferente. LARISSA:
(bufando) Tá
bom... Mas não era isso que você queria? Me ver correndo
atrás de você? Então, aproveita. CLÁUDIO:
No passado, mas por amor, mas não para me usar como muleta toda
vez que se decepciona com alguém. LARISSA:
Isso não é
verdade. Eu cansei daquele lugar, daquelas pessoas, e
percebi que o
único que me satisfazia de verdade, era você. CLÁUDIO:
Aham, engana que eu
gosto. Vai dizer não aconteceu nada na capital que te
fizesse
voltar de cabeça baixa pra cá? Larissa
não
responde. Cláudio sorri. CLÁUDIO:
Eu sabia... E se
você pensou que eu me importaria, desista, Larissa. Eu não
estou nem aí pra você. LARISSA:
Eu posso ter deixado
transparecer que você é minha segunda opção,
mas não é verdade. Você é o cara certo pra
mim, Cláudio. Eu te amo. Ela
se
aproxima dele, ficando bem perto. Cláudio transparece
nervosismo. LARISSA:
Só me dê
mais uma chance para provar que nós nascemos um para o
outro.
CLÁUDIO:
Eu nunca vou confiar em
você outra vez. LARISSA:
Besteira... Logo a gente
coloca uma pedra em cima de tudo. Diz que aquele
amor todo que
sentia por mim desde a infância, simplesmente sumiu?
Diz... CLÁUDIO:
(perturbado) Aquilo
não era amor... Era obsessão... Um prêmio a ser
conquistado. LARISSA:
(sorrindo) Por mais que
você tente, não consegue ser convincente. CLÁUDIO:
(dando alguns passos
para trás) Sai da minha frente, Larissa. LARISSA:
(se aproximando em tom
sensual) Se é verdade então que não sente mais
nada... Por que foge o olhar toda vez que tenta me ofender?
(morde os
lábios) E por que está tremendo neste exato momento? Eles
ficam
com os rostos bem próximos. Cláudio respira
ofegante. Larissa continua com o tom provocativo. Ela olha
para o lado
e sorri. LARISSA:
(sorrindo) Oi Helen. Cláudio
olha
imediatamente na mesma direção e arregala os olhos.
Close em Helen próxima a eles. Ela olha tristemente para
Cláudio e depois sai. Cláudio vai atrás. CLÁUDIO:
Helen, espera. LARISSA:
Cláudio. CLÁUDIO:
(virando-se para
Larissa) Pela última vez... Fica longe de mim! Ele
sai.
Larissa o segue com o olhar. Ela esboça um sorriso de
satisfação. Priscila aparece e se posiciona ao lado dela. PRISCILA:
Quer dizer então
que a boa filha está mesmo de volta? LARISSA:
(estranhando)
Está falando comigo? Pensei que fosse me ignorar como todos
os
outros estão fazendo. PRISCILA:
(entortando a boca)
Larissa, nós nunca fomos amigas... Pouco me importa se
você se mudou e em determinado momento resolveu dar um gelo
em
todos os seus amigos aqui de Bom Destino. LARISSA:
(sorrindo)
Estranhamente, essa foi a coisa mais legal me disseram desde
que
voltei. PRISCILA:
(sorrindo) Disponha...
(olha na direção em que Cláudio saiu) Agora, ele
sim tem grandes motivos para ignorá-la. Eu vi o quanto ele
ficou
abalado quando você resolveu trocá-lo por outro. LARISSA:
Mas eu sei que por mais
magoado que ele ainda esteja, eu mexo muito com o seu
coração... E mais cedo ou mais tarde, ele vai parar de
resistir e voltar pra mim. Ela
cruza
os braços e sorri de forma convicta. Priscila ergue as
sobrancelhas em tom duvidoso. Corta
para
Helen caminhando apressadamente. Cláudio vem logo
atrás. ::.
“Who
Knew” - Pink (cont.) CLÁUDIO:
Helen, quer fazer o
favor de esperar? HELEN:
Pra quê? A
companhia dela parecia estar te agradando muito. CLÁUDIO:
(segurando-a) Por
favor... Eu não sei o que você acha que viu, mas a
última coisa que eu preciso agora é lidar com
ciúmes. HELEN:
(ficando de frente para
ele) Você está certo... O quão boba estou sendo,
afinal, você não me disse ou fez nada no baile que
justificasse eu sentir algum tipo de ciúmes. CLÁUDIO:
(respirando fundo) Eu
não quero falar sobre isso agora. Estou com a cabeça
cheia... E tem o Roger... HELEN:
O Roger está
lá, Cláudio... É como o pai dele disse...
Não há nada que você possa fazer por ele. CLÁUDIO:
E por isso eu devo
fingir que está tudo bem? HELEN:
Claro que não...
Mas você não deve se martirizar e se sacrificar... Não foi culpa sua o que aconteceu. CLÁUDIO:
Você tem certeza
disso? HELEN:
(confusa) Do que
você está falando? CLÁUDIO:
(pensativo) Deixa pra
lá... HELEN:
(determinada)
Não! Fala... O que está te incomodando? CLÁUDIO:
Okay... Se eu não
tivesse te escutado e deixado de me preocupar, talvez eu
tivesse ido
atrás dele e impedido o que aconteceu. Silêncio
por
alguns segundos. Os olhos de Helen se enchem de lágrimas.
HELEN:
Então é
isso? (balança a cabeça) Esse tempo todo eu pensei que
seu afastamento e o fato de não ter mais tocado no assunto
“beijo” depois do baile, foi porque a Larissa ainda mexia
com você... Mas você se afastou porque me culpa pelo que
aconteceu com o Roger... CLÁUDIO:
Eu não te culpo
pelo que aconteceu. Eu me culpo por ter aceitado o seu
conselho. HELEN:
(sentida) Mas
ninguém teve culpa de nada, exceto ele... Cláudio, por
mais que te doa aceitar e ouvir isso, o Roger tentou se
matar. CLÁUDIO:
(nervoso) Você
não sabe disso! (se acalmando) Sabe o que disse a ele na
última vez que nos falamos? Que ele não estava bem e
precisava de ajuda. Só isso! E no meu anseio eu queria que
ele
fosse embora logo pra que eu pudesse voltar a dançar com
você. Se eu não tivesse deixado as coisas para
lá, talvez eu pudesse tê-lo ajudado, ido com ele, impedido
que fizesse alguma loucura... Eu não sei. HELEN:
Ou talvez estaria numa
cama ao lado da dele ou pior... Você não é um
super-herói. E as pessoas são responsáveis por
seus atos. CLÁUDIO:
(incomodado) Pare de me
dizer essas coisas... Você não pode afirmar que um ato
não poderia ter mudado uma consequência. Aliás,
como isso está funcionado para você? HELEN:
(sem entender) Desculpa? CLÁUDIO:
Você não
demonstra nada, parece que está muito bem com tudo o que
aconteceu. Sequer mostrou algum remorso por ter dito aquelas
coisas no
baile. HELEN:
(com os olhos
lacrimejando) O que eu disse, eu não lamento. Mas aí
você insinuar que não estou sofrendo com o que aconteceu
com o meu grande amigo, só pelo fato de não demonstrar
tanto como você ou a Amanda que se trancou em casa, me parte
o
coração e me destrói em mil pedaços... Como
pôde pensar algo assim de mim? Cláudio
não
responde, demonstrando certo arrependimento no rosto.
Helen
balança negativamente a cabeça e movimenta. ::.
“The
Funeral” - Band of Horses HELEN:
Adeus, Cláudio. Ela
sai.
Cláudio ameaça ir atrás dela, mas para,
fechando os olhos e colocando as mãos na cabeça. A
câmera sobe e mostra o parque numa visão aérea por
alguns segundos. Um
quarto.
Vera está dobrando algumas roupas que estão em
cima da cama. Ela se movimenta e coloca algumas peças
dentro de
uma bolsa. Arthur aparece na porta, preocupado. ::.
“The
Funeral” - Band of Horses (cont.) ARTHUR:
Vim assim que me
ligaram... O que está acontecendo? (olha para a bolsa) E o
que
você está fazendo? VERA:
Estou voltando pra casa,
Arthur. Arthur
não
responde. Vera termina de dobrar uma peça e se vira
para ele. VERA:
Você mesmo disse
que eu poderia sair quando me sentisse preparada... E eu não
vou
conseguir ficar aqui enquanto o meu filho está em uma cama
de
hospital, precisando do meu calor. Arthur
concorda
com a cabeça. Vera se aproxima mais, com os olhos
brilhando. VERA:
Eu sei que a ferida de
perder o Cayro continua aberta e sangrando... E sei também
que
nunca vai cicatrizar. Mas então aceitarei o sofrimento e
seguirei tentando encontrar o melhor passo para dançar a
música da vida. E ficando ao lado do outro filho, lutando
por
sua recuperação, que vou encontrar forças para
continuar. ARTHUR:
(após alguns
segundos) Sendo assim... Deixe-me ajudá-la com a bolsa. Vera
sorri
levemente e acena com a cabeça. Arthur vai até a
cama e pega uma peça de roupa. A
imagem transparece para a frente da casa de Cláudio. Close
no
andar de cima. Transparece outra vez, para dentro do
quarto.
Cláudio está na mesinha, sentado de frente para o
computador. A câmera se aproxima lentamente dele. ::.
“The
Funeral” - Band of Horses (cont.) CLÁUDIO:
(em off) Dizem que a
alegria vem ao amanhecer... Talvez seja verdade... Mas
para alguns de
nós, sabemos que ainda está longe... Ele
sorri.
A câmera se aproxima do monitor, mostrando um vídeo
dele com Roger fantasiados, falando algumas coisas que a
música
não nos permite ouvir. CLÁUDIO:
(em off) E diante da
dúvida e da incerteza, cada um lida com a dor de um
jeito...
Às vezes se culpando e jogando a culpa nos outros. Close
na
tela do computador por alguns segundos, destacando Roger
sorrindo e
rindo no vídeo. A imagem começa a transparecer para
dentro de outro quarto. Helen entra e fecha a porta,
sentando na cama
em seguida. ::. “The Funeral” - Band of Horses (cont.) CLÁUDIO:
(em off) Alguns
tentam se mostrar fortes e por um momento, chegamos a
acreditar que
não se importam tanto... Ele
coloca
a mão na boca e começa a chorar. CLÁUDIO:
(em off) Mas por
dentro, estão tão quebrados e sofrendo quanto a gente. Ela
deita
na cama e chora com mais dor. A câmera sobe devagar
até o teto. A
imagem transparece para Amanda em seu quarto, deitada na
cama, de
bruços e com o travesseiro em cima da cabeça. A campainha
está tocando. ::.
“The
Funeral” - Band of Horses (cont.) CLÁUDIO:
(em off) Alguns
tentam aliviar a culpa e dor se trancando em algum
lugar... A
campainha continua tocando, dessa vez de forma insistente.
AMANDA:
(com a voz abafada pelo
colchão) Vá embora! Continua
tocando,
mas dessa vez ouve-se batidas na porta também. Amanda
levanta a cabeça e franze as sobrancelhas. CLÁUDIO:
(em off) Mas sabem
que mais cedo ou mais tarde, terão de enfrentar o que mais
temem. Corta
para
a parte de baixo da casa. Amanda caminha até a porta e
abre. Livia aparece do outro lado. Amanda a olha com
surpresa. A
câmera se aproxima do rosto de Livia. CLÁUDIO:
(em off) Alguns
esquecem qualquer tipo de rivalidade, pelo bem maior da
pessoa amada. A
imagem começa a se afastar e subir ao céu. Quando desce,
temos a visão da frente do hospital. Transparece para
dentro do
carro de Arthur parado em frente. Pela janela, Vera está
olhando
para a porta. ::.
“The
Funeral” - Band of Horses (cont.) CLÁUDIO:
(em off) E alguns
descobrem no meio de outra dor, a força necessária para
tentar seguir em frente. Corredor
do
hospital. Vera caminha na direção do quarto.
Através do seu ponto de vista, vemos ela se aproximando e
parando ao ver Roger deitado na cama. CLÁUDIO:
(em off) Um
mês se passou... E daquele dia que não teve fim,
carregamos a dor, o medo e a incerteza do que vai
acontecer... A
câmera se desloca, mostrando Vera parada olhando para o
filho.
Ela está com a mão na boca e seus olhos lacrimejam. CLÁUDIO:
(em off) E lá
no fundo a esperança... Esperança que tudo passe de uma
vez... Pois há muito mais do que um dia para viver. Muito
mais
do que esperar por um amanhã que nunca chega. Ela
se aproxima da cama e com pesar, passa a mão na cabeça do
filho, chorando em seguida. A câmera se afasta, parando na porta.
Após alguns segundos, a tela escurece lentamente.
CREDITOS
FINAIS:
CRIADO
E
ESCRITO POR: Thiago
Monteiro
PARTICIPAÇÕES
ESPECIAIS Jesse
McCartney
como David Michael
Strusievici como Lucas MÚSICA
TEMA “Meant
To Live” - Switchfoot TRILHA
SONORA “Within
You” - Ray Lamontagne “Colorblind”
- Counting Crows “Angels Or Devils” - Dishwalla“ “Catch
My Disease” - Ben Lee “A
Message” - Coldplay “Who
Knew” - Pink “The
Funeral” - Band Of Horses Copyright
© 2007 |