Vista
aérea
de uma avenida. É noite. Helen caminha
apressadamente pela calçada. Ela está de braços
cruzados e visivelmente nervosa. HELEN:
(imitando Gustavo)
Você
não
faz ideia do impacto que causa na vida dos que te rodeiam...
Não vou beber... Você criou alguém capaz de
enxergar além de si. Ela
começa
a atravessar a rua, ainda murmurando. A câmera
mostra o semáforo verde. Volta para Helen caminhando. HELEN:
Que saco! Uma
forte
luz a ilumina, juntamente com o som de uma buzina. Helen
para e
coloca o braço na frente do rosto. Corta para a forte luz
vindo
na direção da tela, ocupando-a por inteira. Ouve-se o som
de freada e o impacto de algo batendo. Close
em
Helen estirada no chão, desacordada e com sangue na
cabeça. Ouve-se o barulho de uma porta de carro abrindo.
Segundos depois um senhor se aproxima. SENHOR:
(desesperado) Meu Deus
do céu! O que foi que eu fiz? De
longe,
o vemos colocar as mãos na cabeça, claramente
alterado. Alguns carros param por perto. Algumas pessoas
começam
a se aproximar. HELEN:
(em off) A
vida às vezes nos prega verdadeiras peças. Ela nos coloca
em enrascadas que raramente conseguimos decifrar... A vida,
frequentemente, é amiga, e outras vezes, traiçoeira. Ela
nos revela segredos e nos mostra caminhos que sequer
imaginávamos existir. Foca
imagem
do rosto de Helen desmaiada por alguns segundos. HELEN:
(em off) A
vida nunca é igual, e cada momento da vida que passa, não
volta jamais. Um
despertador começa a tocar. Corta instantaneamente para o
aparelho em cima de uma mesinha de cabeceira. A imagem se amplia,
revelando Helen deitada na cama. Em questão de segundos, ela
alcança o despertador e o silencia com um golpe
rápido. Helen
senta
na cama e boceja. Instantes depois, franze as
sobrancelhas. ::. “Everywhere She Goes” - Across The Sky HELEN:
Como eu cheguei aqui? (balança a
cabeça) Devo ter
extrapolado na bebida ontem... (levanta) Espero que as duas
não
tenham me visto chegar. Ela
vai
até o guarda-roupas e abre. A cena muda para a sala. Helen
aparece de roupa trocada e cabelo molhado. HELEN:
Vovó? Marcia? Ela
dá
uma olhada geral no local e franze as sobrancelhas,
estranhando. HELEN:
Quando os móveis
foram trocados? Em
cima
da mesa podemos ver um fichário e uma bolsa. Ela vai
até os objetos, pegando-os. Fachada
do
colégio Esplendor. Vários alunos transitam pelo
gramado, a maioria na direção do portão. A
câmera se movimenta, mostrando Helen que caminha com o
celular no
ouvido. OFF
DO
CELULAR:
“Esse número de telefone não existe”. HELEN:
(abaixando o celular,
confusa) Mas que droga? A
câmera muda ela de costas, que caminha na
direção do portão. A imagem sobe, ficando nessa
posição até que ela entre no colégio. Sala
de
aula. Helen passeia por uma fileira e se senta na mesa do
fundo. Ela
coloca o fichário em cima da mesa e olha para o lado.
Close em
Gustavo debruçado sobre a mesa. Ele está de olhos
fechados e boca aberta. Helen o cutuca. HELEN:
Hei... Gustavo
não
se mexe. Helen novamente o cutuca. HELEN:
Hei... GUSTAVO:
(sem abrir os olhos)
Não enche! HELEN:
(entortando a boca)
Claro, me ignora. É você que tem que ficar com raiva de
mim mesmo. Corta
para
uma professora sentada na mesa. Ela está com uma caneta em
cima de uma folha. PROFESSORA:
Eric... VOZ
AO
FUNDO:
Aqui. PROFESSORA:
Andressa... VOZ
AO
FUNDO:
Presente... PROFESSORA:
Zilton... VOZ
AO
FUNDO:
É Junior... PROFESSORA:
Aqui tá escrito
Zilton. Ela
abaixa
a cabeça e começa a fazer algumas
anotações. Corta para Helen. Ela olha para os lados, com
um ar de estranheza. Segundos depois, levanta e vai até a
professora. HELEN:
Com licença,
professora? PROFESSORA:
Pois não? HELEN:
A senhora esqueceu de
chamar o meu nome. A
professora a olha atentamente, e franze as sobrancelhas. PROFESSORA:
Qual seu nome? HELEN:
(incrédula)
Helen. A
professora passa o dedo na folha e segundos depois volta a
olhar para
Helen. PROFESSORA:
Você está
começando hoje? HELEN:
Como assim estou
começando hoje? Eu estudo aqui desde o primário. PROFESSORA:
Só se você
matou aula o ano inteiro, porque eu não me lembro de você.
E seu nome não está na lista. É troca de sala
então? HELEN:
(impaciente) Não,
eu estudo nessa sala. PROFESSORA:
Não na minha
classe. Helen
fica
sem reação. Ela abre a boca para falar mas para.
Depois vira-se para a classe. HELEN:
Alguém ajude a
professora a recuperar a memória dizendo a ela que eu sempre
estudei aqui? A
câmera dá um close geral na sala, ninguém responde.
Helen fica boquiaberta. Depois olha para Gustavo. HELEN:
Gustavo? GUSTAVO:
(ainda de cabeça
baixa) Que é? HELEN:
Dá pra dizer que você me
conhece? Gustavo
levanta
a cabeça com uma expressão bastante sonolenta.
Ele força a vista e depois mexe os ombros. GUSTAVO:
Nunca vi mais gorda. Ele
deita
na mesa de novo. A classe começa a rir. Helen se vira
novamente para a professora. HELEN:
Okay, alguma coisa
está muito errada aqui. PROFESSORA:
Concordo... E uma delas
é você continuar plantada aí. Vá até
a sala do diretor e peça a ele o comprovante de sua
transferência. HELEN:
(nervosa) Eu não
sou novata! PROFESSORA:
Então converse
com a professora de psicologia. Novamente
a
classe ri. Helen balança a cabeça e se sai da sala. Um
corredor.
Helen está sentada num banco que fica ao lado de uma
sala. Na porta há uma placa com a palavra “Diretor”.
Helen está com o celular no ouvido. Ela abaixa o aparelho,
frustrada. Corta
para
a porta da sala abrindo. Léo passa por ela, sério.
Helen o olha com bastante surpresa. Ele passa por ela sem
encará-la, e caminha pelo corredor. Helen levanta do
banco. HELEN:
(chamando-o) Léo! Léo
para
e se vira para ela. Helen se aproxima, ainda se mostrando
surpresa. HELEN:
O que está
fazendo aqui? Quando voltou? LÉO:
Da casa de praia dos
meus pais? Voltei ontem... Por quê? (estranhando)
Eu te conheço? HELEN:
(sorrindo) Seu bobo! Vem
cá. Ela
o
abraça forte. Léo não se mexe, apenas franze a
testa, estranhando a atitude da garota. HELEN:
Está aqui a
passeio ou o quê? LÉO:
Você é
aluna da classe especial? ... Você é? HELEN:
Claro que não. LÉO:
(sorrindo) Ah, já
sei... É mais uma daquelas tietes loucas pra
tirar uma casquinha do Léo aqui, certo?
Veja
bem, eu não fico com garotas assim...
(medindo-a) Do seu tipo... Quer
dizer,
não em público. Mas se prometer guardar segredo a gente
dá um jeitinho de eu te dar prazer qualquer dia desses...
Você é virgem? HELEN:
(nervosa) Qual é
o seu problema? Ficou bobo no exterior? LÉO:
Espera aí...
Você que veio falar comigo... (balança a cabeça, em
reprovação) É cada uma que me aparece. Ele
se vira
e volta a andar. Helen fica com cara de boba, depois vai
atrás. HELEN:
Hei! Palhaço!
Não dê as costas para mim! LÉO:
Você é
completamente maluca, sabia? Quem é você? HELEN:
Quem sou eu? Quem sou
eu? A Helen, sua ex-namorada. Léo
para.
Eles ficam de frente um para o outro. Léo a encara por
alguns segundos. Helen se mostra esperançosa. Léo cai na
gargalhada. LÉO:
(rindo) Minha
ex-namorada... (ri ainda mais) Minha ex-namorada... (se
recupera)
Você é maluca, mas confesso que conseguiu melhorar o meu
humor depois de levar uma advertência daquele diretor
idiota...
(ri) Minha ex-namorada. Helen
o
encara seriamente, ao mesmo tempo que se mostra pensativa.
HELEN:
Você não se
formou? Não foi convidado para jogar profissionalmente
depois
que venceu o título estadual? LÉO:
Do que você
está falando? Essa merda de time nunca ganhou nada. Mas eu
merecia mesmo receber um convite para jogar
profissionalmente,
já que carregado essa porcaria nas costas. HELEN:
Você não me
conhece mesmo, certo? LÉO:
Não, não
te conheço... Posso ir agora? HELEN:
(incrédula) Isso
é loucura... Eu devo estar presa em algum tipo de sonho,
purgatório, sei lá. LÉO:
Não é
problema meu. Fui! Ele
volta
a andar. Helen permanece parada, extremamente confusa. HELEN:
Mas o que diabos
está acontecendo? Corta
para
o banheiro. Helen anda de um lado para o outro. HELEN:
A classe não me
conhece... O Léo não se formou e também não
me conhece... Minha mãe não atende o telefone... E eu
não me lembro como cheguei em casa ontem. Ela
para
e se olha no espelho. De relance, refletido atrás dela,
aparece a imagem de uma mulher [Meredith
Monroe].
Helen
a olha e a câmera se vira juntamente com ela na
direção da mulher que já não está
mais no mesmo lugar. Helen arregala os olhos e respira
ofegante. Depois
se volta para o espelho e se inclina, ligando a torneira e
jogando
água no rosto. HELEN:
Estou enlouquecendo. A
câmera fixa seu reflexo no espelho por alguns segundos.
Depois, a
imagem se movimenta para o lado, descendo ao chão. A tela
escurece.
Abre
no
corredor do colégio. O sinal bate e vários alunos
começam a sair das salas. A porta do banheiro abre e Helen
também sai. Ela acompanha os alunos até a entrada do
refeitório, passando pela porta e parando antes da
primeira
mesa. A
câmera abre e podemos ver o local cheio e dividido. Do
lado
esquerdo uma turma mais arrumada e aglomerada. Do outro, o
restante dos
alunos. Helen observa bem, já aparentando entender o que
viu. ::. “Happy Is A Yuppie Word” - Switchfoot HELEN:
(balançando a
cabeça, em negação) Só pode ser
brincadeira. Amanda
e
Larissa passam por ela, de braços dados e com ar de
peruas.
Helen segura o braço de Amanda. HELEN:
Amanda? Amanda
e
Larissa param. Ambas a olham como se estivessem medindo-a.
AMANDA:
(fazendo careta)
Jesus... Querida, onde você comprou essa roupa? HELEN:
Deixe-me adivinhar...
Vocês também nunca me viram antes? LARISSA:
Como se a gente
prestasse atenção nesse povinho secular do
colégio... (engancha o braço de Amanda) Vem, vamos antes
que esse aí nos contamine. Amanda
ri
e ambas voltam a andar. Helen levanta o pulso e começa a
se
beliscar. HELEN:
Vamos lá...
Acorda! Ela
olha
para a frente e força a vista. A câmera se movimenta,
mostrando a mesma mulher do espelho sentada sozinha numa
mesa, olhando
para Helen e sorrindo. Helen vai até ela. MULHER:
(sorrindo) Oi Helen. HELEN:
Eu estou morta? MULHER:
(rindo) Por que
está perguntando isso? HELEN:
Porque
claramente essa
não é vida que eu conhecia e pessoas não
desaparecem do banheiro... Quem é você e o que diabos
está acontecendo? MULHER:
Em primeiro lugar, vamos
estabelecer uma regrinha de boa convivência e restringir
certos
palavreados... Como esse que você acabou de dizer. Não
é legal. HELEN:
(impaciente, sentando)
Está bem! Mas o que é tudo isso? MULHER:
Não se lembra
mesmo de nada? HELEN:
A única coisa que
eu me lembro é de atravessar a rua e acordar no meu quarto.
MULHER:
Tem certeza que aquele
era o seu quarto? HELEN:
Mas que pergunta...
Óbvio que era o meu quarto... (pensativa) Embora muita coisa
estava diferente de ontem para hoje... (morde os lábios)
Provavelmente você tem razão, aquele não era o meu
quarto. E levando isso em conta, aquela não era a minha casa
e
essa roupa que estou vestindo certamente não é minha.
Embora a pessoa que roubei calça o mesmo número que o meu. MULHER:
E se olhar dentro do
fichário verá que a letra não é sua e a
bolsa que você pegou, há objetos que também
não são seus. HELEN:
(sarcástica)
Não diga? E agora você vai me dizer que estou num sonho,
no purgatório, próxima da ilha de Lost, ou quem sabe, na
Caverna do Dragão? MULHER:
(animada) Você
acha que eu sou o Vingador ou o Mestre dos Magos? HELEN:
O unicórnio. MULHER:
(rindo) Você
é engraçada... Mas relaxa, você não
está morta ou em coma, ou em algum entretenimento
televisivo.
Você só não existe neste plano. HELEN:
Do que você
está falando? MULHER:
Não é
você que ultimamente só sabe reclamar da vida, dizendo que
não vale a pena ser bom, que pessoas boas só são
passadas para trás e todo aquele papo chato de coitadismo?
Então, seus problemas acabaram. HELEN: Huh... Eu fui apagada da existência então? E isso resolve meus problemas como? MULHER:
Ué, aqui
você não precisa ficar com medo de se machucar e reclamar
do sol que nasce perto da sua janela. HELEN:
Eu nunca reclamei do
sol. MULHER:
(sorrindo) Helen,
estamos num plano em que você não existe... Que não
fez a diferença na vida das pessoas. Aqui, você não
ajudou ninguém a tomar decisões. Não influenciou
na mudança de caráter de alguém. Aqui não
existe uma Helen capaz de impactar tantas vidas com um
simples ato. HELEN:
Para um segundo...
Impactar várias vidas? Eu? A suburbana que até pouco
tempo pensava que era órfã? Você é um anjo
meio doida, saiba? MULHER:
Quem te disse que eu sou
um anjo? HELEN:
Isso aqui não
é uma jornada espiritual? MULHER:
Me tenha como uma
orientadora. HELEN:
Você tem pelo
menos um nome? MULHER:
Angelina. HELEN:
Como “pequeno
anjo”? ANGELINA:
Você conhece
significado de nomes, parabéns. Quer uma estrelinha?
HELEN:
(sorriso rápido)
Obrigada... Mas então, Angelina... Eu estou presa
aqui
até aceitar que vale a pena ser boazinha? ANGELINA:
Fica tranquila,
você vai voltar para a sua vida aceitando ou não ser boa.
Mas no final do tour na vida de algumas pessoas que não te
conheceram, eu torço para que faça a escolha certa. HELEN:
Não acredito que
estou aceitando isso tudo, assim...
Isso
é loucura. ANGELINA:
Então não
podemos perder tempo... (levanta) Vamos. HELEN:
(levantando) Você
não deveria estar de branco? ANGELINA:
Podemos ficar o tempo
todo discutindo sobre eu ser ou não um anjo. É isso que
você quer? HELEN:
Desculpa... Por onde
começamos? ANGELINA:
Pela vida de
alguém que você começou a influenciar lá
atrás, aproximadamente 3 anos antes. HELEN:
Leonardo. ANGELINA:
Isso! Qualquer pessoa
tem seu lado bom e ruim. Em alguns, um lado prevalece mais
que o outro.
Quando é o pior, é um processo que precisa ser
trabalhado. Quando você e o Léo se conheceram, digamos
que houve a plantação de uma sementinha dentro dele. Quem
mesmo ele tendo se tornado um completo idiota depois que
vocês se
afastaram, o primeiro envolvimento foi primordial para que
ele
não se tornasse o que você irá presenciar neste momento. Corta
para
Léo e um grupo de rapazes perto de uma mesa no
refeitório. Entre essas pessoas está Felipe. A
câmera acompanha Gustavo passando por eles. Léo
está de costas. Quando se vira, esbarra em Gustavo. LÉO:
Olha por onde anda,
ô débil mental. GUSTAVO:
Foi você que
esbarrou em mim. LÉO:
O que seria evitado se
certas pessoas se limitassem a ficar no seu lado do
refeitório. GUSTAVO:
Eu pago a mesma
mensalidade que você aqui... Não existe lei que divide o
refeitório em grupos. LÉO:
Mas existe a minha
lei... E você não está autorizado a pisar por aqui.
Aliás, eu estou prestes a limitar sua presença por todo o
refeitório. GUSTAVO:
(sorrindo) Você
pode querer dar uma de rei com esses baba-Elite daqui. Mas
não
comigo. Léo
sorri,
balança a cabeça em sinal de negativo e depois
fecha a cara, pegando Gustavo pela gola e virando-o contra
a parede. Um
grupo de rapazes se formam em volta. LÉO:
Gosta de dar uma de
machão, huh? GUSTAVO:
Eu não tenho medo
de você. LÉO:
(sorrindo) Pois deveria,
porque eu posso tornar sua vida aqui dentro um verdadeiro
inferno. GUSTAVO:
Eu pago pra ver. Léo
solta
Gustavo e começa a rir. Em seguida fecha a cara outra vez
e acerta um soco no rosto dele, que se desloca para o lado
devido ao
impacto. Gustavo tenta revidar, mas Felipe o segura por
trás,
prendendo seus braços. FELIPE:
(rindo) Vamos lá!
Arrebenta! Léo
soca
o estômago de Gustavo, e depois soca duas vezes o rosto
dele, cada um de um lado. Todos em volta vibram. Felipe
solta Gustavo e o empurra.
Gustavo coloca a mão
no estômago e vai ao chão. Léo se abaixa e pega
forte cabelo dele. LÉO:
Nunca desafie o rei. Leo
e
os demais rapazes saem, rindo. Gustavo permanece no chão,
segurando o estômago e gemendo de dor. A imagem abre,
mostrando
Helen e Angelina metros dali, assistindo a cena. Helen parece assustada. ANGELINA:
Triste, não? Mas
esse é o Léo que nunca conheceu uma Helen que o pudesse
ensinar certos valores que ele nunca julgou importante. Uma
Helen que o
ajudou a crescer, amadurecer, se preocupar com os outros e,
especialmente, a se formar. Uma Helen que pudesse ouvir
sobre seus
problemas familiares. Que deu força a ele no encontro com o
irmão... São coisas que pra você podem parecer
irrelevantes, mas confie em mim, só vai piorar. Corta
para
Gustavo ainda no chão. Helen e Angelina se aproximam um
pouco. ANGELINA:
Aqui começamos
algo que podemos chamar de corrente. O bem que você faz a
uma
pessoa, reflete em muitas outras. Reparou bem como o Felipe
segurou
covardemente o Gustavo para que o Leonardo batesse nele? Helen
concorda
com a cabeça. Angelina continua. ANGELINA:
Com um Léo bem
mais caricato, Felipe nunca sentiu segurança para expor um
lado
que ele reprimia por causa da turma. O Léo mais flexível
que você conheceu, impulsionou o Felipe a fazer o mesmo... E
quando seu melhor amigo começou a se esforçar para se
tornar uma pessoa melhor, Felipe se entregou de cabeça a sua
personalidade de bom rapaz, atencioso, romântico, amigo, que
vocês adoram hoje. Elas
se
aproximam mais de Gustavo, que levanta com dificuldade e
encosta da
parede. GUSTAVO:
Eles vão me pagar
por isso... Eu vou pegar um por um e vou matar todos! ANGELINA:
(para Helen) Acredite,
isso não ficou só na promessa. HELEN:
(incrédula)
Até parece! O Gustavo jamais faria uma coisa dessas.
ANGELINA:
Qual o tamanho do
desprezo que ele sentia pela Elite quando vocês se
conheceram? HELEN:
Grande? ANGELINA:
Agora imagina isso
duplicado? Isso não parou por aqui. Depois de hoje, os
rapazes resolveram fazer do Gustavo o saco de pancadas do
colégio. Todo dia era uma coisa nova como, cabeça na
privada, sacos de urinas, pontapés, socos... O ódio que
ele sentia foi só aumentando, aumentando, até que um dia,
precisamente na metade do ano que vem, o colégio Esplendor
estará nos noticiários do mundo inteiro. Os
olhos
de Helen começam a brilhar. Ela olha com compaixão
para Gustavo encostado na parede. ::. “For You I Will” - Teddy Geiger ANGELINA:
Você está conseguindo acompanhar o meu raciocínio?
Cada ato pode trazer consequências estrondosas para a vida de uma
pessoa. Uma vida, apenas uma, é capaz de mudar várias
outras... Com o seu envolvimento com o Léo, ele se tornou uma
pessoa melhor, e esse dia aqui, jamais aconteceu. O Felipe se tornou
uma pessoa melhor a ponto de suportar o Gustavo, mesmo com as diversas
provocações do menino... O seu envolvimento com o Gustavo
fez com que ele se envolvesse com essas pessoas e pudesse perceber que
elas não são tão ruins como ele idealizava. O caso
do encontro com os rapazes em um bar na antiga cidade dele mostrou ao
Gustavo que ele podia contar com Cláudio e o Felipe, quando o
ajudaram a dar uma lição naqueles provocadores... E isso
tudo refletiu em sua decisão de recusar uma linda garota para
ajudar seus amigos aquela vez na praia. Close
em
Helen. Ela fica pensativa e depois lança um olhar triste
para
Gustavo. ANGELINA:
Ainda acha que
não valeu a pena? HELEN:
Digamos que eu estou
começando a comprar a ideia... O que acontece agora? ANGELINA:
(sorrindo) Vem comigo. Corta
para
outra mesa. Nela estão Larissa e Amanda. Larissa segura o
celular, olhando no visor. ::. “For You I Will” - Teddy Geiger (cont.) AMANDA:
Quem é? LARISSA:
A chata da Rosangela de
novo. Nem aqui no colégio ela para de me encher o saco. AMANDA:
Se você desse notícias de vez em
quando, ou quem
sabe, visitasse ela na capital, talvez ela ficasse mais
tranquila e
pararia de ligar tanto. LARISSA:
Eu sou emancipada,
não preciso ficar dando satisfações a eles. Sou
independente agora. AMANDA:
(sorrindo) Exceto quando
eles precisam pagar suas contas. LARISSA:
Só pra isso ela e
aquele idiota do marido ainda servem. A
câmera se afasta, mostrando Helen e Angelina olhando para
as
duas. Helen se volta para Angelina e ergue as
sobrancelhas. HELEN:
Na realidade que eu
existo ela continua não prestando. ANGELINA:
Mas já foi pior.
Ela está tentando se encontrar como qualquer adolescente
sujeito
a errar até que aprenda. HELEN:
(bufando) Pronto,
até aqui eu tenho que ouvir alguém defender essa garota.
Vai dizer que eu também tive parte na... (faz aspas com os
dedos) Melhora do caráter dela? ANGELINA:
E teve! Esqueceu do
efeito corrente? Quando você passou a influenciar a vida do
Cláudio, isso também refletiu na vida da Larissa. Se ele
não tivesse quem o encorajasse a entrar e continuar no time,
mesmo sofrendo a pressão que sofria, os dois jamais teriam
ficado juntos... O baile de inverno que foi um divisor de
água
no relacionamento dos dois, no qual a Larissa passou a
enxergar o
Cláudio com outros olhos e a partir dali, começou a se
esforçar para ser alguém melhor... Todo o incentivo que o
Cláudio deu a ela, para perdoar a mãe, aceitar o
padrasto, não teria acontecido se você não tivesse
entrado na vida do Cláudio antes. HELEN:
Entendo, nessa vida a
Larissa é mais vaca do que costume e nunca se acertou com a
mãe. ANGELINA:
(sorrindo) Exato, minha
criança! Exceto pelo fato de chamar a menina de vaca, isso
é pesado. HELEN: É, o bichinho não deveria ser comparado à Larissa. ANGELINA:
Um passo de cada vez...
Continuando... Aqui a Larissa optou por ficar na cidade ao
invés
de se mudar para a capital e dar uma chance de ter uma
família
de verdade. Rosangela é triste, amargurada... O Jonatas
não sabe mais o que fazer para animar a esposa, e nunca vai
ouvir a Larissa chamá-lo de pai. Se você analisar sem
rancor, é triste, muito trise. Helen
concorda
com a cabeça e ergue as sobrancelhas outra vez. Depois
olha para Amanda. HELEN:
E
quanto a ela? ANGELINA:
Pra
não dizer em outras palavras, ele é bem mais atiradinha
aqui do que quando conheceu o Roger. HELEN:
(sarcástica)
Nossa, que tragédia! E é óbvio que sua inquietude
sexual também é minha culpa. ANGELINA:
Claro que é... Tudo de ruim que
acontece aqui nessa
realidade é culpa sua. Veja bem, o Cláudio não
entrando para o time, ele e o Roger jamais teriam ido àquela
festa no qual Amanda e Roger se conheceram e se beijaram
pela primeira
vez. Naquele dia, o Roger começou fazer a diferença na
vida dela. HELEN:
Não vamos
esquecer que na minha realidade ela traiu o coitado e ele
pirou por
causa dela. ANGELINA:
Mas eu não disse
que coisas ruins não podem acontecer com ou sem você por
perto... Mas me aponte dentre as garotas que você conheceu
no ano
passado, que tenha amadurecido tanto quanto a Amanda? HELEN:
(pensativa) É,
pensando por esse lado, ela amadureceu bastante este ano. ANGELINA:
Viu só? É
disso que estou falando... Sem a influência que o Roger teve
na
vida dela, ela ainda não amadureceu. Continuou fútil e
seguindo a Larissa pra tudo quanto é lado. Nunca teve a
oportunidade de se acertar com a irmã, uma vez que foi o
Roger
que primeiro a incentivou conversar com a Nathalia no dia em
que ela
apareceu na frente do colégio para se despedir. Resumindo...
Ela
aponta
com a mão. A câmera se movimenta até Larissa
e Amanda. AMANDA:
Sabe com quem eu transei
ontem? (suspirando) Com o pai da
Suzy. LARISSA:
Meu Deus, Amanda...
Até pai você não perdoa? (ri)
Quem está faltando na cidade pra você transar? Amanda
ri.
A imagem volta para Helen e Angelina. HELEN:
(fazendo careta) Cruzes,
o cara que ela está se referindo tem a aparência de
alguém de 100
anos. ANGELINA:
E piora lá na
frente. Ela vai sair de casa e começará a receber por
sexo. Helen
faz
careta outra vez. Elas começam a andar. HELEN:
Já que você
citou o Cláudio e o Roger, por que ainda não os vi por
aqui? ANGELINA:
Eles não estudam
mais. HELEN:
No Esplendor? ANGELINA:
Não, abandonaram
os estudos de vez. HELEN:
(preocupada) Como
é que é? O que aconteceu? Elas
passam
pela porta do refeitório, entrando no colégio e
caminhando pelo corredor. ::. “For You I Will” - Teddy Geiger (cont.) ANGELINA:
Uma coisa de cada vez.
Como estamos aqui, vamos continuar focando nas pessoas
daqui. HELEN:
Essa é minha
jornada... Eu não deveria poder escolher quem quero ver? ANGELINA:
(sorrindo) Ainda
não. Angelina
para
e olha para a frente. Ela aponta com a cabeça. Helen
desvia
o olhar para a direção apontada e para, ficando em
choque. A câmera se movimenta, mostrando Roma saindo da
sala do
diretor juntamente com um professor. Corta para eles. ROMA:
Mais um ano e eu me
aposento. PROFESSOR:
Não vai mesmo
tentar o estadual? ROMA:
Huh, já tive
grandes times nas mãos e sequer chegamos nas
semifinais...
Não é agora, com esse time, que chegaremos lá. A
câmera se desloca novamente para Helen e Angelina. Helen
sai do
choque. HELEN:
Ele está vivo...
Eu posso me materializar? Ele pode me ver? ANGELINA:
A hora que você
quiser... Só não vá... Helen
não
espera Angelina completar a frase e sai correndo. ANGELINA:
(completando) Fazer
escândalo. Helen
vai
ao encontro de Roma, abraçando-o fortemente. Roma fica sem
reação, ao mesmo tempo surpreso com o abraço. ROMA:
(sorrindo) Calma
aí mocinha... É meu aniversário e eu esqueci? HELEN:
(ainda abraçada a
ele) O Senhor não faz ideia de como é bom te ver...
(o toca sem
acreditar) E vivo! Como isso é possível? ROMA:
(sorrindo) Deve ser
porque eu nunca morri antes, por isso estou vivo... Quer me
mandar pra
cova antes do tempo? Helen
abaixa
o olhar, ainda boba. Roma ri e depois toca a cabeça dela,
saindo junto com o outro professor. ROMA:
(rindo, para o outro
professor) Dá para acreditar? Eu querendo me aposentar e as
pessoas me matando. Helen
permanece
no mesmo estado de antes. Angelina se aproxima. ANGELINA:
Por que está
tão surpresa? HELEN:
Por quê? Ele
morreu... Como eu posso ter influência nele estar vivo? E
como eu
vou me sentir bem com isso? Helen
ergue
as sobrancelhas, esperando uma resposta. Angelina sorri. A
tela
escurece. Abre
no
ginásio. Roma está na quadra, em pé em frente
ao banco de reservas, enquanto os jogadores estão sentados
no
chão, de frente para ele. ROMA:
Bom, estamos encerrando
as atividades para o restante do ano. O campeonato continua,
mas mais
uma vez nós estacionamos na fase de grupos. Então
não há sentido continuar treinando. A
câmera passeia mostrando os jogadores. Entre eles podemos
vemos
Léo e Felipe. ROMA:
A única coisa que
eu peço a vocês é que tentem refletir um pouco no
que estamos perdendo nos últimos anos. Essas pessoas nos
amam
independente da classificação do campeonato, e mesmo
assim, não fazemos por merecer tanta dedicação. E
que no próximo ano, se Deus quiser, possamos fazer um
campeonato
digno... Estão dispensados. Os
rapazes
começam a se dispersar. Léo se aproxima do
treinador. LÉO:
Esse “se Deus quiser aí” é para que eu e o
Felipe nos formemos, não é? Já que você
não tem peito para nos tirar do time. ROMA:
Vocês não
pretendem passar o resto de suas vidas no colegial,
pretendem?
Façam que nem o Gil e se formem de vez. LÉO:
Escuta aqui, velhote...
O pouco de atenção que você teve nos últimos
anos, foi graças aos meus gols. Então por que ao
invés de ficar choramingando o tempo todo, não se ajoelha
e me agradeça por sua carreira não ter sido uma total
perda de tempo? ROMA:
Leonardo, há anos
discutimos a mesma coisa... Estou cansado... Okay, você é
o rei do pedaço, o grande Alfa. Mas eu torço muito mesmo,
que a vida lhe ensine valores. Isso aqui é só o colegial,
nada mais que isso. LÉO:
Já parou para
pensar que o problema está em quem nos treina? Você
é velho, ultrapassado, só sabe ficar gritando na beira da
quadra. Não entende nada de futebol. Já que quer tanto
que eu me forme, aproveita e faça um favor a esse time... Se
aposenta. Roma
apenas
o encara, visivelmente desapontado. Léo sorri e toca o
ombro do treinador, saindo em seguida. A câmera se afasta,
chegando até a arquibancada. Helen e Angelina estão
sentadas. Helen assiste a cena com tristeza no olhar. ANGELINA:
O Léo nunca
aprendeu o significado da palavra “companheirismo”. Os
Gladiadores nunca se tornaram uma equipe unida. A presença
do
Cláudio no time, o mundo do Léo indo abaixo, a
forçada aproximação dos dois, que fez com que ele
começasse a jogar pelo time, aqui nunca existiu. HELEN:
Em
compensação aquele jogo também não existiu
e o Roma não teve um ataque fulminante. ANGELINA:
Helen, existem coisas
precisam acontecer, mesmo que sejam ruins. O Roma morreu
sim, mas ele
foi feliz. Sua maior conquista não foi o campeonato
estadual.
Foi presenciar o crescimento e amadurecimento desses
meninos. A
lição que ele pôde ensinar a eles, é algo
para a vida toda. E sempre ele vai deixar saudades. Helen
concorda
com a cabeça, ao mesmo tempo em que mantém a
mesma expressão triste e pensativa. ANGELINA:
As coisas começam
a fazer um pouco de sentido agora? HELEN:
Basicamente...
(pensativa) Se estamos num plano em que eu não existo, me
veio
algo na mente agora. ANGELINA:
(sorrindo) Acho que sei
exatamente o que vai perguntar. E a resposta é sim. HELEN:
(esperançosa)
Então por favor, me leve até ele. Eu te imploro se
precisar. ANGELINA:
(sorrindo) Não
precisa implorar... Vamos lá. Helen
sorri.
A cena muda imediatamente para um carro passeando por uma
rua de
condomínio. O veículo para em frente a uma casa. Um homem
[Chris O'Donnell] sai de dentro do carro. Ele carrega
consigo um
buquê de flores e uma caixa embrulhada. A câmera fixa no
rosto do homem, ele parece feliz. A
imagem se afasta. Angelina e Helen estão do outro lado da
rua.
Os olhos de Helen estão cheios de lágrimas. Ela faz
menção de ir até ele, mas Angelina a segura. ::. “He Lays In The Reins” - Calexico, Iron
& Wine ANGELINA:
Ele não te
conhece, Helen... Aqui ele não é o seu pai. De nada vai
adiantar ir até lá. HELEN:
Não importa. Eu
quero dar um abraço nele do mesmo jeito. Corta
para
Daniel se aproximando da porta. Uma mulher e uma criança
de
colo o recebem. Ele pega a criança nos braços e entrega
as flores para a mulher, beijando-a em seguida. Helen fica
observando-o. Ela sorri emocionada. ANGELINA:
Ele continuou um homem
romântico e atencioso. HELEN:
(com os olhos
lacrimejando) Então tá aí uma coisa que foi melhor
eu não ter nascido. Se não fosse por mim, ele estaria
vivo e feliz junto com a vovó. É culpa minha, somente
minha. ANGELINA:
E você acha que
ele não foi feliz em sua curta passagem de vida? Acha que
sua
avó não é feliz? Seu pai amava você mais que
tudo neste mundo, mesmo sem ter tido a oportunidade de
conhecê-la. E para a dona Rosa, você foi o maior presente
que Deus lhe deu. Graças a você ela renasceu, lutou,
seguiu em frente. Esse gostinho maravilhoso de ser avó, ela
só pôde provar agora, quando seu pai finalmente resolveu
se casar... Apesar de suas qualidades, ele é muito
compromissado
com o trabalho. Mal tem tempo de visitar a mãe em outra
cidade.
Sua avó, que se sente viva por sua causa, aqui é
solitária. HELEN:
(debulhando em lágrimas) Ainda assim não consigo enxergar
vantagem na minha existência... Não neste caso. ANGELINA:
Vem comigo. A
cena transita para dentro de um apartamento. Marcia está
sentada
no sofá, fumando. Na sua frente, em cima de uma mesinha,
vemos
um copo e uma garrafa de Whisky. Um rapaz aparece sem
camisa. Ele pega
a camisa em cima do sofá e a veste. ::. “He Lays In The Reins” - Calexico, Iron
& Wine (cont.) RAPAZ:
Não quer mesmo
que eu passe a noite aqui? Posso fazer um preço especial. MARCIA:
Não se trata de
dinheiro. Ela
se
inclina e pega uma bolsa do chão, tirando algumas notas de
dinheiro e jogando em cima da mesa. O rapaz pega as notas.
MARCIA:
Fique com o troco. O
rapaz sorri e pisca para ela, saindo de cena em seguida.
Marcia com uma
expressão vazia, se inclina, pega o copo e bebe. A câmera
se afasta um pouco, mostrando Helen e Angelina próximas de
uma
mesa, olhando-a. ANGELINA:
Essa é sua
mãe hoje. Uma mulher amargurada, triste, e que nunca
aprendeu o
que é amar de verdade... O que seria diferente se ela
tivesse
conhecido o seu pai, engravidado de você. A vida dela
começou a mudar quando ela soube que você estava dentro
dela. HELEN:
E mesmo assim ela me
negou quando eu nasci. ANGELINA:
Mas então sua
avó não teria te criado. Se sua mãe não
tivesse se negado a te criar, nossa querida Rosa não estaria
mais conosco. HELEN:
Como assim? ANGELINA:
Ela não
suportaria a perda do filho. Mas você é parte dele...
Você a fez ter um propósito.
E sua mãe, ela te ama, Helen... A dor que ela sente por ter
te
abandonado, nunca vai passar. Mas você a fez conhecer o que
é o amor. Sem você, ela é essa mulher vazia, sem
arrependimentos. Os
olhos
de Helen novamente se enchem de lágrimas. Angelina toca o
rosto dela, solidária. ANGELINA:
Consegue entender que
não cai uma folha de uma árvore, sem que haja um
propósito? HELEN:
(concordando levemente
com a cabeça) Acho que sou capaz de aceitar isso. ANGELINA:
Ótimo! É
pra isso que estou aqui... (respira fundo) Bom, agora se
prepara, pois
vamos começar a entrar em territórios mais sombrios. A
câmera se aproxima do rosto de Helen, que se mostra um
pouco
temerosa. A tela escurece. Abre
com
as duas paradas em frente a uma clínica psiquiátrica. HELEN:
O que estamos fazendo
aqui? ANGELINA:
Esse é o atual
lar de alguém que você gosta muito... Ele sofreu um grande
impacto na vida e não teve amigos para ajudá-lo a passar
pela dor da perda... Veja com
seus
próprios olhos. Corta
para
um quarto branco. Uma pessoa está deitada na cama, de
roupa
branca, descabelada e encolhida, nos impedindo de ver seu
rosto. A
porta do quarto se abre e Helen passa por ela. Ela se
aproxima devagar
da pessoa, olhando-o com bastante tristeza. HELEN:
Roger? Ele
levanta
levemente a cabeça, olhando-a com uma expressão
séria e abatida. Há forte olheiras em volta de seus
olhos. ROGER:
Quem
é você? HELEN:
O que
aconteceu com você? Como veio parar aqui? ROGER:
De novo...
Quem é você? HELEN:
(entristecida) Alguém que te conhece muito e custa acreditar
estar te vendo nessa situação. ROGER:
Perca um
pai, uma mãe e um irmão numa tacada só, e depois
venha me dizer o que é inacreditável. HELEN:
(pensativa) Eu não entendo... Era para supostamente vocês
não terem viajado e sua mãe estar bem com a
criança. ROGER:
(sentando
na cama) Você é do quarto ao lado? E quem disse que
não fomos viajar? Meu pai acreditava que um passeio ao
sítio faria bem ao neném. O que o idiota não
contava era que na volta, no meio da estrada, minha mãe
minha
tivesse uma complicação. HELEN:
O que
resultou na perda do bebê... ROGER:
Não
só do bebê... Minha mãe também morreu
naquele dia. HELEN:
(chocada) Isso é... Isso é... ROGER:
Insano? Bom, bem-vinda
ao meu mundo... (abaixa o olhar) É tudo culpa dele, somente
dele. Se ele não tivesse travado e perdido muito tempo na
estrada... Se eu tivesse conseguido guiar o carro e chegado
a tempo...
Pelo menos ela ainda estaria viva. HELEN:
(com
os olhos brilhando)
E o que aconteceu com o Arthur depois? ROGER:
Huh, aquele fraco
não suportou a culpa, nem viver sem minha mãe...
Está enterrado ao lado do resto da família. (força
a vista) Quem é você? E
por que estou te dizendo essas coisas? Me deram um novo
medicamento?
Deram? Helen
se
aproxima dele e se abaixa na sua frente, colocando a mão
em
sua perna. HELEN:
Mas e o Cláudio?
Vocês não são melhores amigos? Onde ele estava
quando essa tragédia aconteceu com você? ROGER:
Não tenho contato
com aquele imbecil faz muito tempo. HELEN:
Por quê? O que
houve entre vocês? Roger
abaixa
o olhar outra vez. Ele fica em silêncio por alguns
segundos. ROGER:
Nossa amizade
começou a desmoronar depois que a mãe dele morreu. Ele
começou a se revoltar, e nada que eu fazia ou dizia,
conseguia
ajudá-lo. (sentido) Talvez eu devesse ter tentado mais...
Mas
depois de um tempo ele resolveu sumir no mundo. HELEN:
(em choque) A Silvia
está morta... ROGER:
No mesmo
cemitério que a minha família. Helen
continua
em choque. Após alguns segundos ela desvia o olhar para
o braço de Roger. Seus pulsos contêm várias
cicatrizes. Algumas parecerem recentes. Roger tenta
escondê-las. ::.
"Daisy
Chains"
- Youth Group HELEN:
(com pesar no falar) E
você está tentando acompanhá-los desde então? ROGER:
Mas nunca me deixam
chegar até o fim. Sempre tem um idiota para me salvar. HELEN:
Roger, me desculpa... Eu
sinto muitíssimo por tudo isso. ROGER:
Desculpa pelo quê?
Você não teve influência nenhuma nessas coisas. HELEN:
(pensativa) Infelizmente
eu tive sim. Ela
levanta,
se inclina e beija o rosto dele com bastante ternura.
Depois
vai até a porta. ROGER:
Espera aí... Qual
o seu nome? HELEN:
Helen. ROGER:
Você vai voltar
para me visitar mais vezes? HELEN:
(com os olhos cheios de
lágrimas) É você que precisa voltar para gente. Ela
lança
um último olhar a ele e sai do quarto. Roger fica
pensativo por alguns instantes. Ele olha para os pulsos.
Após
alguns segundos, algumas lágrimas caem sobre os pulsos. Lado
de
fora. Helen está encostada em uma pilastra, chorando.
Angelina toca as costas delas, solidária. ::. "Daisy Chains" - Youth Group (cont.) HELEN:
(engolindo o choro) Na
outra vida ele também tentou se matar. ANGELINA:
Na verdade ele pensou em
morrer, mas é diferente daqui. Depois que ele e o Cláudio
deixaram de ser amigos, Roger seguiu sozinho. Não conheceu a
Amanda, não fez parte do grupo popular do colégio.
Então naquela viagem não tinha o Lucio que ajudou a Vera
chegar no hospital a tempo de pelo menos salvar a vida dela.
Roger
não teve o apoio dos amigos no momento mais difícil de
sua vida... Ele pensou em se matar sim no outro plano, mas
antes de
chocar-se com o outro carro, algo o fez desistir na última
hora,
fazendo-o desviar, mas não a tempo de evitar o choque com o
muro... Ainda há esperança para ele no mundo em que você
existe. HELEN:
(após alguns
segundos) Ele disse que a Silvia morreu... Como? ANGELINA:
Lembra quando o
Cláudio desconfiava que a mãe guardava algum segredo
sobre sua saúde? E lembra quem segurou na mão dele e o
levou ao médico para tentar descobrir o que ela tinha? ...
Pois
bem, como você não existe aqui, ele não se sentiu
tão encorajado a descobrir sozinho, e foi adiando esse dia,
até que encontrou a mãe estirada no chão na sala
de casa. O aneurisma havia rompido.
Helen
fecha
os olhos e morde os lábios, fazendo expressão de
dor ao mesmo tempo. ANGELINA:
Mas graças a
você, na outra realidade ele não só descobriu o que
a mãe tinha, como a convenceu da operação.
Aí você sabe, mãe com saúde, pai perdoado,
família, mesmo com alguns problemas, feliz. HELEN:
Tenho até medo de
pensar como ele está aqui... Mas eu preciso vê-lo. Angelina
sorri
e concorda com a cabeça. Helen enxuga as lágrimas e
depois acena com a cabeça, indicando que está preparada. Fachada
de
uma casa velha e de madeira. É noite. Helen se aproxima da
porta e apenas empurra, abrindo-a. Corta para o chão cheio
de
garrafas vazias e papeis espalhados. Praticamente não há
móveis no local. O ambiente está escuro. A porta bate e
Helen se assusta. ::. "Daisy Chains" - Youth Group (cont.) HELEN:
(assustada)
Cláudio? Ela
continua
caminhando até chegar na porta de um quarto. Quando
abre a porta, vemos Cláudio sentando numa cama com o
braço direito esticado, puxando um elástico com a boca e
segurando uma seringa na outra mão. Helen imediatamente
corre
até ele e pega a seringa, jogando-a pela janela. HELEN:
O que está
fazendo? CLÁUDIO:
(boquiaberto, sem
acreditar) Mas que merda é essa? Enlouqueceu? (vai
até a janela) Sabe quanto eu paguei
por isso? HELEN:
Não acredito que
esteja se drogando. CLÁUDIO:
(nervoso) Quem diabos
é você e o que está fazendo na minha casa? HELEN:
Sou alguém que te
ama muito e está quebrada por dentro por te ver assim. CLÁUDIO:
Escuta aqui, se veio me
falar da bíblia, pode vazar, que é o terceiro que eu
expulso só essa semana. Eu não preciso de ajuda. Ele
passa
por ela. Helen se vira na direção dele. HELEN:
Aonde você vai? CLÁUDIO:
Pegar o que sobrou da
seringa. HELEN:
(segurando-o)
Não, por favor... Não faça isso. Você
não é assim. CLÁUDIO:
(tirando a mão
dela de seu braço) Que papo doido é esse? Você
não me conhece... Sai fora da minha casa. Helen
se
antecipa até a porta e encosta nela, impedindo Cláudio
de sair. HELEN:
Não saio
até você conversar comigo. CLÁUDIO:
Eu não gosto de
conversar com ninguém... E não pense que eu não
vou usar a força para te tirar daí. HELEN:
(com pesar)
Cláudio... Você sempre foi uma pessoa atenciosa, que se
preocupava com os outros... Quando isso mudou? CLÁUDIO:
Quando eu percebi que
não vale a pena se preocupar com ninguém... Você
está sozinho nessa merda de vida. Quando você precisa de
um abraço, cadê? Não, eu só penso em mim
agora e estou muito bem assim. Os
olhos
de Helen se enchem de lágrimas. Cláudio levanta as
mãos, sem entender. Ele se afasta e senta na cama. HELEN:
O que aconteceu com o
Lucio, seu pai? CLÁUDIO:
Não toque no nome
daquele cretino. Eu o odeio mais que tudo neste mundo. HELEN:
Ele nunca voltou para
casa, não é? CLÁUDIO:
Depois que a minha
mãe morreu, sim, tentou consertar as coisas entre a gente...
(balança a cabeça) Huh, prefiro viver do jeito que estou,
ganhando uma merreca numa fábrica, do usufruir de qualquer
coisa
que venha dele. Helen
o
olha com bastante pesar. Ela se aproxima, senta ao lado
dele na cama
e começa a acariciar seu rosto. Cláudio a encara por
alguns instantes. CLÁUDIO:
Como sabe da minha vida? HELEN:
Se eu tentar explicar,
vai dizer que eu sou louca. Mas olha, de onde eu vim, todos
amam a
pessoa que o Cláudio é. Atencioso, amigo para todos os
momentos... De onde eu vim, você nunca está sozinho e pode
contar com muita gente. CLÁUDIO:
De fato, você
é louca... Muito, muito louca. É viciada nessas coisas de
ficção científica, certo? Acha que existe outro
mundo paralelo a esse... (ri levemente) Conhecia alguém
igualzinho a você. HELEN:
Roger? Cláudio
para
de sorrir, ao mesmo tempo que fica pensativo e
entristecido. CLÁUDIO:
Eu não quero
falar sobre o passado... Eu quero esquecê-lo. HELEN:
Eu sei que sente uma dor
insuportável dentro do peito... Sei que se acha culpado
por... CLÁUDIO:
(interrompendo) Mas
é minha culpa... Eu sabia que ela escondia algo sério...
Eu sabia que deveria tê-la pressionado, ido atrás do
médico dela... (olhos lacrimejando) É minha culpa que
hoje ela não está mais comigo. HELEN:
E então
você desistiu de tudo... Casa, colégio... Roger. CLÁUDIO:
(balançando
negativamente a cabeça) Colégio... Passei parte da minha
vida almejando ser alguém naquele lugar... Fazer parte da
vida
de alguém. E quando minha mãe morreu, não teve uma
alma para me dar um abraço de condolência... Eu odeio a
minha vida. Odeio muito mesmo. Você não faz ideia. HELEN:
Essa não é
a sua vida... E eu prometo que tudo vai ficar bem. Cláudio
a
encara por alguns segundos. Seus olhos estão brilhando. CLÁUDIO:
Não sei por que
estou me abrindo com você... Acho que nunca fiz isso antes.
HELEN:
É uma
sensação boa não é? Ter alguém para
conversar. CLÁUDIO:
(pensativo) É... É bom sim. Eles
se
encaram e sorriem levemente. A câmera vai se afastando,
transparecendo para fora da casa, fixando essa imagem por
alguns
instantes. A tela escurece. Abre
com
a câmera passeando pelo chão até subir e
mostrar Cláudio e Helen sentados no banco da praça,
conversando. Eles vestem roupas diferentes e comem pipoca.
::.
“Hearbeats”
- José Gonzáles HELEN:
Eu
não sou a favor
de ficar correndo atrás de alguém que não
está nem aí pra você. Mas vamos imaginar que ela
nunca te notou realmente. CLÁUDIO:
Certo, apesar de estudar
no mesmo colégio e morar no mesmo condomínio. HELEN:
Exato! Vamos excluir
esses detalhes insignificantes. Se ela nunca te notou, como
vai notar?
Garanto que não é quando você ganhar um
prêmio nas olimpíadas de matemática. E se
você entrar para o time, não sabe qual será a
reação dela quando começar a se destacar como um
ótimo jogador. Aqueles dois não têm futuro. O
Léo é um idiota, babaca, débil mental, tratante,
filho duma... CLÁUDIO:
(interrompendo)
Wow! Calma aí
revoltadinha! Tem algo que gostaria de me contar? (ri). HELEN:
É...
Não! Vamos nos focar somente em você agora! ...
Como estava dizendo, se a Larissa tem um
pingo de cérebro, esse namoro não vai durar nem quatro
meses. E se mesmo com todas as qualidades negativas que eu
citei, ela
continuar com ele, só vai provar uma coisa... Ela não te
merece. CLÁUDIO:
É...
E como o Roger disse, é o último ano dele. HELEN:
Huh, do jeito que ele
é burrinho e só pensa em futebol, duvido muito disso. Ela
olha
para ele, percebendo que falou o que não devia. HELEN:
Mas isso não quer
dizer que você não deva tentar mesmo assim. Faça o
teste, você pode se dar bem, com ou sem Larissa no seu
caminho. Cláudio
fica
pensativo por alguns instantes. Ele olha para Helen,
admirando-a. CLÁUDIO:
Não acredito que
estou desabafando e aceitando conselhos de alguém que
recém conheci. Mas vou te dizer uma coisa, está me
fazendo muito bem. Talvez eu não precise de uma semana para
te
chamar de melhor amiga. HELEN:
(sorrindo)
Eu sabia que você
não ia demorar muito para ceder aos meus encantos. Eles
continuam
conversando, mas o som encobre o que eles dizem. A
câmera começa a se afastar até mostrar Helen metros
dali, assistindo a cena, emocionada. Angelina aparece ao
lado dela. ANGELINA:
Foi ali que você
começou a mudar a vida dele. Se não fosse por essa
conversa, há 1
ano, no dia seguinte ele
não teria feito o teste para o time e a história que
nós conhecemos, seria completamente outra. Helen
continua
olhando para o seu flashback com Cláudio. A imagem de
ambos começa a desaparecer lentamente, até o banco ficar
vazio. A câmera volta a se fixar em Angelina e Helen. HELEN:
(emocionada) Eu
não imaginava o quanto... (olha para Angelina) E agora? ANGELINA:
Acho que você
já viu o bastante pra tomar uma
melhor decisão se vale a pena ou não fazer a
diferença na vida das pessoas... Agora é hora de
voltar... Me encontre no jardim secreto mais tarde. Angelina
sorri
e sai. Helen a acompanha com o olhar, sem entender. HELEN:
M-mas... Ela
vai
na direção em que Angelina foi e dá de cara
com Cláudio. CLÁUDIO:
Hei... HELEN:
Hei... Você
está bem? CLÁUDIO:
Acho que sim... Pela
primeira vez em muitos anos, sinto uma paz dentro de mim...
(abaixa e
levanta o olhar) Ouça, eu não sei quem você
é, não sei o que fez comigo naquela casa, e parei de
acreditar no sobrenatural há um bom tempo. Por isso vou te
perguntar mesmo que pareça estúpido... Você
é um anjo? HELEN:
(sorrindo) De certa
forma, sou seu anjo sim. Nós estamos conectados, e eu
prometo
continuar na sua vida por muito tempo. CLÁUDIO:
(sorrindo) Eu gostaria
disso. Helen
coloca
as duas mãos no rosto dele e levanta os calcanhares,
alcançando os lábios dele e beijando-os carinhosamente. ::. “In My Place” - Coldplay HELEN: Eu te amo. Ela
sorri
e acaricia o rosto dele. Cláudio fecha os olhos. Helen
começa a se afastar. Cláudio abre os olhos e sorri,
colocando delicadamente a mão na boca. Helen
caminha
pela avenida da praça, observando o movimento e
aparentando refletir. A câmera muda para Léo e sua turma
próximos de seu carro. Eles riem, conversam e bebem. Entre
eles
podemos ver Amanda e Larissa. Helen passa por perto e
para, olhando-os.
Léo a olha e acena discretamente com a cabeça. Helen
responde com um sorriso. Após alguns segundos, ela volta a
andar. Fachada
do
Colégio Esplendor. Roma caminha segurando uma caixa. Ela
vai
até o carro e abre o porta-malas, colocando a caixa
dentro.
Helen aparece e se aproxima dele. Roma sorri. ::.
“In
My Place” - Coldplay (cont.) ROMA:
(sorrindo) Olha se
não é a mocinha que pensou que eu estava morto. HELEN:
(olhando para a caixa) O
que está fazendo? ROMA:
(respirando fundo) Acho
que chegou a hora de me aposentar... As coisas não saíram
como planejado. Ele
fecha
o porta-malas e vai até a frente do veículo. HELEN:
Treinador... Roma
se
vira e a olha. HELEN:
O senhor conseguiu muito
mais do que planejou. Ganhou filhos aqui neste colégio e
sempre
será lembrado como um herói, pai, companheiro... Amigo.
Foi uma grande honra te conhecer. Roma
apenas
a encara por alguns segundos. Ele fecha os olhos e sorri,
acenando com a cabeça. Helen também sorri e depois
continua caminhando. Roma coloca a mão na porta do carro.
Ele
está pensativo, ao mesmo tempo, emocionado. A imagem
congela em
seu rosto, e aos poucos vai transparecendo. Vista
aérea
do jardim do topo da cidade. A câmera mostra Helen
subindo a escada até chegar ao jardim. Ela caminha até o
mirante onde é possível ter uma vista panorâmica da
cidade. O lugar está iluminado. Ouve-se alguns passos.
Helen
sorri, mas sem se virar. ::. “In My Place” - Coldplay (cont.) HELEN:
Eu quero continuar
fazendo a diferença. Ela
olha
para trás. Close em Angelina poucos metros dali, olhando-a
com um sorriso na face. ANGELINA:
Eu tinha certeza que
você tomaria a decisão certa... As pessoas não
estão isentas de sofrer no mundo. O que temos que aprender,
é enfrentar os problemas ao invés de tentar
ignorá-los... Toda vez que nos propomos a aceitar as coisas
como
são, ainda que não as ideais, nosso caminhar se torna
mais leve. HELEN:
(após alguns
segundos) A gente vai se ver outra vez? ANGELINA:
Eu espero que
não. A não ser que você tenha uma recaída e
eu tenha que lhe mostrar uma realidade dez vezes pior que
essa. Helen
ri,
depois se aproxima de Angelina e lhe abraça forte.
Angelina
fecha os olhos e retribui o abraço com ternura. ANGELINA:
Deite-se naquele
banco... Logo você pegará no sono e acordará no seu
mundo. HELEN:
Obrigada... Por tudo. ANGELINA:
Só fiz o meu
trabalho. HELEN:
Um trabalho de anjo? ANGELINA:
(sorrindo) Isso é
você que está dizendo. Helen
sorri
outra vez, depois caminha até o banco. A câmera
começa a subir devagar. Helen chega no banco e se deita. ANGELINA:
(em off) Não
espere um sorriso para ser gentil. Não espere ser amado
para
amar. Não espere ficar sozinho para reconhecer o valor de
um
amigo. Não espere ter muito para poder compartilhar um
pouco que
seja. Não espere a queda para se lembrar do conselho. Não
espere a dor para acreditar na oração. Não espere
ter tempo para poder servir. Não espere a mágoa do outro
para pedir perdão. Não espere tanto porque a gente nunca
sabe quanto tempo ainda tem... Portanto, expresse sempre o
melhor de
você, pois o mundo é o resultado do que irradiamos e
manifestamos. Lentamente
a
tela escurece. Abre
mostrando
Helen deitada na cama de um quarto de hospital. Ela abre
os
olhos devagar. A câmera abre, mostrando Cláudio e Gustavo
dentro do quarto. Gustavo está sentado de olhos fechados,
enquanto Cláudio está em pé, olhando para a
janela. HELEN:
(falando com
dificuldade) Adoro quando consigo juntar vocês dois no mesmo
ambiente. Cláudio
e
Gustavo imediatamente a olham e se aproximam da cama. CLÁUDIO:
(aliviado) Graças
a Deus você acordou. HELEN:
Quanto tempo eu... GUSTAVO:
Um ano. HELEN:
(arregalando os olhos)
Um ano? CLÁUDIO:
(balançando
negativamente a cabeça) Um dia. Helen
respira
aliviada e olha para Gustavo. GUSTAVO:
(sorrindo) Foi um susto
merecido. HELEN:
Basicamente... (respira
aliviada outra vez) Estou tão feliz em ver vocês assim,
desse jeitinho... Bem. Eu tive um sonho, não sei explicar...
Mas
as coisas estavam bem ruins. Vocês estavam tão diferentes. CLÁUDIO:
(tocando a mão
dela) As coisas só estariam ruins pra gente se você nunca
tivesse passado em nossas vidas... Você mudou a minha vida,
Helen. Helen
sorri
com meiguice. Gustavo se movimenta. GUSTAVO:
Bom, vou deixar os
pombinhos aí nesse mel todo e passar na sala de espera pra avisar a todos que você acordou.
HELEN:
Todos quem? CLÁUDIO:
Sua mãe, sua
avó, o Felipe, a Priscila, o Gil, a Amanda, a Lívia... O
quê? Acha que é pouco querida? Helen
sorri
outra vez. Gustavo abre a porta. Helen o chama. HELEN:
Psiu... Gustavo
para
e a olha. HELEN:
Desculpa pelas coisas
que disse antes... E obrigada por cuidar de mim. GUSTAVO:
(sorrindo) Fica fria,
Dorothy... Eu sei que você sempre vai me amar. Ele
sai.
Cláudio e Helen se encaram por alguns instantes. CLÁUDIO:
Fiquei com tanto medo
que o pior pudesse acontecer. Eu não suportaria te perder. Helen
segura
não dele, leva até a boca e a beija de forma
carinhosa. Livia aparece no quarto. LIVIA:
Mas esses jovens de Bom
Destino adoram um hospital, não é mesmo? Cláudio
e
Helen riem. Livia se aproxima. LIVIA:
Estou muito feliz que
esteja bem... Deu um grande susto em todos nós. HELEN:
(sorrindo) Obrigada...
Mas vamos dizer que foi um processo que dessa vez eu
precisei passar. LIVIA:
Bom, vou aproveitar que
estou aqui e dar um pulinho ali no quarto do Roger. CLÁUDIO:
Okay, daqui a pouco eu
dou uma passada por lá também. Livia
acena
com a mão e sai. Cláudio e Helen novamente se
encaram por alguns instantes. ::. “Empty Room” - Marjorie Fair CLÁUDIO:
Então, perna
engessada... Vai precisar de um ajudante por uns tempos. HELEN:
E por acaso você
se candidataria ao cargo? CLÁUDIO:
(sorrindo) Totalmente. Eles
continuam
conversando, mas o som aumenta, encobrindo suas vozes. A
imagem começa a se afastar devagar, até transparecer para
o chão do corredor. Sobe mostrando Livia pelas costas,
caminhando. HELEN:
(em off) “A vida nos revela segredos e nos mostra caminhos que sequer imaginávamos existir. A vida nunca é igual, e cada
momento da vida que passa, não volta jamais”. Corta
para
a entrada do quarto de Roger. Livia chega e encosta na
porta,
sorrindo. Após alguns segundos ela começa a desfazer o
sorriso, abrindo bem os olhos, e desencostando da porta. HELEN:
(em off) E é nos
momentos em que menos esperamos, que ela pode nos
surpreender ainda
mais. A
câmera se desloca devagar até a cama. Roger está de
olhos abertos, olhando para o teto. Após alguns segundos
ele
vira a cabeça e olha na direção de Livia. A
câmera se aproxima lentamente do rosto de Livia que está
em choque. Seus olhos se enchem de lágrimas. A
câmera se aproxima lentamente do rosto de Roger, que
continua
olhando-a. A tela escurece.
CREDITOS
FINAIS: CRIADO
E
ESCRITO POR: Thiago
Monteiro
PARTICIPAÇÕES
ESPECIAIS Meredith Monroe como
Angelina Barry
Corbin
como Roma David Gallagher como Léo Chris O'Donnell como Daniel MÚSICA
TEMA “Meant
To Live” - Switchfoot TRILHA
SONORA “Everywhere She Goes” - Across The Sky
“Happy Is A
Yuppie
Word” - Switchfoot “For You I Will”
- Teddy Geiger “He Lays in the
Reins” - Calexico, Iron & Wine “Daisy Chains” -
Youth Group “Heartbeats” -
José González “In My Place” -
Coldplay “Empty Room” -
Marjorie Fair Copyright
© 2007 |