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Abre mostrando a fachada do restaurante/bar da família de Nicole. A câmera avança devagar, passando pelo vidro e chegando ao balcão, onde uma mão passa um pano. A câmera sobe, revelando Nicole com um avental.

 

VOZ DE GABRIEL: Quando me disseram que veria essa cena, juro que custei a acreditar...

 

Volta para Nicole, que libera um pequeno grito de surpresa e corre até Gabriel, envolvendo-o num abraço apertado.

 

NICOLE: (ainda abraçada a ele/visivelmente feliz) Você está mesmo aqui! ... (olha para ele) Quando chegou? Que horas seu avião pousou?

 

GABRIEL: (sorrindo) Peguei o voo ontem à tarde e aterrizei há cerca de meia hora.

 

NICOLE: (dando um tapa no braço dele) Por que não me contou que estava chegando hoje?

 

GABRIEL: Queria fazer uma surpresa... e (pausa, com um sorriso provocativo) Testemunhar essa cena memorável (observando o avental dela).

 

NICOLE: (revirando os olhos) Estou apenas dando uma mãozinha pra dona Martha, que anda bem estressada com tudo isso.

 

GABRIEL: Com tudo isso ou com a senhorita?

 

NICOLE: Pro seu governo, eu ando me comportando muito bem, viu mocinho?

 

Gabriel a olha com desconfiança, Nicole revira os olhos outra vez.

 

NICOLE: Tá, houve alguns incidentes, mas não vamos falar sobre coisas desagradáveis... (segura nos braços dele) Deus, como senti sua falta, pensei que não fosse voltar mais.

 

GABRIEL: O país é lindo e a vontade de ficar até passou pela minha cabeça. Mas, te importunar vence qualquer disputa.

 

NICOLE: Você que não se atrevesse a voltar, lembro muito bem de uma promessa que fez antes de sair.

 

GABRIEL: Quanto à nossa despedida, confesso que temi que sua reação fosse diferente.

 

NICOLE: Como assim?

 

GABRIEL: Bem, a gente conversou bastante pela internet, por telefone, e nossa última despedida foi inesquecível... Só que, considerando certos episódios passados, imaginei que talvez voltássemos ao ponto onde estávamos um pouco antes de eu ir embora.

 

NICOLE: Esqueça o passado, as coisas mudaram, eu juro.

 

GABRIEL: Então diz de novo.

 

NICOLE: (sorrindo) Meu irmão... Meu querido irmão.

 

Eles trocam sorrisos afetuosos e, em seguida, se abraçam novamente. A cena é focada nesse abraço por alguns segundos.

 

::. “Can't Cry Hard Enough” - Laura Branigan

 

A câmera começa a se afastar lentamente enquanto a narração em off entra.

 

CLÁUDIO: (em off) É difícil lidar com as perdas, sobretudo quando não estamos preparados. Tal como o sofrimento, as perdas também fazem parte da vida. É um caminho inevitável, todos terão que de uma forma ou outra, passar por esse momento. Contudo, a verdadeira provação não se limita ao momento da despedida, mas sim ao dia seguinte, quando a busca em vão nos confronta, e a certeza de que aquele que partiu nunca mais retornará.

 

A imagem deles começa a desaparecer, deixando o ambiente vazio e escuro. A câmera continua a se afastar, passando pela porta de vidro. Na porta, uma placa simplesmente diz: "Fechado por luto". A cena é mantida por alguns instantes, enquanto a tela gradualmente se torna escura.

 

 

 

 

 

 

 

 

Visão aérea de Bom Destino sob a luz do dia. Ao som da mesma música, a câmera se move e gradualmente nos transporta para o quarto de Nicole. Ela está deitada na cama, com os olhos vermelhos e lacrimejantes, cabelo em desalinho. Mantemos esse quadro por alguns instantes e, em seguida, nos transportamos para outro quarto.

 

A câmera se desloca suavemente até a cama, onde Felipe está sentado, acariciando algo ao seu lado. A cena corta para sua mão passando levemente pelo cabelo de Priscila. Ela se levanta abruptamente e corre. Acompanhamos Priscila até o banheiro, onde ela se abaixa junto ao vaso sanitário e faz movimentos que sugerem vômito. Depois, ela se senta encostada no box, chorando.

 

Na praça do centro da cidade, Gustavo está sentado em um banco, visivelmente abatido. Ele baixa a cabeça, apoiando as mãos sobre ela. Mantemos esse quadro por alguns momentos antes de nos transportarmos para outro lugar não identificado, onde Gil caminha lentamente. Seu semblante também reflete profunda tristeza. Ele para, passa as mãos pelos cabelos e fecha os olhos.

 

A câmera se afasta e olhamos para o céu. Após alguns segundos, descemos e nos deparamos com a fachada de um hospital. A cena nos leva para dentro, onde George está deitado em uma cama, com seus olhos vermelhos e lacrimejantes. A câmera se move até seu braço, que é tocado por uma mão. A câmera então sobe, revelando que é Martha. Ela o observa com tristeza.

 

GEORGE: (pausadamente, expressando dor) Por favor, me diga que não estou prestes a enterrar meu filho hoje.

 

Martha não consegue responder, seus lábios tremem e lágrimas enchem seus olhos. Um close no rosto de George mostra que ele olha para o lado, com lábios trêmulos. Ele começa a chorar, enquanto Martha se inclina e o abraça.

 

GEORGE: (chorando amargamente) Como vou viver sem o meu menino?

 

As lágrimas de George se intensificam, e Martha também não consegue conter sua emoção. A cena se afasta gradualmente, dirigindo-se à porta do quarto. O choro de George ressoa intensamente, até que a tela escurece.






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Floricultura da Márcia. Helen está atrás do balcão, ao telefone. Gustavo se aproxima e para ao seu lado. Ela encerra a ligação e olha para ele com empatia.

 

::. “Feels Like Letting Go” - Matthew Perryman Jones

 

GUSTAVO: Muitas encomendas?

 

HELEN: Há dias como hoje em que parece que vendemos mais do que flores. É um dia que eu não gostaria de vender.

 

Gustavo fica em silêncio, perdido em pensamentos por um momento. Helen, com olhar solidário, guia-o para fora e o conduz a sentar na escadinha.

 

HELEN: Talvez seja um clichê, mas como você está lidando com tudo isso?

 

GUSTAVO: Ainda estou tentando processar o que aconteceu.

 

HELEN: Se quiser desabafar, chorar...

 

GUSTAVO: (levantando) Não... Preciso me manter firme, especialmente para a Nicole. Ela precisa de mim agora.

 

HELEN: Chorar não vai enfraquecer sua imagem perante a Nicole. Mas ela não está aqui agora e você pode chorar. 

 

GUSTAVO: Você sabe o que o Gabriel significava para ela? Ele era seu porto seguro, alguém em quem ela confiava incondicionalmente, mesmo quando fingia não gostar dele. Sei que nunca poderei substituí-lo completamente, mas pelo menos desejo que ela possa encontrar um pouco daquele conforto em mim... (respira fundo) Ao menos por hoje. (pausa e fala com tristeza) Sem lágrimas.

 

HELEN (levantando): Tudo bem, a decisão é sua. (o abraça) Só quero que saiba que estou aqui se precisar, para desabafar ou compartilhar seus sentimentos. Você sempre pode contar comigo.

 

GUSTAVO (esboçando um leve sorriso): Eu sei que posso. (pequena pausa) Mas agora preciso ir, fiquei de passar no restaurante para pegar algumas coisas que o Gabi deixou por lá.

 

HELEN: Quer que eu vá junto?

 

GUSTAVO: Não precisa. Acho que posso fazer tudo sozinho, por enquanto.

 

Eles se abraçam por um momento. A câmera foca no rosto de Gustavo enquanto ele fecha os olhos. Depois, eles se afastam do abraço e Gustavo sai. Helen fica observando-o com um olhar cheio de pesar.

 

 

Casa de Nicole. Martha está sentada na cama do quarto, com um olhar profundamente cansado e abatido.

 

::. “Feels Like Letting Go” - Matthew Perryman Jones (cont.)

 

Voz de Gabriel: Novo lar, nova cidade, recomeço, certo?

 

A câmera se desloca para a porta, seguindo o olhar de Martha.

 

MARTHA: Recomeçar parece tão difícil. Seu pai está perdido, e a Nicole... Ela está fechada em seu quarto, com tanta raiva. Já a peguei empacotando suas coisas para partir duas vezes.

 

Gabriel se aproxima, esboçando um leve sorriso. Ele senta na cama ao lado dela.

 

GABRIEL: Nós iremos superar tudo isso, como uma família deveria. Tudo parece complicado agora, até mesmo para mim, que deixei para trás uma namorada e uma vida inteira. Mas escolhemos estar aqui para apoiar o meu pai, não importa o que aconteça. Isso é o que realmente importa.

 

MARTHA: Eu só quero ter forças para ser o suporte que ele precisa neste momento delicado.

 

GABRIEL: Não subestime a si mesma, dona Martha. Vocês se conheceram em um momento difícil, tanto na vida dele quanto na nossa, após a partida da minha mãe. E foi você quem me ajudou a lidar com o vazio que ela deixou em mim. Não digo isso com frequência, mas você também é como uma mãe para mim.

 

MARTHA: (com emoção) Você é um anjo, sabia? Você é o meu filho no meu coração, você sabe disso, não sabe?

 

GABRIEL: (sorrindo) Eu sei, mãe.

 

Eles se abraçam ternamente por alguns momentos. A câmera foca no rosto de Martha, que sorri com os olhos fechados. Após um breve intervalo, ela abre os olhos, revelando um olhar triste. A cena se amplia, mostrando que Martha está sozinha no quarto. Lágrimas começam a rolar por seu rosto. A música preenche o ambiente enquanto a câmera se afasta em direção à porta, fixando a imagem de Martha por alguns instantes.

 

 

Casa de Roger. Roger abre a porta do guarda-roupa e retira uma camisa social de dentro. A cena gira, revelando Lívia sentada na cama, com o olhar fixo na televisão. A câmera foca na tela, exibindo uma reportagem relacionada ao incidente ocorrido no restaurante. Lívia balança a cabeça em desaprovação e desliga o televisor.

 

LIVIA: Tanta tragédia em tão pouco tempo.

 

ROGER: Parece que o dia de hoje é um déjà vu.

 

LIVIA: (olhando para Roger) Seus pais decidiram se vão ao enterro?

 

ROGER: Ainda não sei, não conversei direito com eles ainda. (pausa prolongada) Mas estou preocupado com a minha mãe. Ela já passou por tanto, e retornar àquele cemitério em circunstâncias tão semelhantes pode despertar emoções dolorosas.

 

Livia se levanta e se aproxima de Roger, abraçando-o por trás e depositando um carinhoso beijo em sua bochecha.

 

LIVIA: E você, está bem?

 

ROGER: Vou ficar bem. Não posso deixar de comparecer. Gabriel esteve ao nosso lado naquele dia, e sinto que é minha responsabilidade estar presente em solidariedade à Nicole e à sua família.

 

Livia concorda com a cabeça e ajuda Roger a escolher uma camisa. A câmera se afasta gradualmente e transparece, revelando o rosto pensativo e entristecido de Vera, que está sentada na cama. Um movimento próximo chama a atenção, e a câmera amplia o enquadramento, mostrando que Arthur está ao lado dela.

 

ARTHUR: Você está bem?

 

VERA: Estou pensando naquela família. Na dor que estão enfrentando agora. Eu perdi um filho que carreguei por nove meses, mas nunca tive a chance de conhecê-lo em vida. Agora, pensar em um pai que criou um filho até a quase fase adulta e perdê-lo de uma maneira tão trágica... é devastador.

 

ARTHUR: Só Deus sabe o que seria da gente se tivéssemos perdido o Roger naquele acidente.

 

Vera concorda de leve com a cabeça. Arthur a olha com pesar e se aproxima delicadamente da cama.

 

ARTHUR: Não será desrespeito se não estiver em condições de ir ao enterro.

 

VERA: Conhecemos aquele menino na viagem. A irmã dele esteve presente conosco no carro e depois no enterro. Não posso deixar de ir.

 

ARTHUR: Eu sei, mas me prometa uma coisa... Se começar a se sentir mal, não hesite em me pedir para te levar pra casa, tá bom?

 

Vera assente com a cabeça. Arthur ajeita-se ao seu lado na cama, envolvendo-a com o braço. Vera recosta o ombro no peito dele, enquanto Arthur acaricia seu rosto suavemente. A cena gradualmente escurece.

 

 

Abre mostrando Gustavo em frente à porta do Restaurante/bar. Ele fecha os olhos, respira fundo e adentra o estabelecimento. Corta para o interior. Gustavo caminha até o balcão e senta em uma cadeira, apoiando o rosto na mão. Uma mão com um copo de refrigerante desliza até ele.

 

::. “Cats in Heat” - The Honorary Title

 

GUSTAVO: Um pouquinho de álcool faria bem.

 

GABRIEL: (cortando para seu rosto) Não quero correr o risco de levar multa por servir bebida alcoólica a um menino de doze anos.

 

GUSTAVO: Virou piadista agora, Biel?

 

GABRIEL: Quando se trata de você e a Nicole, duas crianças, sim, eu me divirto um pouco.

 

GUSTAVO: Nem me fale dessa peste maligna... (olha para os lados) A propósito, ela não está aqui, está?

 

GABRIEL: Você sabe que aqui não é o melhor lugar para evitá-la... Mas não, ela não está aqui agora.

 

GUSTAVO: Não posso me privar de frequentar certos lugares só para não correr o risco de encontrá-la. Ainda mais aqui, onde posso conversar com o meu amigão Gabis... E você, como está queridão? Saudades.

 

GABRIEL: (desconfiado) Sei.

 

GUSTAVO: Mas já que tocamos no assunto da capetinha, como ela está?

 

GABRIEL: A Nick está ótima, há muito tempo não a via sorrindo tanto.

 

GUSTAVO: Tá, legal para ela. Eu também estou extremamente feliz.

 

GABRIEL: Vocês são duas crianças. Deveriam se declarar de uma vez e acabar com essa palhaçada. O tempo passa, sabiam?

 

GUSTAVO: Ela sabe exatamente o que eu sinto, quem faz questão de me dar um fora a cada dez segundos é ela.

 

GABRIEL: Diga que a ama.

 

GUSTAVO: Claro, e sempre que ela olhar para um palhaço, vai lembrar de mim.

 

GABRIEL: (rindo) Não exagera, cara. Tá, pode ser que ela trave no começo, mas é algo que ela nunca ouviu de outro cara. A Nicole não se entrega com facilidade, até que tenha certeza de que pode se envolver nesse sentimento sem se machucar lá na frente.

 

GUSTAVO: Fala pra ela que contos de fadas só existem nos livros. Qualquer relacionamento corre o risco de dar certo ou errado. O que não dá para aceitar é fingir que despreza alguém só porque tem medo de se machucar.

 

GABRIEL: Eu concordo contigo, mas ela é desse jeito, e só vai mudar quando encontrar alguém que mostre a ela que pode amar e ser amada. Ela fez isso comigo, demorou, mas olha onde estamos agora.

 

GUSTAVO: Eu não sei não, estou cansado de levar patadas. Existe um limite para ser o bobo da corte de uma mulher.

 

GABRIEL: A festa de final de ano do Colégio está chegando. Convide-a para dançar, dê uma última chance.

 

Gabriel sorri levemente, toca o ombro de Gustavo e sai. Gustavo fica pensativo. A imagem começa a se afastar, o ambiente vai escurecendo. A cena se dissolve gradualmente e, quando a imagem volta, Gustavo está de pé junto à porta, olhando para a cadeira vazia onde estava sentado. Ele morde os lábios, segurando as lágrimas.

 

Cláudio está parado diante de uma porta. Ele pressiona a campainha e aguarda alguns segundos. A porta se abre e Felipe aparece.

 

FELIPE: Ei, obrigado por ter vindo. Seus pais estão fora e eu estava preocupado que ela pudesse fazer alguma loucura se ficasse sozinha.

 

CLÁUDIO: Como ela está?

 

FELIPE: (sentido) Chora muito, vomita, pouco fala. E quando fala, se culpa por tudo.

 

CLÁUDIO: (após alguns segundos) Pode ir para casa um pouco, eu fico com ela durante algumas horas.

 

FELIPE: Tudo bem... Eu vou tomar um banho, comer alguma coisa. Mais tarde eu volto para levá-la ao velório.

 

Cláudio simplesmente assente. Felipe toca suavemente no ombro de Cláudio e sai. Corta para o interior de um quarto. Cláudio entra lentamente. A câmera se move, revelando Priscila deitada na cama, virada para o outro lado. Cláudio a observa com profunda tristeza. Após alguns instantes, ele se aproxima da cama e senta-se ao lado dela.

 

::. “Theyll Never Know” - Ross Copperman

 

CLÁUDIO: (passando a mão no cabelo dela, com sentimento) Ei, pequenina.

 

Priscila se vira para ele, seus olhos estão vermelhos, inchados e cheios de lágrimas.

 

PRISCILA: (com a voz embargada) É minha culpa, Cláudio... Se eu não tivesse deixado para resolver as coisas com o Felipe naquele baile, se eu não tivesse magoado o Gabi... (começa a chorar) Ele ainda estaria aqui... Ele não teria saído mais cedo e eu, eu teria tido a chance de dizer que o amo. (chora ainda mais)

 

Cláudio continua a olhar com tristeza, sem saber o que dizer.

 

PRISCILA: (soluçando) Não preciso que venham me dizer que não foi minha culpa, que a vida é assim e todas essas palavras vazias. Ninguém sabe o que está acontecendo dentro de mim... (pausa) Não preciso que venham tentar me consolar, porque nada que digam vai tirar essa dor de mim... Só queria que o tempo voltasse. (treme os lábios) Queria que ele soubesse que eu faria qualquer coisa para estar ao seu lado, que eu não o tirei da cabeça desde antes dele voltar, mesmo quando ainda namorava o Felipe... (volta a chorar) Queria que o tempo voltasse, porque sei que vou me arrepender para sempre de não ter me entregado (soluça) Ao meu melhor amigo, à única pessoa que me fazia sentir a melhor versão de mim mesma... (chora ainda mais) E agora nunca mais vou vê-lo, tocá-lo, sentir.

 

CLÁUDIO: (com compreensão) Eu sei... (passa a mão no rosto dela) Ouça, não vou tentar te consolar com palavras vazias. Este ano, passei por duas experiências terríveis de perda e quase perda, uma com o irmão do Roger e outra com o acidente. Ano passado, enfrentei o medo de perder minha mãe, e se aquilo tivesse acontecido, não sei como estaria agora. Se não fosse a força dos meus amigos, talvez não estivesse aqui ao seu lado, tentando fazer o mesmo que você fez por mim.

 

A câmera foca no rosto de Priscila, que para de chorar por um momento, ainda soluçando.

 

CLÁUDIO: Se quiser sofrer, sofra. Se quiser chorar, chore. Se quiser se culpar por isso, não é o certo, mas momentaneamente pode se culpar. Só não carregue esse fardo sozinha, há pessoas que estão com você, sofrendo na mesma proporção, como o George, a Nicole. E mesmo que eu não tenha sido próximo dele, sinto muito pela sua perda, porque sei que era uma pessoa especial, de bom coração, e nunca entenderemos por que a vida é tão injusta com essas pessoas.

 

Ele segura a mão dela, e as lágrimas voltam aos olhos de Priscila.

 

CLÁUDIO: O que eu quero dizer, pequenina, é que estamos todos com você. Eu estou aqui, mesmo que nosso contato tenha diminuído ultimamente. Saiba que, se precisar de mim para qualquer coisa, chorar, desabafar, o que for, tem um amigo aqui pronto para te dar apoio. Um abraço, mesmo que não haja palavras certas para dizer.

 

A câmera foca alternadamente nos rostos de Cláudio e Priscila. O som enche a cena por alguns instantes. Os olhos de Priscila estão cheios de lágrimas.

 

PRISCILA: Então, você pode começar com esse abraço prometido. Porque só Deus sabe o quanto estou despedaçada.

 

Cláudio acena suavemente com a cabeça e se inclina, abraçando-a com força. Priscila desaba em choro. Cláudio, com uma expressão triste e cheia de pesar, acaricia o cabelo dela, fechando os olhos em seguida. A câmera começa a se afastar lentamente.

 

Corta para dentro do carro de Felipe. Ele estaciona e olha para o lado.

 

FELIPE: Está entregue.

 

A câmera se movimenta, mostrando Gabriel no banco do passageiro.

 

GABRIEL: Valeu pela carona, Felipe.

 

FELIPE: Não foi nada... Queria aproveitar para dizer que foi incrível o que você fez pela Nicole hoje. E obrigado por me envolver nessa aventura de buscá-la em outra cidade.

 

GABRIEL: Eu sei que você ia sentir falta dela (sorri). E quanto à forma como ela trata as pessoas... bem, pode parecer que ela não mereça ser resgatada. Mas conheço bem a personalidade da Nicole e sei que ela vai mudar.

 

FELIPE: (suspirando) Queria ter esse seu otimismo. Eu desisti por muito menos.

 

GABRIEL: Bom (tirando o cinto de segurança e abrindo a porta) Eu a amo incondicionalmente, então...

 

FELIPE: Você é um bom menino, Gabriel. Continue acreditando no melhor das pessoas. 

 

Gabriel concorda com um aceno de cabeça, sorri e sai do carro. A câmera foca no rosto de Felipe enquanto ele observa Gabriel se afastar. Quando a câmera se move novamente, não há ninguém à vista. Felipe abaixa o olhar, uma expressão de tristeza atravessa seu rosto.

 

 

Praça do centro da cidade. Gil está sentado em um banco, inclinado com os cotovelos apoiados nas coxas e as mãos em frente à boca, escondendo o rosto. Nathalia se aproxima e senta ao seu lado. Ele a olha, retira as mãos do rosto e esboça um leve sorriso antes de voltar a olhar à frente. Nathalia observa-o com pesar por alguns instantes e então segura suavemente a mão dele.

 

::. “I'm About to Come Alive” - Train

 

NATHALIA: Quer conversar?

 

GIL: Eu não sei... (passa a mão pelo cabelo, olha para ela) Nos últimos dois dias, não tenho conseguido dormir. Tudo que aconteceu fica martelando na minha cabeça.

 

NATHALIA: Eu entendo que deve ser muito difícil, especialmente considerando o tempo que passou com eles nos últimos meses.

 

GIL: Não é só isso... (olha para ela) Sinto-me tão culpado pelo que aconteceu. E, para ser honesto, tenho minhas dúvidas se não tenho alguma responsabilidade nisso.

 

NATHALIA: Por que se culpa? O motivo pelo qual Moises fez o que fez é conhecido por todos.

 

Gil permanece em silêncio por alguns segundos. Nathalia acaricia o braço dele, demonstrando compreensão.

 

GIL: Algumas horas antes de George ser feito refém, eu o confrontei no restaurante. Sinto que talvez eu tenha provocado a raiva dele. E se, por um momento, ele estava pensando em desistir de tudo e só precisava de um empurrão? (olha para ela com tristeza) Eu posso ter sido esse empurrão.

 

NATHALIA: (solidária, tocando o rosto dele) Não, não pense assim... De acordo com as notícias, era o aniversário da morte do irmão. Independentemente das circunstâncias, ele teria agido da mesma maneira. Não carregue essa culpa.

 

Gil volta a olhar à frente, lutando para conter as emoções. Nathalia beija gentilmente o rosto dele.

 

NATHALIA: Você não teve culpa de nada.

 

Gil a observa com um olhar triste e esboça um leve sorriso. Nathalia o olha por alguns instantes e, em seguida, se inclina, beijando-o carinhosamente nos lábios. Eles fecham os olhos e permanecem naquela posição por alguns segundos antes de se afastarem, olhando-se com surpresa.

 

GIL: Por que fez isso?

 

NATHALIA: Porque nós mudamos, Gil... (olha para baixo e depois para ele) E eu acho que estou me apaixonando por você.

 

O som se intensifica, preenchendo a cena. A câmera foca no rosto de Gil e, em seguida, no rosto de Nathalia. A câmera então se posiciona de frente para eles, mostrando-os olhando um para o outro. Gil passa a mão no rosto dela, e ela fecha os olhos. Ele se aproxima e a beija carinhosamente nos lábios, o beijo se torna mais profundo e apaixonado. A câmera se afasta lentamente, ainda capturando essa imagem. Aos poucos, a tela fica escura.

 

Abre mostrando a parte interna da casa de Nicole. Close na porta que está fechada. Ela abre e George e Martha entram. Eles andam devagar, George com uma aparência bastante abatida é carregado por Martha, que tem o braço dele apoiado a seu ombro. Eles caminham até a sala, Martha o coloca no sofá, em seguida se abaixa e beija seu rosto. A cena é embalada por uma música instrumental lenta.

 

MARTHA: Eu vou ver como a Nicole está e logo desço para ficar com você.

 

George não responde, fixando o olhar distante, para frente. Martha fecha os olhos, levanta e sai. Close no rosto de George por alguns instantes, em seguida uma mão toca seu ombro, ele olha para trás e sorri levemente. A imagem abre, mostrando se tratar de Gabriel. Ele dá a volta no sofá e senta ao lado dele.

 

GABRIEL: Como você está se sentindo?

 

GEORGE: (balançando negativamente a cabeça/abatido) Péssimo, meu filho, destruído, sem forças... (olhando para baixo) Eu não consegui ir ao enterro do garoto, muito menos me desculpar com sua família.

 

GABRIEL: Mas você fez certo, acredito que não seria bom para eles que você aparecesse.

 

George coloca a mão no rosto e começa a chorar. Gabriel o olha com bastante pesar.

 

GEORGE: (chorando) Tantos anos de experiência não serviram para nada... Eu nunca vou me perdoar pelo que fiz... (pausa) Eu sou um desgraçado.

 

GABRIEL: Não, você é meu pai... Cometeu um erro que talvez carregue pelo resto da vida, mas nada disso vai tirar a imagem que tenho de você, do herói que por muitos anos foi e continua sendo na minha vida.

 

George engole o choro, limpando as lágrimas com as mãos.

 

GABRIEL: Olha para mim... (George o olha) Eu o amo e sempre o amarei e não importa a decisão que venha tomar, quero que saiba que estarei contigo, onde quer que você vá.

 

GEORGE: (emocionado) Obrigado meu filho (treme os lábios)... Eu não sei o que faria sem seu apoio.

 

Gabriel esboça um sorriso leve e o envolve em um abraço reconfortante. A imagem captura o momento em que ficam abraçados por alguns instantes. Em seguida, a cena muda para o rosto de George, que lentamente se afasta do abraço e recosta a cabeça no sofá. Lágrimas começam a rolar por seu rosto, expressando sua angústia e tristeza profunda. A cena se desloca novamente, mostrando apenas George no ambiente, focando nesse momento de intensa emoção por alguns instantes.

 

Lanchonete do centro. Amanda está sentada sozinha à mesa do lado externo do estabelecimento. Uma mão coloca um copo de suco à sua frente. A imagem sobe mostrando se tratar de David, que se senta. Amanda sorri.

 

:: “Hold On” - Stellar Kart

 

DAVID: Parece que toda vez que a gente se reencontra, uma tragédia acontece com algum habitante daqui.

 

AMANDA: Talvez seja a hora da gente parar de se reencontrar e começar a ficar juntos o tempo todo.

 

David esboça um leve sorriso sem graça. Amanda passa a mão no braço dele.

 

AMANDA: Eu estou falando sério... Estou cansada daqui, cansada deste lugar. Ultimamente, é só isso que a gente vê. Há tempos não temos um momento genuinamente alegre. A maior parte do tempo é choro atrás de choro (ela balança a cabeça negativamente). Eu não quero mais isso pra mim.

 

DAVID: Eu sei que não. Mas tragédias, não dá pra evitar.

 

AMANDA: Mas é possível respirar um novo ar. (pausa longa) Ouça, Lari e eu vamos embora de Bom Destino. Ela vai voltar para a capital e eu vou morar com ela por algum tempo. Como você não tem lugar fixo, que tal fazer o mesmo e expandir sua clientela numa cidade dez vezes maior que essa? Podemos até morar juntos depois de estarmos estabelecidos.

 

DAVID: E de novo eu vou me mudar por sua causa? Não acha nem um pouco estranho isso?

 

AMANDA: As coisas mudaram, David. Agora é pra valer.

 

DAVID: Pra valer até quando? Até você decidir que não quer mais e me deixar sofrendo como das outras vezes?

 

AMANDA: Tá bom, quer se vingar de mim? Vai em frente, eu mereço. Mas dessa vez eu prometo que é sério.

 

DAVID: Eu não sei o que dizer, Amanda. Há alguns meses eu te seguiria até no inferno se me pedisse.

 

AMANDA: Você não gosta mais de mim ou tem medo de ser abandonado de novo?

 

David fica pensativo e parece não saber o que dizer. Amanda coloca a mão em cima da mão dele.

 

AMANDA: Os últimos acontecimentos abriram minha mente para uma coisa. Eu não quero esperar pelo amanhã. Não quero passar o resto da vida lamentando.

 

DAVID: Eu vou pensar, tá bom?

 

Amanda concorda com a cabeça. Ela segura a mão dele e leva até a boca, beijando-a carinhosamente. A câmera muda para uma visão aérea do centro da cidade. O sol está se pondo.

 

 

Parte interna do quarto de Nicole. Close na porta fechada. Ela se abre devagar, revelando Martha do outro lado. Ela olha para frente, com expressão abatida. A câmera se desloca, mostrando Nicole deitada na cama, com o rosto virado na direção oposta à de Martha. Martha se aproxima lentamente, colocando a mão no braço da filha. Nicole não responde. Marta senta na cama.

 

:: “Never Say Never” - The Fray

 

MARTHA: Nick, filha, está na hora.

 

NICOLE: (rosto virado) Eu não vou sair daqui.

 

MARTHA: Nick.

 

NICOLE: (foco em seu rosto) Eu não vou sair daqui para enterrar o meu irmão... (pausa longa) Eu nunca mais vou tirar os pés desse quarto. Eu nunca mais quero passar pelo corredor perto do quarto dele e saber que não verei mais a única pessoa que me entendia (engole o choro) Que mesmo sem eu dizer uma palavra, já sabia como eu me sentia... (close no rosto dela, que fecha os olhos, derramando lágrimas) Que foi tão paciente comigo e nem pôde desfrutar de todo o carinho que merecia receber de mim.

 

Martha permanece em silêncio, colocando a mão na boca, segurando-se para não chorar.

 

NICOLE: Não me obrigue a sair daqui... (pausa) Nem que você queira me arrastar.

 

MARTHA: (com os olhos lacrimejando) Não, meu amor, você não precisa sair daqui... (instantes depois abaixa e beija o rosto da filha) Eu amo você.

 

Martha a observa por alguns segundos, então se levanta e sai pela porta. O som preenche o espaço, envolvendo a cena. A câmera se desloca suavemente, focando no rosto de Nicole, que está chorando, suas lágrimas expressando sua tristeza em soluços silenciosos. O instante é prolongado, capturando a intensidade do momento. A perspectiva então se eleva para um ângulo aéreo do quarto, e gradualmente a tela mergulha na escuridão.

 

 

Abre com a fachada de uma capela. Pessoas se dirigem para a entrada do local, enquanto repórteres e câmeras se destacam na área externa. A câmera nos conduz para o interior da capela.

 

:: “Never Say Never” - The Fray (cont.)

 

Os bancos estão ocupados por pessoas em respeitoso silêncio. No púlpito, encontra-se o caixão de Gabriel, rodeado por uma profusão de flores. No entanto, o interior do caixão permanece oculto. Um homem trajando terno preto segura uma Bíblia e profere palavras que são abafadas pela melodia que preenche o ambiente.

 

A câmera percorre o espaço, capturando as diferentes expressões que adornam os rostos dos presentes. Na primeira fileira, George e Martha ocupam seus lugares. George parece mergulhado em uma profunda tristeza e introspecção, desconectado do que ocorre no palco. Martha, por sua vez, mantém-se imersa na cerimônia em andamento.

 

Em uma fileira posterior, estão Vera, Arthur, Livia e Roger. A câmera se foca em Vera, cujos olhos transbordam de lágrimas enquanto ela encara o caixão com pesar. Arthur a observa com a mesma expressão, depois gentilmente beija a mão de Vera.

 

Lado de fora. Gustavo está parado entre um degrau e outro, olhando para o celular, com uma expressão pensativa. Cláudio surge atrás dele e posiciona-se ao seu lado. Eles se encaram por alguns instantes.

 

CLÁUDIO: Hei.

 

GUSTAVO: Oi... Está lotado lá dentro. Eu preferi ficar aqui fora por um momento, para poder respirar um pouco. Quem sabe a Nicole não aparece de repente... Ela tem que aparecer, certo? Afinal, é o irmão dela.

 

CLÁUDIO: Às vezes, a última imagem que ela quer guardar de Gabriel não é a que estamos vendo agora.

 

Um breve silêncio paira entre eles.

 

GUSTAVO: Quando aconteceu aquela situação com o irmãozinho do Roger, o que você costumava dizer a ele quando estavam a sós?

 

CLÁUDIO: Muitas palavras que ele não gostaria de ouvir. Em momentos como esse, as pessoas não querem ouvir clichês como "Deus sabe o que faz" ou "Você precisa ser forte"... Elas querem expressar sua revolta, passar pela perda da maneira que consideram apropriada, mesmo que signifique revolta, culpa.

 

GUSTAVO: (pensativo) O que devo fazer para ajudar a Nicole agora?

 

CLÁUDIO: Sinceramente, não há muito que você possa fazer. Cada indivíduo enfrenta a dor de maneira única. Talvez o melhor seja permitir que ela chore sempre que precisar, grite quando sentir necessidade. Apenas deixe claro que você está ali para abraçá-la, sempre que ela precisar de um abraço.

 

A câmera foca no rosto de Gustavo, que olha para baixo, refletindo. Cláudio toca seu ombro, depois começa a se dirigir para dentro da capela, mas para abruptamente e volta seu olhar para Gustavo.

 

CLÁUDIO: Não tem problema chorar junto com ela, se for preciso.

 

Gustavo ergue a cabeça, olhando para Cláudio com um aceno de compreensão. Cláudio toca novamente o ombro de Gustavo e sai em seguida. Gustavo olha para a frente e morde o lábio inferior.

 

:: “No One Else Knows” - Building 429

 

No púlpito, o ministro segura uma bíblia, movendo os lábios em silêncio.

 

Na fileira central, Cláudio e Helen estão sentados juntos, com Helen apoiando a cabeça no ombro de Cláudio. Suas expressões refletem tristeza profunda.

 

Vera e Arthur ocupam uma fileira, seus olhos agora marejados de lágrimas.

 

Gustavo permanece de pé, recostado na parede. Às vezes, ele direciona o olhar para o caixão, outras vezes para o lado de fora.

 

George mantém a cabeça inclinada para baixo, enquanto Martha está a seu lado, uma das mãos apoiada em suas costas e a outra segurando um lenço contra o rosto.

 

Em outra fileira, Gil e Nathalia sentam-se lado a lado. Lágrimas também afloram nos olhos de Gil. A câmera desce lentamente, focalizando a mão de Nathalia segurando a dele.

 

Mais adiante, Amanda e David compartilham um banco, com Larissa ao lado de Amanda. David lança um olhar na direção de Larissa, que o retribui brevemente antes de desviar o olhar. A cena corta para o braço de Amanda entrelaçado ao dele.

 

A câmera retorna ao ministro de terno no púlpito.

 

MINISTRO: O púlpito agora está à disposição de qualquer pessoa que deseje expressar seus sentimentos.

 

Seu olhar permanece fixo à frente. As pessoas nos bancos começam a virar-se para trás. Um close em Gustavo mostra sua testa franzida, enquanto sua cabeça se move como se estivesse acompanhando alguém. A cena corta para Nicole no corredor, aproximando-se do caixão. Sua expressão é séria, e seu rosto permanece inexpressivo.

 

À medida que ela se aproxima do caixão, a cena muda para o ponto de vista de Nicole. Dentro do caixão, vemos Gabriel vestindo um terno preto, cercado por flores. A câmera volta para Nicole, parada diante do caixão, fixando o olhar em seu irmão. O som se desvanece, cedendo espaço a uma música instrumental.

 

NICOLE: (sussurrando) Acorda... (aumentando o tom) Acorda... (crescendo ainda mais) Levante-se daí, agora! (aproximando-se com violência/voz alta e desesperada) Você prometeu que nunca me deixaria sozinha, que estaria sempre ao meu lado! (gritando) Você não pode me fazer isso comigo! Não tem o direito de me abandonar! (tocando o corpo/derramando lágrimas) Eu te proíbo de partir!

 

:: “Shine Your Light On Us” - Robbie Seay Band

 

Gustavo se aproxima rapidamente de Nicole, que continua em desespero diante do corpo. Ele a abraça e a carrega para fora, cortando para eles passando pelo portão e parando na escadinha.

 

NICOLE: (aos prantos) Ele prometeu... Ele prometeu que não ia me deixar.

 

Nicole se abaixa e senta na escada, ainda soluçando. Gustavo, segurando suas próprias emoções, senta ao lado dela. Sem palavras suficientes para consolar, ele coloca o braço em volta dela, oferecendo um abraço reconfortante. Nicole encosta a cabeça no peito dele, chorando com profunda tristeza. Gustavo, com a expressão dolorida, acaricia gentilmente o cabelo dela.

 

GUSTAVO: (com tristeza) Deixe as lágrimas caírem, Nick. (engole o próprio choro) Chora o quanto precisar.

 

A imagem começa a se afastar e eleva-se para o céu que gradativamente clareia. Em seguida, desce, revelando várias pessoas reunidas em torno de um túmulo aberto. A câmera corta para o caixão descendo lentamente, enquanto passeia pelos rostos dos personagens que estavam presentes no velório, com exceção de Nicole e Gustavo.

 

CLÁUDIO: (em off ) A dor mais profunda é a perda de alguém que amamos. É uma dor que não se apaga, pois nada pode substituir um amigo, um pai, um filho, um irmão. Nem o tempo é capaz de apagar essa ferida.

 

A cena fecha em Martha e George, abraçados e chorando com intensidade.

 

 

A cena se transforma, revelando um túmulo já fechado, com o nome "Cayro" gravado na lápide. A câmera se abre para mostrar Vera, Arthur, Roger e Livia parados diante do túmulo. A imagem focaliza neles por um breve momento e, em seguida, transita novamente, exibindo o céu escuro desta vez.

 

 

A cena muda para uma porta que se abre, revelando Larissa do lado de dentro.

 

:: “Shine Your Light On Us” - Robbie Seay Band (cont.)

 

LARISSA: A Amanda não está aqui.

 

A câmera se move, mostrando David do lado de fora.

 

DAVID: Eu sei, ela está a caminho de casa para me encontrar.

 

LARISSA: (confusa) Então por que você está aqui?

 

DAVID: (se aproximando) Não quero esperar pelo amanhã.

 

Ele a beija, e Larissa corresponde por um momento antes de se afastar.

 

LARISSA: Para... E se a Amanda aparecer...

 

DAVID: (interrompendo) Então ela, ou qualquer outra pessoa, vai perceber que estamos apaixonados. (pausa) Pelo menos eu te amo. E sinto que você sente o mesmo.

 

LARISSA: (balançando a cabeça negativamente) David, vá embora.

 

DAVID: Vamos ficar juntos, Larissa. Amanda vai entender que não podemos controlar nossos corações.

 

Larissa o encara, sem dizer uma palavra. David suavemente acaricia o rosto dela.

 

CLÁUDIO (em off) Por isso que é fundamental expressar seu amor, transformar sentimentos em gestos e palavras, porque o amanhã pode não chegar, e a dor da perda pode ser avassaladora.

 

DAVID: Eu também não quero passar a vida lamentando.

 

A trilha sonora preenche a cena. Larissa abaixa o olhar, e David mais uma vez acaricia o rosto dela, erguendo-o dessa vez. Seus lábios se aproximam e eles começam a se beijar. A câmera assume uma posição lateral enquanto se afasta para fora. A porta se fecha gradualmente.

 

A cena muda, focalizando outra porta que se abre lentamente. Do lado de fora, Gustavo fica imóvel, seu olhar fixo no chão. Quando ergue os olhos, revela-se um brilho de lágrimas.

 

:: “Shine Your Light On Us” - Robbie Seay Band (cont.)

 

GUSTAVO: (com emoção) Você disse que, se eu precisasse chorar, encontraria conforto em seu ombro...

 

A câmera então se volta para Helen, cujo olhar se enche de compaixão. Ela se aproxima dele e o abraça carinhosamente. A emoção toma conta de Gustavo, e as lágrimas começam a escorrer por seu rosto. A cena se prolonga, capturando a profundidade desse momento de consolo.

 

CLAUDIO: (voz em off) Nestes momentos dolorosos, devemos buscar a força em nossos amigos e permitir-nos sentir, sem receio, a tristeza que nos assola. Chorar é uma expressão legítima de nossa dor, um meio de liberar a tensão interna e comunicar nossa necessidade de apoio.

 

A câmera se concentra no rosto fechado de Helen, seus olhos cerrados revelando a angústia interna. Em seguida, enfoca Gustavo, que chora amargamente. A cena culmina em um ângulo aéreo, que permanece por alguns instantes antes de se desvanecer.

 

A cena se inicia com uma visão aérea da casa de Nicole. A câmera se aproxima da janela e, com um corte suave, transpõe a barreira, adentrando o corredor.

 

CLÁUDIO: (voz em off) A dor se amplia quando sentimos que deveríamos ter oferecido mais amor, compreensão e perdão...

 

Nicole percorre o corredor com passos lentos, detendo-se em um ponto específico. Seu olhar direciona-se para uma porta fechada, e segundos depois, ela se aproxima, abrindo-a com delicadeza.

 

A cena transita para o interior, revelando o quarto de Gabriel. O ambiente se encontra na penumbra, iluminado apenas pela luz exterior. Nicole adentra o recinto, permanecendo no centro. Seu semblante reflete a angústia que a aflige.

 

:: “Shine Your Light On Us” - Robbie Seay Band (cont.)

 

CLÁUDIO: (voz em off) Pois aqueles que reconhecem que fizeram o seu melhor, enfrentam a dor da perda de uma maneira mais profunda e transformadora...

 

Seu olhar se projeta para a frente, fixando-se em um ponto distante. A perspectiva da câmera se desloca, revelando uma mesa onde repousa um computador. Sobre a mesa, um caderno de capa robusta, lembrando um livro, chama sua atenção. Nicole se aproxima da mesa, detendo-se a seu lado, e com movimentos suaves, levanta o caderno.

 

Lado externo da casa. George encontra-se assentado em um banco da varanda, imerso na escuridão circundante. A câmera se aproxima e foca em seu rosto, capturando a cena em que ele segura um celular junto à orelha.

 

:: “Shine Your Light On Us” - Robbie Seay Band (cont.)

 

GEORGE: Não é negociável, Silas (pausa)... Não me importa como, dê um jeito de eu me encontrar com esse sujeito (pausa)... Estou pouco me lixando para as implicações...

 

CLÁUDIO: (voz em off) Nesse turbilhão de emoções, o luto pode provocar sentimentos perigosos, como a ânsia por vingança, a busca por justiça pelas próprias mãos...

 

Ele encerra a ligação e permanece imerso em pensamentos por breves instantes. Em seguida, ergue a mão, revelando um canivete vermelho que repousa em sua palma. Com um gesto deliberado, desdobra a lâmina, contemplando-a fixamente. A cena então faz uma transição, retornando ao interior do quarto de Gabriel.

 

Nicole está na cama, concentrada na leitura do caderno aberto em seu colo. A câmera foca nas frases escritas à mão no caderno. Uma lágrima cai sobre as palavras e, em seguida, o caderno é fechado. A câmera mostra o rosto de Nicole, com lágrimas escorrendo de seus olhos. Ela se deita lentamente na cama, chorando. A câmera recua suavemente enquanto ela se deixa levar pela tristeza

 

A cena nos leva a uma visão aérea do centro da cidade, que logo corta para Priscila caminhando na praça. Seu olhar se ilumina ao avistar algo à frente. A câmera muda para Gabriel, em pé diante do carrinho de pipocas. Quando o vendedor se prepara para entregar o saquinho, Priscila intercepta a mão, pegando-o para si.

 

:: “Say” - John Mayer

 

PRISCILA: (sorrindo) Do jeito que eu gosto.

 

GABRIEL: (para o vendedor) Mais um, por favor...

 

PRISCILA: Parece que estamos nos especializando em nos encontrar aqui na praça... (come uma pipoca, pensativa)... Será que você está me perseguindo?

 

GABRIEL: (sorrindo) Bem, considerando que chego primeiro e minha pipoca é roubada, tenho uma ligeira impressão de que é você que está me perseguindo.

 

PRISCILA: Ok, você me pegou! Quer saber o porquê?

 

GABRIEL: (levantando as sobrancelhas) Será que é porque você me ama de uma forma tão intensa que não consegue ficar longe de mim?

 

PRISCILA: (irônica/sorrindo) Ai, meu Deus, não era hora de você descobrir que não posso viver sem o seu amor.

 

Eles começam a caminhar.

 

GABRIEL: Talvez eu devesse ser mais sensível. Brincar com essas coisas quando um dos lados realmente sente algo pelo outro não é uma boa ideia.

 

PRISCILA: Ah, sim, você tem tanta vontade de estar perto de mim que passou meses no exterior sem me ligar uma vez sequer.

 

GABRIEL: Priscila, você não faz ideia de quantas vezes eu pensei em você todos os dias. Está tudo registrado no meu livro.

 

PRISCILA: Um livro que nunca tive a chance de ler.

 

GABRIEL: (sorrindo) E provavelmente nunca terá.

 

PRISCILA: (parando) Mas, afinal, se fui sua inspiração, por que não posso ler?

 

GABRIEL: (sorrindo) Bem, eu também não disse que era um best-seller.

 

Priscila revira os olhos, e eles continuam caminhando.

 

PRISCILA: Caso não tenha percebido... (pausa) É bom termos nossa amizade de volta (olhando para ele) Senti muito a sua falta, de verdade.

 

GABRIEL: (sorrindo/olhando para ela) Eu também te amo.

 

Priscila o olha e sorri. A cena corta para uma vista aérea da praça, revelando-os caminhando enquanto a câmera os observa de cima. O som preenche o ambiente. A imagem deles começa a desvanecer lentamente, deixando a praça vazia.

 

CLÁUDIO: (em off) No entanto, não há palavras capazes de expressar plenamente a dor da perda. É uma dor tão profunda que fere tanto o corpo quanto a alma. Tudo perde o significado, exceto a dor que rasga, machuca e despedaça o coração. E assim, lembramos das pessoas que cruzaram nossas vidas e partiram, nunca as esquecendo.

 

A cena então se eleva para o céu estrelado, fixando-se por alguns momentos antes de escurecer.

 

 

 

CRIADO E ESCRITO POR:

 

Thiago Monteiro

 

PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS

 

Jesse McCartney como David

Aaron Eckhart como Jorge

Terre J. Vaugh como Martha

 

 

MÚSICA TEMA

 

“Meant To Live” - Switchfoot

 

TRILHA SONORA

 

 “Can't Cry Hard Enough” - Laura Branigan

“Feels Like Letting Go” - Matthew Perryman Jones

“Cats in Heat” - The Honorary Title

“Theyll Never Know” - Ross Copperman

“I'm About to Come Alive” - Train

“Hold On” - Stellar Kart

“Never Say Never” - The Fray

“No One Else Knows” - Building 429

“Shine Your Light On Us” - Robbie Seay Band

“Say” - John Mayer

 
 Copyright © 2009

 

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