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Lentamente a tela abre mostrando Roger deitado na cama do quarto hospitalar. O ambiente está um pouco escuro e seus olhos estão fechados. A câmera começa a se aproximar devagar dele.

 

::. “Beautiful Lord” - Leeland

 

ROGER: (em off) Se na metade do ano viessem me questionar a respeito da existência de milagres, a resposta seria firme e dura. Minha vida estava uma droga e só um tolo acreditaria bobagens milagrosas.

 

Fixa a imagem de seu rosto. Ele está com aparência tranquila.

 

ROGER: (em off) Mas um famoso sábio disse uma vez... “Há duas formas para viver a sua vida... Uma é acreditar que não existe milagre. Outra é acreditar que todas as coisas são um milagre” ... E após questionar até mesmo a existência de Deus, hoje, acho que posso me enquadrar no segundo grupo. (breve silêncio) Eu sou um milagre.

 

LEGENDA: Duas semanas depois.

 

Ele abre os olhos e fica olhando para o teto por alguns instantes. Depois, vira para o lado direito. A câmera focaliza Vera deitada num sofá. Ele abre um sorriso e começa a tossir. Vera acorda imediatamente e vai até ele.

 

VERA: (preocupada) Hei, meu amor... Você está bem?

 

ROGER: Eu estou bem... É só garganta seca, só isso.

 

Vera se desloca até uma mesinha próxima da porta e pega um jarro transparente com água, despejando-a em um copo. Depois, vai até Roger, que com certa dificuldade inclina a cabeça, enquanto Vera o ajuda a beber.

 

VERA: Quer mais?

 

ROGER: Não, obrigado... (olha para o sofá) Mãe, eu já disse que não precisa dormir aqui nesse sofá desconfortável.

 

VERA: Está brincando comigo? Se eu praticamente morei aqui enquanto você estava dormindo, não é agora que eu vou ligar para um sofazinho que nem é tão desconfortável assim... Além do mais, se eu não estivesse aqui, quem iria te dar água agora?

 

ROGER: (sorrindo) Pra isso existe esse botãozinho que eu aperto e uma enfermeira aparece.

 

VERA: Bom, mas a enfermeira não é sua mãe... (olha com desconfiança) Você sabe que eu sou sua mãe, não sabe?

 

ROGER: (rindo com dificuldade) Claro que sei... Aos poucos todas as lembranças estão voltando.

 

VERA: (aliviada) Que bom. Não ia aguentar mais uma vez meu filho me perguntando “quem é você”. Apesar de que, nos últimos meses eu me comportei de forma irreconhecível mesmo.

 

ROGER: Todos nós nos comportamos assim... Eu sei que ainda está sofrendo muito com tudo o que aconteceu. Não precisa se fingir de forte por minha causa... E eu juro não queria te causar mais dor... Me perdoa pelo que fiz.

 

VERA: (passando a mão na cabeça do filho) Oh, meu amor... Você não tem que pedir perdão por nada. Eu sou a adulta aqui. Me foquei tanto na dor de perder o seu irmãozinho, que não me dei conta que você também estava sofrendo. Então, a única que deve se desculpar aqui, sou eu, por deixar de lado o meu primogênito.

 

ROGER: (com os olhos brilhando) Não vamos mais falar do passado então... Vamos nos focar no presente e no que está por vir. E espero e torço para que possamos ser uma família feliz de novo.

 

VERA: (emocionada) E eu prometo me esforçar ao máximo para reconstruir a nossa família... (sorri) Eu te amo.

 

ROGER: (sorrindo) Eu te amo também.

 

VERA: Agora tente voltar a dormir. Você ainda precisa de bastante repouso.

 

ROGER: Você não acha que eu já dormi demais não?

 

VERA: Com toda a certeza... Mas dessa vez sei exatamente a hora em que você vai acordar. E isso já me tranquiliza.

 

Roger sorri e fecha os olhos. Vera se inclina e beija a testa do filho.

 

VERA: Boa noite, filho.

 

ROGER: Boa noite, mãe.

 

Roger continua com os olhos fechados, enquanto Vera volta para o sofá. Ela fixa o olhar no filho por alguns instantes, depois, sorri novamente, emocionada. A tela escurece.

 

 

 

 

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Quarto hospitalar. Pela claridade da janela, nota-se que é dia. Roger está sentado na cama, tentando comer uma gelatina. Ele leva a colher até a boca com dificuldade, e quando está perto de colocá-la para dentro, a gelatina cai. Roger bufa.

 

::. “The Freshmen” - The Verve Pipe

 

ROGER: Droga! Eu nunca me dei bem com gelatina, especialmente agora que minha coordenação motora está péssima.

 

A câmera se movimenta, mostrando Livia encostada na porta. Ela está sorrindo.

 

LIVIA: (se aproximando) Vai levar um tempinho até que você volte a estar 100%.

 

ROGER: Bom, era melhor quando eu não tinha noção do tempo.

 

LIVIA: Então é bom aprender a ter paciência.

 

Roger sorri para ela, em seguida força a vista, expressando dúvida.

 

ROGER: Perdão, quem é você mesmo?

 

Livia o olha com desconfiança. Roger ri, com dificuldade.

 

LIVIA: (balançando a cabeça, em reprovação) Pelo menos a memória trouxe o senso de humor de volta... Quer alguma coisa? Água, cobertor, outra gelatina, ou quem sabe, uma historinha?

 

ROGER: Liv, eu não estou mais em coma.

 

LIVIA: Mas ainda precisa de cuidados.

 

ROGER: Só que eu consigo me virar... (pensativo) Exceto quando tento comer uma gelatina. Mas onde já se viu servir gelatina a alguém que nem consegue segurar uma colher?

 

LIVIA: Viu só? Por isso ainda precisa de mim, bastante.

 

ROGER: É claro que eu preciso de você, o tempo todo... Eu só não quero te dar mais trabalho.

 

LIVIA: Roger, não é trabalho cuidar de você... Esqueceu o quanto eu te am...

 

Ela para de falar e sorri sem graça.

 

LIVIA: Desculpa... Quer que eu peça outra gelatina?

 

ROGER: Não, estou com trauma disso. Podemos nunca mais falar em gelatina?

 

LIVIA: (sorrindo) Okay... E agora?

 

ROGER: Estava pensando... Desde que venho recuperando minhas lembranças, notei que algumas pessoas ainda não vieram me visitar... Você sabe o porquê?

 

Livia se aproxima mais e senta ao lado dele na cama. Eles se encaram por alguns segundos.

 

LIVIA: Dessas lembranças que estão voltando, alguma teria a ver com a noite do acidente?

 

ROGER: Basicamente.

 

LIVIA: Então desse ser por isso que alguns ainda se sentem um pouco temorosos.

 

Roger concorda com a cabeça e fica pensativo. Livia continua encarando-o.

 

LIVIA: Tudo bem sentir falta da Amanda.

 

ROGER: (olhando-a) O quê?

 

LIVIA: Ela virá quando não se sentir mais insegura com o modo com que você possa reagir. Aí vocês poderão se acertar de vez.

 

ROGER: Mas...

 

Livia não o deixa terminar de falar, levantando rapidamente da cama e indo até o televisor.

 

LIVIA: Vou colocar um Dvd pra gente assistir.

 

Roger fica observando Livia com uma expressão confusa. Ela está de costas para ele, escolhendo os Dvd’s. Corta para o rosto de Livia, ela parece triste.

 

 

Casa de Helen. A porta abre e Cláudio entra, trazendo Helen no colo. A perna direita dela está engessada, e na mão direita, segura uma muleta.

 

HELEN: (rindo) Quantas vezes eu vou ter que te dizer que não precisa me carregar no colo?

 

CLÁUDIO: Quando você conseguir subir esses míseros quatro degraus da varanda em menos de cinco minutos, posso pensar em não te carregar.

 

HELEN: Ah, então você não está fazendo isso por mim?

 

CLÁUDIO: Está brincando? Quem aguenta esperar dez minutos por quatro degraus? Quatro degraus.  

 

HELEN: Só por causa disso você vai me levar ao meu jardim secreto... Já contou quantos degraus tem aquela escada até chegar ao topo?

 

Cláudio coloca Helen no sofá. Ele estica a perna dela em uma mesinha. Depois se alonga. Helen o olha com indignação. Rosa aparece.

 

ROSA: Trouxe ela no colo outra vez? Pobre garoto, vai ter problemas na coluna desse jeito. Já reparou o quanto a Helen deu engordadinha nos últimos dias?

 

HELEN: Não é verdade... (para Cláudio) Você acha?

 

CLÁUDIO: Bom, o peso deu uma bela variada da primeira e última vez que te carreguei.

 

HELEN: (indignada) Mentira!

 

ROSA: Agora é o dia inteiro, sabe... Marcia, traz alguma coisa para eu comer... Vovó, estou com sede, me traz algum refrigerante... (sussurra para Cláudio) Se está com sede, não deveria pedir água?

 

Cláudio ri. Helen mantém a expressão de indignação.

 

HELEN: Okay, podem parar com essas inverdades sobre a minha pessoa. É um completo exagero... Eu não estou folgada.

 

ROSA: Huh, não pouco... Daqui a pouco vai querer que a leve ao banheiro.

 

CLÁUDIO: Que escove os dentes.

 

ROSA: Lhe dê banho.

 

CLÁUDIO: Corte a comida em milhares de pedacinhos e lhe dê tudo na boquinha.

 

HELEN: Tá bom, seus conspiradores... Talvez eu esteja mesmo um pouquinho folgada... Mas é porque eu nunca recebi tanta atenção assim... (para Cláudio) E você, mocinho, que se candidatou a ser meu enfermeiro particular.

 

CLÁUDIO: (sorrindo) Estou brincando, bobinha... Eu faço tudo com um enorme prazer.

 

HELEN: (animada) Então diz que eu não engordei, diz?

 

CLÁUDIO: Um bom relacionamento se constrói através da honestidade, você sabe disso.

 

Helen pega uma almofada e ataca em Cláudio, que ri outra vez. Rosa também ri e se movimenta para sair.

 

ROSA: Eu vou preparar o almoço... Talvez eu prepare um prato só com saladas pra você querida, o que acha?

 

HELEN: Eu não estou gorda!

 

Ouve-se apenas o riso de Rosa fora de cena. Helen olha com meiguice para Cláudio.

 

HELEN: (dengosa) Cláudio, lindo, lindão, fofo... Diz que eu não estou gorda.

 

CLÁUDIO: (sorrindo) Você não está gorda, nem cheinha, pode ficar tranquila.

 

Helen sorri vitoriosa. Cláudio senta ao lado dela no sofá.

 

CLÁUDIO: Então, planos para hoje à noite?

 

HELEN: Não sei, me diz você.

 

Cláudio fica pensativo por alguns segundos. 

 

CLÁUDIO: Acho que está na hora de encarar o inevitável.

 

HELEN: Graças a Deus, já era tempo. Já estava pensando que teria que abrir a sua mente mais uma vez.

 

CLÁUDIO: Como sempre faz... Quando será a minha vez de influenciar a sua vida?

 

HELEN: (sorrindo) Você já fez, várias vezes... Pode acreditar em mim.

 

Cláudio a encara com extrema admiração, ao mesmo tempo em que sorri.

 

::. “I'll Be” – Low vs Diamond

 

CLÁUDIO: Eu já disse que te amo?

 

HELEN: (sorrindo) Várias vezes.

 

CLÁUDIO: E eu acho que nunca será o bastante... Eu te amo... E independente de nossa atual situação, não vou deixar de amar.

 

Helen pega na mão dele e a beija de forma carinhosa. A câmera começa a se afastar, ao mesmo tempo em que a imagem vai transparecendo até mudar de cenário.

 

 

Close numa mão apenas girando o canudo num copo de plástico. A câmera abre, mostrando se tratar de Amanda. Ela está em uma mesa no lado de fora da lanchonete. Larissa aparece e para na sua frente.

 

::. “I'll Be” – Low vs Diamond (cont.)

 

LARISSA: Oi Amanda.

 

AMANDA: (erguendo o olhar) Oi Larissa.

 

LARISSA: Posso te fazer companhia?

 

Amanda ponta para a cadeira. Larissa se senta e encara a amiga que parece distante.

 

LARISSA: Você está bem?

 

AMANDA: Estou ótima... E você?

 

LARISSA: Bem também... E feliz por conseguir me controlar e não dar dor de cabeça em ninguém por enquanto.

 

AMANDA: (distante) Que ótimo, talvez eu vá também.

 

LARISSA: (sem entender) Vá aonde?

 

AMANDA: Desculpa, do que você estava falando?

 

LARISSA: Deixa pra lá... Essa sua distração toda tem a ver com o Roger?

 

Amanda não responde, apenas mexe os lábios. Larissa ergue uma das mãos.

 

LARISSA: Desculpa, estou passando dos limites... Preciso me contentar só com o fato de você ter me deixado sentar aqui.

 

AMANDA: Esquece isso, estou precisando desabafar mesmo. Vamos esquecer por um momento que nós não somos mais amigas. 

 

LARISSA: Okay... Um pouco duro, mas é um começo.

 

AMANDA: A ansiedade que eu tinha para que ele voltasse, caminhava junto com a incerteza de como ele me receberia depois de tudo o que eu fiz. No final das contas, eu não me preparei para esse dia.  

 

LARISSA: Então é por isso que você ainda não foi visitá-lo? Tem medo de como ele vai reagir?

 

AMANDA: E mais para preservá-lo também. Ele voltou há pouco tempo, eu não sei como está se sentindo com relação à minha pessoa. Prefiro tentar não aborrecê-lo por enquanto.

 

LARISSA: Bom, se serve de alguma coisa, ele perguntou de você.

 

AMANDA: (surpresa) Você foi visitá-lo?

 

LARISSA: (sorrindo) Mas é claro que fui... O Roger é uma das poucas pessoas que eu não tinha tanta intimidade a ponto dele ficar com raiva de mim, por causa do meu isolamento na capital. É bom conversar com alguém assim.

 

AMANDA: Bom pra você. 

 

Ela esboça um rápido sorriso e volta a mexer os lábios, como um tipo de tique. Larissa a olha de forma solidária.

 

LARISSA: Hei, eu sei que não estou em condições de te dar qualquer tipo de conselho, mas como momentaneamente estamos esquecendo que não somos mais amigas, vou arriscar um... Encara isso de vez. Pelo que pude perceber, ele quer recomeçar, e talvez não haja espaço para qualquer tipo de rancor, com qualquer pessoa.

 

AMANDA: (receosa) Eu não sei... Eu disse tantas coisas duras na última vez que nos falamos. (abaixa o olhar) Eu disse que o odiava.

 

LARISSA: Pare de se torturar... Ele sabe que não era verdade. Vá, e eu tenho certeza que sairá daquele hospital completamente aliviada.

 

Amanda parece refletir. Larissa sorri para ela. Amanda sorri também.

 

AMANDA: Você tem razão... De qualquer jeito eu preciso enfrentar isso, e mesmo que ele me diga algo negativo, vou com o pensando que mereci ouvir.

 

LARISSA: Isso, mas tira essa negatividade de pensamento. Vai dar tudo certo.

 

AMANDA: (sorrindo) Obrigada, você foi a melhor conversa de melhor amiga momentânea que eu poderia ter.

 

LARISSA: (sorrindo) Então agora podemos voltar a ser ex amigas.

 

AMANDA: Exatamente... Mas com ressalvas. Não posso querer tanto o perdão de uma pessoa se eu ainda guardo mágoas de outra.

 

LARISSA: Então eu posso ter esperança?

 

AMANDA: Talvez.

 

Amanda sorri e levanta, saindo em seguida. A câmera permanece em Larissa, que esboça um largo sorriso. A tela escurece. 

 

 

Quarto em que Roger está. Close numa mão segurando um controle. A imagem abre, mostrando se tratar de Arthur. Atrás, podemos ver Roger deitado na cama. Arthur se vira para o filho.  

 

ARTHUR: Dublado?

 

ROGER: Infelizmente... No momento não estou muito bem para acompanhar legendas... Cadê a dona Vera?

 

ARTHUR: Foi na casa da jararaca da sua avó. A “véia” ficou de fazer aquele bolo que você adora. Consegue se lembrar?

 

ROGER: (sorrindo) Nozes.

 

ARHTUR: (sorrindo) É o meu prefiro também. 

 

ROGER: (após alguns segundos) Como vocês dois estão? Digo, o casamento.

 

ARTHUR: Em tempos melhores.

 

Arthur se volta para a televisão. Roger o encara por alguns instantes. Um som instrumental começa a tocar.

 

ROGER: Pai... No dia que eu saí de casa, eu disse algumas coisas que...

 

ARTHUR: (se virando, interrompendo) Está tudo bem, filho... Não precisamos falar disso agora.

 

ROGER: Mas eu tenho que falar... Embora eu ainda seja contrário a atitude que tomou, quero que saiba que eu entendo o que fez. E eu não te odeio.

 

Arthur coloca a controle na mesinha e fica de costas para Roger. Ele leva a mão na região dos olhos, mas sem que possamos ver.

 

ROGER: Está chorando?

 

Arthur se vira novamente e se aproxima com os olhos lacrimejando.

 

ARTHUR: Você não tem ideia de como é viver com a sensação de não saber se terá uma chance de se acertar com o próprio filho... (lagrimas escorrem) Eu temi tanto que você cumprisse o que prometeu naquela noite e nunca mais me perdoasse.

 

A câmera dá um close nos olhos de Roger que também começam a lagrimejar.

 

ROGER: Como eu iria ficar com ódio eterno do meu grande herói?

 

Arthur não se segura e chora copiosamente. Roger ri em tom emocionado. Arthur se aproxima mais e abraça forte o filho. Roger corresponde na mesma intensidade. A câmera começa a se afastar lentamente e a imagem começa a transparecer, mostrando Roger já sozinho quarto. Ele assiste televisão. Ouve-se alguns passos de alguém se aproximando e parando. Roger olha na direção da pessoa.

 

::. “Come Undone” (acoustic) - Jackson Waters

 

ROGER: Já estava na hora de você aparecer.

 

A câmera se movimenta, mostrando Cláudio parado na porta do quarto.

 

CLÁUDIO: (entrando) Eu era um dos que mais estava ansioso para que você acordasse logo. Mas conforme você foi recuperando a memória, um sentimento de pavor começou a me acompanhar.

 

ROGER: Se refere ao que aconteceu na noite do baile?

 

CLÁUDIO: Se lembra exatamente daquela noite?

 

ROGER: Que eu disse pra você esquecer que eu existo, que eu iria fazer a mesma coisa?

 

Cláudio concorda com a cabeça, mas nada diz. Roger balança a cabeça, em reprovação.

 

ROGER: Cláudio, há quanto tempo nos conhecemos?

 

CLÁUDIO: Desde crianças.

 

ROGER: E você realmente acredita que algumas palavras ditas num momento de raiva seriam capazes de destruir uma amizade como a nossa?  

 

CLÁUDIO: Eu fiquei com medo, não sabia como você iria voltar. Você estava tão repleto de ódio naquela noite. Talvez precisasse de um tempo ainda para colocar as coisas no lugar. Achei melhor me afastar um pouco.

 

ROGER: Mas se você estivesse no meu lugar, nossa amizade estaria perdida?

 

CLÁUDIO: De forma alguma.

 

ROGER: Então está aí a resposta.

 

Cláudio se solta, respirando aliviado. Ele se aproxima mais de Roger.

 

CLÁUDIO: Ô, meu brother, você não imagina como é ficar na incerteza.

 

ROGER: (sorrindo) Acha que eu não sei? Nos últimos meses, o que mais experimentei foi incerteza. No entanto, a vida está me proporcionando uma oportunidade de recomeçar. Portanto, o que ficou no passado, permanece no passado. O que mais desejo agora é trazer alegria às pessoas que são importantes para mim e que se importaram comigo: meus pais, meus amigos, (enfatiza) meu melhor amigo... E a garota que amo.

 

CLÁUDIO: (desconfiado) A garota que você ama?

 

ROGER: (sorrindo) É, mas pode ficar tranquilo que dessa vez não vou jogar o carro contra a parede... Sempre existe uma ponte para pular.

 

Eles riem, mas Roger, com um pouco de dificuldade.

 

CLÁUDO: É muito bom te ter de volta.

 

ROGER: E é muito bom estar de volta.

 

O som aumenta e toma conta, encobrindo o que eles dizem. Eles continuam dialogando, mas dessa vez de um jeito mais animado.   

 

 

Praça do centro da cidade. É noite. Livia está sentada no banco, sozinha. Ela limpa o rosto, enxugando algumas lágrimas. A câmera abre, mostrando Gustavo se aproximando dela.

 

::. “Lawman” - Belasco

 

GUSTAVO: Livia, você está bem?

 

LIVIA: (limpando o rosto) Oi Gustavo... Sim, estou bem.

 

Ela tenta disfarçar esboçando um sorriso forçado. Gustavo sorri.

 

GUSTAVO: A desculpa do cisco no olho?

 

LIVIA: (sorrindo) Sempre.

 

GUSTAVO: Aconteceu alguma coisa com o Roger?

 

LIVIA: Não, ele está bem... (incomodada) Hei, eu tenho uma vida também, sabia? Por que não perguntou se aconteceu alguma comigo?

 

GUSTAVO: (rindo) Bom, não pode culpar alguém de associar vocês dois logo de cara.

 

LIVIA: (entortando a boca) É, meu passado recente me condena.

 

Gustavo a encara por alguns segundos, depois senta ao lado dela.

 

GUSTAVO: Okay, aconteceu alguma coisa com você?

 

LIVIA: Mais ou menos.  

 

GUSTAVO: E tem a ver com o Roger?

 

LIVIA: (bufando) Brr, tem, você venceu.

 

GUSTAVO: Quer conversar a respeito?

 

LIVIA: Com você?

 

GUSTAVO: Está vendo mais alguém por aqui?

 

Ele ergue as sobrancelhas. Livia fica pensativa por alguns segundos.

 

LIVIA: Deus, eu me sinto tão egoísta... Era para eu estar feliz por ele estar bem e querer recomeçar, mesmo que seja com outra... Não acha?

 

GUSTAVO: E o que te faz ter tanta certeza que ele quer estar com outra?

 

LIVIA: Perguntar mais de uma vez por ela responde a sua pergunta?

 

GUSTAVO: Não muito... Quer dizer, os dois têm assuntos pendentes para resolver, mas isso não quer dizer que ela é a escolhida.

 

LIVIA: Vai dar no mesmo, Gustavo. Ela vai chorar, ele vai chorar, eles vão se perdoar, vão se abraçar, e no final, se beijar. Aí terei que ver aquelas expressões de “pobre Livia” por toda a parte... Mas sabe o que é pior? Eu sabia que isso ia acontecer, tinha plena certeza de tudo. Eu mesma fui na casa dela pedir para que ela fosse visitá-lo no hospital enquanto ele ainda estava em coma... Então por que eu tenho que me sentir assim?

 

GUSTAVO: Porque por mais altruísta que fosse a sua atitude, você é humana, e ama, e no fundo guardava esperanças que esse amor fosse correspondido... É extremamente normal que se sinta assim agora.

 

Livia parece refletir. Gustavo se mexe no banco.

 

GUSTAVO: Mas o que eu me questiono é, ele deixou claro para você que quer a Amanda de volta?

 

LIVIA: Só se ele estivesse muito insensível para me dizer com todas as letras... Mas está na cara, ela foi tudo na vida dele. Antes do acidente, ele queria voltar para ela.

 

GUSTAVO: É, mas coisas mudam em pouquíssimo tempo, sabe?

 

LIVIA: Só que nesse tempo ele estava em coma. Para ele entre aquela noite e hoje são duas semanas. Quer dizer, uma, já que ele demorou alguns dias para recuperar a memória. 

 

GUSTAVO: Uma semana é mais do que tempo, vai por mim. Não importa o que ela já representou a ele no passado, o que importa é que ela representa agora. E se formos colocar algumas coisas na balança, você ganha de lavada.

 

LIVIA: Mas eu não quero ser dele por premiação, eu quero que ele me ame.

 

GUSTAVO: E quem garante que ele não te ama, criatura de Deus? Tudo o que você me disse até agora são apenas suposições que você supôs, nada mais do que isso. Pare de se lamentar e abra caminho para outra oportunidade. Vá à luta pelo que você quer.

 

Livia novamente parece refletir. Gustavo mexe com a cabeça, aguardando uma resposta.

 

LIVIA: Quer saber? Você tem razão. Não vou abrir caminho dessa vez assim tão fácil. Eu tenho o direito de tentar.

 

GUSTAVO: Isso! Assim que eu gosto de ouvir, determinação, correr atrás, como eu faço.

 

LIVIA: Eu disse que vou tentar... Isso até comprovar se ele me quer ou não. Mas também não vou ficar correndo atrás de quem está nem aí pra mim. Entendeu?

 

GUSTAVO: Sim, entendi.

 

LIVIA: Entendeu mesmo?

 

GUSTAVO: Por que precisa de confirmação? Brr, eu não corro atrás de quem está nem aí pra mim. Até parece.

 

LIVIA: (incrédula) Sei... (sorri após alguns segundos) Obrigada pela conversa. É um lado bacana seu que pouca gente deve conhecer.

 

GUSTAVO: É, e vai continuar assim, então, zíper na boca... Eu tenho uma reputação a zelar.

 

Livia ri. Eles continuam conversando, mas o som aumenta, encobrindo suas vozes. A câmera sobe mostrando a praça numa vista aérea. Transparece para o céu estrelado, e quando desce, vemos a frente do hospital.

 

 

Quarto. Roger está na cama, dormindo. Após alguns segundos, muda para Arthur sentado no sofá da sala de espera. Ele está pensativo, e instantes depois, sorri. Vera aparece e senta ao lado dele.

 

::. “Lawman” - Belasco (cont.)

 

VERA: Você está bem?

 

ARTHUR: (sorrindo) Estou... (respira aliviado) Pela primeira vez nos últimos meses, posso afirmar que estou bem.

 

VERA: Que bom... (sorri) Eu também.

 

A câmera desce, mostrando a mão dela tocando a mão dele e segurando-a. Sobe novamente, mostrando eles se olhando com ternura.

 

 

Ainda ao som da mesma música, uma porta abre e Helen aparece do lado de dentro. Ela ergue as sobrancelhas, ansiosa. A câmera gira, mostrando Cláudio do lado de fora, sério. Após alguns segundos, ele abre um largo sorriso. Helen também sorri e salta para abraçá-lo. Cláudio a pega no colo e dá um giro, feliz.

 

 

Também ao som da mesma música, vemos Livia caminhando por uma calçada. Sua expressão é mais leve que antes. A câmera para, enquanto continuamos a vê-la caminhando, mas pelas costas. Após alguns instantes, a tela escurece.

 

 

Abre com Roger na cama, ainda dormindo. Ele abre os olhos e pisca algumas vezes. Depois, olha para o lado.

 

::. “She Has No Time” - Keane

 

ROGER: Pensei que não te veria mais.

 

A câmera se movimenta. Amanda está sentada numa cadeira ao lado da cama. Seus olhos lacrimejam. Pela janela, nota-se que é dia.

 

AMANDA: (levantando) Isso foi uma pergunta ou um desejo?

 

ROGER: (sorrindo levemente) Claro que foi uma pergunta.

 

AMANDA: (após alguns segundos) Roger... (morde os lábios e fecha os olhos) Eu sinto tanto, tanto, por tudo o que fiz... Pelo que eu disse naquela noite... (as lágrimas escorrem por seu rosto) Meu mundo parou quando eu pensei que não teria a chance de ter ver outra vez. De me redimir.

 

ROGER: Mandy... Eu vou dizer a mesma coisa que disse ao Cláudio, ao meu pai, minha mãe, e qualquer outro que passou por esse quarto nessa última semana... Eu ganhei uma nova chance, e com ela, estou enterrando tudo de ruim do meu passado. Não há espaço para rancor, estou feliz em estar vivo e isso basta. Então não precisa mais se culpar pelo que fez, pelo que disse, eu sei que sente muito, sei que disse muita coisa no color da discussão... E não tira também minha parcela de culpa pelo o ocorrido entre a gente... Eu sinto muito também.

 

Amanda, chorando, se aproxima mais de Roger e beija o rosto dele.

 

AMANDA: (soluçando, emocionada) Você tem ideia do quanto eu esperei você me chamar de Mandy outra vez?

 

Roger sorri, também emocionado.  Amanda pega na mão dele e a beija também.

 

ROGER: E há outra coisa que eu preciso dizer...

 

AMANDA: (sorrindo) Está tudo bem, meu amor... Não precisa dizer mais nada. Nós vamos recomeçar juntos... Vamos ser felizes como antes, quer dizer, muito mais do que antes.

 

Roger abre a boca para falar, mas Amanda o impede com um beijo carinhoso nos lábios. Ela fecha os olhos, ao mesmo tempo em que as lágrimas continuam escorrendo por seu rosto.

 

A câmera se afasta e corta para a porta. Livia está parada na entrada, observando os dois. Seus olhos estão brilhando. Após alguns segundos, em câmera lenta, a vemos abaixar a cabeça e sair.

 

Volta para Amanda e Roger. Dessa vez ela está sentada na cama, gesticulando com a mão e falando sem parar. Roger apenas concorda com a cabeça. Aos poucos a imagem dela começa a sumir, ficando apenas Roger na cama. Ele está olhando para a porta, que está aberta, mas sem ninguém. Após alguns segundos, ele pega o celular na mesinha ao lado e com dificuldade, começa a discar.

 

 

A imagem lentamente sobe até o teto, focando nele por alguns segundos. Desce mostrando o quarto de Livia. Ela está deitada na cama, de lado, abraçada a um urso de pelúcia. A porta abre e Clarice entra. Ela olha com pesar para a filha que está virada do lado oposto ao dela.

 

::. “She Has No Time” - Keane (cont.)

 

CLARICE: Você está bem?

 

LIVIA: (sem olhá-la) Você tinha razão quando disse que eu ia me machucar... E eu me enganei quando disse que seria forte o suficiente para suportar.

 

Clarice continua com a expressão de pena. Ela se aproxima e senta ao lado da filha, passando a mão em seu cabelo. Livia se vira para ela.

 

LIVIA: Eu quero ir morar com o meu pai.

 

O som aumenta. A câmera se aproxima devagar no rosto de Clarice, que está sem reação. Volta a focar o rosto de Livia, seus olhos estão marejados.

 

 

Quarto hospitalar. Roger está sentado na cama, com roupas normais, calça jeans e camiseta, como se estivesse pronto para sair. Junto dele estão, Cláudio, Helen, Amanda, Vera e Arthur. Todos conversam animadamente.

 

::. “She Has No Time” - Keane (cont.)

 

ROGER: (em off) Se na metade do ano, me questionassem sobre o melhor meio de recomeçar, com certeza, fugir, seria a resposta mais correta.

 

A câmera passeia pelo rosto de cada um em cena.

 

ROGER: (em off) Os problemas não desaparecem, mas a diferença está na forma como os enfrentamos, um de cada vez. Podemos não controlar os eventos ou as pessoas, mas podemos dominar nossos pensamentos e nossas vidas. Portanto, é hora de recomeçar... Deixar para trás o sofrimento do passado, erguer a cabeça e seguir em frente.

 

Neste momento, o médico aparece à porta acompanhado por dois enfermeiros, trazendo uma cadeira de rodas. Roger olha para a cadeira, mostrando-se ansioso com sua presença. 

 

ROGER: (em off) Mesmo que esse "recomeço" possa ser difícil.

 

A imagem abre, dando uma visão ampla do quarto. Os enfermeiros se aproximam de Roger. A tela escurece.

 

 

 

 

 

 

CREDITOS FINAIS:

 

CRIADO E ESCRITO POR:

 

Thiago Monteiro

 

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL

 

Jennifer Ehle como Clarice

 

MÚSICA TEMA

 

“Meant To Live” - Switchfoot

 

TRILHA SONORA

 

“Beautiful Lord” - Leeland

 “The Freshmen” - The Verve Pipe 

 “I'll Be” - Low vs Diamond

 “Come Undone (acoustic)” - Jackson Waters

 “Lawman” - Belasco 

  “She Has No Time” - Keane

 

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