BEAU
MIRCHOFF:
(em off) Preste
bastante
atenção nas cenas a seguir... São
importantes para a compreensão do episódio. GABRIEL:
Meu pai tinha um bom cargo na polícia, uma vida estável,
honesta, tranquila... Certa vez ele estava em uma ronda
rotineira com
seu parceiro, e abordaram um jovem que ao invés de parar,
começou a correr. Quando conseguiram render o rapaz, ele se
deitou no chão e colocou a mão dentro da jaqueta... Sem
pensar duas vezes, meu pai atirou. PRISCILA:
E não tinha nada na jaqueta, certo? GABRIEL:
Tinha, uma garrafa de vinho que o impediria de se deitar
completamente
no chão, por isso ele ia tirar. Além de atirar pensando
que fosse uma arma, o garoto era menor de idade. Imagina a
exposição negativa que isso trouxe para a cidade e minha
família. _______________________________________________ George
coloca
na vidraça uma folha com os dizeres “Estamos
contratando”. A câmera começa a se afastar, passando
pelo outro lado da rua e mostrando Moises olhando para o
estabelecimento. Corta para o seu rosto sério. _______________________________________________ GABRIEL:
Eu sei que está confusa e que prometi esperar... Mas você
precisa começar a ter certeza do que quer. Esquece a raiva
que
está sentindo do Felipe e vá conversar com ele. Resolva
essa situação, decida se vai voltar para ele, ou
não... Não importa a decisão que vá tomar,
eu sempre serei seu amigo. Priscila
fica
reflexiva. Gabriel toca a mão dela e levanta. PRISCILA:
Vai embora? GABRIEL:
Não há mais nada pra mim aqui... Você sabe onde me
encontrar. _______________________________________________ GABRIEL:
Pai? O que ainda está fazendo aqui, sozinho? Ele
passa
pelo balcão e George se desespera ainda mais com a
cabeça. Conforme a imagem se aproxima da cozinha, vai
abrindo
amplamente, e podemos ver Moises encostado num armário,
com a
arma apontada para George. Corta para Gabriel que para
imediatamente,
assustado. GABRIEL:
(assustado) O que está havendo? MOISES:
(balançando a cabeça, em reprovação)
Péssima hora para aparecer, garoto. _______________________________________________
Abre
mostrando
a frente do restaurante/bar da família da Nicole.
É noite. Ao som de uma música instrumental, a
câmera se aproxima da porta,
transparecendo para dentro e cortando para o rosto de
Moises refletido
num
espelho. CLÁUDIO:
(em off) Algumas pessoas lidam com
circunstâncias dolorosas sem se aborrecerem, adaptando-se
à dificuldade. Mas a
grande maioria desenvolve mágoas e permanecem atoladas
nelas
durante anos. Ele
se
abaixa, joga água no rosto, levanta e respira fundo. CLÁUDIO:
(em off) Para um parente próximo ou um
amigo que foi morto, esses sentimentos são naturais e
poderosos... Muitos
governos tentam conceder a eles alguma satisfação
pessoal, permitindo que
estejam presentes no julgamento dos acusados e em alguns
casos, se
dirijam ao
juiz ou ao júri. Até mesmo podem observar a
execução do assassino de seu ente
querido. A
câmera acompanha o caminhar de Moises que chega na
cozinha. Segurando uma mochila, ele para perto de George,
que se
espreguiça e
levanta da mesa. GEORGE:
Vamos? MOISES:
Deixa só eu pegar minha carteira aqui dentro. GEORGE:
E eu preciso de água. George
vai
até a pia, enquanto Moises, de costas para ele,
tira uma arma de dentro da mochila. Ele olha para o
revólver por
alguns
segundos e depois, se vira para George, apontando a arma
para ele.
George está
de costas. GEORGE:
(respirando fundo e sorrindo) Vamos nessa. Ele
se
vira e começa a desfazer o sorriso lentamente,
movimentando devagar a cabeça para o lado, fazendo uma
expressão confusa. GEORGE:
O que está fazendo, Moises? MOISES:
Eu vou te matar, George. Após
alguns
segundos, George levanta uma das mãos, tentando
acalmar Moises. GEORGE:
Ouça, você não quer fazer isso. MOISES:
Ah, eu quero, você faz ideia do quanto. GEORGE:
Okay... (aponta) Naquela caixa, há tudo que foi arrecadado
hoje.
Pode pegar e
levar pra longe daqui. Eu prometo que não darei parte. MOISES:
Se isso fosse um assalto, eu não diria que iria te matar...
Eu
vou atirar em
você e sair daqui calmamente, sem levar um tostão do bar. GEORGE:
(após alguns segundos) Por quê? MOISES:
Você não faz mesmo ideia de quem eu sou, não
é? Bom policial eu sempre soube
que você não era, mas por um momento eu pensei que estava
se fazendo de louco
ao me contratar, ou sei lá, querendo fazer algum ato de
caridade
para, quem
sabe, amenizar um pouco o sentimento de culpa... Mas você
não está nem aí. GEORGE:
(curioso) Quem é você? MOISES:
Já passamos da meia-noite? (olha no relógio) Faltam
alguns minutos. Mas o dia
amanhã não te lembra algo? William Fonseca? Nesse
instante,
George abre bem os olhos. Moises sorri. MOISES:
Isso mesmo, há exatos dois anos, você matou um garoto
inocente e destruiu uma
família... E dois anos que eu venho esperando com
paciência por esse dia. O dia
que darei cabo da vida daquele que nos desgraçou. A
câmera se aproxima devagar no rosto de George, que parece
sem saber o que dizer. CLÁUDIO:
(em off) A
vida nos coloca em encruzilhadas obscuras, onde a justiça vacila
e o tempo é implacável. Os anos passam e aquele que
causou dor, eventualmente, encontra alegria. Nesses momentos, surgem
escolhas que ecoam as palavras de Tertuliano: "Buscar um instante de
felicidade na vingança" ou "Buscar uma felicidade duradoura no
perdão". Duas estradas divergem, cada uma com seus dilemas,
desafiando nossa busca por redenção. MOISES:
Mas diferente do meu irmão, te darei o benefício das
últimas palavras. CLÁUDIO:
(em off) Não preciso nem dizer qual é a
opção mais fácil de escolher. George
novamente
tenta acalmar Moises, mas sua voz é
encoberta pelo som da música instrumental. A câmera
passeia para o lado e a
cena transita para dentro da casa de George. Martha está
sentada
à mesa,
notoriamente preocupada. Ela está com o telefone no ouvido
e
segundos depois,
abaixa o aparelho. Martha se desloca até a sala, onde
podemos
ver Nicole
deitada no sofá, assistindo televisão. Ela ainda
está com o mesmo vestido da
festa. NICOLE:
Sua inquietude está me deixando nervosa. Qual é o
problema? MARTHA:
O George disse há meia hora que estava vindo pra casa e
até agora nada. NICOLE:
(sarcástica) Nossa! Meia hora... Vamos ligar para o
antissequestro. MARTHA:
Pro seu governo, quando ele diz que está vindo pra casa, ele
chega em casa... E
também atende o celular. NICOLE:
Relaxa, alguma amiga deve ter aparecido e ambos estão
jogando
conversa fora,
tomando um belo drink. MARTHA:
Eu acho que vou aumentar o seu castigo. NICOLE:
Tá bom, estou brincando... Fica tranquila. (pensativa) Já
sei o que aconteceu...
O Gabi passou por lá e deve estar chorando que nem uma
garotinha
nos ombros do
pai porque foi rejeitado pela amada. Não se preocupa, se for
isso, a noite será
longa, bem longa. Martha
senta
no sofá e tenta relaxar. A campainha toca.
Martha levanta o olhar, preocupada. Nicole estranha e
levanta, indo
até a
porta, abrindo-a. Priscila aparece do outro lado. NICOLE:
Pelo jeito a noite do Gabriel não foi melhor que a minha. PRISCILA:
Posso falar com ele? NICOLE:
Ele não chegou ainda. PRISCILA:
(estranhando) Não? Mas ele saiu bem antes de mim. NICOLE:
(olhando para trás) Viu só, mãe? Eu disse que o
Gabriel foi chorar no colo do
George. MARTHA:
(levantando do sofá) Então terão que me desculpar
por interromper esse momento
entre pai e filho. Ela
pega
uma chave em cima da mesa e vai até a porta,
saindo. Nicole balança a cabeça, em
reprovação. NICOLE:
Isso é mesmo necessário? Jesus, quanta paranoia. MARTHA:
Zombe o quanto quiser, Nicole, mas eu estou com um mau
pressentimento e
só vou
sossegar quando tiver certeza que o meu marido está bem. Ela
desce
o degrau da varanda e vai na direção do carro.
Nicole bufa, entra na casa e segundo depois sai, segurando
o celular e
fechando
a porta. NICOLE:
Eu vou com você. PRISCILA:
Posso ir também? NICOLE:
Depende... Vai fazer o meu irmão chorar? PRISCILA:
(sorrindo) Vou fazê-lo feliz... Prometo. NICOLE:
(entortando a boca) Tá, então vem, cunhadinha. Martha
buzina
já dentro do carro. Nicole e Priscila se
apressam até o veículo. Corta
para
uma mão girando uma chave. A imagem abre,
mostrando se tratar de Moises, trancando a porta do
restaurante. O
ambiente
está escuro. Ele se vira e podemos ver Gabriel e George
encostados numa mesa. MOISES:
Moleque burro, tinha que aparecer justamente agora? GEORGE:
Por favor, Moises... Ele não tem nada a ver com isso...
Deixe-o
sair. Isso é
entre mim e você apenas. MOISES:
Na verdade, isso não estava nos meus planos, mas pode vir a
calhar. Seria
interessante o filho presenciar a morte do próprio pai. Acho
que
antes de
morrer, te traria um pouco mais de dor e quem sabe, uma vida
traumática ao menino. GABRIEL:
Pai, o que está acontecendo? Por que ele quer te matar? MOISES:
É George, por que eu quero te matar? Conta pra ele a
história. George
não
consegue dizer. Moises balança negativamente a
cabeça. MOISES:
Covarde, como sempre imaginei... (para Gabriel) O motivo de
eu estar
com essa
arma apontada para o seu papai, tem a ver com o fato que fez
vocês se mudarem
pra cá. Você se lembra? GABRIEL:
(fica pensativo e depois abre bem os olhos) Você tem
parentesco
com o garoto
que meu pai atirou por acidente? MOISES:
(rindo) Acidente? (para George) Foi isso que você contou à
sua família? Que
acidentalmente matou um inocente desarmado, numa emboscada?
E eles
acreditaram
nisso? GEORGE:
Eu sinto muito, Moises... Eu carrego a culpa do que
aconteceu... MOISES:
(interrompendo) Shhh... Pode parar por aí... Nada do que
venha a
dizer, irá
mudar o seu destino. Não quero suas desculpas, nem seu
lamento.
Mas eu quero
muito, apreciar esse momento de desespero. Me satisfaça com
o
medo. George
e
Gabriel se olham. Moises aponta com a cabeça. MOISES:
Mas se quiserem, podem se abraçar e se despedir. Nessa parte
eu
vou ser legal. Moises
aponta
a arma para George e engatilha. Gabriel
arregala os olhos, olhando para George. A tela escurece.
Tela
preta
e legenda branca no meio:
“2 anos
antes”
Uma
porta
abre e um garoto [Marshall
Allman]
aparece, entrando. Sua expressão é de bastante alegria e
euforia. GAROTO:
(eufórico) Mãe! (anda até a sala) Mãe! Uma
mulher
[Rachel
Griffiths]
vem ao encontro
dele. O garoto, ao vê-la, corre até ela e a abraça. GAROTO:
(beijando várias vezes o rosto da mãe) Eu te amo, amo,
amo, amo, sabia disso? MULHER:
(rindo) Eu sei disso... Mas que alegria toda é essa? GAROTO:
Consegui, dona Esther! Entrei na melhor universidade do
estado! ESTHER:
(impactada) Isso é sério? Meu pequeno Will vai se tornar
médico? WILL:
O melhor cardiologista do mundo! Esther
solta
um grito alegre e dá um forte abraço no filho,
também beijando várias vezes o rosto dele. ESTHER:
(emocionada) Eu sabia! Tinha certeza que você ia
conseguir...
(coloca as mãos
no rosto dele) Estou tão orgulhosa de você. Seus
olhos
se enchem de lágrimas. Will ri e balança
negativamente a cabeça. WILL:
Para... Não vamos chorar. Vamos rir, pular, comemorar...
Porque
eu (ri,
emocionado) Irei salvar vidas. ESTHER:
(limpando as lágrimas) Você tem razão... Vamos sair
para comemorar. Pode
escolher o lugar. WILL:
Qualquer restaurante tá bom.. Mas antes eu preciso passar no
Moises pra dar a
boa notícia. ESTHER:
Não pode ligar pra ele? Convide-o para sair com a gente...
Você sabe que eu não
gosto que vá naquele lugar. WILL:
Mãe, você sabe que eu nunca tive problemas por
lá... E o Moises ainda está
chateado contigo, não vai querer sair com a gente. ESTHER:
Por minha culpa, né? Por querer o bem dele. WILL:
Eu sei que você quer o bem dele... Ele também sabe
disso... Mas há maneiras de dizer
certas coisas... Chamar o próprio filho de bandido não
é legal. ESTHER:
(entortando a boca) Não deveria ter dito certas coisas...
Mas
ele precisa deixar
aquela vida. WILL:
Mas não pressionando-o... Ele vai encontrar o caminho certo
um
dia. ESTHER:
(sorrindo) Tá bom, rei do otimismo... Quando estiver com o
seu
irmão, diga que
eu sinto falta dele. WILL:
(sorrindo) Direi. Ele
beija
o rosto da mãe e se desloca até a porta. ESTHER:
Mas olha aqui, volte antes do anoitecer. WILL:
Não pretendo ficar mais que uma hora. Ele
pisca
para mãe e sai, fechando a porta. Esther respira
fundo e fica pensativa. ESTHER:
Acho que vou fazer um bolo. Um
ambiente
lotado. O som é alto e várias pessoas
dançam e
bebem. A câmera gira, parando em Moises abraçado a Will. ::.
“Take
Me” - Papa Roach MOISES:
(falando alto, empolgado) Hoje é um dia muito especial.
(olha
para Will) A
ovelha branca da família vai virar doutor! As
pessoas
em volta aplaudem, assoviam e gritam. Will ri,
sem graça. MOISES:
(para Will) Estou muito orgulhoso de você, moleque. WILL:
Obrigado, mano. Mas eu jamais conseguiria sem o seu apoio e
sua ajuda
financeira. MOISES:
Bom, de que vale ser bandido se o dinheiro não puder pagar
pelo
menos os
estudos do meu irmão? (ri) Você me paga me operando quando
eu levar um tiro. WILL:
(rindo) Tá... Mas depois dos estudos, são anos de
residência até eu poder
operar alguém. Até lá você já vai ter
saído dessa vida e vai estar casado e com
filhos correndo pela casa. MOISES:
Ou, já posso ter morrido. WILL:
(revirando os olhos) E lá vamos nós... Não
consegue enxergar outro futuro pra
você que não seja uma morte trágica? MOISES:
Você não me deixou outra opção quando disse
que vou estar casado. WILL:
(rindo levemente) Não vou dizer que você não tem
jeito, porque eu sei que
tem... (respira fundo) Eu preciso ir, prometi à dona Esther
que
voltaria antes
do anoitecer. MOISES:
A mãe sempre pensando que vou te levar pro mau caminho, huh?
WILL:
Hei, ela se preocupa com você também. Disse que sente sua
falta. MOISES:
Tá, vou fingir que acredito... Mas, vamos lá, relaxa e
aproveita a festa.
Quando começar a estudar, vai deixar de ter vida própria
por um bom
tempo. WILL:
(após alguns segundos) Okay, talvez eu possa ficar... Mas
por
mais uma hora no
máximo. MOISES:
(sorrindo) Veremos isso depois que conhecer a Sandy. WILL:
Quem é Sandy? O
som toma conta da cena. Moises conduz Will para uma
mulher com vestes bastante sensuais. Will arregala os
olhos ao
vê-la. Uma
viatura
estacionada numa rua qualquer. É noite. A
imagem se aproxima do veículo, onde podemos ver George no
banco
do carona e um
homem [Michael
Beach]
na direção. O homem, com cara de
tédio, mexe no botão do rádio. HOMEM:
Odeio quando essa cidade está calma... Preciso de
ação ou vou acabar dormindo
aqui. GEORGE:
(bocejando) Eu só quero passe logo as horas pra poder ir pra
casa. HOMEM:
(balançando negativamente a cabeça) Não sei como
você consegue tirar tamanha
empolgação pra chegar em casa depois de tantos anos de
casado... Diana e eu
estamos à beira do divórcio... E com toda sinceridade do
mundo, não vejo a hora
do advogado me mandar assinar os papeis. GEORGE:
É questão de manter um bom diálogo, sair da
rotina, inovar... Mas especialmente,
não dormir brigado. HOMEM:
Contos de fada. GEORGE:
Já parou pra pensar, Baptista, que o problema esteja em
você? Tanto eu, quanto
sua esposa, merecemos um bom prêmio por te aturamos todos
estes
anos. BAPTISTA:
(sorrindo) E é por isso que ambos terão um lugar especial
no meu testamento. Nesse
instante
ouve-se uma voz inaudível no rádio. Baptista
se ajeita no banco e liga o veículo. BAPTISTA:
Finalmente alguém resolveu cometer um crime. GEORGE:
E lá se foi o sossego da noite. BAPTISTA:
Já pensou em trabalhar no escritório? GEORGE:
E ficar longe de você? (pensativo) Tentador. BAPTISTA:
(sorrindo) Você não vive sem mim. Corta
para
uma vista aérea do veículo se movimentando pela
rua. Lugar
onde
está tendo a festa. Will passeia entre as
pessoas até chegar em Moises, que está conversando com um
rapaz. WILL:
Hei... Eu preciso mesmo ir. MOISES:
Mas já cansou da Sandy? WILL:
(sorrindo) Na verdade, eu que dei uma canseira nela. Sandy passar por eles. SANDY:
Ele não encostou a mão em mim. Moises
a
acompanha com o olhar e balança a cabeça, em
reprovação. MOISES:
O que vocês ficaram fazendo no quarto por uma hora? WILL:
(dando os ombros) Conversando. MOISES:
(desconfiado) Estava tentando convertê-la? WILL:
(rindo) Não... Eu não sou virgem, nem puritano... E minha
vida sexual não é da
sua conta. MOISES:
Um pouco difícil de acreditar... (se vira e pega uma garrafa de vinho) Aqui, o
melhor
da região. Leva
pra casa e comemora com a dona Esther. WILL:
(pegando a garrafa) Ela não vai me deixar beber, mas valeu... (após alguns segundos)
Está mesmo feliz
por mim? MOISES:
Claro que estou... (preocupado) Por que não estaria? WILL:
Eu sei lá... Às vezes passa pela minha cabeça que
você possa se sentir
diminuído por minha causa. MOISES:
Hei, nunca mais pense assim. Eu amo essa vida torta... Nunca
fui bom
com os
estudos e nunca quis me esforçar para ser alguém do bem.
Mas você é diferente.
Eu me orgulho, de verdade, que tenha escolhido um caminho
totalmente
diferente
do meu. Eu te amo e nada vai mudar isso. WILL:
(sorrindo, emocionado) Obrigado, irmão, eu também te amo. Eles
se
abraçam forte. Após alguns segundos, Will se afasta
e se dirige à saída. Moises fica olhando-o, sorrindo,
orgulhoso. A tela
escurece. Uma
avenida.
Will caminha segurando a garrafa de vinho. Ele
abre a jaqueta e coloca a garrafa dentro. Continua
caminhando, de
cabeça baixa,
protegendo a garrafa. RAPAZ
(em
off)
Will, meu grande parceiro! Will
ergue
o olhar e sorri. Um rapaz [Daren
Kagasoff]
se aproxima dele. WILL:
Nathan... O que faz aqui? E por onde tem andado, rapaz? NATHAN:
Seu irmão não te contou não? WILL:
(após alguns segundos) Merda... Eu disse pra ele não te empregar. NATHAN:
Hei, minha escolha... Está tudo bem, cara. Além de ganhar
uma graninha boa, eu
posso usar um por dia. WILL:
(sarcástico) E isso é fantástico, né? NATHAN:
Qual é brother, faz tanto tempo que a gente não se
vê. Não vamos perder tempo
com tentativas de lições, okay? WILL:
Pra que perder tempo com qualquer coisa? Eu vou embora. NATHAN:
Então é assim? Abandona os amigos só porque levam
uma vida que você julga
errado? WILL:
(rindo, incrédulo) Que eu julgo errado? Se olha no espelho,
Nathan... Nem
tentando disfarçar você consegue mostrar que está
bem. NATHAN:
Não seja tão radical, okay? Eu estou bem... Essas
coisinhas (tira um pacote de
cocaína do bolso) ... Não mudam quem eu sou. Corta
para
a viatura em que George e Baptista estão. O
veículo trafega pelo outro lado da avenida. George,
olhando pela
janela, força
a vista. GEORGE:
Diminui. BAPTISTA:
Pra quê? GEORGE:
Diminui e dá a volta. Baptista
olha
na direção em que George está olhando. A
câmera mostra Will e Nathan conversando. Esse último,
mantém o pacote à vista. BAPTISTA:
Vamos, quer mudar nossa rota por causa de dois moleques com droguinha? GEORGE:
Você não queria ação? BAPTISTA:
Queria trocar tiros com algum bandido, não enquadrar
adolescentes. GEORGE:
Vamos só dar um susto neles. Volta
para
Will e Nathan conversando. WILL:
Esconde esse negócio, Nathan. Se a polícia pega a gente
aqui, não vão querer
nem saber se eu estou envolvido. Eu posso perder minha bolsa
se estiver
fichado. NATHAN:
Fica tranquilo, os homens costumam comprar comigo também. WILL:
E já parou pra pensar que estão fazendo isso só
para chegarem ao fornecedor? NATHAN:
(pensativo) Na verdade, não. Nesse
instante,
ouve-se o barulho da sirene e a viatura
freando bruscamente. George e Baptista saem do carro. BAPTISTA:
Vocês dois, mãos na cabeça! NATHAN:
Merda, sujou, Will... Corre! Ele
começa
a correr. Will fica sem reação, mas antes
que os
policiais se aproximem, ele corre em outra direção.
George e Baptista se olham. BAPTISTA:
Eu não vou atrás deles. GEORGE:
Dá pra fingir que cumpre a lei pelo menos uma vez? Eu vou
atrás desse último. George
corre
na direção em que Will foi. Baptista bufa e
corre na direção em que Nathan foi. Corta
para
Will correndo por um beco até parar ao perceber
que não tem saída. George aparece logo atrás,
apontando a arma. GEORGE:
(falando alto) Vire-se agora! Will
levanta
as mãos e devagar se vira. WILL:
(assustado) Senhor, eu não tenho nada a ver com o que ele
estava
vendendo. GEORGE:
Então por que correu? WILL:
Porque eu conheço o sistema. GEORGE:
Pro chão, já! WILL:
(se ajoelhando devagar) Tudo bem, tudo bem... Me deixa
apenas... Enquanto
ocorre
a última frase, Will coloca a mão na
jaqueta. George abre bem os olhos e dispara um tiro. Will
cai de
bruços e
ouve-se o barulho da garrafa se quebrando com a queda. A
câmera
frisa o rosto
de George por alguns segundos, ele parece arrependido. Ele
se aproxima
devagar
do garoto e o vira. No peito, é perceptível onde o tiro
foi acertado. Os olhos
de Will estão abertos, porém, desacordado. George abre a
jaqueta do garoto e se
desespera ao ver a garrafa quebrada. GEORGE:
(desesperado) Não... Não, não, não,
não. Baptista
aparece
correndo. Ele para ao ver o garoto
estirado no chão e George agachado perto dele. ::.
“Orange
Sky” - Alexi Murdoch BAPTISTA:
Ouvi o disparo e corri pra cá... (se aproxima) O que você
fez, George? GEORGE:
Eu pensei que ele fosse tirar uma arma... Não imaginei que
era... (coloca as
mãos na cabeça) Oh meu Deus, o que foi que eu fiz? BAPTISTA:
Merda, George! Isso vai dar um problemão pra gente! GEORGE:
(olhando-o, nervoso) É com isso que está preocupado? Ao
som
da mesma música, a câmera começa a se afastar e
a
imagem transparecer para o lugar onde estava tendo a
festa. Moises
está sentado
numa poltrona. Ele ri e bebe, conversando com algumas
pessoas. Da
porta, vemos
Nathan entrando com uma expressão bastante abatida. Ele se
aproxima de Moises e
começa a dialogar com ele, balançando a cabeça ao
mesmo tempo. A expressão de
Moises começa a mudar, até ficar em choque. Segundos
depois, ele levanta e sai
apressadamente do local. A
cena muda para Esther de pé, com o telefone no ouvido.
Aos poucos seus lábios começam a tremer e seus olhos se
derramar em lágrimas.
Ela solta o telefone e balança a cabeça, inconformada.
Vai até o chão, se ajoelha
e grita de dor, chorando amargamente. Ainda
ao
som da mesma música, a imagem transparece para o
céu estrelado, que começa amanhecer e anoitecer algumas
vezes, até parar no
tempo claro. Muda para George abrindo a porta de casa e
Martha indo ao
encontro
do marido. MARTHA:
O que foi decidido? GEORGE:
Eles me absolveram... Mesmo o garoto não estando armado, foi
alegado legítima
defesa... (abaixa o olhar, abatido) Eu não sei se vou
conseguir
voltar às ruas,
Martha. Qualquer lugar que eu olhe, eu vejo a imagem daquele
menino. MARTHA:
(solidária) O que decidir fazer, eu vou estar do seu lado,
sempre. Ela
o
abraça carinhosamente. George se rende ao abraço,
fechando os olhos e expressando sofrimento. Ainda
ao
som da mesma música, vemos Esther deitada na cama,
dormindo. Na cabeceira, há várias embalagens de
remédios. Da porta, Moises a
observa com tristeza. Ainda
ao
som da mesma música, vemos Moises de frente para
um túmulo. Seus olhos estão brilhando. A câmera
gira sobre ele e no túmulo,
podemos ver a foto de Will, com o nome completo e a data
de nascimento
gravado
na lápide. MOISES:
Eu preciso esperar que a mãe melhore um pouco pra poder ir
atrás de quem fez
isso com você... Mas eu prometo, irmãozinho, que
não vou descansar até enfiar
uma bala no peito daquele desgraçado... (se ajoelha e coloca
a
mão na lápide)
Isso não vai ficar impune. Ele
levanta,
se vira e sai. A câmera se aproxima
da foto de Will e aos poucos a tela vai escurecendo até
ficar
tudo preto. Abre
focando
o rosto entristecido de Moises no restaurante. MOISES:
O dia mais feliz da vida dele, também foi o último... Ele
tinha 17
anos ainda e nem chegou a pisar na universidade que tanto
sonhava. GEORGE:
(sentido) Moises... Acredita em mim... Não existe um dia que
eu
tenha dormindo
em paz, desde o ocorrido. MOISES:
Não estou aqui para ouvir o quanto sente muito... Isso
não valia nada
antes e nem vale agora. Aliás, fez tanta questão mesmo de
mostrar que estava
arrependido, que nem teve a hombridade de visitar a família
do
garoto que você
matou. Minha mãe não recebeu uma condolência.
Fizeram o que fizeram e por pouco
ele não saiu como o marginal da história. GEORGE:
Isso não é verdade... Todos sabiam que o seu irmão
era inocente e uma boa
pessoa. E isso refletiu na minha vida na cidade, na vida dos
meus
filhos. MOISES:
Que dó, aí não aguentou a pressão e
resolveu fugir. GEORGE:
Eu me mudei por culpa do que fiz. Não podia mais exercer meu
cargo depois de
ter agido de forma tão displicente... Moises, eu trocaria a
minha vida pela do
seu irmão, se isso pudesse trazê-lo de volta. MOISES:
Não vai trazê-lo de volta, mas vou aceitar a oferta. Ele
aponta
a arma para George. Nesse instante, ouve-se o
barulho de um carro estacionando. Moises abaixa a arma e
olha para
trás. Lado
de
fora. Martha, Nicole e Priscila saem de carro. NICOLE:
Viu? Eu disse que não tem ninguém aqui. Está tudo
escuro. MARTHA:
Então como se explica o carro do George ainda estar
estacionado
na rua? NICOLE:
É... Essa parte não vou saber explicar mesmo. Martha
vai
até o vidro e olha para dentro do restaurante. O
ambiente está escuro. Corta
para
o lado de dentro. A câmera passeia pelas mesas
até chegar perto da mesa de bilhar, onde George e Gabriel
estão encostados.
Alguns metros à frente, está Moises, com arma apontada
para eles. MOISES:
(sussurrando) Um pio e eu estouro os miolos dos dois. Lado
de
fora. Martha está com o celular no ouvido,
apreensiva. Nicole e Priscila estão encostadas no carro. MARTHA:
Alguma coisa está muito errada. NICOLE:
(para Priscila, falando baixo) Não quero insinuar nada, mas
há uma
possibilidade do George estar pulando a cerca em algum canto
do
restaurante
agora. MARTHA:
Eu ouvi isso, Nicole. E não é hora para suas gracinhas. NICOLE:
Perdão, mãe... (desencosta do carro) Vamos entrar logo de
uma vez e averiguar o
que está acontecendo. MARTHA:
(desanimada) Saí tão apreensiva que esqueci a chave
reserva. NICOLE:
Bom, o que quer fazer então? (vibração de celular)
Pera aí, recebi uma
mensagem, pode ser do Gabi... (pega o aparelho, olha e
sorri) Pronto,
não
disse? Ela
começa
lentamente a parar de sorri, dando lugar a
uma expressão de medo. NICOLE:
Mãe, entra no carro agora! MARTHA:
(confusa) O quê? NICOLE:
(nervosa) Entra no carro, agora! Tem alguém armado aí
dentro! Close
no
rosto de Priscila que imediatamente desencosta do
carro, preocupada. Martha olha outra vez para dentro do
restaurante,
enquanto
Nicole vai até ela e a puxa. NICOLE:
Vamos! Lado
de
dentro. Moises tira o celular da mão de Gabriel e
joga o aparelho contra a parede. Depois, aponta a arma na
cabeça
do garoto. MOISES:
(nervoso) Me dê um motivo para eu não te matar agora? GEORGE:
(entrando na frente) Não, por favor! Ele só fez isso para
impedir que elas
entrassem... Atira em mim e acabe logo com isso. GABRIEL:
Pai! GEORGE:
Fica quieto, Gabriel! (para Moises) Vamos... Sou eu que você
quer. Moises
o
encara por alguns segundos. George engole a seco. MOISES:
(sorrindo) Está apavorado, não é mesmo? GEORGE:
(ofegante) Mais do que possa imaginar. MOISES:
Bom, muito bom... Eu vou deixar passar essa. Mas se
aprontarem pra cima
de mim
outra vez, eu juro que não terá aviso. Além de
morrer, vai levar seu filho contigo. GEORGE:
Eu prometo que não farei nada. Moises
acena
com a cabeça e se afasta. George abraça
Gabriel, aliviado. MOISES:
(se movimentando para a frente) Bom, rapazes, se aconcheguem
nas mesas,
logo,
logo esse lugar vai estar lotado de espectadores. Ele
sorri,
em tom sombrio. Gabriel e George continuam
abraçados. A tela escurece. Abre
mostrando
Livia deitada na cama, dormindo
tranquilamente. Ela veste uma blusinha e um lençol a cobre
da
cintura para
baixo. A lado dela, Roger está sentado na cama,
admirando-a.
Pela claridade da
janela, nota-se que é dia. Após alguns segundos, um
celular começa a tocar.
Roger levanta e vai até a mesinha, pega o aparelho e
atende. ROGER:
Fala amigão... Não, não liguei a televisão
ainda não. Ele
franze
as sobrancelhas em sinal de preocupação. Depois,
pega o controle e liga a televisão, sentando na cama. A
câmera dá um close na
tela, onde podemos ver a frente do restaurante
interditado, com
viaturas em
frente e uma ambulância. Um pouco afastado, há uma
aglomeração de pessoas. REPORTER:
(em off) Segundo as autoridades, já dura
cerca de sete horas que o proprietário e seu filho estão
sendo feitos de reféns
pelo funcionário Moises Fonseca. Até o momento,
não há confirmação de que se
trata apenas de um assalto. A
câmera foca o rosto de Roger enquanto o repórter continua
falando. Livia aparece por trás, abraçando o namorado.
Ele sorri e a beija no
rosto. ROGER:
(sorrindo) Dormiu bem? LIVIA:
(sorrindo) Como um anjo. Eles
dão
um selinho demorado. Segundos depois, Livia olha
para a televisão e força a vista. LIVIA:
Aquele não é o restaurante da família da Nicole? O
que está acontecendo? ROGER:
Não sabem dizer ao certo ainda, mas parece que o Gabriel e o
George estão sendo
feitos de reféns lá dentro. Livia
senta
ao lado de Roger e pega o controle da mão dele,
aumentando o volume. A câmera se aproxima do aparelho e a
imagem
vai se
tornando nítida até ficar real. A câmera segue um
policial que caminha na
calçada até chegar em Martha. POLICIAL:
Mais uma vez ele se negou a ouvir alguma proposta. Por
enquanto ele
não quer
falar com a gente. MARTHA:
(apreensiva) E agora? POLICIAL:
Vamos tentar vencê-lo pelo cansaço... Se ele quisesse
atirar, já teria feito.
Assim que na sua mente ele achar que venceu, a porta será
aberta. MARTHA:
(passando a mão na cabeça, nervosa) Não tenho
tanta certeza... Deus, nós
devíamos saber quem ele era. Ela
olha
para o lado. Close em Nicole sentada na calçada,
poucos metros dali. Ela está de cabeça baixa. Lado
de
dentro do restaurante. Moises movimenta a cortina
da porta para o lado e olha para fora. As janelas de vidro
também estão
cobertas com cortinas. Ele respira fundo e olha para trás.
Gabriel e George
estão sentados à mesa. MOISES:
Não parece um déjà vu, você de novo nos
noticiários? A essa altura já devem
saber quem eu sou de verdade. Posso apostar que em breve
seremos
personagens de
um best-seller ou de algum filme sensacionalista. GEORGE:
O que quer de mim, Moises? MOISES:
Vou ter que repetir? GEORGE:
Se sua intenção é mesmo de me matar, por que
está deixando a situação chegar a
esse ponto? GABRIEL:
(repreendendo-o) Pai, fica quieto. MOISES:
Essa é uma boa pergunta... Sei lá, talvez eu goste da
ideia disso tudo se
tornar um verdadeiro circo. Marca não só a mim, mas o
restante da sua família
também. E convenhamos, fazer a Nicole sofrer também me
dá prazer... Ô menininha
chata. Gabriel
aperta
o pano da mesa. George o segura. Moises
sorri. MOISES:
Vá em frente, tenta ser herói. Na verdade, me instiga
pensar que você não
tentou reagir até agora, George, tendo em vista que o seu
destino não mudará. GEORGE:
Meu filho está aqui, não posso arriscar que
aconteça alguma coisa com ele. MOISES:
(erguendo as sobrancelhas) Muito justo... Ou, talvez no
fundo, no
fundo, você
queira essa bala no peito... No fundo, no fundo, você sabe
que
não foi punido o
suficiente pelo que fez, e espera que façam por você. George
não
responde. Gabriel olha para o pai, desconfiado. GABRIEL:
Pai? Você não quer isso, certo? George
continua
sem responder, apenas encara Moises, que
novamente sorri. Gabriel engole a seco e depois se volta
para Moises. GABRIEL:
Matá-lo não vai trazer seu irmão de volta, Moises.
Tudo que fizer, não vai
mudar o que ainda está sentindo... Por favor, eu te imploro,
nos
deixe sair. MOISES:
Pode não trazê-lo de volta ou tirar a minha dor... Mas me
dará satisfação ao
saber que seu assassino está morto. Gabriel
fecha
os olhos, frustrado. Moises se vira na
direção da porta. George coloca a mão no
braço de filho, tentando confortá-lo. GEORGE:
Vai ficar tudo bem. MOISES:
Não mente pro menino, George. Floricultura
da
Marcia. Helen está sentada no degrau da
entrada. Após alguns segundos, Cláudio aparece e senta ao
lado dela. Ela sorri
levemente e encosta a cabeça na cabeça dele. Ele coloca o
braço em volta dela. ::.
“Time
After Time” - Eva Cassidy HELEN:
Alguma novidade no centro? CLÁUDIO:
Na mesma ainda. O Moises continua irredutível, deixando as
coitadas da Martha e
Nicole ainda mais desesperadas. HELEN:
Por isso preferi ficar aqui. Quando mais gente por perto,
mais aflitas
elas
devem ficar. (suspira) Quando foi que a vida deixou de ser
pacata?
Lembra
quando não acontecia nada em Bom Destino? CLÁUDIO:
Verdade... Em tão pouco tempo aconteceu tanta coisa, que me
faz
ter saudades do
tempo em que ficava entediado. Helen
fica
pensativa por alguns instantes. Cláudio percebe. CLÁUDIO:
Você está bem? HELEN:
Promete que não vai se colocar em situações que
possam te deixar em perigo? Eu
não suportaria te perder. CLÁUDIO:
Hei, esqueceu quem foi atropelada há pouco tempo? (sorri e
beija
o rosto dela)
Você é que tem que me prometer esse tipo de coisa. HELEN:
Então eu prometo. Eles
se
encaram com ternura e se beijam de forma delicada.
Helen encosta a cabeça no ombro de Cláudio, enquanto ele
acaricia seu cabelo
com uma das mãos. A câmera se afasta devagar, parando em
determinado ponto. Praça
do
centro. Priscila está sentada no banco,
extremamente abatida e com uma aparência bastante cansada.
Ela
ainda veste o
mesmo vestido da noite anterior. Vemos o movimento de
alguém
sentando ao lado
dela. A câmera abre, mostrando se tratar de Felipe. Ele
está com uma garrafinha
de água na mão e oferece a ela. Priscila pega a
garrafinha e segura com as duas
mãos, que tremem. Felipe a encara com bastante pesar.
Priscila
fixa o olhar
para a frente. ::.
“Time
After Time” - Eva Cassidy (cont.) PRISCILA:
Eu estava indo na casa dele pra dizer que era o meu
escolhido. Que o
amava e
queria estar com ele naquele momento... (seus olhos
lacrimejam) Agora
eu corro
o risco de nunca pode dizer. Os lábios de Priscila tremem.
Felipe a puxa para si, abraçando-a com dor. FELIPE:
(com pesar) Você vai ter essa oportunidade, baixinha... Nada
vai
acontecer com
o Gabriel. PRISCILA:
(segurando o choro) Eu nunca vou me perdoar se alguma coisa
acontecer a
ele... Ele saiu mais cedo por minha causa,
Felipe.
É minha culpa
que ele está lá dentro. É tudo minha culpa. Ela começa a chorar. Felipe fecha os olhos, sem saber o que
dizer. Ele apenas a aperta em seus braços. A imagem se
afasta
lentamente,
transparecendo para a rua do restaurante. Nicole
está
sentada na calçada, de cabeça baixa.
Após
alguns segundos, ela levanta a cabeça e vemos que em volta
de
seus olhos estão
borrados pelo choro. Ela olha para o lado, na multidão e
fixa o
olhar em
alguém. Depois, levanta e a câmera a acompanha andando
apressadamente até
encontrar Gustavo e o abraçar. Gustavo corresponde ao
abraço, fechando os
olhos. Nicole chora por alguns segundos, até que se afasta
e
olha com expressão
de dor. ::.
“Time
After Time” - Eva Cassidy (cont.) NICOLE:
(desesperada) Eu provoquei tudo isso, Gustavo... O tempo
todo eu peguei
no pé
do Moises. GUSTAVO:
(solidário) Hei, não... Nada disso é sua culpa.
Você sabe o motivo dele estar
lá dentro. Não se culpe por essa situação. NICOLE:
T-talvez, talvez, se eu o tivesse tratado bem desde o dia em
que
começou a
trabalhar no restaurante... Ele... Ele... GUSTAVO:
Não, Nick... Não faça isso consigo. O George o
tratou muito bem, todos fizeram
o mesmo. NICOLE:
Eu demorei tanto para aceitar o Gabi como irmão... Não
posso perdê-lo, Gu...
Ele é o meu porto seguro... Sem ele eu não sou ninguém. GUSTAVO:
(entristecido) Nada vai acontecer com o seu irmão, meu
amor...
Eu prometo que
ele vai sair bem daqui. Que todos vão sair bem... (beija a
testa
e limpa os
olhos dela) E nós daremos um grande abraço nele e vamos
todos viajar juntos
semana que vem, dar um tempo deste lugar e só voltar quando
as
aulas começarem,
okay? Nicole
balança
a cabeça, concordando. Ela pega não
mão dele
e o leva para o outro lado da divisória, onde ela estava.
A cena
muda para um
ângulo aéreo. A tela escurece. Abre
com
Moises olhando através da porta. A câmera se
movimenta para trás. George e Gabriel continuam sentados
no
mesmo lugar de
antes. George olha para o relógio da parede. ::.
“Angel”
- Sarah Mclachlan GEORGE:
(para Gabriel) O sol está se pondo. GABRIEL:
(olhando-o) Pelo amor de Deus, pai... Não vá fazer alguma
besteira. GEORGE:
(olhando-o e sorrindo) Você é o meu orgulho, sabia? GABRIEL:
(balançando a cabeça, em reprovação) Pai,
não... GEORGE:
A minha força depois que a sua mãe se foi. GABRIEL:
(fechando os olhos) Pare! GEORGE:
Eu te amo muito... E diga a sua irmã e a minha esposa que eu
as
amo muito
também. GABRIEL:
(com lágrimas nos olhos) Não faça isso comigo...
Não se despeça de mim. GEORGE:
Vai ficar tudo bem, filho. Ele
o
puxa e o abraça fortemente. Depois, beija a testa do
filho e levanta. Gabriel tenta segurá-lo, mas não
consegue. GABRIEL:
(levantando) Pai, não! Moises
olha
para trás e se aproxima. George abre os braços. GEORGE:
Estou pronto para pagar pelo que fiz. Moises
apenas
o encara, sem nada a dizer. Os olhos de
George começam a lagrimejar. GEORGE:
Há dois anos, eu cometi o maior erro da minha vida. Não
tem perdão o que
aconteceu... Não tem um dia que não sonhe com o seu
irmão. Mas eu posso te
assegurar uma coisa, Moises... Você pode me matar dez vezes,
mas
nada, nada vai
suprir o vazio que ele deixou. Mas se isso lhe trouxer
paz
momentânea, vá em
frente, eu aceito o meu destino. GABRIEL:
Não... (se aproxima e faz sinal de calma para Moises) Eu te
imploro, Moises,
não faça isso. É repetitivo o que vou dizer, mas
isso não vai trazer o seu
irmão de volta. Não se torne a pessoa que ele não
gostaria que você se
tornasse. Moises
continua
apenas observando tudo, sem nada a dizer. GABRIEL:
Eu prometo que, se colocar uma pedra em cima disso, eu vou
na delegacia
com
você, deponho a seu favor. Meu pai fará o mesmo.
Nós faremos de tudo para que
não passe uma noite sequer na cadeia... Você esperou dois
anos para agir... Há
uma parte de você que quer desistir... Por favor? Moises
fica
reflexivo por alguns instantes. Seus olhos se
enchem de lágrimas. MOISES:
Aquela bala deveria ter sido pra mim, sabe? Era pra eu ter
morrido no
lugar
dele. Eu era a ovelha negra da família... Mas ele? Ele
queria
ser médico, ele queria
salvar vidas e implorava para que eu saísse da vida que eu
levava. Ele queria
unir nossa família de novo... Eu estava tão orgulhoso
naquela noite que por um
momento pensei mesmo na possibilidade de jogar tudo pro alto
e voltar
para minha
casa... (seus lábios tremem) Por uma noite... Apenas uma
noite,
tudo se foi. O
sonho de uma vida acabou. Close
em
George e Gabriel lado a lado. Volta para Moises. MOISES:
Não é só você, George, que se sente culpado
todos os dias de sua existência...
E por causa disso que não me importo em passar anos na
cadeia.
Se não fosse por
esse desejo de vingança, acho que nem estaria vivo hoje...
(abaixa a cabeça e
levanta) Mas vocês têm razão numa coisa... CLÁUDIO:
(em off) Disse uma sábia escritora... A
maioria de nós acredita que as pessoas que nos feriram
devem
pagar pela dor que
nos causaram. Afinal, elas merecem ser castigadas, mesmo
que
inconscientemente... Lado
de
fora. Em câmera lenta, vemos Cláudio e Helen se
aproximando de Priscila e Felipe. Helen abraça Priscila,
enquanto Cláudio toca
o ombro de Felipe. ::.
“Angel”
- Sarah Mclachlan (cont.) CLÁUDIO:
(em off) A vingança é um sentimento
tão
forte como qualquer outro e, assim como o amor e ódio,
possui
personalidades.
Tanto se mostra sangrenta sob a conduta do olho por olho,
vida por
vida, como
em uma “vingancinha boba” entra casais apaixonados. Casa
de
Roger. Roger e Livia estão sentados na cama, de
frente para a televisão, concentrados. A câmera abaixa
devagar, mostrando suas
mãos que se apertam com força. ::.
“Angel”
- Sarah Mclachlan (cont.) CLÁUDIO:
(em off) Normalmente ignoramos o fato de
que a sede de vingança está entre as mais fortes
emoções humanas... Lado
de
fora do restaurante. Gil aparece e passa a linha
que separa da multidão. Um oficial tenta detê-lo, mas
Martha intercepta,
deixando que Gil passe. Gil olha para dentro do
restaurante,
desnorteado. Ele
olha para Martha, e lamentando, a abraça. ::.
“Angel”
- Sarah Mclachlan (cont.) CLÁUDIO:
(em off) ... Está no mesmo patamar de
amor, raiva, sofrimento e medo, das quais tanto falamos.
Sociedades e
estado
moderno nos permitem e encorajam a expressarmos nosso
amor, raiva,
sofrimento e
medo... Mas não nossa sede de vingança. Eles
se
juntam a Gustavo e Nicole que estão abraçados. Gil
e Nicole se encaram, expressando culpa. CLÁUDIO:
(em off) E crescemos sendo ensinados que
esses sentimentos são primitivos, algo do que se
envergonhar e
que deve ser transcendido.
E certamente estão corretos, pois a aceitação do
direito de cada indivíduo à
vingança pessoal tornaria impossível a coexistência
pacífica entre os cidadãos
do mesmo estado. Lado
de
dentro do restaurante. Volta para Moises, Gabriel e
George. ::.
“Angel”
- Sarah Mclachlan (cont.) MOISES:
Mas vocês têm razão numa coisa... (aponta a arma
para George) Te matar, não
fará com que pague por todo sofrimento que causou. A
câmera muda para o ponto de vista de Moises, focando
apenas a arma em sua mão. Devagar, a mão dele se
movimenta na direção de
Gabriel, que apenas o encara. Corta para o rosto de
Moises. A
música
cessa. MOISES:
Desculpa, garoto. GEORGE:
(se movimentando e gritando) Não! Lado
de
fora. Ouve-se um disparo. Close em Nicole que grita
desesperadamente e é segurada por Gustavo. Em câmera lenta
vemos os policiais
invadindo o restaurante. A cena é tomada por uma música
instrumental. Lado
de
dentro. A arma de Moises lentamente cai ao chão. A
imagem sobe, mostrando-o com as mãos levantadas enquanto
os
policiais o
enquadram. George
grita
desesperadamente. Ele está abaixado próximo de
Gabriel que está desacordado. Seu peito está todo
ensanguentado. GEORGE:
(gritando, desesperado) Não, não, não! Filho...
Alguém traz os médicos! Da
porta,
os paramédicos entram. Eles se aproximam de
George, tirando-o de perto de Gabriel. A câmera foca o
rosto de
Gabriel por
alguns segundos. Depois, a tela escurece lentamente. CREDITOS
FINAIS: CRIADO
E
ESCRITO POR: Thiago
Monteiro PARTICIPAÇÕES
ESPECIAIS John Patrick Amedori como Moises Aaron Eckhart como Jorge Terre J. Vaugh como Martha Marshall
Allman
como Will Rachel
Griffiths
como Esther Daren
Kagasoff
como Nathan Michael
Beach
como Baptista MÚSICA TEMA “Meant To Live” -
Switchfoot TRILHA SONORA “Take–Me”
-
Papa Roach “Orange
Sky”
- Alexi Murdoch “Time
After
Time” - Eva Cassidy “Angel” - Sarah Mclachlan |