Vista
externa
de uma danceteria. É noite. Helen e Priscila
estão paradas de frente
para a porta de entrada. Após alguns segundos, Livia
aparece e
para perto
delas, que a olham com surpresa. ::. “Let's Get It Started” - Black Eyed
Peas [Refrão] LIVIA:
Olá, meninas. HELEN:
(sorrindo) Oi...
(surpresa) O que está fazendo aqui? LIVIA:
A Amanda
me ligou
há pouco, insistindo para que eu viesse aqui me encontrar
com
vocês. HELEN:
(estranhando)
Mesmo? PRISCILA:
(apontando com a
cabeça) Chegaram. A
câmera se desloca para o outro lado da rua, onde podemos
ver
Amanda e Larissa
atravessando. Amanda está visivelmente alegre, enquanto
Larissa
um pouco séria.
Ao avistar as meninas, Amanda solta um grito e corre até
elas,
abraçando Helen
no impulso. AMANDA:
(eufórica) Estou
tão feliz em ver você! Estava morrendo de saudades...
Depois que voltou a
namorar, você anda meio sumidinha, sua danadinha. A
tela congela na expressão feliz de Amanda. LEGENDA:
“A
curiosa” Volta
ao
normal, mostrando Helen ainda mais confusa. HELEN:
Eu
também estava
com saudades... Você está bem? AMANDA:
(alisando
o braço
de Helen) Estou mais do que bem, meu amor... Falando em
amor,
você faz ideia do
tamanho do amor que sinto por você? Faz? Helen
abre
a boca para falar, mas Amanda olha para Priscila e vai ao
encontro
dela. AMANDA:
Pri,
Prizinha,
Priscilinha... Que saudades de você também, sua pequena!
Vem cá! Ela
abraça
forte Priscila, que ri, aparentando já saber o que
Amanda tem. Helen se
aproxima de Larissa. HELEN:
O que
está havendo
com ela? LARISSA:
Nada...
Ela está
feliz, não tá vendo? HELEN:
E o
motivo seria? LARISSA:
Estar
viva não
basta? Helen
desce
as sobrancelhas. A tela congela no rosto de Larissa. LEGENDA:
“A
culpada” Volta
ao
normal. Amanda abre os braços para Livia. AMANDA:
(feliz)
Vem cá,
vem? Livia,
um
pouco receosa, dá um passo para a frente e é
abraçada por Amanda, que fecha
os olhos e sorri. AMANDA:
Que bom
aceitou o
meu convite... Isso alegrou o meu coração. Temos tantas
coisas para
conversar... (passa a mão no cabelo de Livia) E esse
cabelo? Deus, como você é
linda! Livia,
sorri,
um pouco sem graça e confusa. Amanda dá um passo
para trás e olha para
as meninas por alguns segundos. AMANDA:
Minhas
quatro
melhores amigas juntas... Tem como o mundo não ser perfeito? A
tela congela no rosto de Priscila, que continua sorrindo,
no de Livia e
Helen,
que continuam confusas. LEGENDA:
“As
desconfiadas” Frente
de
um ginásio. Felipe, Cláudio, Gil, Roger (na cadeira de
rodas, sendo
empurrado por Cláudio e Gil) e Gustavo, aparecem saindo
pelo
portão, correndo. A imagem
congela neles. ::. “Let's Get It Started” - Black Eyed
Peas [Refrão] LEGENDA:
“Os
Provocadores” Volta
ao
normal. Logo atrás, Clayton e vários outros rapazes,
aparecem correndo. A
tela congela. LEGENDA:
“Os
Que Acabaram De
Perder o Campeonato Estadual” Volta
ao
normal. Cláudio, Felipe, Roger, Gil e Gustavo se apressam
até ao carro de
Felipe. Clayton e sua turma estão quase os alcançando. ROGER:
Eles
vão nos
pegar! Quando
chegam
perto de carro, Gustavo para e se vira para Clayton e sua
turma,
apontando um revólver para eles. O som cessa e dá lugar a
um instrumental sombrio. GUSTAVO:
(falando
alto e em
tom ameaçador) Pra trás ou alguém vai descer a
cova hoje! Os
rapazes
imediatamente param e recuam, assustados. Cláudio e sua
turma também
parecem assustados. Gustavo ainda apontando a arma, esboça
um
sorriso maléfico.
A tela congela nele. LEGENDA:
“El
Diablo Loco” Banheiro
da
danceteria. Larissa passa pela porta, puxando Amanda para
dentro. AMANDA:
Ai, Lari,
isso
dói! LARISSA:
Dói, é? Pois eu
deveria te encher de palmadas, isso sim! Quer parar de dar
bandeira? AMANDA:
(expressão meiga)
Mas como, meu amor? LARISSA:
Primeiro,
para de
fazer essa cara doce e dizer que ama quem vê pela frente. AMANDA:
Mas eu
estou tão
feliz... LARISSA:
Segundo... Para de
dizer que está feliz, se até poucas horas você
queria se afundar na terra. Amanda
abre
os braços para abraçá-la. Larissa revira os
olhos e balança a cabeça, em
reprovação. LARISSA:
Você me prometeu
que não ia usar... Não deveria ter roubado a
pílula de mim. A
câmera se movimenta, mostrando Helen perto da porta,
olhando para
as duas. HELEN:
Eu ouvi
bem? (olha
para Larissa) Você a drogou? (olha para Amanda) Está
drogada? A
câmera se aproxima do rosto de Amanda, que começa a rir.
Helen lança um olhar
sério para Larissa, que ergue as sobrancelhas, sem saber o
que
dizer. A tela
escurece.
Tela
preta
e legenda branca no meio:
“A
Pílula
do Amor” ::.
“This
Life” - La Rocca Abre
mostrando
a vista panorâmica da cidade amanhecendo e takes de
alguns pontos
importantes. Após alguns segundos, transparece para uma
porta
abrindo e Larissa
entrando em seu apartamento. Ela traz um pacote.
LEGENDA:
“Pela manhã” Quarto.
Close
em Amanda deitada na cama, dormindo. Larissa entra e olha
para os
lados
por alguns instantes. Depois, ela se aproxima de Amanda e
puxa o
lençol, dando
um tapa na perna da garota. Amanda não esboça
reação. Larissa respira fundo e
vai até a janela, abrindo a cortina e deixando o sol
iluminar o
local. Amanda
ainda não esboça reação. Larissa
então se abaixa e pega uma almofada e joga na
cabeça de Amanda, que abre os olhos e rapidamente senta na
cama,
por impulso.
Larissa sorri. Amanda a olha com seriedade. AMANDA:
(nervosa)
O quê? LARISSA:
(sorrindo) Trouxe
o seu café da manhã. AMANDA:
E
precisava me
acordar pra isso? Você sabe que eu não costumo tomar
café da manhã. Ela
volta
a deitar na cama. Larissa se aproxima e senta perto. LARISSA:
Eu sei
que não...
Mas eu também não gosto de tomar café da
manhã sozinha, e como você está aqui,
pensei, sei lá, nada mais justo que fazermos o desjejum
juntas.
Que tal? AMANDA:
Justo
seria você
deixar suas visitas em paz! LARISSA:
Você não é apenas
uma visita. Amanda
se
vira para o lado oposto e coloca o travesseiro em cima do
ouvido.
Larissa
puxa o travesseiro. AMANDA:
(com voz
de choro)
Me deixa dormir! Por favor? LARISSA:
Eu
não vou te
deixar definhando desse jeito. Você vai se levantar, tomar
um bom
banho, lavar
essa alma, tomar um reforçado café da manhã e
depois nós vamos fazer caminhada na
avenida. AMANDA:
Preciso
ir pra
casa... Quem sabe com um pouco de sorte, alguém tenha
sentido a
minha falta
naquele lugar. LARISSA:
A
Nathalia com
certeza sentiu. AMANDA:
(séria) Sério
mesmo que você vai fazer piada com isso? LARISSA:
Perdão... Eu vou
parar de falar e arrumar a mesa enquanto a senhorita se
arruma. Ela
beija
o rosto de Amanda e sai. Amanda fica parada por alguns
segundos,
com cara
de sono. AMANDA:
(falando
alto)
Preciso de uma blusinha emprestada! LARISSA:
(em off)
Sinta-se
à vontade... É só pra isso que eu sirvo mesmo. Amanda
levanta
e caminha até a cômoda, abrindo-a em seguida. Ela
fica observando as
peças e começa a remexê-las. AMANDA:
(falando
para si)
Quando foi que você começou a ter mau gosto para roupas,
Larissa? Após
alguns
segundos vasculhando a gaveta, ela para de mexer e franze
as
sobrancelhas. Close numa caixinha transparente dentro da
gaveta. Amanda
pega a
caixinha e abre. Do seu ponto de vista, vemos algumas
pílulas
coloridas. Amanda
fica pensativa. Larissa aparece. LARISSA:
Esqueci
de dizer
que a toalha está... Ela
para
de falar ao ver Amanda com a caixinha na mão. Amanda pega
uma das pílulas
e mostra para Larissa. AMANDA:
O que
é isso? Não
é anticoncepcional, porque disso eu tenho um vasto
conhecimento. LARISSA:
(sem
saber o que
dizer) Não, não é anticoncepcional. AMANDA:
(erguendo
as
sobrancelhas) Então? A
câmera dá um close no rosto de Larissa, que parece
envergonhada. Floricultura
da Marcia. Helen está sentada atrás do balcão,
demonstrando tédio. A câmera se move para mostrar Priscila
entrando. ::. “This Life” - La Rocca (cont.) PRISCILA: Olá, florista. HELEN:
(sorrindo,
surpresa) Hei! O que está fazendo aqui? PRISCILA:
Nada
demais...
Estava procurando carne e resolvi passar por aqui. HELEN:
Lamento,
mas aqui
nós só vendemos doces. PRISCILA:
Ótimo! Queria
mesmo comer pizza. Ambas
riem.
Depois, Priscila vai até uma vitrine com flores. PRISCILA:
Procuro
uma sugestão
para flores. HELEN:
Para qual
ocasião? PRISCILA:
Cemitério... Minha
avó. HELEN:
(com
pesar) Sinto
muito, Pri... Quando aconteceu? PRISCILA:
Há
muitos anos, eu
nem era nascida... (sorri) Minha mãe que quer enfeitar o
túmulo dela e eu me
ofereci para comprar flores, já que não tenho nada para
fazer, uma vez que o
meu namorado resolveu me abandonar para passar o dia com o
seu. HELEN:
(sorrindo) Os
garotos estão precisando passar pelo estágio da perda
juntos. Vai ser bom para
eles. PRISCILA:
Especialmente
quando a namorada pouco sabe fazer para ajudar a levantar o
astral do pobre coitado. HELEN:
Não fique obcecada com isso. Ele está passando por um
processo, talvez mais complicado de gerir. Mas claro que o Felipe sabe
que você está fazendo de tudo para ajudá-lo. PRISCILA:
Sabe, talvez eu não esteja realmente compreendendo essa agonia
profunda. Se eu refletir, só vejo um jogo... Uma chance perdida
dentre tantas outras. Mas parece que para ele, falhar naquele maldito
pênalti foi como o fim do mundo. HELEN:
Priscila, às vezes o que nos parece trivial pode ser crucial
para outra pessoa. Ele vai se recuperar, mas isso levará um
tempo. É aí que vai entrar o seu poder de
persistência. Priscila fica pensativa por alguns momentos. PRISCILA:
Você passou com um
processo parecido com o Léo ano passado, quando ele se
acidentou
e era dado
como certo que não jogaria mais naquele ano... Já pensou
se tudo tivesse dado
errado mesmo, e ele não tivesse entrado para uma equipe
profissional? Como acha
que lidaria com aquilo? HELEN:
Essa pergunta já me fez pensar muitas vezes. Mesmo com todas as
realizações, ele estava disposto a abrir mão delas
para ficar comigo... Por isso, escolhi deixá-lo seguir em
frente. PRISCILA:
Então você fugiu
dessa responsabilidade? HELEN:
De certa
forma,
sim... Mas você pode ser mais corajosa que eu. PRISCILA:
(após alguns segundos) Vou tentar... (sorri) Obrigada por me
ouvir... Estava precisando soltar isso. Nos últimos meses, meus
amigos têm sido todos do sexo masculino e eles acabam se
apaixonando por mim... Aí fica difícil. HELEN:
(sorrindo) Entendo essa história de amigos se apaixonarem...
Estou à disposição. Sempre que precisar de
alguém, estou aqui. Não somos muito próximas, mas
a proximidade pode ser construída com o tempo. PRISCILA:
(sorrindo) Obrigada mais uma vez... (verifica o relógio) Meu Deus, estou atrasada... Tenho que ir. Ela se encaminha para sair. Helen reflete por um momento e volta a chamar a atenção de Priscila. HELEN:
Hei, Pri. PRISCILA:
(virando-se) Sim? HELEN:
Já
que os nossos
namorados nos deixaram sozinhas hoje, estive pensando em
ligar para a
Amanda e
fazermos um programa juntas. Quer se juntar a nós? PRISCILA:
Claro,
pode ser
legal... Me ligue ou mande uma mensagem para confirmar. HELEN: Okay... E
uma última coisa... Sua avó está morta mesmo? PRISCILA:
(sorrindo) Eu
precisava de uma desculpa para vir aqui, mas sim, ela está
morta, só que foi
cremada. Não há túmulo. Ela
pisca
para Helen e sai. Helen sorri . Apartamento
de
Larissa. Amanda e Larissa estão na sala, sentadas no
sofá. A cena é
acompanhada por uma música instrumental. AMANDA:
Ecstasy,
huh? Você
está tomando há quanto tempo? LARISSA:
Antes de
mais
nada, vamos deixar uma coisa bem clara... A última vez que
coloquei isso na
boca foi quando fui parar no hospital. Depois disso, nem
passei perto
desses
comprimidos. AMANDA:
Então por que
mantém vários guardados em sua gaveta? LARISSA:
Eu não sei... Talvez por causa da sensação que eu
tinha quando estava em um momento difícil... E talvez porque, no
fundo, eu tenha medo de sentir isso novamente. Fingi para mim mesma que
havia esquecido que eles ainda estão lá. AMANDA: Então você não parou de gostar da sensação que eles proporcionavam? LARISSA:
É complicado não gostar... Nas primeiras vezes, a
sensação é incrível. Você se
desconecta de tudo ao redor. AMANDA:
Mas como
é esse
efeito? LARISSA:
(desconfiada) Por
que tantas perguntas? AMANDA:
Curiosidade,
apenas... Nunca estive perto de uma viciada antes (sorri). LARISSA:
Eu não sou dependente... (refletindo) Bem, pelo menos estou
tentando não ser. Até agora, consegui resistir. AMANDA:
Mas
não jogou
fora. LARISSA:
Vamos
tomar café
da manhã? AMANDA:
(insistindo) Vamos
lá... Me diz qual é a sensação? LARISSA:
(bufando) Felicidade... Amor. A primeira vez que você toma, tem a
sensação de que ama tudo e todos. Fazia muito tempo que
eu não sorria e achava que precisava daquilo...A questão
é que o efeito some após algumas horas, e aí eu
acabava ainda mais deprimida. É uma alegria temporária,
Amanda. AMANDA:
Entendo... E por
não querer que acabasse, acabou tomando várias ao mesmo
tempo, não foi? LARISSA:
(abaixando o olhar) Sim... Foi um ato tolo de minha parte, quase me
custou a vida... Foi uma estupidez, Amanda... Não vale a pena
fugir dos problemas com coisas que apenas mascaram o que você
sente. AMANDA:
(pensativa) Pois
é. Larissa franze a testa e olha para Amanda com desconfiança. LARISSA:
Eu sei
que você
tem passado por um período conturbado ultimamente, e que
tudo
parece desabar de
uma vez em cima da sua cabeça... Mas confie em mim, vai
passar... Por isso eu
quero que me prometa que não vai colocar isso na boca...
Você promete? AMANDA:
Brr,
até parece,
eu sempre fui mais forte que você, Larissa. É só
lembrar que eu sobrevivi meses
sem você, e você não sobreviveu semanas sem mim.
Fica tranquila que eu não vou
tentar mascarar o meu sofrimento. LARISSA:
(sorrindo) Ótimo,
porque é isso que eu sempre vi em você... Uma garota
forte. AMANDA:
(fazendo
careta)
Está sentindo esse cheiro? LARISSA:
(arregalando os
olhos e saindo correndo) Os bolinhos que eu deixei no forno.
AMANDA:
(rindo)
Por que
isso não me surpreende? Amanda
continua sorrindo por alguns segundos, mas aos poucos a
expressão muda enquanto ela olha para a caixinha de comprimidos
na mesinha. A tela se escurece lentamente. Abre
dentro
da casa de Amanda. Close na porta abrindo e Amanda
entrando. A
câmera a
segue até a sala. LEGENDA:
“Pela Tarde” Benjamin
está
sentado no sofá, lendo um jornal. Amanda passa por
ele, sem dizer nada e
vai na direção da escada. Benjamin abaixa o jornal e se
vira. BENJAMIN:
Amanda...
Vai aqui
um instante. Corta
para
Amanda parada no degrau, com a mão no corrimão. Ela
revira os olhos, desce
e vai até ao pai, ficando de frente para ele. BENJAMIN:
Eu
gostaria de
saber por que a direção do colégio me telefonou
dizendo que você não frequentou as
aulas nos últimos dias? AMANDA:
Provavelmente eles
se engaram. BENJAMIN: Não vou cair nessa... Por que a senhoria não está indo ao
colégio? AMANDA:
Agora
não, pai. BENJAMIN:
(com
firmeza)
Agora sim! Eu não pago uma fortuna naquele colégio pra
você faltar quando bem
entender. Quando eu invisto em algo, no mínimo espero
retorno. AMANDA:
Ah,
então é isso?
O que está te deixando vermelho é a fortuna que
você paga ao meu colégio?
(balança a cabeça, indignada) Pro inferno com esse
dinheiro! BENJAMIN:
(nervoso) Eu não ouvi isso! Amanda
se
movimenta e vai até a escada. Benjamin levanta do
sofá. BENJAMIN:
Amanda,
eu não
terminei. AMANDA:
(subindo)
Mas eu
sim... Tchau, pai. Corta
para
Amanda entrando no quarto e indo para a cama. Benjamin vem
logo
atrás. BENJAMIN:
Não vire as costas
quando eu estiver falando com você. AMANDA:
Você não está
apenas falando comigo... Está me acusando, brigando. BENJAMIN:
E sem
razão? Se fosse um pouco mais responsável eu não
precisaria chamar a sua
atenção. AMANDA:
Pois
é, e assim
você ignoraria a minha existência por completo. BENJAMIN:
Está fazendo tudo
isso de propósito então? AMANDA:
Não, pai, não
estou fazendo de propósito. Eu sou adolescente e tenho os
meus
momentos de
frustrações e rebeldia. E daí que eu faltei alguns
dias de aula? Minhas notas
não são ruins... Mas sabe o que me deixa mais chateada
nisso tudo? É você nem
me perguntar se alguma coisa aconteceu comigo ou alguém aqui
em
casa,
especialmente você, reparar que eu não estou feliz... Quem
sabe se eu fugir de
casa, abandonar o seu investimento, engravidar e voltar com
o rabinho
entre as
pernas, possa sensibilizar vocês? BENJAMIN:
De novo
esse
assunto da sua irmã? O que você queria que nós
fizéssemos? A expulsássemos
junto com a criança nos braços? AMANDA:
Não, óbvio que
não. Mas eu queria sim, que pelo menos demorasse um
pouquinho
mais para que
colocassem ela de volta ao posto de preferida. Ela sequer
foi punida.
Não
trabalha, não estuda, e ainda recebe dinheiro seu para
viajar...
E eu é que sou
a irresponsável da história? BENJAMIN:
Não sei por que
está me dizendo essas coisas. O ponto aqui não é a
Nathalia. Mas já que você
adora se fazer de injustiçada e citá-la como mau
exemplo... E os anos de
obediência do passado? Não é um erro que apaga o
que ela fez de bom. AMANDA:
Ela
é uma vadia,
isso sim! BENJAMIN:
(nervoso)
Não fale
assim da sua irmã, Amanda! Aliás, não use esses
termos aqui dentro da minha
casa. AMANDA:
(com
fúria) Eu
odeio você... Odeio essa casa e todos que nela habitam... Menos a Lily. Benjamin
fica
em silêncio por alguns segundos, encarando-a com
desapontamento. Amanda
abaixa o olhar. BENJAMIN:
Se
não está
satisfeita morando aqui, procure outro lugar para viver...
Quero ver
onde mais
você teria tantas mordomias. AMANDA:
Talvez eu
não
encontre... Mas nunca foi material o que mais precisei. BENJAMIN:
Mas
aposto que não
viveria uma semana sem sua gorda mesada. AMANDA:
(com os
olhos
lacrimejando) Sai do meu quarto. Benjamin
balança
negativamente a cabeça e sai, deixando a porta
aberta. Amanda levanta e
vai até a porta, fechando-a com força. Depois encosta na porta e grita. Ouve-se
o barulho do celular tocando. Ela pega o aparelho e atende
no impulso. AMANDA:
(gritando) O que
é?! (após alguns segundos, se acalmando) Oi Helen,
desculpa... (pausa) Não, não
está nada bem. (volta a sentar na cama) Tô sem
cabeça pra... Ela
para
de falar ao perceber algo. A câmera desce até o bolso
de sua calça. Ela
tira do bolso uma das pílulas de Larissa. Levanta a mão e
fica olhando para a
pílula. AMANDA:
Aham...
Tô aqui
ainda... (sorrindo) Quer saber? Vamos sair sim... Preciso
extravasar um
pouco.
Daqui a pouco eu te ligo pra confirmar o lugar. Ela
abaixa
o celular e continua olhando para o comprimido na palma da
mão. Close em
sua expressão pensativa. A tela escurece novamente.
Abre
dentro
de uma danceteria ao som de música eletrônica. O
local está cheio.
Helen, Livia, Priscila, Amanda e Larissa descem a escada.
LEGENDA:
“Pela Noite” Aos
descerem
o último degrau Amanda pula e bate palmas, alegre.
Larissa a pega pelo
braço. LARISSA:
Vem ao
banheiro
comigo... (puxando) Agora! Elas
saem
de cena. Priscila, Livia e Helen ficam paradas perto de
uma
pilastra. LIVIA:
(falando
alto) Me
chamem de careta, mas não sou muito fã de lugares assim. HELEN:
(falando
alto) Pra
dizer a verdade, não era esse os planos que eu tinha para
esta
noite. LIVIA:
O que deu
na
Amanda? HELEN:
Eu vou
descobrir
agora. Ela
sai.
Priscila olha para Livia e sorri. PRISCILA:
Quer
dançar? Corta
para
a câmera acompanhando Helen passando pelas pessoas e
entrando no banheiro.
Conforme avança, podemos ouvir a voz de Larissa. LARISSA:
Você me prometeu
que não ia usar... Não deveria ter roubado a
pílula de mim. HELEN:
(se
aproximando)
Eu ouvi bem? (olha para Larissa) Você a drogou? (olha para
Amanda) Está
drogada? Amanda
começa
a rir. Helen lança um olhar sério para
Larissa, que ergue as
sobrancelhas, sem saber o que dizer. Helen olha outra vez
para Amanda. AMANDA:
(tentando
ficar
séria) Não estou drogada... (segurando o riso) Não
estou... (caindo no riso)
Sim, estou. HELEN:
(para
Larissa) O
que você deu a ela? LARISSA:
Eu
não dei nada,
ela roubou de mim mesmo tendo... (olha para Amanda) Me
prometido que
não ia
usar. HELEN:
Ecstasy,
presumo?
Aquilo que um dia quase te matou... Qual é o seu problema,
garota? LARISSA:
Eu
não estou
usando isso. HELEN:
E
mantém guardado
por que acha bonito o conjunto de cores? LARISSA:
Você não iria
entender e eu não te devo satisfações. HELEN:
Quando
resolve
envolver uma de minhas melhores amigas em suas loucuras,
você me
deve
satisfações sim. LARISSA:
(cruzando
os
braços) Melhores amigas? Se preocupa tanto com ela, que a
coitada teve que
recorrer a mim nas últimas semanas. E se não estivesse
tão ocupada com o seu
namorado, talvez tivesse percebido que a sua melhor
amiga,
está
infeliz. HELEN:
Eu me
preocupo com
ela e sempre estou com a porta aberta para recebê-la. LARISSA:
Então por que ela
não te procurou? HELEN:
Você está mesmo
fazendo uma disputa em cima disso? Larissa
abre
a boca para falar, mas para ao olhar para o lado e
perceber que
Amanda não
está mais no banheiro. LARISSA:
Droga!
Ela saiu.
Viu o que você fez? HELEN:
A culpa
é minha
agora? Larissa
vai
até a porta. Helen balança negativamente a
cabeça e vai atrás. Pista
de
dança. Amanda passa alegremente pelas pessoas,
dançando e sorrindo. Alguns
rapazes se aproximam, dançando junto com ela. A câmera
gira, parando em
Priscila e Livia num ambiente um pouco mais afastado. PRISCILA:
Você e Amanda já
estão super amigas outra vez? LIVIA:
Sabe que
eu não
sei? Ela pediu um tempo para processar os últimos
acontecimentos, mas de
repente me telefona dizendo que me ama e implorando para que
eu viesse
me
juntar a vocês. PRISCILA:
(rindo)
Se minhas
suspeitas estiverem corretas, ela diria que te ama mesmo se
você
tivesse matado
a família dela. LIVIA:
(pensativa) Não
entendi. Muda
para
Larissa e Amanda na pista, tentando passar pelas pessoas.
HELEN:
Isso aqui
parece
um formigueiro. LARISSA:
Pra quem
está
acostumada a ir na igreja, é claro que isso aqui é
estranho. HELEN:
Pro seu
governo,
há anos que eu não piso numa igreja, e sim, eu já
fui em algumas baladas. LARISSA:
Aniversários de 12
anos com música eletrônica em salão de festas
não conta, querida. Um
grupo
de rapazes fecham as duas, formando uma roda e deixando-as
no
meio.
Larissa tenta passar por um rapaz, que a impede. LARISSA:
Sai da
minha
frente. RAPAZ:
(sorrindo) Só
depois de um beijo... Escolhe um. A
câmera dá um giro rápido nos rapazes. Helen se
inclina ao ouvido de Larissa. HELEN:
Vai,
escolhe
alguém e beija logo. LARISSA:
Tá
achando que a
minha boca é o quê? HELEN:
Nossa, desculpa aí... Não sabia que haveria problema em
um simples beijo, depois de se envolver com um traficante. LARISSA:
Não sei se você
percebeu, ô “espertona”, mas a cobrança do
beijo não é apenas para mim. HELEN:
O
quê? Eu não vou
beijar ninguém. LARISSA:
(pensativa) Se bem
que não é má ideia. Eu beijo alguém e te
deixo presa na roda. RAPAZ:
(impaciente)
Hei... Estamos esperando. Menos conversa e mais beijos. Larissa
lança
um sorriso em tom malicioso e dá um passo para a
frente. Helen segura no
braço dela. HELEN:
Larissa,
você não
vai fazer isso comigo, por favor? LARISSA:
E desde
quando eu
me importo com você? Ela
puxa
o braço e se aproxima de um dos rapazes. O rapaz se
inclina
para beijá-la.
Quando seus rostos estão bem próximos, a câmera
desce, mostrando o joelho de
Larissa indo ao encontro da região baixa dele. Close no
rapaz
arregalando os
olhos, se agachando e colocando as mãos onde foi acertado,
gemendo de dor. Os
rapazes da roda começam a rir. Larissa se inclina até o
ouvido do rapaz. LARISSA:
Eu
escolho quem
beijar. O
rapaz cai. Larissa sai da roda. Helen vai atrás. HELEN:
(envergonhada)
Acho que isso é um “obrigado”. LARISSA:
Não fiz por você. A
câmera muda para uma vista aérea da pista cheia. Depois,
desce até Priscila que
está fazendo alguns passos de dança, e tentando ser
acompanhada por Livia. PRISCILA:
Viu
só? Você não é
tão careta quanto pensa. LIVIA:
(sorrindo) Até que
é divertido. PRISCILA:
É
só parar de
pensar nos garotos um pouco que você se solta. LIVIA:
Eu
não estou
pensando nos garotos... Aliás, é a terceira vez que
você os cita. Qual é o
problema? PRISCILA:
Não está nem um
pouco preocupada se o Roger está se divertindo? LIVIA:
Estou
torcendo
para que esteja. Desde o acidente ele não se aventura assim
com
os amigos. PRISCILA:
(parando
de
dançar) É, o problema está comigo mesmo. Ela
caminha
até uma cadeira. Livia vai atrás. PRISCILA:
O
negócio é que
todos parecem felizes, menos o Felipe. E o meu medo é que
nesse
passeio, ele
tente encontrar a felicidade de outra forma. LIVIA:
(solidária) Hei...
Não fica pensando assim. Ele está abalado, mas não
deve ser ao ponto de perder
a cabeça desse jeito... Além do mais, os garotos
estão com ele, especialmente o
Cláudio. Ele não vai deixar que o seu namorado entre em
apuros. Priscila
esboça
um leve sorriso. Livia toca o braço dela. PRISCILA:
Você é uma boa
pessoa, Livia... E por causa disso eu vou te ensinar e se
soltar ainda
mais na
pista. LIVIA:
(contrariada)
Achei que a gente iria descansar, sair, tomar um ar, sentar,
conversar. PRISCILA:
(sorrindo) A noite está só começando. Corta
para
Larissa e Helen ainda caminhando pela pista. HELEN:
Será que ela não
saiu? LARISSA:
Já
reparou no
tamanho deste lugar? E alegre do jeito que ela está, vai
querer
ficar perto de
muita gente. Elas
param
em determinado ponto. Helen dá uma olhada geral, parando e
sorrindo. HELEN:
Achei! A
câmera se desloca e mostra Amanda de costas, dançando.
Corta para a sua frente.
Helen e Larissa se aproximam. LARISSA:
Amanda,
quem
mandou você sair por aí sozinha? AMANDA:
Perdão, não sabia
que eu tinha trazido a minha mãe comigo... (pensativa) Se
bem
que a mamãe não
estaria nem um pouco preocupada. HELEN:
Vamos
sair daqui. AMANDA:
Não, espera! Quero
que vocês conheçam o meu novo amigo... (aponta com a
cabeça e sorri) Olha ele
ali. A
câmera se movimenta rapidamente, mostrando Chris, filho do
professor Julio,
vindo na direção delas com uma latinha na mão. Ele
para ao ver Helen. HELEN:
Ele
é o seu novo
amigo? AMANDA:
(feliz)
Sim...
Esqueci o nome dele, então o chamo de pessoa. HELEN:
O nome
dele é
Chris. LARISSA:
Como
você o
conhece? Todos
se
aproximam. Chris e Helen se encaram seriamente. CHRIS:
Acho que
é o
momento em que alguém diz... Que mundo pequeno, huh? HELEN:
Cidade
pequena,
infelizmente. AMANDA:
(sorrindo) Que bom
que você conhece o Pessoa. Ele é muito gente boa.
Até me trouxe uma bebida,
olha só. Ela
tenta
pegar a latinha dele, mas Larissa se adianta. LARISSA:
Eu fico
com isso. AMANDA:
Hei...
Isso é meu. LARISSA:
Você não pode
beber, sua criança irresponsável. AMANDA:
Eu
não sou
criança... Você é. CHRIS:
(para
Larissa)
Deixa ela beber, por acaso você é a dona dela? HELEN:
Ela
está alta,
idiota, não pode ingerir bebida alcóolica. CHRIS:
Alta em
que
sentido? LARISSA:
(bufando)
Ecstasy. CHRIS:
(rindo)
Wow... E
eu pensando que ela era maluquinha de forma natural. AMANDA:
(balançando a
cabeça positivamente) E eu sou. LARISSA:
Ela
é... Mas hoje
está um pouco acima do normal. HELEN:
Tudo
esclarecido
para o doutor aí? Então vamos embora longo. Elas
tentam
sair, mas Amanda para e coloca a mão na boca, como se
estivesse enjoada. CHRIS:
(coçando a cabeça)
Talvez seja melhor ela sentar um pouco. HELEN:
(para
Chris) Por
quê? O que você deu a ela? CHRIS:
Bom, eu
não sabia
de suas condições e ela meio que tomou dois copos de uma
vez. HELEN:
E
esperava o que
com isso? Se aproveitar dela bêbada? CHRIS:
Claro que
não...
Você pode me achar um idiota, mas eu não sou esse tipo de
pessoa. E volto a
afirmar que pensei que ela fosse maluquinha de forma
natural. AMANDA:
E eu
sou... (olha
para Larissa) Diz que eu sou? Diz? LARISSA:
Você é... Mas
agora preciso te levar pra casa, tá bom? Ela
segura
no braço de Amanda e todos começam a andar,
inclusive Chris. Helen o
olha com estranheza. HELEN:
Está pensando que
vai aonde? CHRIS:
Quero ter
certeza
que ela vai ficar bem. HELEN:
Não precisa, ela
vai ficar bem. CHRIS:
Mas eu
insisto. Ele
passa
por ela. Helen bufa e vai atrás. Corta para Priscila e
Livia conversando
animadamente, ambas estão sentadas em cadeiras próximas de uma
mesa.
Amanda, Helen,
Larissa e Chris aparecem. PRISCILA:
Por onde
andaram? LARISSA:
Perdemos
de vista
essa criança por alguns minutos. Amanda
senta
numa cadeira ao lado de Livia e começa a alisar o seu
cabelo. AMANDA:
(sorrindo) Oi Liv. PRISCILA:
(para
Chris) E
você, quem é? CHRIS:
Eu sou
eu... E
você, quem é? PRISCILA:
(para
Helen) Quem
é o palhaço? HELEN:
Ninguém que mereça
ser apresentado. CHRIS:
É
assim que você
quer começar um relacionamento em família, tratando mal o
seu futuro irmão? HELEN:
Então já aceitou o
relacionamento de nossos pais? CHRIS:
(sorrindo) Nunca. Larissa
senta.
Priscila se desloca até ela. PRISCILA:
Então... Ela está
no mundo da lua, não está? Larissa
entorta
a boca e faz que “sim” com a cabeça.
Priscila sorri. PRISCILA:
E a culpa
é sua,
não é? HELEN:
(sentando) E você
ainda pergunta? LARISSA:
(suspirando) Eu
deveria ter beijado aquele rapaz. LIVIA:
(para
Amanda) E eu
pensando que você queria mesmo que eu estivesse aqui. AMANDA:
(sorrindo) Olha
Liv, quando eu levei um chute do Roger, eu fiz um bonequinho
vodu de
vocês dois
para espetar as partes íntimas dele e jogar você na
fogueira. LIVIA:
(rindo de
leve)
Okay... Valeu pela sinceridade. AMANDA:
Mas agora
está
tudo bem, porque eu preciso aceitar que existem pessoas que
gostam do
feijão em
cima do arroz e outras que gostam do arroz em cima do
feijão. LIVIA:
Absolutamente. AMANDA:
(alisando
o braço
de Livia) Então a partir de agora nós seremos como
irmãs siamesas... Vamos
dançar. Ela
levanta
e puxa Livia pelo braço. Livia tenta se soltar. LIVIA:
Amanda,
acho que
não é uma boa ideia. AMANDA:
Deixa de
ser
boba... É uma ótima ideia. Amandaa para
e solta o braço de Livia, franze as sobrancelhas e se vira,
encarando-a. LIVIA:
(preocupada) Está
tudo bem? AMANDA:
Por que
eu estou
vendo duas de você? Amanda sorri
e cai para trás, desabando no chão. Helen,
Priscila, Larissa e Chris
correm até ela. LARISSA:
(se
abaixando) Oh
meu Deus! Amanda? Close
na
expressão sorridente de Amanda, porém desacordada.
Lentamente a imagem
começa a subir e a tela escurece bruscamente. Tela
preta
e legenda branca no meio:
“Festa
da
Primavera”
::. “So Damn Clever” - Plain White T's Numa
vista
aérea, vemos o carro de Felipe trafegando por uma estrada
vazia. A câmera
se aproxima do veículo, cortando para dentro. Cláudio
está no banco ao lado,
enquanto atrás estão, Roger, Gustavo no meio e Gil no
canto direito. LEGENDA:
“Pela Manhã” GUSTAVO:
Lembram
da
primeira vez que viajamos juntos? Vocês nem gostavam de mim
na
época. FELIPE:
E o que
te faz
pensar que nós gostamos de você, hoje? GUSTAVO:
Só
o fato de eu
não ter precisado me convidar para estar aqui, já conta
como algo. Vocês me
amam, não há mais como negar... (olha para Roger)
Você me ama? ROGER:
(sorrindo) Do
fundo do meu coração. GUSTAVO:
Viu
só? Esse
passeio ser vai bom para esfriarmos nossas cabeças... Não
pensarmos em campeonatos,
pênaltis perdidos... (olha para Gil) Sexo com irmãs mais
velhas. GIL:
A
linguaruda da Nicole contou pra
você sobre a Nathalia? GUSTAVO:
Meu amigo
cabeludo, segredos hoje em dia não ficam guardados por muito
tempo. FELIPE:
(olhando
pelo
retrovisor) Estão falando da irmã da Amanda? GUSTAVO:
(sorrindo)
Malandrinho esse Gil, fala aí? Pegava a irmã e a
irmã na mesma época. Gil
soca
o braço de Gustavo, que segura o local acertado. GUSTAVO:
Ouch! FELIPE:
Por que
eu não
fiquei sabendo, se você adorava se gabar? GIL:
Porque
nós fizemos um pacto de que...
(falando alto, ao ouvido de Gustavo) Aquilo jamais sairia
dali. GUSTAVO:
(rindo)
Percebe-se que deu muito certo. Gil
levanta
o punho. Gustavo levanta as mãos e faz sinal de
zíper na boca. Roger se
vira para Gil. ROGER:
A Amanda
já está
sabendo disso? GUSTAVO:
Rolou o
maior
bafão! Bastidores internos revelam que teve até
puxões de cabelos. GIL:
(para
Felipe) Por que você o convidou
mesmo? ROGER:
(para
Gil) Você
sabia que a Amanda sempre se sentiu diminuída devido ao
tratamento diferenciado
que seus pais davam à Nathalia? GIL:
Tinha uma
ideia a respeito. ROGER:
E mesmo
assim teve
coragem de fazer aquilo com ela? GIL:
Da mesma
forma que eu tive coragem de
fazer muitas outras coisas, como implicar com vocês, até
mesmo com o Leo...
Vamos lá, gente, eu era inconsequente na época. E o que
eu a Amanda tínhamos
não era nem importante para ela, tanto que ela resolveu ir
contra tudo e contra
todos pra ficar com você... (balança negativamente a
cabeça) Eu não queria que
ela tivesse descoberto desse jeito. GUSTAVO:
Olha
só, eu não
quero continuar me metendo no assunto... GIL:
(interrompendo, sarcástico) Não diga? GUSTAVO:
Mas...
Nada disso
teria acontecido se você não tivesse chantageado a coitada
da Nick. Você há de
convir comigo que uma pessoa bastante irritada pode ser muito
vingativa. GIL:
(bufando)
E o trouxa continua
defendendo a peste, mesmo ela fazendo ele de gato e sapato.
GUSTAVO:
Não estou
defendendo ninguém. Só estou tentando ser justo com a
situação. GIL:
Em todo
caso, o estrago já está
feito. A Nathalia nem quer ouvir a minha voz. GUSTAVO:
Você está
apaixonado por ela? GIL:
Vem
cá, só ele que fala aqui? Que tal
aumentar esse som? CLÁUDIO:
(sorrindo) Qual é,
gente... Nós não combinamos esse passeio pra nos
estressarmos mais. Que os
problemas fiquem em Bom Destino, pelo menos por hoje. Pode
ser? GUSTAVO:
Bem dito,
meu
querido... (para Gil) Peço desculpas por ser inconveniente. GIL:
Desculpas
aceitas. Close
na
mão de Felipe aumentando o volume do som. A câmera
começa a se afastar,
saindo do carro e voltando a mostrar a trajetória do
veículo por uma vista
aérea. Fica assim por alguns instantes. Um
bosque.
Os rapazes estão espalhados na beirada de um lago,
sentados em cadeiras
de montar e varas de pescar ao lado. Corta especificamente
para
Cláudio e
Felipe. CLÁUDIO:
Tem
certeza que há
peixes aqui? FELIPE:
Pelo
menos quando
eu e o Gil viemos uma vez, haviam vários. CLÁUDIO:
E quando
foi isso? FELIPE:
(pensativo)
Quatro, cinco anos atrás. Cláudio
ri
e balança negativamente a cabeça. Felipe ri
também. CLÁUDIO:
Bom, pelo
menos
você está rindo, o que é já algo. FELIPE:
Eu estava
meio que
precisando sair da nossa cidade um pouco... Aquele lugar
estava me
sufocando.
Sem falar nas tentativas da baixinha em me colocar pra cima.
CLÁUDIO:
Não estava
funcionando? FELIPE:
Não é isso... É
que... Sei lá... Às vezes eu me sinto bastante
diminuído perto dela, entende?
Ela é esperta, responsável, persistente e várias
outras coisas que eu poderia
ficar o dia inteiro listando. E em momentos delicados como
esse que
estou
passado, eu fico ainda mais para baixo... Já se sentiu assim
em
relação a
Helen? CLÁUDIO:
Huh,
várias
vezes... A Helen possui qualidades que eu nunca conseguirei
ter. E se
não fosse
por ela, provavelmente não teria experimentando tantas
coisas
boas como nos
últimos tempos. Ela fez e ainda faz a diferença na minha
vida. FELIPE:
E isso
não é ruim?
Não te incomoda às vezes? CLÁUDIO:
Algumas
vezes eu
gostaria de ter esse papel importante na vida dela também...
Mas
isso só me faz
dar mais valor ao que tenho. Mas confie em algo que
eu vou dizer
agora... Elas também se sentem inseguras com
relação a nós, mesmo que suas
qualidades se sobrepõem. É só perceber tudo o que
a Priscila está fazendo para
te colocar pra cima. FELIPE:
(reflexivo) É
verdade... Ela tem se empenhado bastante. E talvez seja a
hora de olhar
para a
frente em relação a oportunidade que perdi... Como ela
mesma disse, é apenas
uma oportunidade, dentre várias outras que terei. CLÁUDIO:
(sorrindo)
Exatamente. Foco para a frente, meu caro. Cláudio
toca
o ombro do amigo. Gustavo se aproxima. GUSTAVO:
Lamento
atrapalhar
o bromance dos dois, mas estamos aqui há horas e é mais
fácil encontrarmos um
monstro nesse lago Ness, do que peixes. Sugiro que façamos
outra
coisa, ou vamos
pra casa, porque os pernilongos daqui estão tirando toda a
tentativa de diversão. Gil
aparece,
empurrando Roger pela cadeira, que coça o braço. GIL:
Ele tem
razão... O lago não é mais o
mesmo... Os peixes se foram e os borrachudos aumentaram. ROGER:
(batendo
com as
duas mãos no alto) Peguei um! (olha para a mão) Deve ter
o sangue de nós cinco
aqui. FELIPE:
Alguém sugere
algum lugar para irmos? GUSTAVO:
Se me
permitem, eu
tenho. Enquanto
ele
sorri, a imagem de seu rosto começa a transparecer
até dar lugar a uma
praça movimentada. O local está enfeitado com flores,
rosas, especialmente com
bandeiras e bexigas verdes e brancas.
::. “Holding On To What Is Easy” - Foolish
Things LEGENDA:
“Pela Tarde” Corta
para
algumas mulheres em cima de um palco. Elas estão de
biquínis e na parte de
cima, camisetas brancas molhadas. Várias pessoas na frente
do
palco estão
vibrando e gritando. Um homem com o microfone segura na
mão de
uma garota e a
leva para a frente. HOMEM:
E a
vencedora dos
peitos molhados é Ariel! O
público grita e assovia. A câmera se afasta, até
parar em Cláudio e os outros
rapazes. GUSTAVO:
(sorrindo) Esperem
até ver a luta no gel... Podem me agradecer depois. CLÁUDIO:
(olhando
para o
palco) Acho que essa cidade está um passo na frente da
nossa. FELIPE:
(olhando
para o
palco) Eu diria muitos passos... Nós não temos uma festa
da primavera. GIL:
(olhando
para o palco) Muito menos
concurso de camisetas brancas molhadas. ROGER:
A luta no
gel é
que horas? GUSTAVO:
(sorrindo) Mais
tarde... Mas olhos abertos hein, seus danadinhos, o único
livre,
leve e solto
aqui, sou eu. Os
rapazes
erguem as sobrancelhas e concordam com a cabeça. Depois,
começam a
andar. CLÁUDIO:
Mas tem
uma coisinha
me preocupando em estarmos aqui. FELIPE:
Fica
frio, hoje é
a final do campeonato e nossos amiguinhos devem estar
concentrados numa
hora
dessas. Ninguém vai aparecer aqui. CLÁUDIO:
Bom,
sendo assim,
aproveitem com moderação. GUSTAVO:
(sorrindo) Vamos
nos divertir. O
som aumenta e toma conta enquanto vemos alguns cortes de
cenas. Gustavo
de
frente para uma barraca de beijos. Ele entrega um ingresso
para uma
garota e
a beija. A garota sorri. Cláudio
e
Roger numa barraca, segurando espingardas que espirram
águas
em alguns patos
de borrachas. Gustavo
novamente
na barraca. Ele entrega um ingresso e beija novamente a
mesma
garota,
que sorri para ele. Gil
e
Felipe caminham conversando. Eles param em determinado
local e
observam uma
placa com os dizeres “Luta no Gel”. Eles se olham e
sorriem. Gustavo
aparece
outra vez na barraca. A garota coloca as mãos na cintura
e ergue as
sobrancelhas. Gustavo mostra o bilhete e faz cara de
lamento. A garota
revira
olhos e beija Gustavo. A
tela é dividida em três. Na primeira, vemos Cláudio
e Roger em outra barraca,
tentando acertar algumas garrafas com bolinhas. Na parte
do meio, vemos
Gustavo
na mesma barraca, beijando a mesma garota. E no canto
direito, vemos Gil
e
Felipe observando duas garotas brigando numa piscina cheia
de gel.
Após alguns
segundos, a tela escurece. Abre
mostrando a vista aérea da praça ao entardecer, repleta
de pessoas. A câmera se desloca, focando em Felipe enquanto
caminha segurando um cachorro-quente. Ele dá uma mordida no
lanche e continua a andar. Clayton está parado a poucos metros
de distância, com um sorriso no rosto. Ele se aproxima de Felipe.
::.
“Jimmy
Eat World” - 23 CLAYTON:
Ora, ora,
ora, se
não é o grande meu amigo Gladiador? A que devemos a honra
de sua ilustre
presença? ... Não diga que veio assistir a grande final?
(coloca a mão no
coração) Que lisonjeio! FELIPE:
Claro,
até trouxe
uma bandeira do Olimpo... Deixe-me ir no carro pegar. Ele
se
movimenta para sair, mas Clayton o impede parando na sua
frente. CLAYTON:
Sabe, eu
tenho
pensado bastante em você nos últimos dias... Deve ser
difícil conviver com o
peso de ter decepcionado uma multidão de fãs
fanáticos... Seus amigos... Os
olheiros. FELIPE:
Foi
só um jogo. É
o risco que se corre quando se assume a responsabilidade de
bater o
último
pênalti de uma partida decisiva. Mas nada que suje a
história que eu tenho na
cidade. CLAYTON:
Qual
é, sejamos
sinceros um com o outro... Não foi só um jogo... Foi o
jogo que eliminou o seu
time. Ninguém vai lembrar do que você fez nos
últimos anos, nem o título que
ajudou a conquistar... Seu último passo que será
lembrado, sempre. Torcedores
têm memória curta e são cruéis, meu amigo...
E os olheiros também. Você sabe
disso. FELIPE:
(após alguns
segundos) Como você conseguiu lidar com o fracasso depois
não ter conseguido
nada do que sonhou? CLAYTON:
E acha
que eu
aprendi a lidar? Por sorte consegui um lugar como auxiliar
técnico do time. Não
é como jogar, mas dá pra sentir um pouco a
sensação de estar em quadra. FELIPE:
Mas eu
não vou
desistir tão fácil assim... E se por acaso, isso
não for pra mim, vou saber
aceitar o que é. CLAYTON:
Eu
também pensava
exatamente desse jeito... Firme, forte, determinado... Até
começar a receber os
primeiros “nãos” nos testes. Isso é muito
desmotivador... E olha que eu não
perdi pênalti decisivo. FELIPE:
Não adianta
tentar, Clayton... Você não vai conseguir me desanimar. CLAYTON:
Eu
não preciso
ficar te provocando... Todo sentimento de derrota e
frustração está estampado
em seu rosto. É uma réplica de mim há 1
ano. Felipe
não
responde, apenas o encara. Clayton se movimenta para sair,
mas para ao lado
de Felipe. CLAYTON:
Aparece
lá no jogo
mais tarde... Talvez encontre alguns olheiros para pedir uma
segunda
chance. Ele
sorri
e sai. Felipe se vira na direção de Clayton e fica
pensativo. Corta
para
Cláudio sentado num banco, enquanto Roger está ao
lado dele, na sua
cadeira. ::. “Jimmy Eat World” – 23 (cont.) CLÁUDIO: E a fisioterapia... Já
está
dando
algum resultado? ROGER:
Aham,
já posso
mexer os dedos. CLÁUDIO:
(sorrindo) Isso
que eu chamo de evolução! ROGER:
Pois
é, com esse
rápido progresso estou está pensando em correr a
próxima maratona... O que você
acha, tenho chances? CLÁUDIO:
Alguma
vez eu
duvidei de sua capacidade esportiva? ROGER:
Não... (pensativo)
Exceto quando não me deu apoio para entrar no time no
começo do ano e preferiu
apoiar seu primo abandonador de grávidas. Mas isso são
detalhes. CLÁUDIO:
Erro que
eu não
pretendo cometer de novo... Ano que vem tem teste e posso
influenciar o
treinador... Acho que ele já gosta de mim. Eles
riem.
Gil aparece. GIL:
Vocês viram o Felipe? CLÁUDIO:
Pensei
que ele
estivesse com você. GIL:
Estava,
mas fui ao banheiro por
alguns minutos e quando voltei, sumiu. ROGER:
Deve
estar com o
Gustavo então... Já checou? GIL:
Já... O Gustavo não sai da barraca de
beijos. Eles
ficam
pensativos por alguns instantes. De longe, é
possível ouvir o som de uma
torcida. Eles olham na direção do som e ficam ainda mais
pensativos. GIL:
Vocês não acham que ele seria louco
de ir lá... Acham? A
cena corta para um ginásio abarrotado de pessoas. Felipe caminha
pelo corredor atrás do gol e para, olhando ao redor. A
câmera realiza um giro veloz, capturando a multidão
predominantemente vestida em verde e branco. A atmosfera é
carregada de entusiasmo e energia. Close
em
um senhor parado perto do alambrado, fazendo algumas
anotações em bloco.
Felipe fica pensativo e segundos depois se desloca até o
senhor.
Ele se
aproxima do senhor e o cumprimenta, gesticulando e falando
algumas
coisas. O
senhor ouve atentamente e segundos depois, faz sinal de
negativo com a
cabeça,
fazendo expressão de lamento. Felipe se mostra frustrado e
toca
o ombro do
senhor, saindo em seguida. Corta
para
ele conversando com outro senhor na parte de baixo da
arquibancada. O
senhor faz expressão de dúvida. Felipe entrega um
cartão a ele. O senhor pega o
cartão e concorda com a cabeça. Felipe sorri e sai. Ele
anda pelo corredor até
parar no canto da arquibancada onde uma pequena torcida
com vestes
marrons
estão. Ele vai até eles e senta. Após alguns
segundos, olha para a quadra e
acena com a cabeça. A câmera se desloca, mostrando Clayton
no meio da quadra,
conversando com um rapaz. Ele corresponde ao aceno. O
rapaz o olha com
estranheza. RAPAZ:
O que
esse idiota
está fazendo aqui? CLAYTON:
Fica
frio, ele é
meu convidado... Tenho uma surpresinha para ele se a gente
vencer. RAPAZ:
(sorrindo)
Gostei... Mas e se por acaso a gente perder? CLAYTON:
(balançando
negativamente a cabeça) Viu só? É por isso que
você não sai da reserva. Quando
eu era jogador, nem cogitava perder. Mas se um desastre vier
a
acontecer... O
dele será pior. O
rapaz esboça um largo sorriso. Depois, ambos se movimentam
até o banco. Os dois
times se posicionam em quadra. O árbitro apita o início.
A torcida grita. A
tela escurece. Abre
mostrando
o céu estrelado. Lentamente desce, onde podemos
ver Cláudio, Gil, Roger e
Gustavo parados na frente do ginásio. LEGENDA:
“Pela Noite” GUSTAVO:
Missão suicidada
outra vez? CLÁUDIO:
Você que nos
trouxe aqui. GUSTAVO:
Esqueci
que era a
final do campeonato. (respira fundo) Mas, o que é uma
reuniãozinha nossa, sem
terminar em confusão? Vamos nessa. CLÁUDIO:
(para
Roger) Você
prefere esperar aqui? ROGER:
Está brincando? Se
o bicho pegar podem me usar para atropelar alguns meliantes.
Os
rapazes
se olham e sorriem. A câmera fica parada, enquanto os
vemos caminhando
na direção da porta do ginásio. Lado
de
dentro do ginásio. A torcida grita sem parar. Felipe
está de pé, junto com a
torcida adversária, torcendo. Na sua testa há uma faixa
com o símbolo do time.
Os rapazes se aproximam dele, que feliz, olha para eles. FELIPE:
(animado)
Hei,
cambada! O que estão fazendo aqui? GIL:
A
pergunta certa é... O que você está
fazendo aqui? E que faixa é essa na cabeça? FELIPE:
Eles me
deram...
São torcedores bastante receptivos. Vêm, se juntem
à minoria e vamos fazer a
festa. CLÁUDIO:
(desconfiado) Você
está bem? FELIPE:
Nunca
estive
melhor... Conversei com alguns olheiros e o papo foi
animador.
Até aceitaram
conversar melhor durante a semana. GIL:
(sorrindo) Isso é fantástico! Eu
disse que você ia conseguir. FELIPE:
Pois
é, você
disse... Mas sabe como funciona esse negócio de baixo
astral,
pega a gente de
tal forma que não conseguimos enxergar nada além de um
abismo profundo. Mas
agora me sinto mais leve e quando sairmos daqui a cerveja é
por
minha conta. GUSTAVO:
(animado)
É disso
que eu estou falando! (olha para a quadra e grita) Vamos lá
marrom! Ele
se
posiciona ao lado de Felipe e ambos começam a pular junto
com
a torcida.
Cláudio, Gil e Roger se viram para a quadra. ::.
“Move
Along” - The All-American Rejects Corta
para
alguns takes da partida. Um jogador do time marrom dribla
um
adversário e
chuta forte em gol. A bola entra. Felipe e Gustavo se
abraçam e
pulam,
comemorando junto com a pequena torcida. Um
jogador
do Olimpo chuta e a bola entra. Close em Clayton
comemorando
junto com
treinador. Vemos cortes de algumas gols, em
cantos diferentes
da
trave, e com goleiros diferentes, simbolizando vários
gols. Da
arquibancada,
Cláudio e Gil, rendidos, estão pulando junto
com Gustavo, Felipe e
a torcida. Da sua cadeira, Roger também vibra. Close
no
placar que marca “Olimpo 4x6
Visitantes”. Desce,
mostrando a torcida de verde que continua vibrando,
apoiando seu time. Da
arquibancada
Gustavo levanta os braços e começa a puxar
um coro que é
acompanhado pela pequena torcida. CORO:
Ai
ai ai ai, tá chegando a hora... O dia já vem, raiando,
meu bem. Eu tenho que ir
embora. Close
no
placar que dessa vez marca “Olimpo 4x7
visitantes”. Desce mostrando Clayton do banco, com os
olhos bem
abertos e
expressando fúria. O
árbitro apita o final da partida. Os jogadores de marrom
começam a correr e se
abraçar, comemorando. A torcida adversária, juntos com
Cláudio, Felipe e os
demais também comemoram. Corta
para
Clayton na quadra, que parece sem reação. Os
jogadores se aproximam dele.
Ele olha na direção da arquibancada. Gil percebe e cutuca
Felipe. GIL:
Acho
melhor a gente dar o fora daqui. FELIPE:
(sorrindo) Por
quê? Vamos comemorar. Gil
aponta
com a cabeça. A câmera se movimenta mostrando
Clayton conversando com
alguns rapazes e apontando para a porta. Volta para Felipe
e Gil. FELIPE:
Vamos dar
o fora
daqui. Eles
começam
a se movimentar, menos Gustavo que conversa com uma
garota. GUSTAVO:
Definitivamente
essa foi a maior emoção que senti em anos... (pega na
mão dela e coloca no
peito) Sente meu coração? A
garota sorri para ele. Gil o puxa. Gustavo fala enquanto é
puxado. GUSTAVO:
A vida
é feita de
emoções... Me liga se quiser passar por isso de novo. Ele
faz
sinal de telefone com a mão. Os rapazes se aproximam da
saída, mas outros
rapazes estão parados na frente, impedindo-os de sair. CLÁUDIO:
Dá
licença, por
favor? RAPAZ:
Ainda
não... O
Clayton quer ter uma conversinha com vocês. FELIPE:
Não vão deixar a
gente sair? RAPAZ
2:
Só
depois da
reunião. FELIPE:
Não vão deixar a
gente sair? RAPAZ:
Você é surdo? FELIPE:
Só
confirmando. Ele
apoia
as duas mãos no ombro do rapaz 1 e lhe dá uma
cabeçada. O rapaz se
desequilibra para trás. Gil acerta um soco no segundo
rapaz e
Gustavo empurra
um terceiro, abrindo espaço para eles saírem.
Cláudio empurra a cadeira de
Roger, que ajuda movimentando as rodas com as mãos. Antes
de
sair, Gustavo se
volta para a quadra. GUSTAVO:
(gritando) Vocês
fedem! Ele
começa
a correr. Close em Clayton e outros rapazes se
movimentando rapidamente. Lado
de
fora. Cláudio e os demais estão próximos do
carro de Felipe. Atrás, Clayton
e sua turma vêm correndo. Quando estão quase perto,
Gustavo se vira e aponta
uma arma para eles. GUSTAVO:
(falando
alto e em
tom ameaçador) Pra trás ou alguém vai descer a
cova hoje! Os
rapazes
imediatamente param e recuam, assustados. Gustavo, com uma
expressão
ameaçadora, se mostra desequilibrado, avançando com a
arma apontada. GUSTAVO:
Quem vai
encarar?
Quem vai ser homem de se aproximar? Quem? RAPAZ:
(apavorado) Pera
aí irmãozinho, não precisa disso. GUSTAVO:
Não precisa? E o
que vocês iam fazer com a gente? Massagens? CLÁUDIO:
Gustavo,
o que
você está fazendo? GUSTAVO:
Deixa
comigo...
Coloquem o Roger dentro do carro e liga o motor, Felipe. CLAYTON:
Eu acho
que você
não vai ter coragem de atirar. GUSTAVO:
Por que
não se
mostra o primeiro corajoso e dê um passo à frente? Eu
não tenho nada a perder. Clayton
não
esboça reação. Alguns rapazes correm
para trás, saindo e deixando Clayton e
outros cinco rapazes que continuam parados. GUSTAVO:
(olhando
para os
rapazes correndo) Isso, muito bem, muito bem... Eles são
sensatos... Sabe como
me chamavam na minha antiga cidade? “El diablo loco”... Pesquisem a respeito. FELIPE:
(buzinando) Vamos
embora, cara! GUSTAVO:
(dando
uns passos
para trás) Quem se mexer vai levar bala! ... (parando e
voltando
para a frente)
Quer saber? Perdi a paciência! Close
na
arma disparando e os rapazes colocando as mãos na
cabeça e se ajoelhando.
Close na mão de Gustavo atirando e a arma apenas fazendo
barulho. Os rapazes no
chão começam a tocar os seus corpos. Gustavo
começa a rir. GUSTAVO:
(rindo)
Não se
esqueçam de limpar as calças. Ele
abre
a porta do carro e entra. Felipe pisa no volante e o carro
sai em
disparada.
Clayton levanta e soca o ar, nervoso. CLAYTON:
Era
falsa... Era a
merda de uma arma de brinquedo! Como ninguém aqui percebeu?
...
Vamos, peguem o
carro e vamos atrás deles. RAPAZ:
(constrangido)
Agora não dá, Clayton. O
rapaz abaixa o olhar. Clayton olha bem para ele e balança
a
cabeça, incrédulo. CLAYTON:
Você se borrou? RAPAZ:
Eu pensei
que
fosse morrer. CLAYTON:
(olhando
na
direção do carro e bufando) Droga! Corta
para
dentro do carro. Gustavo está com a arma na mão. GUSTAVO:
Legal,
não?
Réplica quase igual, mas de chumbinho. GIL:
Você é maluco de andar com uma coisa
dessas? GUSTAVO:
Perdão, mas se não
fosse por isso aqui... (mostra a arma) Não teria dado tempo
nem
de entrarmos no
carro. Gil
toma
a arma da mão de Gustavo e joga pela janela. Do lado de
fora, vemos a arma
voando até um matagal. Volta para dentro. GUSTAVO:
Hei! Por
que você
fez isso? GIL:
Se a
polícia nos para em qualquer
momento, como você iria explicar a posse de uma arma de
brinquedo? GUSTAVO:
Brincadeira de
polícia e ladrão? Gil
balança
negativamente a cabeça. Roger ao lado, ri.
Gustavo o olha e sorri. GIL:
Aquele
era o seu apelido na outra
cidade mesmo? GUSTAVO:
Com toda
certeza. FELIPE:
Era algo
bem mais
abaixo disso. GUSTAVO:
Felipe,
demonstre
um pouco de gratidão aqui... Pode ser? ROGER:
Vocês acham que
eles iam me bater também? FELIPE:
Você não conhece
esses caras, a cadeira não ia sensibilizá-los. Eles
bateriam em você mesmo se
fosse um senhor de quase 100
anos. CLÁUDIO:
E mesmo
os
conhecendo melhor do que qualquer um aqui, nos colocou em
risco
lá dentro. FELIPE:
Quer
relaxar?
Estamos todos bem, não estamos? E vocês entraram e
permaneceram porque
quiseram. CLÁUDIO:
Se
você não
tivesse entrado, não teríamos ido atrás. FELIPE:
E
não pedi que
fizessem. CLÁUDIO:
Tá bom... Na próxima vez que quiser bancar o valente por
causa da sua frustração, faça isso sozinho. FELIPE:
(sentido)
Okay,
Cláudio... Valeu. Um
silêncio
toma conta da cena. Cláudio se vira para o lado e
fica olhando para a
janela. Felipe
aperta o botão, ligando o som. ::. “Keep Us Together” - Foolish Things Os
rapazes
atrás apenas se olham. Após alguns segundos, a
câmera começa a sair do
carro e subir, mostrando o veículo se movimentando pela
estrada
até ficar
imperceptível. A
tela transparece para o céu estrelado, quando desce, temos
a
visão de um
pronto-socorro. Do lado de fora, Chris está parado, com as
mãos no bolso. Helen
sai do lado de dentro do posto e Chris vai até ela. ::. “Keep Us Together” - Foolish Things
(cont.) CHRIS:
Como ela
está? HELEN:
Não foi nada
grave. Só está tomando um pouco de soro e depois vai para
casa. CHRIS:
(aliviado) Ainda
bem. E de novo devo dizer que eu não sabia que ela estava
sob
algum efeito químico. HELEN:
Eu
acredito em
você... E foi legal da sua parte ter feito o seu amigo
trazê-la para cá de
carro. Mostrou um pouco de maturidade. CHRIS:
(sorrindo) De
nada... (após alguns segundos) Mas não vai pensando que o
que aconteceu agora
criou um laço de ternura entre nós. Continuo não
aceitando o relacionamento de
nossos pais. HELEN:
E eu
continuo te
achando um pirralho que precisa acordar para a vida... Nada
mudou. CHRIS:
Ótimo... Então,
cuide-se. HELEN:
Você também. Chris
esboça
um leve sorriso e em seguida se movimenta para sair. Helen
fica do lado de fora por instantes, acompanhando-o com o
olhar. Depois,
ela se
vira e entra novamente no posto. Lado
de
dentro. Larissa, Livia e Priscila estão sentadas num banco
do
corredor. Ao
ver Helen, Larissa levanta e se aproxima. Elas se encaram
por alguns
segundos. ::. “Keep Us Together” - Foolish Things
(cont.) LARISSA:
Ouça, certas ações não podem servir como
justificativa para certos atos, eu sei disso. Eu sei que deveria ter
jogado aquilo fora e não joguei, minha culpa. Mas a Amanda
não está bem, vai precisar muito do apoio das amigas no
momento. E por mais que tenhamos nossas diferenças, que
são grandes... Eu queria propor uma trégua entre a
gente... Não estou sugerindo que viremos amigas, mas pelo
menos que possamos nos suportar no mesmo espaço... Pela Amanda. HELEN:
Estou de
acordo...
Bandeira branca estendida então. LARISSA: Bandeira branca estendida... (após alguns segundos) Agora, se vocês quiserem ir para casa, eu posso
ficar
com ela e
chamar um taxi mais tarde. HELEN:
Você tem certeza? LARISSA:
A gente
precisa
conversar algumas coisas. HELEN:
Okay
então... Diga
para ela que eu ligo mais tarde. Larissa
concorda
com a cabeça. Helen faz sinal para que Priscila e Livia
se aproximem.
As duas levantam e vão até ela. Uma
sala.
Amanda está sentada em uma poltrona com o braço
esticado, tomando soro.
Larissa aparece e vai até ela. ::.
“Keep
Us Together” - Foolish Things (cont.) AMANDA:
Hei. LARISSA:
Hei...
Como está
se sentindo? AMANDA:
Um pouco
tonta
ainda. LARISSA:
Amanhã estará bem
melhor. Elas
se
encaram por alguns segundos. Amanda abaixa o olhar. AMANDA:
Desculpa
por ter
roubado a pílula de você... Eu fui uma idiota... Sinto
muito. LARISSA:
(solidária) Está
tudo bem... Pelo menos você reconheceu cedo que foi
idiota... Eu
precisei quase
morrer para isso. AMANDA:
Sobre
isso, me
desculpa também. LARISSA:
Pelo
quê? Você não
teve culpa do meu estado. AMANDA:
Tive sim... Eu não deveria ter te afastado. Mesmo que eu
estivesse magoada, crescemos juntas e eu tinha a responsabilidade de
aceitar sua tentativa de reaproximação e perdão,
afinal, éramos melhores amigas. (seus olhos ficam úmidos)
Agora sei o quanto a solidão deve ter sido difícil de
suportar. LARISSA:
(com os
olhos
lacrimejando) Passou... O importante é que estamos juntas de
novo... E eu quero
passar por muitas coisas contigo ainda... Minha melhor
amiga, minha
única
amiga. Lágrimas escorrem dos olhos de Amanda. Ela as enxuga com uma das mãos e olha para Larissa com um sorriso. AMANDA:
Ainda
está
procurado uma colega de quarto? O
som aumenta enquanto Larissa ri, emocionada. Amanda estende a
mão e ambas seguram firme uma na outra. A imagem afasta
lentamente, escurecendo gradualmente. Abre
dentro
do carro de Felipe. Cláudio o olha algumas vezes,
enquanto Felipe mantém
uma expressão séria enquanto dirige. CLÁUDIO:
Você realmente
conversou com algum olheiro no ginásio? FELIPE:
Conversei
e o
melhor que consegui foi entregar meu cartão a um deles...
Claro
que ele não vai
ligar. CLÁUDIO:
Sinto
muito... E
sinto também por ter te chamado de frustrado.
Eu não deveria. FELIPE:
Tá
tranquilo...
Você está certo. Talvez eu esteja exagerando mesmo nisso
tudo e talvez precise
de outra direção para a minha vida... Talvez seja a hora
de deixar a ilusão de
lado. CLÁUDIO:
Não foi isso o que
eu quis dizer. FELIPE:
(olhando-o) Eu
sei. Ele
aumenta
o som do carro. Cláudio desvia o olhar para a frente, ao
mesmo tempo em
que fica pensativo. ::.
“Let
Go” - Foolish Things CLÁUDIO:
(em off) A
jornada da vida frequentemente exige reconhecer o ponto de
conclusão de uma fase. Insistir na permanência excessiva
nesse período pode obscurecer a beleza e o propósito das
próximas etapas que aguardam ser desvendadas. Apartamento
de
Larissa. Larissa está na cozinha, de frente para a pia.
Ela
levanta a
caixinha com as pílulas e fica olhando-as. CLÁUDIO:
(em off) A harmonia entre o presente e o passado permanece elusiva, mesmo quando buscamos decifrar os enigmas que permeiam nossa jornada. Ela
abre
a lixeira e joga as pílulas dentro, fechando a lixeira em
seguida. Depois,
sorri, orgulhosa. Praça do centro da cidade. Priscila caminha falando ao celular. .CLÁUDIO: (em off) Às
vezes, perdemos o rumo em meio às nossas emoções
turbulentas, mas é nesse labirinto que muitas vezes encontramos
algo que nos guia. ::. “Let Go” - Foolish Things (cont.) PRISCILA:
Me liga
assim que
ouvir essa mensagem, okay? Ela
para,
desliga celular e respira fundo, desanimada. Depois, volta
a
caminhar,
mas para outra vez. A câmera se movimenta, mostrando
Gabriel de
frente para o
carrinho de pipocas. Ele paga o pipoqueiro, que lhe
entrega um
saquinho. Quando
se movimenta, Priscila está se aproximando. PRISCILA:
Hei. GABRIEL:
(sorrindo) Hei.
Como você está? PRISCILA:
(dando os
ombros)
Bem, eu acho... E você? GABRIEL:
Bem...
(breve
encarada) Está se sentindo um pouco perdida esta noite? PRISCILA:
Um pouco. GABRIEL:
Quer
conversar? PRISCILA:
Sobre
isso não...
Mas estou indo para casa agora... Se quiser me acompanhar
até
algum pedaço. GABRIEL:
(sorrindo) Será um
prazer. Eles
começam
a andar devagar. Gabriel estende o saquinho. GABRIEL:
Pipoca? PRISCILA:
(pegando
o
saquinho) Pensei que não fosse oferecer. GABRIEL:
(sorrindo) Nem precisava, eu sei que em algum momento você pegaria de mim. PRISCILA:
Está me chamando
de gulosa? GABRIEL:
Diria com
solitária às vezes. PRISCILA:
(dando um
tapo no
braço dele e rindo) É a mesma coisa. Corta
para
a vista aérea deles caminhando pela avenida. GABRIEL:
Claro que
não é a
mesma coisa. Há uma grande diferença entre ter um
problema e ser morto de fome. PRISICLA:
Eu
não tenho
nenhum dos dois. GABRIEL:
Vai me
devolver o
saquinho em algum momento? PRISCILA:
Se for
bonzinho eu
divido com você. O
som aumenta e a imagem transparece para a lanchonete do
centro.
Cláudio, Helen,
Livia e Roger estão à uma mesa da parte de fora, lanchando.
Eles
conversam animadamente.
A câmera passeia por seus rostos, até se afastar um pouco
e voltar a
transparecer. Apartamento
de Larissa. A porta se abre e Amanda aparece do lado de fora. Uma bolsa
repousa no chão. Larissa sorri calorosamente para Amanda e se
aproxima. ::. “Let Go” - Foolish Things (cont.) CLÁUDIO:
(em off) É
tempo de cruzar a linha, de nos aventurarmos no desconhecido, pois
só assim poderemos verdadeiramente descobrir o que somos capazes
de alcançar. Elas
se envolvem em um abraço afetuoso. Enquanto a câmera
começa a se afastar suavemente, vemos Amanda entrando e Larissa
pegando a bolsa. CLÁUDIO:
(em off) E
mesmo que as sombras do passado ainda persistam, há uma centelha
de esperança, um raio de luz que nos faz acreditar que talvez,
um dia, as peças se encaixem de maneira diferente. Larissa
entra
e fecha a porta. A tela escurece lentamente.
CREDITOS
FINAIS:
CRIADO
E
ESCRITO POR: Thiago
Monteiro
PARTICIPAÇÕES
ESPECIAIS John
Slattery
como Benjamin Devon Werkheiser como Chris Stephen
Colletti como Clayton MÚSICA TEMA “Meant To Live” -
Switchfoot TRILHA SONORA “Let's Get It Started” - Black Eyed Peas “This Life” - La
Rocca “The Great
Divide” - Scott Stapp “So Damn Clever”
- Plain White T's “Holding On To What
Is
Easy” - Foolish Things “23” - Jimmy Eat World “Move Along” -
The All-American Rejects “Keep Us
Together” - Foolish Things “Let Go” -
Foolish Things Copyright © 2008
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